domingo, 27 de junho de 2021

O Jesus visto pelos Judeus – visão teológica judaica a respeito de Jesus


 

Para entendermos a posição dos Judeus sobre Jesus iremos considerar em 1º lugar algumas premissas e em 2º lugar  alguns pontos comuns.

Para inicio de diálogo com os Judeus sobre Jesus a quem eles chamam de “o nosso irmão”, desde Martin Buber(1879), devemos ter presentes quatro premissas.

1ª premissa: Levar em conta que a fé e a visão cristã refletem em muitas coisas a inclusão de teologias arrumadas posteriormente à vida histórica de Jesus. Premissa: Olhar o Jesus histórico da Galileia sem as roupagens com que foi vestido e investido muito tempo depois. Os Judeus olham para a figura puramente humana de Jesus, enquanto que o cristão olha para a figura “ressuscitada” de Jesus, i.é, como se fosse uma figura “caída do céu”. E fica tecendo um Jesus do modo grego e gnóstico e quase nada de histórico.

2ª premissa:  Levar em conta as consequências de como a visão dos cristãos impactou a história social do povo judeu, por exemplo alegações e insinuações que levaram a maus-tratos e perseguições contra os Judeus, como a sucessivas expulsões dos países da Europa até culminar no Holocausto da Alemanha. E o grau de inverdades ou de preconceitos que isso arrasta.

Os Judeus têm outras certezas a respeito de Jesus. Eles acham que os evangelhos estão sobrecarregados de questões e dogmas de épocas posteriores, que dificultam a vidão a olho nu da pessoa que era Jesus quando viveu na Palestina.

Afinal, nisto também estão de acordo os historiadores bíblicos modernos quando descobriram documentos históricos datados ainda antes das últimas redações e edições dos evangelhos. Porque, na verdade os redatores do Novo Testamento seguiram um formato helênico em que aumentavam os fatos tipo fábulas ou novelas sobre realizadores de prodígios. E não só, mas durante a Idade Média os escritores de vidas de Santos seguiram o mesmo formato. Você vai ler a Vida de Santo Antônio, e o que aparece? E de São Francisco? Que eles nem eram homens mas anjos...E sobre as Santas?...Por outro lado, nas áreas do Mediterrâneo havia as aretotologias, que eram maneiras de narrações escritas exclusivamente com a finalidade de atrair novos fiéis ou adeptos. Isto é o que aconteceu com muitos escritos do Novo Testamento, como Atos e muitas partes dos evangelhos.

3ª premissa: A terceira premissa é a afirmação do pluralismo religioso segundo o qual nenhuma religião detém o monopólio da verdade. “Nenhuma fé humana é definitiva, nunca é ponto de chegada mas antes uma interminável peregrinação” (Byron).               

4ª premissa: A recuperação da judaicidade de Jesus apresenta novos problemas à formulação de Cristologias contemporâneas. Constatamos que as modernas investigações arqueológicas adequam com as considerações do conhecimento e da teologia judaicas sobre Jesus.

Como dito acima, não devemos subestimar os ressentimentos e os sofrimentos sofridos pelos Judeus, os quais têm que ser vistos no seu histórico. Hoje em dia eles sabem, e não só eles mas os críticos, que muitas inverdades foram colocadas nos evangelhos sobre os Judeus depois da sua escrita primitiva.

Eles hoje sabem que havia conflitos entre grupos judaicos da época. Nesse contexto várias passagens do evangelho de Mateus expressam tom de chacota e desprezo acusando um grupo de todo tipo de coisa ruim como se fosse de todos os grupos. Eles agora sabem que este ríspido trato foi feito pela hierarquia institucional ulterior para não desagradar ao poder imperial, culpando o Povo judeu da condenação de Jesus. Faziam isso para livrar Roma de toda a responsabilidade, por motivos políticos portanto.

Elementos comuns.

1º Oração do Pai Nosso: Os rabinos encontram no Talmude, a catequese oficial dos Judeus, coletâneas de orações curtas semelhantes às petições do Pai Nosso, onde se fala no nome de Deus para torná-lo santo, sobre o reino de Deus, e sobre o perdão dos pecados mormente no Dia do Perdão. E vem a recomendação: “Tu conheces as nossas necessidades”, como também Jesus dizia.

