Tomás de Aquino começou
por ser um teólogo muito contestado, combatido e difamado como
modernista e suspeito de heresia pelos teólogos tradicionalistas do seu tempo,
no século XIII, 1274. Foi destituído da Ordem dos Dominicanos e expulso da
Universidade de Paris onde ensinava, e por fim foi formalmente condenado como
herege. Estas penas perduraram por três séculos, até ao século XVI, até à
Reforma Protestante. Então a sua obra, Summa Theologiae é que foi reconhecida
pela Igreja, e entrou nas Universidades (Cf.H.Kung, Teologia a caminho, p. 165). Porque
aconteceu isso? Os teólogos atuais nos dizem os motivos. “Não só na teologia,
mas nas ciências, os descobridores de novidades, que ameaçam o modelo
estabelecido, podem ser moralmente desacreditados como ‘perturbadores da paz’,
ou simplesmente reduzidos ao silêncio” (o.c.p.166). Foi o que aconteceu com São
Tomás de Aquino, que começou um novo modelo de Teologia que ameaçava os padrões
estabelecidos tradicionais. Vejamos como era o ambiente em que foi escrita a
teologia da Summa Theologiae. A teologia e a exegese bíblica, antes de Tomás de
Aquino baseavam-se na interpretação da Escritura em sentido alegórico, simbólico
e metafórico-espiritual seguindo o método tradicional que vinha já de
Orígenes, o principal teólogo do Oriente
do séc.II d.C. Esta linha teológica e exegética, retomada também por Santo
Agostinho, perdurou por mil anos, justamente até ao período de Tomás de Aquino.
Após Agostinho, qual foi o motivo do surgimento da Summa de Tomás de Aquino?
Ele desenvolveu a revalorização da razão diante da fé, o sentido literal da
Escritura em face do sentido alegórico-espiritual, e o sentido da natureza
diante da graça, e da filosofia diante da teologia. A mola que orientou o novo
paradigma de Tomás foi o ressurgimento da filosofia de Aristóteles, que serviu
de base para a Summa Teológica. Com estas ferramentas em mãos, algumas
Universidades adotaram este novo paradigma de ensino. Tomás de Aquino organizou
e expandiu este novo paradigma na sua teologia que ultrapassava o paradigma
clássico e tradicional da teologia agostiniana, que ficava ultrapassada. Porém,
as mais célebres Universidades, como a de Paris e de Oxford detonaram Tomás de
Aquino até ao ponto de ser excluído e expulso de ensinar na Europa.
(o.c.p.165). Estamos falando de Paradigmas, o que são? Paradigmas são sistemas
conceituais ou esquemas filosóficos que são caminhos de pensamento. E quem está
num caminho onde se sente seguro, dificilmente quer enveredar por outro caminho
desconhecido. Foi o que aconteceu com os opositores de Tomás de Aquino, que
mostrou um paradigma ou caminho novo, e foi rechaçado por 300 anos, até que
fosse aceito. Começamos por dizer que há macro, meso e microparadigmas. Exemplo
de macroparadigma: o modelo agostiniano, que perdurou por 1000 anos; o mesoparadigma,
com a doutrina da criação e da graça e sacramentos; e microparadigma, com a
doutrina do pecado original e da união hipostática. Como vimos, os paradigmas
ou “modelos” são caminhos provisórios ou projetos teóricos enquanto não se
descobrem outros melhores. Não há modelos ou paradigmas absolutos, e sim novas
buscas constantes para descobrir novos aspectos da realidade. Ultimamente,
deixando agora para trás S.Tomás, um novo paradigma surgiu, com o despertar do
Renascimento e com as novas filosofias daí resultantes, assim como com o
despertar das novas ciências. É o paradigma ou modelo da teologia
histórico-crítica. Como aconteceu com o novo paradigma de Tomás de Aquino,
assim este novo paradigma encontra muita estranheza nos teólogos acostumados
com o padrão tradicional, igual os tradicionalistas que combateram Tomás de
Aquino. Como dizem os teólogos atuais, “os novos modelos teológicos de
interpretação não surgem porque alguns teólogos gostam de brincar com o fogo ou
porque ficam sentados na escrivaninha
criando novos modelos, e sim porque o modelo hermenêutico tradicional teve
validade de prazo vencido” (o.c.p.172). O concílio vaticano II falou bem claro
que a Escritura é a “norma normans”, ou seja o princípio normativo da Teologia.(Dei
Verbum,12,3). O concílio fala que a Palavra de Deus é “alma ou princípio vital”
de toda a teologia. Falamos que na transmissão dos conteúdos da fé, em cada
época se vive num horizonte diferente conforme a visão e as ferramentas que
aumentam ou diminuem a visão desse horizonte. Assim como o nosso horizonte
visual hoje não é o mesmo de há 500 anos atrás, com os modernos telescópios de
ciência de hoje. Em um mundo mágico, assim os humanos se expressavam. Como esse
horizonte era o mundo mágico deles, o mundo de hoje vive cada vez menos do
mágico e mais do científico. Como dizem os teólogos, “a teologia não consiste
na ‘simples repetição’ de um ensinamento supostamente eterno; ao contrário,
trata-se de uma tradução da mensagem histórica daquele mundo de experiência ao
nosso mundo de hoje” (o.c.p.198).
Conclusão. Ninguém hoje, com um mínimo de instrução, tem o mesmo
olhar sobre o universo e a pessoa humana dos tempos de S.Agostinho e de S.Tomás
de Aquino. Foram gênios no seu tempo, mas também passaram de época e de prazo
de validade. Inclusive, hinos litúrgicos que deixaram, pertenciam ao horizonte
da fé e da teologia da época, que hoje ó outra e noutro horizonte.
P.Casimiro João
smbn
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