segunda-feira, 26 de maio de 2025

TOMÁS DE AQUINO PERSEGUIDO E SUA TEOLOGIA.


 

Tomás de Aquino começou  por ser um teólogo muito contestado, combatido e difamado como modernista e suspeito de heresia pelos teólogos tradicionalistas do seu tempo, no século XIII, 1274. Foi destituído da Ordem dos Dominicanos e expulso da Universidade de Paris onde ensinava, e por fim foi formalmente condenado como herege. Estas penas perduraram por três séculos, até ao século XVI, até à Reforma Protestante. Então a sua obra, Summa Theologiae é que foi reconhecida pela Igreja, e entrou nas Universidades (Cf.H.Kung, Teologia a caminho, p. 165). Porque aconteceu isso? Os teólogos atuais nos dizem os motivos. “Não só na teologia, mas nas ciências, os descobridores de novidades, que ameaçam o modelo estabelecido, podem ser moralmente desacreditados como ‘perturbadores da paz’, ou simplesmente reduzidos ao silêncio” (o.c.p.166). Foi o que aconteceu com São Tomás de Aquino, que começou um novo modelo de Teologia que ameaçava os padrões estabelecidos tradicionais. Vejamos como era o ambiente em que foi escrita a teologia da Summa Theologiae. A teologia e a exegese bíblica, antes de Tomás de Aquino baseavam-se na interpretação da Escritura em sentido alegórico, simbólico e metafórico-espiritual seguindo o método tradicional que vinha já de Orígenes,  o principal teólogo do Oriente do séc.II d.C. Esta linha teológica e exegética, retomada também por Santo Agostinho, perdurou por mil anos, justamente até ao período de Tomás de Aquino. Após Agostinho, qual foi o motivo do surgimento da Summa de Tomás de Aquino? Ele desenvolveu a revalorização da razão diante da fé, o sentido literal da Escritura em face do sentido alegórico-espiritual, e o sentido da natureza diante da graça, e da filosofia diante da teologia. A mola que orientou o novo paradigma de Tomás foi o ressurgimento da filosofia de Aristóteles, que serviu de base para a Summa Teológica. Com estas ferramentas em mãos, algumas Universidades adotaram este novo paradigma de ensino. Tomás de Aquino organizou e expandiu este novo paradigma na sua teologia que ultrapassava o paradigma clássico e tradicional da teologia agostiniana, que ficava ultrapassada. Porém, as mais célebres Universidades, como a de Paris e de Oxford detonaram Tomás de Aquino até ao ponto de ser excluído e expulso de ensinar na Europa. (o.c.p.165). Estamos falando de Paradigmas, o que são? Paradigmas são sistemas conceituais ou esquemas filosóficos que são caminhos de pensamento. E quem está num caminho onde se sente seguro, dificilmente quer enveredar por outro caminho desconhecido. Foi o que aconteceu com os opositores de Tomás de Aquino, que mostrou um paradigma ou caminho novo, e foi rechaçado por 300 anos, até que fosse aceito. Começamos por dizer que há macro, meso e microparadigmas. Exemplo de macroparadigma: o modelo agostiniano, que perdurou por 1000 anos; o mesoparadigma, com a doutrina da criação e da graça e sacramentos; e microparadigma, com a doutrina do pecado original e da união hipostática. Como vimos, os paradigmas ou “modelos” são caminhos provisórios ou projetos teóricos enquanto não se descobrem outros melhores. Não há modelos ou paradigmas absolutos, e sim novas buscas constantes para descobrir novos aspectos da realidade. Ultimamente, deixando agora para trás S.Tomás, um novo paradigma surgiu, com o despertar do Renascimento e com as novas filosofias daí resultantes, assim como com o despertar das novas ciências. É o paradigma ou modelo da teologia histórico-crítica. Como aconteceu com o novo paradigma de Tomás de Aquino, assim este novo paradigma encontra muita estranheza nos teólogos acostumados com o padrão tradicional, igual os tradicionalistas que combateram Tomás de Aquino. Como dizem os teólogos atuais, “os novos modelos teológicos de interpretação não surgem porque alguns teólogos gostam de brincar com o fogo ou porque ficam sentados  na escrivaninha criando novos modelos, e sim porque o modelo hermenêutico tradicional teve validade de prazo vencido” (o.c.p.172). O concílio vaticano II falou bem claro que a Escritura é a “norma normans”, ou seja o princípio normativo da Teologia.(Dei Verbum,12,3). O concílio fala que a Palavra de Deus é “alma ou princípio vital” de toda a teologia. Falamos que na transmissão dos conteúdos da fé, em cada época se vive num horizonte diferente conforme a visão e as ferramentas que aumentam ou diminuem a visão desse horizonte. Assim como o nosso horizonte visual hoje não é o mesmo de há 500 anos atrás, com os modernos telescópios de ciência de hoje. Em um mundo mágico, assim os humanos se expressavam. Como esse horizonte era o mundo mágico deles, o mundo de hoje vive cada vez menos do mágico e mais do científico. Como dizem os teólogos, “a teologia não consiste na ‘simples repetição’ de um ensinamento supostamente eterno; ao contrário, trata-se de uma tradução da mensagem histórica daquele mundo de experiência ao nosso mundo de hoje” (o.c.p.198).

