Estamos celebrando os nove anos da
maior voz que já se ouviu em Chapadinha, o Padre Manuel dos Santos Neves. Não esqueço os
abraços, as lágrimas, os corações que se juntaram ao meu, os ombros que se
apoiaram no meu, as lágrimas que se juntaram às minhas lágrimas, as palavras de
admiração que se juntaram à minha admiração por você, Padre Neves, os louvores
à NªSª das Dores que se juntavam aos nossos. A falta que você faz é sentida por
todos, sua voz é recordada em todos os cantos, e também aquela alegria,
gargalhadas e piadas que punham toda a assembleia em estado de graça. Suas inspirações e
coragem vão nos fazer falta, seus planos de grandes projetos e realizações ficarão
fazendo parte da história de Chapadinha. Falta-nos a
eloquência de sua voz, o brilho de seus olhos, o rasgo de suas mãos, a
transparência de seus braços e seus abraços, suas piadas e seus gracejos.
Faltam-nos as multidões que te apertavam, as palmas que festejavam, os corações
que te amavam. Por tudo isso te recordamos. A voz que defendeu os sem-voz; a
vida que arriscou para a defesa dos lavradores das garras e das ambições dos
coronéis das terras enfrentando juízes, delegados e delegacias. Resta-nos a
certeza que uma estrela no céu brilha mais perto de nós e que tua luz brilha
nos céus de Chapadinha.
sexta-feira, 19 de abril de 2024
NOVE ANOS SEM O PADRE NEVES
segunda-feira, 15 de abril de 2024
TEOLOGIA BÍBLICA, HISTÓRIAS “DE TRANCOSO” DO BRASIL E DA PALESTINA
Tem histórias para divertir no segundo
Livro dos Reis, nos primeiros 13 capítulos, que mais parecem um tipo de
aperitivo para depois os avós resumirem bem resumidas para os netos as
histórias dos reis de Israel e de Judá. Eis como começa: 1- Um certo Ocozias
deu uma quebradeira e mandou consultar os deuses, quando um tal profeta Elias o
enganou dizendo que ele iria morrer. Ocozias mandou um oficial com 50 soldados
buscar o profeta para matá-lo, mas Elias mandou um raio do céu cair sobre ele e
queimou o oficial e os 50 soldados. Ocozias mandou segunda vez outro oficial e
50 sodados, e de novo outro raio caiu sobre eles e queimou o oficial e os seus
50 soldados. Ainda o rei mandou pela terceira dois oficiais com 50 soldados
cada um, e pela terceira vez outro raio queimou os dois oficiais e os 50
soldados de cada um (2 R.1,1-18). No seguinte capítulo, depois de Elias subir
ao céu num redemoinho e num carro de fogo, o discípulo Eliseu conseguiu ficar
com o manto do mestre, e precisava passar para o outro lado do rio Jordão.
Então pegou o manto de Elias e voltou para a margem do rio. Segurando o manto
de Elias bateu com ele na água, que se dividiu em duas partes e ele atravessou o
rio. (2 R. 2,11-15). Dali Eliseu foi para Betel. “Enquanto subia pelo caminho,
um bando de garotos que tinham saído da cidade começaram a zombar dele
gritando: “Suba careca! suba careca! Eliseu voltou-se, olhou para eles e os
amaldiçoou em nome de Javé. Então duas ursas saíram do bosque e despedaçaram os
quarenta e dois garotos” (2R.2,23-25). Em sequência, um dia três reis iam lutar
contra o rei de Moab. E dirigiram-se ao profeta Eliseu, porque entraram num
deserto depois de caminhar sete dias e faltou água. Ele mandou que cavassem
bastantes poços: “cavem diversos poços
nesse vale, pois vocês não verão vento nem chuva, mas este vale ficará cheio de água e vocês poderão beber com seus exércitos e animais” (2R.3, 9-20). Daquele
lugar eles entraram no território de Moab e o arrasaram, “destruíram a cidade e cada um atirou
pedras nos melhores campos até os cobrir, fecharam todas as fontes e
cortaram todas as árvores frutíferas diante do riso dos atiradores de pedras.
Então o rei Moab pegou seu filho primogênito que lhe sucederia no trono e o
ofereceu em holocausto sobre a muralha” (2R. 3,24-27). 2- Os irmãos
profetas disseram a Eliseu: “Como você
pode perceber, o lugar onde estamos é muito pequeno, vamos até o rio Jordão, e
cada um nós pegará um tronco para construir ai uma casa. Eliseu disse, podem
ir. E Eliseu foi com eles. Chegando ao rio Jordão começaram a cortar madeira.
Um dos irmãos estava cortando um tronco e o machado caiu na água. Então ele
gritou, mestre, o machado era emprestado. Eliseu correu ao lugar onde o machado
tinha caído, cortou um galho de árvore, jogou na água, e o machado subiu e veio
parar na mão do rapaz” (2R. 6,1-8). Noutro dia Aram, rei de Moab
preparou-se para fazer guerra contra Israel, mas Eliseu soube e avisou as
tropas de Israel. Aram soube que estavam sabotando a guerra. Um general disse:
“Não somos nós, é o Eliseu. Aí mandou os
seus soldados cercar a casa de Eliseu. Quando eles estavam chegando, Eliseu
pediu a Javé para cegar os olhos deles, e disse, espere Deus até que eu chegue.
