As verdades reveladas, para S.Tomás, eram a “autoridade
sagrada”. Porém, no século XVI essa autoridade sagrada faliu, e a Igreja antes
“unida na fé”, da cristandade, se desuniu. Falamos isto a respeito da definição
e essência do que é a Teologia fundamental: A teologia fundamental é a ciência
do por quê. Ela estuda o evento da revelação e a sua credibilidade. Define-se
como a disciplina que constitui a função do saber teológico e imbricada com
outras ciências evidencía o caráter científico, hermenêutico e metodológico da
Teologia. Como ciência do porquê ela se interroga permanentemente sobre seus
conteúdos à luz das novas aquisições do saber universal, e sabe tornar presente
ao homem de todos os tempos a riqueza
inexaurível da revelação cristã.
Sendo uma ciência do saber crítico, ela encontra a sua razão de ser
naquela pergunta do livro de Deuteronômio, 6,20 onde o membro mais jovem da
família pergunta aos mais velhos: “porque fazemos estas coisas”? E segue-se a resposta do pai da família
dizendo que eles eram um povo nômade, sem pátria e sem identidade, escravo no
Egito, eleito pelo Senhor e possuidor do dom da Lei e da terra prometida. Aqui
há uma revelação que é transmitida a outra geração. E há um ato de fé em gérmen
na criança. E para que a criança, com sua idade em andamento possa ganhar um
saber e uma consciência de que nesse saber não está sendo enganada. Temos ai a
gênese da teologia fundamental: um evento de
uma revelação e um saber livremente perguntado e respondido, até porque
aberto a outras perguntas e outras respostas que virão depois, conforme a idade
da criança e suas motivações. A teologia fundamental começa onde as fases do
crescimento formulam outras perguntas, e onde o confronto contribui para
descobrir novas respostas. Em épocas antigas da Igreja a Teologia fundamental
reduzia-se à “Apologética”, chovendo no molhado de sempre e só repetindo o que
já estava aprendido, e fabricando barreiras para não tomar contato com outras
ciências, julgando-as inimigas da Igreja, em vez de usá-las como escadas e
molas de crescimento. Num jogo de futebol, a equipe que só opta pela defesa,
inevitavelmente perde porque não aproveita os lances da outra equipe para fazê-los
seus e avançar para o seu campo. Assim era
na Apologética antiga, que só jogava na defesa e no método defensivo.
Porque a teologia fundamental é o estudo do acontecimento da revelação e sua
transmissão. E como transmissão, assume a idade, o conhecimento e as ciências e
as capacidades do sujeito. A revelação é o conteúdo, a transmissão é o método. Uma comparação com o conteúdo da
ciência médica: não se pode fazer hoje, num moderno hospital uma cirurgia do
coração com os métodos da há 500 anos atrás. Estamos falando no método da
revelação, falemos agora no conteúdo. Durante a história da teologia houve
várias interpretações do conteúdo da revelação. Santo Irineu dizia que há três
modelos de revelação: a criação e o mundo, o corpo humano, e o Verbo feito corpo
também. Por outro lado, as Enciclopédias antigas traziam que a revelação era a
comunicação de verdades religiosas que Deus faz pessoalmente ou por meio de um
anjo. (confira a semelhança com o islamismo).
A atual noção de revelação é uma experiência do sagrado no A.T. e no
N.T. a experiência do evento chamado Jesus Cristo. Voltando atrás, antes das
Enciclopédias, a revelação foi definida
por Tomás de Aquino como “doutrina sagrada”, i.é, os ensinamentos
contidos na Escritura e interpretados pela fé da Igreja. Porém, no século XVI a
autoridade da Igreja foi abalada, e a Igreja antes unida pela fé da Cristandade
se desuniu. E há um item importante: a Idade Média foi caracterizada pelo surgimento das Universidades, onde o “mestre” era aquele que detinha a
“autoridade”. Diante disto surgiu uma resposta inédita para explicar o colapso
da unidade tradicional da fé: “Cada região com a sua religião”, “cuius régio
eius et religio”(Rino Fisichella, Introdução à Teol.Fundamental, Loyola p.76).
Chegou-se aí porque o despedaçamento dessa unidade seguira-se ao fato de que a
razão devia ter um papel importante no campo da fé. Inaugurava-se assim uma nova
etapa do saber cristão, como saber humano e saber teológico. O concílio de
Trento já se deu conta disso e com isso se deparou. E o que aconteceu depois? No
século XVI a fé agora dividiu a cristandade, e a unidade parecia poder ser
alcançada somente por meio da razão. Por isso o eixo de interesse começou a
deslocar-se da fé para a razão. A razão entra em cena na sua relação com a fé, e parece que deu lugar à religião, compreendida como exigência natural do
homem.(o.c.p.77). A explicação foi a constatação de que a fé cristã já não era
mais o instrumento de unidade em condições de manter os vários Estados e reinos
ocidentais unidos. Seria o caso de explicar com o jargão: “foram-se os anéis,
ficaram os dedos”. Afinal das contas, a fé parece que ficou trocada pela
religião; a religião invadiu o campo da fé. Como vimos noutro Blog, a religião
são as estruturas e sistemas; a fé é o coração e o espírito; a fé são os dedos;
os anéis são as estruturas. Há ainda por trás disso outras causas: os ataques
iniciais ao poder temporal da Igreja, e a possibilidade de Deus revelar-se a
uma existência pessoal. Vendo então que o rio da história não estava correndo
para a Igreja com aquelas águas mansas, a teologia da Igreja refugiou-se
encarando a religião como refúgio a alguns dos seus ataques, porque a religião
pode não incluir fé nenhuma, mas ficar só nos sinais e símbolos, e nas estuturas, como aquele
que faz promessas aos Santos até para “matar a Deus.” E de quebra,
escreveram-se vários livros de Aretologias, i.é, livros fantasiosos de muitos
milagres que não levavam à fé, mas só à religião, ou ao deismo, popularmente chamado de religião de fachada.
Conclusão Há helenismos que entraram no imaginário cristão e
católico, como aquele dos Atos dos Apóstolos onde se diz que “Colocavam os
doentes para que a sombra de Pedro os tocasse” (At.5,15), assim como as vestes
de Paulo que curavam doentes (At.19,12). Foi assim, segundo os estudiosos, que apareceu
o culto às relíquias (o.c.p.82). Para entender no seu ambiente e na sua
história pagã e mítica é que o “saber” e o “discernir” do ato de fé tem que intervir contra uma fé infantil e
folclórica e fantasiosa.
P./Casimiro João
smbn
www.paroquiadechapadinha.blgospot.com.br
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