Conclusão. Ninguém hoje, com um mínimo de instrução, tem o mesmo olhar sobre o universo e a pessoa humana dos tempos de S.Agostinho e de S.Tomás de Aquino. Foram gênios no seu tempo, mas também passaram de época e de prazo de validade. Inclusive, hinos litúrgicos que deixaram, pertenciam ao horizonte da fé e da teologia da época, que hoje ó outra e noutro horizonte.

P.Casimiro João       smbn

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segunda-feira, 19 de maio de 2025

CULTO ÀS RELIQUIAS, ORIGEM


 

As verdades reveladas, para S.Tomás, eram a “autoridade sagrada”. Porém, no século XVI essa autoridade sagrada faliu, e a Igreja antes “unida na fé”, da cristandade, se desuniu. Falamos isto a respeito da definição e essência do que é a Teologia fundamental: A teologia fundamental é a ciência do por quê. Ela estuda o evento da revelação e a sua credibilidade. Define-se como a disciplina que constitui a função do saber teológico e imbricada com outras ciências evidencía o caráter científico, hermenêutico e metodológico da Teologia. Como ciência do porquê ela se interroga permanentemente sobre seus conteúdos à luz das novas aquisições do saber universal, e sabe tornar presente ao homem de todos os tempos a riqueza  inexaurível da revelação cristã.  Sendo uma ciência do saber crítico, ela encontra a sua razão de ser naquela pergunta do livro de Deuteronômio, 6,20 onde o membro mais jovem da família pergunta aos mais velhos: “porque fazemos estas coisas”?  E segue-se a resposta do pai da família dizendo que eles eram um povo nômade, sem pátria e sem identidade, escravo no Egito, eleito pelo Senhor e possuidor do dom da Lei e da terra prometida. Aqui há uma revelação que é transmitida a outra geração. E há um ato de fé em gérmen na criança. E para que a criança, com sua idade em andamento possa ganhar um saber e uma consciência de que nesse saber não está sendo enganada. Temos ai a gênese da teologia fundamental: um evento de  uma revelação e um saber livremente perguntado e respondido, até porque aberto a outras perguntas e outras respostas que virão depois, conforme a idade da criança e suas motivações. A teologia fundamental começa onde as fases do crescimento formulam outras perguntas, e onde o confronto contribui para descobrir novas respostas. Em épocas antigas da Igreja a Teologia fundamental reduzia-se à “Apologética”, chovendo no molhado de sempre e só repetindo o que já estava aprendido, e fabricando barreiras para não tomar contato com outras ciências, julgando-as inimigas da Igreja, em vez de usá-las como escadas e molas de crescimento. Num jogo de futebol, a equipe que só opta pela defesa, inevitavelmente perde porque não aproveita os lances da outra equipe para fazê-los seus e avançar para o seu campo. Assim era  na Apologética antiga, que só jogava na defesa e no método defensivo. Porque a teologia fundamental é o estudo do acontecimento da revelação e sua transmissão. E como transmissão, assume a idade, o conhecimento e as ciências e as capacidades do sujeito. A revelação é o conteúdo, a transmissão  é o método. Uma comparação com o conteúdo da ciência médica: não se pode fazer hoje, num moderno hospital uma cirurgia do coração com os métodos da há 500 anos atrás. Estamos falando no método da revelação, falemos agora no conteúdo. Durante a história da teologia houve várias interpretações do conteúdo da revelação. Santo Irineu dizia que há três modelos de revelação: a criação e o mundo, o corpo humano, e o Verbo feito corpo também. Por outro lado, as Enciclopédias antigas traziam que a revelação era a comunicação de verdades religiosas que Deus faz pessoalmente ou por meio de um anjo. (confira a semelhança com o islamismo).  