Então o próprio Eliseu se juntou a eles, levando-os por outro caminho, onde os
soldados de Israel aguardavam para acabar com eles” (2R.6,18-21). Outra vez o rei de Aram, Ben-Adab cercou com
seus soldados a cidade da Samaria. Então houve uma grande fome na Samaria. O
rei de Israel estava passando pela muralha, e uma mulher gritou para ele: “Socorro senhor meu rei. Ele respondeu: Se
Javé não socorre você, onde vou achar auxílio para você? Então ela falou pro
rei: Traga o seu filho para aqui o comermos hoje, e amanhã comeremos o meu. Nós
cozinharemos o meu filho e o comeremos. No dia seguinte o rei disse a ela:
Agora entregue o seu filho para nós o comermos. Mas ela escondeu o filho dela”
(2R.6, 24-32).
4- O rei Acab tinha 70 filhos. O rei de
Israel mandou uma carta aos chefes da cidade pra cortar as cabeças dos 70
filhos do rei. E eles colocaram as cabeças em sacos. Jeú disse: “Façam com as cabeças dois montes e coloquem
na entrada, junto à porta da cidade e deixem lá até amanhã de manhã. Jeú foi
para s Samaria. No caminho encontrou parentes do rei. Jeú ordenou: “Prendam
todos esses homens. Eles foram presos vivos e depois foram degolados no poço da
cidade”.(2R.10, 1-9). 5- Último episódio da saga de Eliseu: ”Eliseu morreu e foi enterrado. Todos os
anos, bandidos moabitas faziam incursões no país. Certa vez, alguns homens que
estavam enterrando um morto avistaram um desses bandidos. Eles o mataram, Jogaram o corpo
dentro do túmulo de Eliseu e foram
embora. Aconteceu que o corpo,
tocando os ossos de Eliseu, reviveu e se colocou de pé”(2R.13, 20-22). Sem
mais noticias sobre Eliseu assim encerra esta série “de trancoso”. O restante
do livro, após este aperitivo, resume a vida dos reis, terminando sempre: “O resto da história vem escrito nos anais
dos reis de Judá”.
Quer divertir-se “biblicamente” lendo
com espirito de humor desimpedido de preconceitos, arrume um tempinho livre e
vá degustando algum aperitivo de azeitonas com salame e queijo ou amendoim com
batatas fritas e iscas de frango empanado, sozinho ou acompanhado, lendo estes
primeiros capitulos do II livro dos Reis e compare com histórias “de trancoso”
que os avós contavam para os netos como introdução a umas historinhas leves do
resumo das guerras dos reis de Israel e de Judá. Você decidirá.
Conclusão.
Compare com o conto moderno do “Pequeno príncipe”, de Saint Exupery, uma
“história de trancoso”, que no evangelho poderia se chamar de “parábola”, cujo
enredo consta do autor que se perdeu no deserto e foi guiado por uma estrela
que se transformou no “pequeno príncipe” que o encaminhou para as águas do
deserto. Contos “de trancoso” são contos de uma tradição oral que são
transmitidos de geração em geração, pertencentes a uma cultura oral para diversão. O nome vem
do popular contista Gonçalves Fernandes Trancoso que escreveu o livro “Contos e
histórias de proveito e exemplo” em 1.577 e teve mais de 10 edições até os
nossos dias.
P.Casimiro João smbn
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segunda-feira, 8 de abril de 2024
TEOLOGIA BÍBLICA, PARÁBOLA SOCIOLÓGICA VERSUS TEOLOGIA CAPITALISTA
Trata-se do rico e do pobre,
consequências e causas das consequências. Estamos pensando na parábola do rico
avaro e do pobre que na parábola tomou o nome de lázaro. Durante a existência
terrena estes dois personagens não viviam juntos e por isso não foram juntos
depois desta vida. Entre eles havia um grande abismo de vida, um de banquetes
“todos os dias”, o outro “com chagas” e com fome todos os dias. De tal maneira
conviveram com esse abismo que só se deram conta mais tarde, mas já era tarde
demais. No centro da parábola, e como consequência da divisão, vem a resposta
para o sofrimento do rico que pedia ao “pai Abraão” para que mandasse o Lázaro “molhar ao menos a ponta do dedo
para refrescar a sua língua” (Lc. 16,24). Resposta do pai Abraão: Não é
possível, “porque há um grande abismo
entre nós, porque ninguém pode passar daqui para aí, e nem os daí podem passar
até nós” (Lc.16,24). Quem fabricou esse abismo?
No concilio vaticano II a Igreja fez ou
sinalizou o caminho para a opção preferencial pelos pobres (G.et Spes,n.26).
Essa orientação foi especialmente acolhida nos países da América do Sul, onde
as consequências do colonialismo tinham feito muitas marcas, e, depois disso, a
maior parte dos países estavam em voltas com as ditaduras, impostas pelos
presidentes dos USA, que no auge da guerra fria estavam espalhando uma
dominação econômica, ideológica, religiosa fundamentalista e politica como um
bloco contra as pretensões do Leste europeu. As pessoas eram tratadas e
manobradas como instrumentos a serviço dessa ideologia e não como pessoas. Não
podiam pensar por elas mas tinham que pensar pelo pensamento dos Estados Unidos
da América. Lyndon Johnson e Ronald Reigan surgiu como o maior furacão do poder
e da imposição dos interesses americanos, não olhando a meios nem modos. (https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-brasil/2024/04/07/espero-que-nos-deem-credito-como-eua-apoiaram-os-militares-no-golpe-de-64.htm).