2º O sermão das bem-aventuranças. Os Judeus reconhecem que muitas destas bem-aventuranças se encontrar nas Orações curtas e Salmos das Horas do dia  onde se fala  em “felizes” e “afortunados”.

3º “Imbecil e “raca”. “Apelidar ou injuriar como os “bulling” de hoje – Os rabinos também assim se expressam. Era prática comum usar a hipérbole, o exagero para enfatizar e impactar. Por outro lado, temos que considerar o que representa insultar alguém em público e praticar o bulling: é um homicídio psicológico, equivale a assassinar. O Talmude referia que a pessoa ficava sem sangue nas veias só de amarelar, e isso era como matar, assassinar.

4º “Onde dois ou três”- (MT. 18,20). Vale a pena lembrar uma tradição rabínica que diz: “ Quando dois ou três se sentam juntos, a Presença divina os ilumina”

5º o reino de Deus – Os Judeus têm duas hipóteses sobre como Jesus encarava a proximidade do reino de Deus. Primeira: Jesus formularia algumas exigências rigorosas para quando chegasse o reino puderem entrar nele. Segunda hipótese: Esta hipótese será a mesma dos rabinos, para os quais o reino de Deus e o messianismo ocorreria no tempo, no espaço e na história que eles viviam. Assim adequam aquelas afirmações do evangelho: “Não tereis tempo de percorrer todas as cidades da Judeia antes que chegue o reino de Deus”(Mt. 10,23)

 

Conclusão - Os Judeus hoje respeitam e veneram Jesus como o “nosso irmão”. E por nossa parte temos de reconhecer que eles estão mais próximos das fontes originais, assim como foram descobertas pelos investigadores bíblicos e arqueólogos  modernos, e que essas fontes foram  esquecidas ou ignoradas pelos primeiros escritores cristãos.

Por quê ignoradas? Porque com as guerras que houve, muitos documentos ficaram soterrados nos escombros, e achados agora nas modernas escavações. E por quê esquecidas? Porque muitos escritores esconderam a vida real de Jesus pera exaltar a sua glória. Ao jeito como atrás dito, do formato helenístico de aumentar fábulas e lendas sobre realizadores de prodígios. Por isso, os críticos hoje também afirmam que a real identidade de Jesus tem sido coberta por tantas camadas de traduções e transmissões fica quase impossível divulgar a real imagem original de Jesus de Nazaré, o Yeshua da  Galileia.

Por isso, refirmamos: “Nenhuma fé humana é definitiva, nunca é ponto de chegada mas antes uma interminável peregrinação” (Byron).

P.Casimiro Joao     smbn

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domingo, 20 de junho de 2021

A Sacralização Absoluta da LEI pelos Judeus Depois do Exílio: “A lei do Sábado já Era Celebrada pelos Anjos”.


 

Vejamos bem, os Judeus chegaram a considerar a “Lei” como “eterna”. Exemplo: escreveram, “o sábado era celebrado pelos Anjos”; e a “eleição de Israel” estava anunciada na Criação” (Livro dos Jubileus,15,35ss). Também a “lei da purificação” tinha sido já observada por Eva. E Noé fazia a “festa das Semanas”, e a “dos Tabernáculos” por Abraão. Além de que o ritual sacrificial” foi ensinado a Isaac por Abraão. A lei, assim, aparece eterna, absoluta, em autoridade, existindo antes do Sinai e antes de Israel. E toda ela escrita em placas celestes. (Jub.3,10-13).

A Lei assim tomava o lugar da Aliança histórica como base da fé, e mais, tornava-se sinônimo da Aliança. O Eclesiástico também escreveu que a Lei precede a Aliança (Eclo.44,19-21).

Na verdade, os Judeus tanto apanharam, e tanto ouviram os profetas dizendo que os Exílios foram um castigo de Deus, pelo não cumprimento da lei, que chegaram a internalizar esse sentimento e essa culpa. E tornou-se a sua obsessão para o resto da sua vida, até se disporem a dar a vida pela Lei. De tal maneira que na época dos Macabeus todos estavam prontos a morrer pela lei. Não nos admiramos também que nasceu daí o status de “doutor da lei”, o que interpretava a Lei. E foi nessa época o surgimento do partido dos “Fariseus”.