A atual noção de revelação é uma experiência do sagrado no A.T. e no N.T. a experiência do evento chamado Jesus Cristo. Voltando atrás, antes das Enciclopédias, a revelação foi definida  por Tomás de Aquino como “doutrina sagrada”, i.é, os ensinamentos contidos na Escritura e interpretados pela fé da Igreja. Porém, no século XVI a autoridade da Igreja foi abalada, e a Igreja antes unida pela fé da Cristandade se desuniu. E há um item importante: a Idade Média foi caracterizada  pelo surgimento das Universidades,   onde o “mestre” era aquele que detinha a “autoridade”. Diante disto surgiu uma resposta inédita para explicar o colapso da unidade tradicional da fé: “Cada região com a sua religião”, “cuius régio eius et religio”(Rino Fisichella, Introdução à Teol.Fundamental, Loyola p.76). Chegou-se aí porque o despedaçamento dessa unidade seguira-se ao fato de que a razão devia ter um papel importante no campo da fé. Inaugurava-se assim uma nova etapa do saber cristão, como saber humano e saber teológico. O concílio de Trento já se deu conta disso e com isso se deparou. E  o que aconteceu depois? No século XVI a fé agora dividiu a cristandade, e a unidade parecia poder ser alcançada somente por meio da razão. Por isso o eixo de interesse começou a deslocar-se da fé para a razão. A razão entra em cena na sua relação com a fé, e parece que deu lugar à religião, compreendida como exigência natural do homem.(o.c.p.77). A explicação foi a constatação de que a fé cristã já não era mais o instrumento de unidade em condições de manter os vários Estados e reinos ocidentais unidos. Seria o caso de explicar com o jargão: “foram-se os anéis, ficaram os dedos”. Afinal das contas, a fé parece que ficou trocada pela religião; a religião invadiu o campo da fé. Como vimos noutro Blog, a religião são as estruturas e sistemas; a fé é o coração e o espírito; a fé são os dedos; os anéis são as estruturas. Há ainda por trás disso outras causas: os ataques iniciais ao poder temporal da Igreja, e a possibilidade de Deus revelar-se a uma existência pessoal. Vendo então que o rio da história não estava correndo para a Igreja com aquelas águas mansas, a teologia da Igreja refugiou-se encarando a religião como refúgio a alguns dos seus ataques, porque a religião pode não incluir fé nenhuma, mas ficar só nos sinais e símbolos, e nas estuturas, como aquele que faz promessas aos Santos até para “matar a Deus.” E de quebra, escreveram-se vários livros de Aretologias, i.é, livros fantasiosos de muitos milagres que não levavam à fé, mas só à religião, ou ao deismo, popularmente chamado de religião de fachada.

Conclusão Há helenismos que entraram no imaginário cristão e católico, como aquele dos Atos dos Apóstolos onde se diz que “Colocavam os doentes para que a sombra de Pedro os tocasse” (At.5,15), assim como as vestes de Paulo que curavam doentes (At.19,12).  Foi assim, segundo os estudiosos, que apareceu o culto às relíquias (o.c.p.82). Para entender no seu ambiente e na sua história pagã e mítica é que o “saber” e o “discernir” do ato de fé  tem que intervir contra uma fé infantil e folclórica e fantasiosa.

P./Casimiro João     smbn

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segunda-feira, 12 de maio de 2025

A BÍBLIA DIZ, OU A BÍBLIA DIZIA?