A pobreza e os pobres não podiam reclamar nem cobrar seus direitos porque a
ideologia e a religião americana proibiam. E apareceu a religião
fundamentalista que só era religioso quem defendesse os Estados Unidos. Caso
contrário, os Estados Unidos mobilizavam os exércitos e as polícias locais para
prender, torturar e matar. Um detalhe importante é que os Estados Unidos
encontraram um forte aliado para impor esta sua ideologia. A Igreja. E de
quebra foi nessa época que aumentaram as igrejas protestantes nestes países das
Américas. Foi como mel nos favos. Os Estados Unidos invadiram nossos países com
seus pastores, suas bíblias, seus grossos salários a igrejas e a pastores. O
carro chefe era a Igreja católica, e de quebra espalharam seitas e igrejas por
todo canto. É historicamente certo e comprovado que os mesmos Estados Unidos encheram
os deputados e o senado de Brasília de dinheiro para iniciar a ditadura militar
no Brasil em 1964. Igualzinho como já tinham feito no México, no Chile e na
Colômbia. Estava instaurada a religião fundamentalista, e o império
neo-colonialista dos USA não só no Brasil mas nos países vizinhos. O suporte
religioso era a teologia capitalista que defendia que só era religioso quem
defendesse os Estados Unidos. E não só. Quem fosse defender as classes da
pobreza estaria contra os interesses dos USA. Nessa altura e nessa situação
dramática em que foram mergulhadas as nações da América do Sul foi a época que
encerrou o concílio vaticano II. E como seria para enfrentar esta situação em
toda América do Sul? Com o desenvolvimento do concílio formou-se a teologia que
visava se colocar ao lado das classes marginalizadas e esquecidas, já que ninguém
as atendia nos seus direitos básicos de salários, trabalho, saúde moradia. Além
do medo natural do pobre ainda vinham todas as ameaças, se arriscassem falar
alguma coisa. Em contrapartida à teologia capitalista, esta foi chamada teologia
de libertação, inspirada na Bíblia quando marca o perfil do futuro Messias e
que Jesus assumiu para a sua vida: “O
Espírito do Senhor está sobre mim e me ungiu para levar a boa nova aos pobres,
anunciar a libertação aos cativos, a vista aos cegos e publicar o ano da graça
do Senhor”(Lc.4,18). Ficou bem claro que enquanto a teologia capitalista
escolhia o capital, esta teologia escolhia não ser rica. A teologia capitalista
dando sempre o braço aos donos do capital, a teologia da libertação dando o
braço a quem sofria os abusos do capital. A capitalista dando o braço ao político
que flerta com o capital, a da libertação se afastando deste tipo de flerte. A teologia
capitalista visando sempre os interesses e a obediência aos Estados Unidos, a
da libertação não visando esses interesses, nem essa subserviência e nem essa
obediência. Não admira então que os detentores daquela política e daquela
teologia capitalista ficassem de olho na teologia da libertação e nas igrejas. Até
porque nas ditaduras foram proibidos e controlados os Sindicatos, associações e
até as reuniões de oração eram vigiadas.
Conclusão.
A teologia capitalista seguiu aliás a tradição histórica como regra geral.
Desde a entrega do poder político que os primeiros imperadores cristãos no
séc.IV fizeram à Igreja, ao mesmo tempo lhe entregavam a teologia capitalista.
Embora eles sejam chamados de “imperadores cristãos”, de cristãos não tinham
nada, só mudaram o nome de “pagãos” para convertidos de fachada. E esta fachada
eram seus interesses políticos e pessoais para se aproveitarem da Igreja. Isto
levou a Igreja a entrar no seu trem de domínio, de ditadura, de poder absoluto
e de riqueza e ostentação. Desse jeito, por regra geral a teologia da Igreja
caminhava com a política capitalista que geralmente oprime o povo. E a teologia
da libertação tinha o lema de caminhar com o povo. “Não sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as
tiranizam?” Entre vocês não deverá ser assim”(Mt.20,17).
P.Casimiro João smbn
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segunda-feira, 1 de abril de 2024
TEOLOGIA BÍBLICA, A FÚRIA DOS DEUSES E OS FILHOS PRIMOGÊNITOS
Segundo Platão, o deus
Zeus recusou sacrifícios humanos. Um dia em que Neféle ia sacrificar o seu filho Frixo ele
enviou-lhe um carneiro de ouro para substituir o filho que ele queria sacrificar.
Isto nos faz lembrar o episódio de Abraão quando, por uma suposta “ordem de Deus” estava também pronto para
sacrificar o filho Isaac, quando Yaweh lhe teria apresentado um carneiro ali
preso nos espinhos. (Gn.22,1-18).