Tanto que cumprir a lei se internalizou na mente dos judeus da época, que eles se consideravam agora o “povo da Lei”, em vez de “Povo da Aliança”. Porém daí não estava longe o perigo de endeusar a lei, com todos os seus detalhes. Qualquer ofensa contra a Lei seria grave por menor que fosse. Estava criado o ambiente e a maior dificuldade para que fosse depois enfrentada por Jesus Cristo e depois por São Paulo

Vamos recuar na história. No séc III eram mais os Judeus que moravam fora da Palestina, mais de um milhão, do que na própria Palestina, depois da volta do Exílio, pois a maioria preferiu não voltar. Depois de um período tranquilo irrompeu Alexandre Magno que conquistou Babilônia do Nabucodonosor, onde estavam os judeus exilados,  e conquistou o Egito e os reinos no entorno. Viveu 30 anos, e foi sucedido pelo Ptolomeu e Seleuco. Alexandre Magno vinha com a ideia de impor a cultura grega na Judeia. Quem continuou foi Antíoco I dos Selêucidas. Os milhares de Judeus exilados nessas nações estrangeiras absorveram a cultura helênica, até traduziram a Bíblia para o grego, a Bíblia dos Setenta, e compuseram outros Livros em grego, como o Ben Sirac ou Eclesiástico.

Com a chegada de Antioco IV Epifanes a helenização tornava-se generalizada. Para os Judeus de fora da Palestina já não era um problema, o problema era para os retornados e para os que tinham permanecido. Os que tinham sofrido no Exílio, e os "exilados” na sua própria pátria, não queriam ouvir mais palavras de reprovação por não cumprirem a Lei.

Uns lançaram-se na guerra aberta contra Antíoco Epifanes e outros, como Daniel, inspiraram-se para os escritos apocalípticos como o Apocalipse de Daniel,  que por meio de muitos textos lendários e de formato apocalíptico contribuiu muito para aumentar o fogo no caldeirão do cumprimento da Lei.

E assim foi, até que vieram os romanos para completar o fim final da Palestina.

A “Lei” suplantou a “Aliança” e tomou o lugar da Aliança, nos Judeus que sobreviveram ao Exílio. Antes, porém, desse fim, no breve tempo em que Jesus viveu entre eles, Ele teve que conviver com a troca que havia acontecido: em vez de uma aliança de amizade, Ele sentiu uma mordaça de “leis” que os “amordaçava”.  E foi essa “mordaça” que acabou amordaçando também Jesus, mas foi também a “mordaça” que se virou contra o povo da Lei, na destruição do templo e da cidade de Jerusalém no ano 70 d.C.

Foi o fim do Povo da Aliança e do povo da Lei.

P.Casimiro João  SMBN

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domingo, 13 de junho de 2021

A fé molda a história, ou é a história que molda a fé?

Vamos referir-nos somente  à fé vetero-testamentária, embora a fé neo-testamentária merecesse outro capítulo. Vejamos o assunto em 6 itens.

1- O monoteísmo. Somente depois do exílio o monoteísmo se firmou na fé israelita. Para olhar só na época dos dois reinos do Norte e do Sul: No reino do Norte cultuava-se Baal e outros deuses canaanitas ao lado de Iahweh. No reino do Sul cultuava-se Aserah, rainha dos céus junto com Iahweh e outros deuses menores.

Na volta do cativeiro, os Judeus que optaram por retornar retornaram, mas vinham “sem rei nem roca”, como diz o ditado, entregues à própria sorte. Os reis tinham sido aniquilados e mortos pelos assírios e babilônicos. Não havia mais rei.

Destarte os pobres judeus tiveram que escolher somente Iahweh por seu deus, dado que os seus reis todos tinham os decepcionado e entregues nas mãos dos estrangeiros. Por outro lado, tanto os profetas falavam que os cativeiros tinham sido castigo dos pecados de idolatria, que agora tiveram que voltar à época das tribos, quando só Iahweh era o seu rei, antes da monarquia. Isto é o primeiro fato histórico.

2- A Sabedoria- Desde o Cativeiro os Judeus conviveram com os iranianos e babilônicos, onde a Sabedoria era uma personificação de Deus, tomando o lugar como a deusa da Sabedoria. Os judeus incorporaram no seu vocabulário e nos seus escritos esse conceito de Sabedoria e começaram a considerar a Sabedoria como uma emanação da divindade, como escreveram no Livro dos Provérbios e no Livro da Sabedoria (Prov. Cap.8, e Sab, cap.7). E não só, mas associada também ao mesmo conceito dos gregos, mas com o nome de Logos.