 

As mulheres estejam caladas nas assembleias: não lhes é permitido falar, mas devem estar submissas, como também ordena a lei. Se querem aprender alguma coisa, perguntem em casa a seus maridos, porque é inconveniente para uma mulher falar na assembleia” (1.Cor.14,34-35).  Sim, é como as crianças eram tratadas antigamente. E também as mulheres. E o respaldo: “como também e lei ordena”. Como primeira observação, a Bíblia dizia isso, hoje a Bíblia não diz. Antigamente a “lei” também dizia, hoje a lei não diz. Avancemos: “ Todo homem que orar com a cabeça coberta falta ao respeito ao seu Senhor. E toda a mulher que ora tendo a cabeça coberta falta ao respeito ao seu Senhor, porque é como se tivesse a cabeça rapada. Se uma mulher não se cobre com um véu, então corte o cabelo. Ora, se é vergonhoso para a mulher ter os cabelos cortados ou a cabeça rapada, então se cubra com um véu. Quanto aos homens não devem cobrir sua cabeça porque o homem é imagem e esplendor de Deus. A mulher é o reflexo do homem. Com efeito, o homem não foi tirado da mulher, mas a mulher do homem; nem foi o homem criado para a mulher, mas sim a mulher para o homem” (1 Cor.11,5-9).  De novo, sobre a oração, o recurso à lei dos romanos da época. “Romano rezava não tendo a cabeça coberta” (Apud Eliott, Libertando Paulo, Paulus 2013, pag.277). Claro que não tinham os SALÕES de beleza, então o autor da Carta punha-se no lugar de cabeleireiro e dono de Salão. E como não havia ainda a cosmologia do Big-Bang punha-se no lugar da criança da catequese, que a “mulher foi tirada da costela do homem”. Portanto, orar com a cabeça coberta era faltar ao respeito ao seu Senhor. Era para se adequar aos romanos que assim faziam também “diante dos seus deuses”. E o inverso era igual para as mulheres porque as mulheres de Roma oravam com a cabeça coberta. E tudo era “como manda a lei. Se no entanto, alguém quiser contestar, nós não temos tal costume, e nem as igrejas de Deus.” (1.Cor.11,16). Porque não podiam contestar? Porque não podiam ir contra os costumes da Colônia, porque eles eram colonos de Roma. Com isto notemos os motivos desajeitados e espiritualizantes da Carta, e digamos, machistas: “porque o Senhor de todo homem é Cristo, e o senhor da mulher é o homem” 1Cor.11,3. Não será que Cristo é tanto Senhor do homem como da mulher?  O autor da Carta procura uma explicação que nós diríamos furada, para encontrar um fundamento banal. Por outro lado, é também por essa espiritualidade e esse fundamento que também se encontra a mesma sem razão na Carta aos Efésios: “As mulheres sejam submissas aos seus maridos, como ao Senhor, porque o marido e a cabeça da mulher”(Ef.5,22). A explicação maior e fundamental para todo esse desajuste é: “Esse foi o contexto no qual foram escritas estas Cartas, e que já não é hoje. Assim como os outros contextos quando se fala em circuncisão e não circuncisão, e ritos de lavar as mãos, copos e vasilhas” (o.c.p 274). Na verdade, quem ainda queira teimar na aceitação desse contexto daquela época terá que aceitar também apedrejar as mulheres, e não deixar mulher falar e pregar nas igrejas, nem servir nos altares, nem ministrar a comunhão. E na vida civil não usar pix, nem ser professora ou doutora, nem juíza e nem ministra, deputada ou senadora. Por isso quem diz: “A Bíblia diz”, seria mais adequado dizer: “A Bíblia dizia”. Ou seja, dizia para aquela época, e não diz para a nossa época de hoje. Temos mais sobre o ambiente que se vivia “naquele tempo”.  Do mesmo modo, quero que as mulheres usem traje honesto, ataviando-se com modéstia e sobriedade. Seus enfeites consistam não em primorosos penteados,  ouro, vestidos de luxo, e sim boas obras como convém a mulheres que procuram a piedade. A mulher ouça a instrução em silêncio, com espírito submisso. Não permito à mulher que ensine nem que se arrogue autoridade sobre o homem, mas permaneça em silêncio. Pois o primeiro a ser criado foi Adão. Depois Eva. E não foi Adão que se deixou iludir, e sim a mulher que, enganada, se tornou culpada da transgressão. Contudo, ela poderá salvar-se cumprindo os deveres de mãe, contanto que permaneça com modéstia” (1Tim.2,11-15). De novo tratando a mulher como criança, e no preconceito de culpada da “transgressão”, na interpretação primitiva do mito da criação, e relegando a mulher à função biológica de só reproduzir filhos. Finalmente, o autor desta Carta a Timóteo não é Paulo, mas um aluno dele que se preocupava com roupas e adereços, como confirmam os autores atuais (o.c.p.74). Aqui vemos as mesmas regras citadas atrás. Isto leva a maior parte dos intérpretes a dizer que esta passagem foi copiada com algumas modificações para a 1 Carta aos Coríntios, e respingando para Efésios.