Devemos ter em conta
que os judeus conviviam com deuses, sacrificavam aos mortos, e ofereciam
sacrifícios de crianças, mormente em tempos de crise. (Cf M.Smith, “O memorial
de Deus”, p.150). Desta maneira, o filho mais velho estava destinado para ser a
próxima vítima para os deuses quando aconteciam calamidades, epidemias, ou
grande abalos da natureza como pestes e terramotos. Nessas horas os antigos
atribuíam isso como castigos de Deus, e eram a vingança dos deuses por causa
dos pecados do povo. E os deuses exigiam a morte do filho mais velho para
aplacar a sua ira. A morte dos primogênitos dos egípcios é um reflexo dessa
mentalidade, pois Deus estava irado com o Egito. E de quebra também na
circuncisão dos meninos dos judeus que teriam que ser “resgatados” pela oferta
de um animal, porque eles pertenciam a Deus. Segue esse mesmo padrão a cena
típica do sacrifício do filho primogênito de Abraão: “Toma teu filho único, dirija-se à terra de Moriá e ofereça-o aí em
sacrifício sobre um monte que eu te indicarei” (Gn.22,2). Aqui aconteceu a
troca do filho por um carneiro, igual
como na história de Neféle onde houve a troca por um carneiro de ouro. As
antigas religiões viviam desse imaginário de sacrificar filhos pelos pecados do
povo. Estas exceções de Abraão e a outra de Platão são casos extremos da troca
por animais, o que iria acontecer muito mais tarde como regra geral, como está
ordenado no Livro de Levítico quando fala dos sacrifícios. *Lv.cap. 1; cap.9,
13 e 17). Em consequência vem a teologia de Paulo nas suas Cartas onde diz: “Deus não poupou seu próprio filho, mas o
entregou por todos nós”(Rom 8,32). Sempre a mesma ideologia de sacrificar o filho primogênito, ou o filho
único, pelos pecados do povo. Porquê? Porque era preciso acalmar a fúria dos
deuses, e de Yaweh quando os judeus sacrificavam, e do Pai do céu quando
“entregou” o filho “pelos pecados dos homens”. Dessa teologia paulina se desenvolveu
a teologia dos Padres da Igreja, passou pela época medieval e chegou aos nossos
dias. Porém, agora sabemos por meio de novos conceitos que a fúria dos deuses
não existe, e nem existiu a fúria de Javé no Éden quando “postou os querubins”
com espada flamejante para guardar o caminho e a porta do Éden, depois de ter
expulsado o homem, (Gn.3,24). Essa ordem nunca existiu, porque o conto é um
conto e não uma história física. Então, como não existia a fúria, como
acontecia com os “deuses antigos”, também não é exigido “sacrificar” o
filho pelos pecados dos homens. Até que
se sabe agora que o Gênesis é uma “etiologia” ou um catecismo antigo para
“adivinhar” como teria sido a “criação do mundo”, e “adivinhar” de “onde teria
vindo a morte, e de onde teria vindo o sofrimento”. E o Gênesis , como o
Gilgamesh e Enuma Elish dos babilônicos, mais antigos que o Gênesis, cada um de
sua maneira imaginaram uma explicação,
mas todos os três compartilhando com todos os três. Há novos dados antropológicos
e científicos e cosmológicos onde não se
vai pela imaginação mas pela certeza que antes desses livros já existia o mundo
há 15 bilhões de anos, céus, mar, plantas, terra e animais há 10 bilhões de anos,
oito e sete respectivamente, e o ser humano há cinco milhões de anos. E morria
gente e vivia, faziam amor e enterravam seus entes queridos com respeito e
orações, sem nunca ter visto querubim nenhum com “espadas flamejantes”.
Que a Igreja caminha
junto com a humanidade está hoje afirmado, quando pela primeira vez, perdeu na
quebra de braço quando viu que errou quando condenou a ciência, nos casos de
Nicolau Copérnico, Giordano Bruno e Galileu Galilei. E quando largou a teologia
de Agostinho sobre a condenação ao inferno de quem não era batizado, como até
as crianças, e adultos. Quando, depois de condenar as teorias do Iluminismo, da
“liberdade de religião” e “liberdade de consciência” hoje está retirando esses
anátemas. Vale dizer, o mundo caminha, não é um mundo paralítico; e a Igreja
tem que caminhar, não pode ser uma Igreja paralítica.
Conclusão.
A vida é um show como diz o cantor, o mundo é um palco. É uma surpresa olhar os inicios do pensamento da humanidade,
como ela lidava com os deuses e como os imaginava: seres devoradores que
devoravam vidas, mas primeiro porque eles se devoravam uns aos outros. E os
mortais que assim os consideravam se acomodavam aos seus desejos vorazes. E se
os homens extrapolavam era também devorados por eles. Esse imaginário ainda vem
acompanhando 98 por cento dos mortais gerando medos, pavor e depressões. Entrou
no Novo Testamento com a obrigação de entregar o filho mias velho para ser
“devorado” pelos deuses. Até a ousadia foi tão grande que o Deus cristão também
apanhou o título de ser devorador dos mortais por “causa dos pecados”. E até,
como não havia “equivalência entre as ofertas humanas que apaziguassem a
“dívida e fúria divina”, esse Deus se teria visto na necessidade de entregar o
seu filho que, teria caido na “armadilha” de viver uns tempos com os homens,
para exigir a morte dele para ser também “devorado” pela fúria divina”. Assim
estaria feito o “equilíbrio” entre “a dívida” e o “pagamento” pelos pecados.
Deus por Deus, filho por filho. Foi nesta teologia de Paulo que caminhou a
Igreja e ainda continua caminhando.
P.Casimiro João smbn
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segunda-feira, 25 de março de 2024
TEOLOGIA BÍBLICA, “Olharão para aquele que transpassaram.” (Jo,19,37).