3- Os Anjos-  Eles na religião iraniana eram também deuses inferiores e faziam o serviço de mensageiros do deus supremo que não intervinha no governo do mundo, mas eram eles os encarregados. Foram também incorporados nos conceitos e nos escritos depois do Exílio. Tanto estes Anjos mensageiros como os anjos rebeldes que tinham Satã como seu chefe.

4- A “ressurreição dos justos”- Esta crença não se encontrava no Judaísmo antes do Exílio. Os pensadores não se conformavam com o fato de o mal ficar sem castigo e o justo sem recompensa nessa vida, e foram levados a procurar além túmulo uma solução para o problema: a ressurreição dos justos, derivada da religião iraniana na qual essa crença era corrente. Assim, a “ressurreição dos mortos” foi a solução pós-exílica para o problema de “os maus ficarem sem castigo” e os bons sem recompensa”.

E estes temas surgiram no Livro dos Macabeus e no Apocalipse de Daniel, além dos “Testamentos dos Doze patriarcas” e no 1 Enoc. Para os que estavam indecisos, a perseguição de Antíoco Epifanes foi o voto decisivo. Mesmo assim, para os Saduceus nunca foi teoria aceitável, assim como a imortalidade da alma. No Eclesiástico se afirma: “A imortalidade do homem está nos seus filhos” (Eclo.30,4).

5- Apocalíptica – Como constataram que as profecias não se cumpriram, o que era confirmado pelos sonhos quebrados e pelos exílios e cativeiros, então a profecia deu lugar à apocalíptica ou descrição da vingança final de Deus sobre todas as nações, numa luta entre Deus e Satã, onde tinha lugar o Juízo final, e um fim do mundo pelo fogo onde Deus iria cumprir todas as promessas. Também aqui não estava ausente o conceito iraniano.

6- Finalmente, o Cativeiro levou a reformular e formatar a fé pós-exílica num novo formato histórico, com os cinco Itens apontados, adotando vários elementos como a Sabedoria, Anjos e demônios e a ressurreição dos justos, e voltando à prática original do monoteísmo das tribos de antes da monarquia. Porque foi a monarquia que os decepcionou.

Daí voltamos à questão inicial do nosso Título desta matéria: É a fé que molda a história, ou é a história que molda a fé? Na afirmativa, não será a fé, portanto, uma fé histórica?

P.Casimiro João    smbn

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domingo, 6 de junho de 2021

A lei da religião era também a “lei do rei”, por isso se devia orar pelo rei: Templo e salários pagos pelo rei.


 

Vejamos como foi. A construção do primeiro Templo foi obra de Salomão (930 a.C.). Quando o reino do Norte (Israel), voltou do cativeiro da Síria, o rei Ciro construiu o templo de Betel (530) para a Samaria. E quando mais à frente o reino do Sul (Judá) voltou da Babilônia, com Neemias e Esdras, Dário reconstruiu também o templo de Jerusalém. E quando mais à frente sofreu abalos por guerrilhas internas, ainda foi de novo o rei Artaxerxes I que subsidiou, já bem perto da época dos macabeus.

Os reis, mesmo os dominadores, sabiam que a religião servia à segurança do império. Por isso, quando Neemias e Esdras reorganizaram o Judaísmo, depois do decreto de Ciro que decidiu a volta dos deportados para a sua pátria, o rei Dário, filho de Ciro, permitiu que reconstruíssem o Templo. Porém, mesmo com as recomendações de Esdras e Neemias, eles não levaram avante. Ninguém mexia uma palha para a reconstrução do templo Quem, passados uns 25 anos, construiu foi o rei Seleuco, que sucedeu a Dário e  Elexandre.

Quando morreu Nabocodonosor, após anos de cativeiro, a frustração e a desilusão era tanta que entre os Judeus que tinham retornado para a Judeia debaixo do comando de Neemias, generalizavam a ideia de que não havia nenhuma utilidade em ser leal à religião. E havia o grande risco da desintegração da religião, como já tinha acontecido na comunidade de Elefantina, que tinha se formado no Egito.