Conclusão. A Bíblia dizia milhares de coisas segundo o “contexto” da época. Hoje o contexto é outro, onde essas coisas não se podem dizer. Por isso seria mais adequado dizer: “A BÍBLIA DIZIA”, em vez de “A BÍBLIA DIZ”.

P.Casimiro João   smbn

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domingo, 11 de maio de 2025

NOME DE PAPA, HISTÓRICO

O termo "papa", no início era dado a qualquer bispo ou ancião da comunidade cristã. Significava pai. A partir do século VI, começou a ser mais usado para o bispo de Roma, mas só foi oficialmente declarado como título exclusivo do bispo de Roma em 1073, por Gregório VII. O primeiro bispo de Roma que trocou o seu nome foi João II, que tinha o nome batismal de Mercúrio. Por ser o nome de um deus pagão, ele adotou o nome de João, e assim ficou João II porque o anterior tinha sido também João, no ano de 533. E daí em diante a moda pegou, de trocar o nome do batismo. O único Papa que ficou com o nome do batismo foi o Para Adriano VI, ele que já era Adriano, 1459-1523.

P.Casimiro João       smbn

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sexta-feira, 9 de maio de 2025

ENTRE A CRUZ E A ESPADA.


 

Há um axioma hoje muito válido, devido ao pensador alemão Lessing, um dos grandes filósofos do Iluminismo que influenciou a teologia atual, onde se diz que “nenhuma religião possui toda a verdade, só o próprio Deus, qualquer que seja o seu nome, é a verdade” (G.Epfraim Lessing, apud H.Kung, Teologia a caminho, pag.263). Assim por exemplo, o ser humano procura  Deus como que às apalpadelas, como disse Paulo aos atenienses (At.17,27), ou como um enigma, num espelho, 1 Cor,13,12. Nós e também os bilhões de  pessoas de todas as religiões. Ah, mas nós temos os dogmas, e a palavra infalível de Deus. Cuidado, é por causa dos dogmas que a Igreja se tornou excludente, o que significa que a Igreja exclui, ou excluía um monte de gente, e hoje não exclui ninguém. No concílio de Latrão, em 1215 foi declarado como dogma que “fora da Igreja não há salvação”, e este dogma foi repetido no concílio de Florença cerca de 200 anos depois, em 1447: “ A santa Igreja romana crê firmemente, confessa e prega que ninguém fora da Igreja católica, não apenas os pagãos, mas também os Judeus, hereges e cismáticos não poderão entrar na vida eterna. Todos vão para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos, caso não se incorporem antes da sua morte à Igreja” (Denzinger, Hermann, op.cit.n.1351). Veja bem que este dogma já foi questionado no século XVI no concílio de Trento, e no século XVII Roma condenou os Jansenistas rigoristas franceses por propagarem este dogma; e em 1952 o Santo Ofício condenou o Capelão da Universidade de Harvard por continuar defendendo este dogma (Cf. H.Kung,o.c.p.266). Finalmente o concílio vaticano II considerou como nulas as declarações do concilio de Latrão  e de Florença na Constinuição sobre a Igreja: “Todos os que buscam a Deus sinceramente, procuram cumprir a sua vontade, conhecida por meio da consciência e agem sob o influxo íntimo da graça podem obter a salvação” (LG.n.16). E na Declaração sobre as religiões não cristãs: “A Igreja Católica não rejeita o que é verdadeiro e santo em todas as religiões” (NA.n.2). Isso significa que a posição católica tradicional  já não é a mesma daquelas épocas. E isto esclarece também, como afirma o teólogo H.Kung, “que a Igreja deixou aquele dogmatismo que se considerava de antemão na posse de toda a verdade, oferecendo às outras religiões apenas condenações ou exigências de conversão. Agora o desprezo das outras religiões deve ser substituído pelo apreço; a negligência pela compreensão; o proselitismo pelo diálogo. Na verdade, durante muito tempo, os pregadores e catequistas recebiam pedras em vez de pão” (o.c.p.217). Este axioma antigo de que todo mundo teria que entrar na Igreja católica pra se salvar é que gerou o jargão “fora da Igreja não há salvação”, fabricado por São Justino no séc.II, e que foi adotado e sacramentado pela Igreja. Não interessava