Esta expressão de João reporta-se a uma
cena narrada no Livro de Números, cap.21, em que o povo murmurava contra Moisés
porque não tinham carne nem mantimentos no deserto, e então, no eufemismo de
época, o livro descreve que “Deus mandou
serpentes venenosas que os picaram, e morreram muitas pessoas”. (Num. 21, 1-6) Aí,
“por indicação” de Deus, Moisés teria levantado uma serpente de bronze num
poste, e quem olhasse para ela seria curado.” (Num.21,6s). Afinal, em tempos
mais antigos o filho de um deus teria vindo em socorro de pessoas que também
andavam no deserto, e eram picadas por serpentes. O povo orou ao seu deus,
assim como fez Moisés, e ele mandou o seu filho em socorro desse povo. Ele ficou
enrolado numa planta, o povo olhou bem para ele, e ficaram curados. Ficou
conhecido como Esculápio o filho do deus Apolo. Essa lenda deu origem ao
logotipo da Medicina, e deu origem à narrativa da Bíblia de que falei
acima.(Cf.Philipe Wajdenbaum, “os argonautas do deserto”, p.190). Naquela época
os autores já tinham este método de “Ctrl” (copia e cola), e assim fez o autor
do Livro de Números, num método de adaptação como aconteceu com a data do
NATAL. Por seu lado os autores do evangelho de João se inspiraram aí para
completar: “do mesmo modo como Moisés
levantou a serpente no deserto assim é necessário que o Filho do Homem seja
levantado, para que todos que nele crerem tenham a vida eterna”.(Jo.3,6). Isto é, no seu catecismo os autores deste evangelho foram buscar a citação de
Números, assim como o livro de Números foi buscar a cena de Esculápio. Isto
chama-se uma adaptação. Há outros exemplos destas adaptações na Igreja. Uma
delas é a data do Natal. Ninguém sabia a data do nascimento de Jesus na época
de Constantino, séc.IV, então a Igreja aproveitou a festa do deus Mytra o deus
Sol, que era celebrada em Roma no dia 25 de dezembro, para transformá-lo no dia
do nascimento de Jesus. Esse dia era conhecido como a festa do “dies solis invicti natalis” quer dizer, o dia do nascimento do Sol
invicto. Trocado em miúdos, ficou chamada a Festa do Natal. Assim a celebração do Natal transformou e adaptou a
maior festa pagã do império romano para a festa do Natal. Assim a festa do deus
Mytra passou a ser a festa de Jesus no Novo Testamento. No próprio império
romano nascia a maior festa cristã nas raízes da maior festa pagã. A isto
chama-se transformação e adaptação. Se fossemos enumerar o que há de mais casos
históricos levaria muito tempo e páginas e paciência. No título desta página
fizemos referência a outro dito do evangelho de João, referindo-se justamente à
posição de Jesus na cruz: “olharão para
aquele que transpassaram” (Jo.19,37). Mais uma referência à recomendação de
Números: “Os que olharem, i.é, os que
virem ficarão curados”. Essas mesmas
palavras vêm no primitivo quadro do deus Esculápio filho do deus Apolo: ”Olhem bem para ele, escondido na planta,
para ficarem curados”.(Ph. Wajdenbaum o.c.p.197). João também diz que isso já tinha sido proferido pelo profeta
Zacarias. No entanto os comentadores referem o pronunciamento de Zacarias à
morte de Josias, o último rei de Judá, morto por um sodado egípcio na batalha
de Meguido. E as palavras são diferentes: Eles
olharão para mim por causa daqueles que foram transpassados e lamentarão como
quem lamenta a morte de seu único filho, ou a morte de um primogênito”
(Zac.12,10). Também os estudiosos notam que esta citação não aparece em
nenhum outro evangelho, nem em lado nenhum do N.T. e nem em São Paulo. Aliás, em épocas posteriores ao profeta Zacarias eram lidas também edições do escritos do famoso Apolônio de Rodes, o autor do livro original que referimos "Os argonautas" onde narra as curas de Esculápio.
Conclusão.
Parafraseando o evangelho, no nosso tempo diríamos que não basta olhar só para
Jesus na cruz. Essa atitude era a atitude histórica do povo sofredor no meio
das “serpentes”, mas agora o povo sofredor está no meio das ruas das grandes
cidades, e são picados pelos venenos das políticas exclusivas que os desprezam,
os marginalizam e matam de morte matada pela arma das policias, pela arma dos
vigias de supermercados dos que os vigiam como não tendo o direito de entrar
nos supermercados. E no meio de tudo isso há a mística quase nunca entendida: “O que fizerem ao menor dos meus irmãos é a
mim que estarão fazendo”. (Mt.25,40).
P.Casimiro João
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segunda-feira, 18 de março de 2024
TEOLOGIA BÍBLICA, UMA SÓ LETRA OU UMA VÍRGULA.
Tomemos um exemplo em Mateus: “Não penseis que vim para abolir a lei e os
profetas; não vim para abolir mas para dar-lhes pleno cumprimento. Antes que o
céu e a terra deixem de existir, nem uma só letra ou vírgula serão tiradas da
Lei, sem que tudo se cumpra. Portanto, quem desobedecer a um só destes
mandamentos, por menor que seja e ensinar os outros a fazerem o mesmo será
considerado o menor no Reino dos Céus; porém quem os praticar e ensinar será
considerado grande no Reino dos Céus”(Mt.5,17-19). Em primeiro lugar, se
tomarmos este discurso à letra, Paulo seria o menor no Reino dos Céus, ou mesmo
excluído. Mas ele é um dos maiores no Reino dos Céus. E então? Ou a Bíblia
brinca ou temos que procurar uma explicação. É o que tentaremos fazer.
