Esta afirmação de
Einstein é cheia de sentido e dignifica as duas maiores atividades do ser
humano, a ciência e a religião. Religião sem ciência fica cega e a ciência sem
religião fica manca. Bote as duas para funcionar e terá gênios como o autor
dessa afirmação. Na antropologia atual reconheceu-se a centralidade do ser
humano como sendo o maior valor. Vemos que isso tem uma surpreendente afirmação
de Paulo na Carta aos romanos: “De fato os mandamentos resumem-se neste:
amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Rom.13,9). As ciências humanas
modernas chegaram a defender também isso com ousadia desde o Renascimento. Na
época a Igreja se apavorou com essa ideia e condenou o Iluminismo e se
distanciou dele. Pio IX e Pio X condenaram estas filosofias rotulando-as de
“compêndio e veneno de todas as heresias” (1864). Pio VI inventou até uma
suposta “revelação” divina para condenar as teorias modernas da liberdade de
consciência e de religião. Por seu lado, Pio IX, com o documento “Syllabus”
declarava guerra à modernidade, o que provocou um descrédito e uma debandada
geral da Igreja católica de cientistas e filósofos, e provocando um descrédito
geral da Igreja nas classes dos intelectuais” (Cf. Hans Kuns, em “A Igreja tem
salvação?” p.158). Foi nessa época que começaram surgindo as ideias de democracia,
liberdade religiosa, liberdade de consciência, luta pela justiça social
defendida pelos ambientes liberais e pelo Iluminismo, teoria que resumia toda
as Ciências modernas, ou Renascimento. A Igreja, sendo pega de surpresa, ficou
numa atitude defensiva e não dialogante e nessa recusa do diálogo foi perdendo
espaço. Pio IX estava saindo de circunstâncias muito delicadas da perda dos
Estados Pontifícios confiscados pelo governo da Itália e não estava em
condições psicológicas de dialogar com essas novidades. Ele até orientou os
católicos a não votarem na época das eleições. Leão XIII procurou amenizar a
questão, com a Encíclica social Rerum
Novarum (Sobre as Coisas Novas), mas logo após chegou Pio X que declarou
o Modernismo “como compêndio de todas as heresias”. Inclusive publicou o “Juramento
antimodernista” em 1910, obrigatório para Bispos, sacerdotes e professores de
teologia, do qual foram desobrigados posteriormente por Paulo VI em 1965. Um
dos melhores textos de Einstein é aquele onde destaquei aquelas afirmações. Aliás
o próprio Einstein chegou a declarar que o mundo pode melhorar tanto com a religião
como com a ciência. O problema é que antes dele a religião era inimiga da
ciência: “Temos que começar com o coração do homem – com a sua consciência – e
os valores da consciência só podem ser manifestados com serviço para a
humanidade. Eu acredito que nós não
precisamos nos preocupar com o que acontece depois desta vida, enquanto nós
fazemos o nosso dever aqui, para amar e servir. Sem religião não há caridade. A
alma que é dada a cada um de nós é movida pelo mesmo espírito vivo que move o
universo”. (Einstein). E continua: “A religião e a ciência caminham juntas.
Como eu disse antes, a ciência sem religião é manca, e religião sem ciência é
cega. Elas são interdependentes e têm um objetivo comum – busca da verdade. O
verdadeiro cientista tem fé, o que não significa que ele deve se inscrever em
um credo. Por isso é um absurdo para a religião proscrever Galileu ou Darwin ou
outros cientistas. E é igualmente absurdo quando os cientistas dizem que não há
Deus. Este é o começo da religião cósmica dentro do ser humano: a comunhão e o
serviço humano tornam-se seu código moral. Sem tais fundamentos morais estamos
irremediavelmente perdidos”. No movimento de que falávamos do Iluminismo
entravam também de quebra os direitos da mulher sobre a reprodução, com os
meios anticoncepcionais e a invenção da pílula, descoberta por dois médicos católicos
John Rock e Pasquale DeFelice. Outra surpresa para a Igreja que enfrentou também este combate. A discussão
chegou até o Concílio Vaticano II, que se mostrou receptivo, encarregando três
Comissões para o estudo. Porém, esse estudo chegou a ser barrado por Paulo VI,
que publicou em seguida a encíclica “Humanae vitae” (Sobre a Vida humana)
contra os contraceptivos, o que ensejou o primeiro caso em que, na história da
Igreja no séc.XX a grande maioria do povo e do clero recusava obediência ao
papa” (H.Kung, o.c.p;178). A teoria da condenação dos métodos em questão vinha
das ideias do matrimônio do Antigo Testamento e do sexo, que tanto um como o outro só seria usado com a finalidade
reprodutiva. Porquê? Porque teriam que produzir muitos filhos para trabalhar a
terra, que era o único trabalho da época assim como a guerra. Nesta como entre
outras coisas da ciência em que a Igreja (os Papas) da época quiseram se
mesclar foi que até se manifestaram contra as Locomotivas a vapor, a Iluminação
a gás e contra as pontes suspensas sem falar que também contra as vacinas
(o.c.p.143). Termino com a seguinte exclamação poética a partir do Livro da
Natureza de Einstein: “Se olharmos para
uma árvore com suas raízes procurando água por debaixo do pavimento, ou uma flor
que exala o seu cheiro doce às abelhas polinizadoras, ou até mesmo nós mesmos e
as forças interiores que nos impulsionam a agir, podemos ver que todos nós
dançamos uma música misteriosa, e o tocador que toca à distância, com qualquer
nome que queiramos dar-lhe: Força Criativa, ou Deus, escapa a todo conhecimento
dos livros”. (Albert Einstein, extraído do Livro: “Em Busca do Homem Cósmico
(1983).
Conclusão.
Não nos admiraremos da secularização e da laicização que se deu na Europa após
estes acontecimentos? E ainda tendo em conta condenações e prisões de
cientistas como Giordano Bruno, preso por 14 anos e depois condenado à
fogueira, e de Galileu, o pai da ciência moderna, preso por oito anos, além de
outros. Qual o descrédito entre os ambientes universitários? Descrédito que
certamente hoje invade todas as esferas de ensino superior, senão declarado,
mas vivido e palpitante nos ambientes.
P.Casimiro João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

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