em primeiro lugar a mensagem do evangelho, mas a Lei que obrigava com penas eclesiásticas e civis todos os cidadãos. Porque o cidadão tinha dois patrões, e duas camisas de força: a Igreja e o Império, porque agiam juntos. O cidadão estava fritado entre a cruz e a espada, como se dizia no jargão antigo. De um lado, a Igreja com a cruz, de outro lado, o Rei com a espada. E o “escravo-cidadão” exprimido no meio. Durante toda a Idade Média foi esse o regime. Foi preciso chegar o século XIX com a Declaração dos Direitos Humanos da liberdade de consciência e de religião para mudar esta situação, e dar a liberdade ao ser humano. Com isto, na Idade Média, havia duas espécies de escravidão: a física e a moral. A dos corpos e das mentes. A da sujeição aos donos de escravos, com a espada; e a sujeição aos donos da fé, com a cruz. Isto aconteceu depois que a teologia de Tomás de Aquino firmou o axioma de que a filosofia e a ciência eram escravas da teologia; e surgia dai a escravidão das mentes aos donos da fé, e ao mesmo tempo se sacralizava a escravidão aos donos dos escravos, e aos Reis. Baseado na filosofia de Aristóteles segundo o qual o estudo não era para as classes baixas e trabalhadores, mas para os “bem-nascidos”. Depois do Aquino veio o “Encridion ou conjunto das definições do magistério eclesiástico publicado por Henrich Denzinger em 1854, como um livro de Leis dogmáticas indiscutíveis. Estava sacralizada e sacramentada a escravidão das mentes, em paralelo com a escravidão dos corpos, a escravidão da cruz e da espada. Ah, mas a Bíblia! Ah, mas Deus falou! E o que olharam os outros? “Na história do Cristianismo é “lícito matar crianças, queimar viúvas e torturar hereges ate à morte? Pode-se justificar sacrifícios humanos porque são oferecidos a um Deus? E a magia que procurava forçar a divindade, tomada como religião?” (o.c.p. 278). O que nós criticamos noutras religiões, eles criticam no Cristianismo. Não sem razão há muitas vezes uma crítica bem clara das grandes religiões ao Cristianismo: “O Cristianismo parece aos olhos dos seguidores de outras religiões frequentemente exclusivista, intolerante e agressivo, apesar de sua ética de paz e amor. E sua aversão contra o mundo e contra o corpo. E exagera de maneira quase doentia a consciência do pecado da culpa do homem supostamente corrompido em seu interior” o.c.p.273. Por outro lado, cada religioso de cada religião pensa ter a “verdade”. Porém, nenhum problema produziu na história das Igrejas tantas contrariedades, tantos conflitos sangrentos e até tantas “guerras santas” como o problema da “verdade”. Em todos os tempos e em todas as religiões o fanatismo cego pela verdade atormentou, matou, queimou, destruiu, e assassinou impiedosamente. Nesta busca da verdade sempre tem que entrar a religião. Porém, todo mundo esquece que, como dizíamos, no céu não haverá religião nenhuma, só a  do amor. Na verdade “uma religião é verdadeira e boa na medida em que é humana, e não oprime nem destrói a humanidade, e sim a protege, e enquanto promove uma profunda convicção da unidade fundamental da família humana e da igualdade e dignidade de todos os seres humanos e um sentimento de inviolabilidade do indivíduo e de sua consciência” (o.c.p.278).

Conclusão. A sabedoria popular soube interpretar a situação em que vive o ser humano inventando o jargão “entre a cruz e a espada”. Essa expressão resume a situação vivida e na Europa e adjacências durante milênios de anos. Hoje em dia corremos o risco de transferir essa mesma situação deslocando o eixo desde a Europa para a América do Norte e adjacências reinventado a mesma realidade da cruz e a espada. Na Europa se aliavam os reis e o império aos Papas e à Igreja. O mundo corre hoje o mesmo perigo se o leão e um Trump fizerem alianças, já que ele teve a ousadia de se vestir de Papa e declarar “eu gostaria de ser Papa; seria a minha escolha n.1” (www.G1 Redação com Reuters 29/04/25).

P.Casimiro  João       smbn

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