Comparemos com estas afirmações de
Paulo:”O homem é justificado pela fé, sem
a observância da lei”(Rom.3,28). E: “Ele(Jesus)
aboliu na sua própria carne as obras da Lei”(Ef.3,15). Paulo pôs a cabeça a
prêmio para acabar com a circuncisão. Jesus falou contra a observância do
sábado: “O sábado foi feito por causa do
homem, e não o homem por causa do sábado”(Mc.2,27). Falou contra a obsessão
da lei de lavar jarros e copos
segundo o mandamento deles (Mt.15,20). Contra
o conceito de comer “alimentos impuros” (Mt.19 ss). Faremos a pergunta: Então o
evangelho está cheio de contradições? Sobre o mudar “uma só letra ou vírgula”,
há um grande reparo a fazer. Os estudiosos dos pergaminhos e documentos antigos
estão carecas de observar que os copistas omitiam e trocavam letras, palavras,
vírgulas e pontos por falta de certezas e por falta de clareza do que estavam
copiando. Ou por engano próprio ou por falta de visão devido à fraca luz das
lamparinas de óleo ou de azeite, por cansaço do trabalho e de letras apagadas.
Quantas trocas devem ter acontecido, é impossível de calcular. Além de outra
coisa: as traduções de uma língua para outra: do aramaico para o grego, grego
para o latim, de novo para o aramaico e hebraico. Impossível de imaginar. Todos
os estudiosos e investigadores das ciências bíblicas afirmam que não existe
mais nenhuma Bíblia “original”, nenhum evangelho “original”. Dois pontos
importantes a considerar: Nos primeiros tempos da era cristã o povo era livre
de “aumentar” palavras, frases e textos nos evangelhos, Cartas, etc. Assim como
também faziam isso os próprios Judeus na sua Bíblia do Antigo Testamento. Um
cristão lembrava de fazer um comentário de tal discurso, de tal evangelho, e
fazia; o seu escrito ficava lá grudado junto com o evangelho, de tal maneira que
ninguém sabia se eram de Jesus essas palavras ou dos primeiros autores ou de
quem. Simplesmente ficavam lá. Podia ser um pregador, um catequista ou outro
cristão. Quem sabe, às vezes era de alguém que não concordava com o que estava escrito
e aumentava no texto a sua opinião. Do mesmo modo os Judeus na sua Bíblia, como
disse. Até que por fim os Judeus puseram um ponto final nisso e determinaram
acabar com esse costume e essa liberdade. Isso foi no século II d.C. o chamado
“canon.” Depois deles os cristãos fizeram a mesma coisa mas só mais tarde, no
século IV, o “canon” do Novo Testamento. Até essa data, o que não terá
acontecido de acrescentos e comentários nos evangelhos? Você pode imaginar.
Vejamos o que dizem os autores: “A Bíblia
não é mais a mesma desde que começou a ser elaborada. Há diferentes razões para
isso, como traduções, e reinterpretações dos manuscritos; as cópias eram feitas
à mão, e não sempre por profissionais. Ela não é um livro único mas um
compilado de diversos livros reunidos, que foram sendo escritos ao passar dos
anos. Esse detalhe resulta em erros, omissões de partes dos manuscritos e,
importante, tanto por problemas na tradução como por desejo de quem fazia a
cópia. Caso você não saiba de química básica, folhas de celulose ou fibra, como
papiros, ou couro de animal, se deterioram na presença da humidade, por este
motivo não se tem os originais dos textos bíblicos. Não existe originais da
Bíblia em local nenhum do mundo. O papiro p66, por exemplo, data do séc. III e
não contém a famosa passagem da mulher adúltera. A Bíblia é baseada na sua
grande maioria nos textos fragmentados, faltando partes, e tentando completar o
que faltava. De qualquer forma, o livro que conhecemos como “Bíblia sagrada”
não tem um original”.(C. Grossmann, Quora, 2009). No caso presente era a
época quente das polêmicas sobre a “circuncisão”. O Paulo pregava que não mais
necessária a circuncisão, outros que sim. Os cristãos convertidos do Judaismo
faziam muita polêmica. O Paulo já não estava vivo, mas ficaram as Cartas dele.
As Cartas de Paulo começavam rodando. As Cartas foram escritas antes dos
evangelhos. No caso, este evangelho de Mateus foi escrito nos anos 80-85. Por
outro lado, na comunidade onde foi escrito o evangelho de Mateus havia muita
influência de Pedro, pois era a região de Antioquia onde Pedro tinha pregado. E
como sabemos, entre Pedro e Paulo havia embates sobre a circuncisão. Pedro era
indeciso e Paulo era firme na sua decisão. Não é então de admirar que, ou no início
da escrita do evangelho, ou depois, qualquer pregador aumentasse a sua opinião
e escrevesse mesmo no evangelho contra a doutrina de Paulo. Aí havia o perigo
seguinte: muitas pessoas podiam ficar confusas sobre se foi Jesus ou não quem
falou este discurso que até só vem no evangelho de Mateus. É o que aconteceu em
toda a Idade Média até há pouco tempo que se ia repetindo. Infelizmente a
Igreja ensina-nos só a repetir, e não a pensar, e ameaçando com os dogmas. Até
que estudos e documentos encontrados e comparados, como os documentos do Mar
Morto em 1946 levaram os estudiosos a descobrir por sinais certos que muitas palavras
não são originais de Jesus nem dos primitivos evangelhos, como no caso que
estamos estudando. Há uma ciência que consiste em comparar essas cópias em
busca do que seria o texto original.
Conclusão.