Providencialmente, na corte de Artaxerxes, depois de Dário, havia um judeu chamado Neemias, que tinha um alto posto como copeiro do rei. Foi enviado para Jerusalém para animar os Judeus e para reconstruir o Templo. Uns anos depois, foi Esdras para auxiliar na observância da Lei, o qual levou consigo um exemplar da Lei.

Na carta, o rei dizia que era “decreto régio”, e um judeu que tal lei desobedecesse, desobedeceria também “à lei do rei”. Porquê? Porque a religião servia à segurança do Estado e  do império.

Foi este o motivo do envio de Neemias para Judá. Neemias depois chamou o sacerdote Esdras para acertar as coisas com a prática judaica.

Após este período, Judá ficou bastante entregue a si , na época de Alexandre, que derrotou os dominós babilônicos e assírios. Viveu não muitos anos, só 30, e veio Ptolomeu, para tomar conta da Babilônia, e de quebra, da Palestina.

Os Judeus que viviam fora da Palestina, sobretudo no Egito, eram mais de um milhão, muito mais do que os da Palestina mesmo. Após várias escaramuças, entre facções antagônicas, o Templo sofreu vários abalos. Foi preciso ainda ajuda dos reis selêucidas para reconstruírem. Após esta época, vem a época de Antíoco IV Epifanes, que tentou impor a cultura e a religião gregas, mas respeitou o Templo, na sua estrutura, porém colocou lá os deuses gregos de mistura com o culto judaico.

Voltamos à nossa afirmação inicial “orar pelo rei” e pelo bem estar do rei foi sempre uma constante dos Judeus, pelos motivos explicados, além de outros motivos já nestas matérias anteriormente falados, oriundos do pensamento antigo de que o rei era filho de Deus e ocupava o lugar de Deus na terra.

Sistema este que era chamado “teocracia”, substituído nos tempos modernos pela democracia, e separação de poderes entre religião e Estado. (Estado Laico).

P.Casimiro João    smbn

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quinta-feira, 3 de junho de 2021

Significado de “aspergir com sangue”.

1). Nas demarcações de terras e territórios fazia-se o trajeto com um animal vivo, um boi, e depois cortava-se a cabeça, e escorrendo o seu sangue em toda a volta sobre cada um dos marcos que delimitavam a área,

2). Quando se construíam novas moradas, o mesmo sangue servia para demarcar os limites e se aspergiam as delimitações.

3- Na Alemanha, debaixo dos muros eram colocados pezunhos e crâneos de cavalo, juntamente com alguns alimentos, o sangue era vertido  sobre a primeira pedra da construção. Ainda dentro da cabeça do animal se colocavam algumas moedas, para atrair a sorte.

4). Na Suécia era colocado um gato morto com a boca aberta para baixo atrás da porta para arranhar as bruxas que tentassem entrar.

5). Na Dinamarca enterravam um cavalo vivo em seu interior.

6). Na Inglaterra e Escócia se colocava um cão negro na construção de um novo cemitério para defesa dos mortos.

7). Havia as certezas entre as populações de que quem entrasse a primeira vez numa casa nova ia morrer, então o animal sacrificado livrava da morte, e também pintavam os umbrais da casa com sangue.

8). Na Bretanha e na Ibéria a morte personificada sentava-se na soleira ou entrada da porta e esperava o primeiro que entrasse nas novas construções, e por isso se sacrificava o animal espargindo o sangue para livramento.

9). Colocavam-se chifres de carneiro ou de boi incrustados no meio das pedras próximo à porta de entrada, ou crânio de cavalo, ou gato em posição de caça.

10). Se uma vaca morresse, sua cabeça era cortada e enterrada no chão da propriedade, e o corpo era levado pro meio da floresta. Este ritual também curava de uma doença incurável nos humanos e livrava do fogo.

11). Nos currais das casas da Galícia penduravam-se chifres de carneiro contra os raios e mau olhado.

12). Os litigantes por posse de terra deviam entrar com alguns cavalos e dar voltas por duas vezes na terra dos ocupantes. Se os litigantes eram mulheres entravam com ovelhas. Se o ocupante não aceitasse podiam ficar uma noite e um dia lá com os animais até o ocupante sair. E acenderiam o fogo como sinal.

13). Para os antigos mosteiros marcavam os limites soltando uma vaca para pastar; onde ela parasse, era ali o limite. Outro sinal também: soltavam uma mula e um boi, e no lugar em que eles se cruzassem seria o limite.

P.Casimiro João    smbn

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