É divertido o estudo da Bíblia. Afinal, à primeira vista alguém poderia ficar
amarrado com o tal “quem mexer numa só letra ou virgula” (Mt.5,19), como a
galinha fica amarrada por um fio desenhado no chão, e afinal a Bíblia não foi
só mexida numa letra mas em muitas, e muitas virgulas. Naquela época havia uma
“polarização”, digamos, entre os radicais ou fundamentalistas contra um Paulo e
os cristãos e comunidades que avançavam na compreensão da revelação e da fé e
que, parafraseando Jesus, podiam dizer que “o homem não foi feito para a
revelação, mas a revelação é que foi feita para o homem”, e da mesma maneira a
fé: “o homem não foi feito para a fé, mas a fé é que foi feita para o homem”.
Uma observação: O que veio primeiro o homem ou a revelação? O homem ou a fé”?
P.Casimiro joão smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
segunda-feira, 11 de março de 2024
TEOLOGIA BÍBLICA, DEUS YAHWEH FRACO E FORTE.
Nos padrões do antigo Oriente a derrota
de uma nação poderia também indicar a impotência de seu deus. A nação da Bíblia,
que sempre considerou o seu deus Yahweh como o mais forte, um dia entrou em
crise com as sucessivas derrotas de que foi alvo. E agora? Era a pergunta.
Nessa hora tiveram que amargar e enfrentar a sanha dos deuses vizinhos que
“teriam derrotado” Yahweh assim como tinham derrotado a nação. Ashur, o deus
mais vizinho era visto como um imperador divino sobre todos os deuses das
outras nações. Assim o deus Ashur tinha o mesmo nome da Assíria e tinha
derrotado Yahweh. E o pior era que a Assíria dominava o mundo todo, desde o
Egito até a Palestina. Israel era um país quebrado. E de quebra, há um dado
importante nisso tudo: a base social de Israel foi quebrada, ao mesmo tempo que
a nação, qual era a base social? A família. E como é que a família foi
quebrada? Com os sucessivos cativeiros onde eram escravos. Como a terra fazia
parte da família, ela foi deixada para trás; os filhos foram deixados e
separados dos pais, e as mulheres separadas dos maridos. E ainda mais, os reis
ficaram também na cadeia feitos prisioneiros, ou mortos. Foi assim o retorno do
exílio quando essa nação quebrada voltou aos pedaços das terras estrangeiras.
Foi quando, em vez do rei, era nomeado o sumo sacerdote para o governo no lugar
dos reis que já não existiam mais, com exceção de João Hircano, (104 a.C.)
quando os romanos lhe concederam o título de rei antes de ser assassinado. Isto
era o ano 537 a.C. quando Ciro mandou eles de volta para suas casas, mas na
condição ainda de escravos da Pérsia que tinha vencido a Babilônia, e depois
ainda no poder de Alexandre, o grego em 333 a.C. no período helenístico, tendo
uma folga de 40 anos no período dos macabeus até cair no poder dos romanos em
63 a.C. Digamos que isto teria sido providencial da seguinte maneira: Antes, os
reis tínham os seus deuses, como qualquer um dos reis das nações vizinhas, ou
quando casavam com estrangeiras ou tinham concubinas que traziam os seus
deuses. Agora não tinham mais o rei, não tinham os deuses do rei e das
concubinas. E aquilo que anteriormente tinha sido tão criticado sobre os “deuses”
das outras nações eles esqueceram que
tinham sido também os seus deuses. Era agora a hora de começar a cumprir. Era o
século III e II antes de Cristo, quando Israel começou a considerar-se povo de
um só deus ou monoteísta porque disseram Yahweh é o nosso rei e o nosso deus
porque não temos outro rei, (Cf.Daniel, 3, 37ss.) Aliás, muito antigamente já
tinha havido o Akenatón do Egito que em 1.200 a.C. tinha decretado um só deus
para toda a nação, o que foi praticado até a morte dele.
Nesta época que estamos falando, a
Bíblia foi editada, e reeditada, e o monoteísmo que agora adotaram, digamos, na
marra, eles o estenderam como se tivesse sido praticado em épocas anteriores, o
que é uma falácia. E nas reedições que agora fizeram assim colocaram nas novas
reedições, desde o Êxodo, Deuteronômio, Crônicas etc.(Cf. 2Cr.36,14) Autores
modernos colocam esta data como a mais produtiva da escrita e reescrita da
Bíblia, dizendo que antes tinham só “ensaios”, nós diríamos rascunhos. E teria
sido esta a data da elaboração definitiva da Torah e dos Livros
Históricos, de Gênesis até Reis. (Cf. Mark Smith, “O memorial de Deus”, p.170).
E também Philippe Wajdenbaum, “Os argonautas do deserto, pari passu). Vejamos o
que diz M.Smith: “As reedições de grandes
textos religiosos sobre o passado parece ajudarem a gerar e a modificar a ideia
de uma deidade única na história bíblica”(o.c.p.177). E assim, esta atividade
de editar e reeditar textos antigos envolveu também sua configuração: Textos
deste tipo e deste tempo canalizaram todos os papéis dos deuses anteriores para
esta única divindade agora adotada, o Yahweh. Deste modo foi construída uma
afirmação pós-exílica sobre o monoteísmo como sendo constante em todo o passado
de Israel. “No contexto pós-exílico uma
das mais importantes asserções do monoteísmo reside na construção da primeira
metade da Bíblia Hebraica canónica, a Torá e os Livros Históricos” (M.Smith,
o.c.p.179). Na verdade, vejamos a data em que os estudos modernos colocam a
escrita da Torá e dos Livros Históricos: “O
formato destas obras foi concluído ao redor de 198 a.C. à época de Ben Sirac, sendo a última reedição do fim
do império persa. Desta maneira, e nesta estratégia, o politeísmo foi empurrado
para as sombras, ou negado, como se em todo o período tivesse havido “um só
deus em Israel” (o.c.p178),
estratégia que já foi explicada neste blog (www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br de
25/2/24). Um exemplo flagrante: “Em
Êxodo, 6,2-3 fica bem claro que que os patriarcas não conheciam a deidade pelo
nome que a tradição javista associou ao chamado de Moisés” (o.c.p179). Estamos
vendo como a “memória coletiva de Israel
e a amnésia coletiva de Israel ajudou a gerar e visão monoteísta da Bíblia fora
da cosmovisão politeísta israelita mais antiga e, então, interpretaram os fatos
antigos à luz da nova visão” (o.c.p.179). Estamos agora observando como no
mundo acontecem coisas estranhas: religião e política caminham juntas, ou para
bem ou para mal. Sobre as acirradas críticas aos santuários de Dã e Betel, com
o deus Baal se recusando a unir-se aos cultos de Jerusalém com o deus Yahweh
mas também com a deusa Asherá o autor M.Smith observa o seguinte: “O problema não era ter ou não ter outros
deuses mas era a competição de diferentes divindades apoiadas por diferentes
santuários”.(o.c.p.81). Isto é, não eram problemas religiosos mas políticos
porque tanto em Betel como em Jerusalém cultuavam vários deuses e deusas, como
a Asherá, esposa de Yaweh. E tanto
assim que eles levaram esta briga até transportá-la para o Monte Sinai, onde
estrategicamente montaram a cena do “bezerro de ouro”. E tanto em Betel o deus
Baal era representado como um “bezerro de ouro” como em Jerusalém o deus Yaweh
era representado também como um “bezerro”, junto com a consorte “Asherá”, a
“Rainha do céu”(Cf. o.c.p.101; cf. Jer.7,18 e 44,19). Esse bezerro de ouro estava acontecendo
nesse momento entre eles. Na verdade O Sul queria que todos viessem em
Jerusalém, mas os do Norte não queriam e fizeram seus santuários e os seus
deuses (Dã e Betel). Embora que tanto uns como outros tinham vários deuses, com
suas imagens. O povo da Samaria fez esses cultos “a fim de impedir a sua
população de continuar sua peregrinação a Jerusalém,” (o.c.p.62; cf. 1 Reis,
cap.12), i.é, para que os Baal do Norte não fossem adorar os Baal de Jerusalém.
Antes de concluir, diremos com M.Smith que com todas as habilidades e
estratégias de época em época o Sinai conseguiu firmar-se como “uma realidade
quase divina, consistindo de múltiplas partes de diferentes períodos; em
resumo, como uma unidade “divina e eterna”, ainda que um amálgama humano unido
pelo tempo”. (o.c.p.215). Assim como “mudanças posteriores sobre as figuras de Davi
e Moisés foram transformados em figuras heróicas e lendárias”(id.p.230). Em
consequência: ”Historicamente falando, a revelação no Sinai, como ela é
apresentada na Bíblia, não “aconteceu” no ponto de origem de Israel. Em vez
disso, como vimos, a apresentação bíblica do Sinai envolveu descrições
construídas em vários pontos no tempo, apresentadas como uma única narrativa”
(o.c.p.232). Além disso, como dissemos na página anterior, Não há evidências claras da estadia de
Israel no Egito nem em fontes e documentos egípcios, nem na
arqueologia. (M.Smit, O memorial de Deus,p.176-177).
Conclusão.
Terminamos como começamos: Yahweh, deus fraco e forte. Era fraco quando sofriam
derrotas. Mas eles queriam sempre ganhar, e que Yahweh sempre ganhasse. Mas ele
ganhou sendo fraco e “derrotado” porque com as derrotas sucessivas do povo judeu
ele veio a ser o “deus e o rei dos judeus que já não tinham outros reis nem outros
deuses como vimos atrás. E assim a política andou sempre no meio. E apesar da
relativa folga depois de voltarem para suas casas, nunca o povo judeu alcançou
a liberdade depois da queda da Samaria no séc.VIII a não ser por uns 40 anos
com os macabeus, de 123 a 63 a.c. ano da conquista por Roma. E nunca também
deixou o politeísmo. Porém, depois dessa sujeição histórica às nações
estrangeiras e depois desses deuses que sempre cultuou, Yahweh ficou escolhido,
digamos, na marra, como único deus. Foi então o último recurso, e dali em
diante Israel, diante do mundo, teve ocasião
de ficar como o padrão de nação monoteísta. Vejamos o que diz uma
escrita da época: “Senhor, estamos hoje
reduzidos ao menor de todos os povos, somos hoje o mais humilde de toda a
terra: estamos sem reis, sem profetas, sem guias, não há holocausto nem
sacrifício, não há oblação nem incenso, não há lugar para oferecermos em tua
presença as primícias e encontrarmos benevolência”(Dn.3,37-38). É como você
quando não tem mais ninguém para quem recorrer é que se apega com Deus. Assim,
quando ficaram sem rei e sem seus deuses e suas concubinas, ele ficou como
único rei e único deus, como vimos, menos de 200 anos antes de Cristo. “Quando não há mais recursos, só Deus mesmo”.
Digamos que pela sua “fraqueza” Yahweh se tornou o deus “forte”,
historicamente, politicamente, e teologicamente.
P.Casimiro João smbn
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