sábado, 26 de dezembro de 2020

O Natal e Maria de Nazaré: A alma morava no céu e caiu no corpo, como será a viagem de volta ao paraíso?


 Para entendermos este problema temos que retroceder dois mil anos atrás, e nos colocar no pensamento desse mundo que era também o mundo dos inícios do cristianismo.

Veja bem, no pensamento dessa época, Deus estava longe do mundo e não tem nenhuma influência sobre a vida espiritual das pessoas. A ideia era que a alma morava no céu e caiu no corpo, um dia ela teria que retornar ao paraíso. Quando a alma conquista o conhecimento, ela inicía o processo de viagem ao céu.

A cada ser humano restava o desafio de tornar-se um ser espiritual. Como? Abstendo-se da vida sexual ou de cair nos prazeres do corpo para enfrentar essa viagem. Essa viagem era perigosa, pois no trajeto entre a terra e o céu vivem os anjos decaídos, os anjos maus, prontos para tomar a alma. A alma, então, tinha de ser sábia para enfrentá-los. A sua única arma seria a pureza virginal que lhe garantiria a natureza divina.

Por outro lado, defender a virgindade era também sinal de que o corpo não tinha valor. Nesse desprezo pelo corpo, os cristãos receberam influência do pensamento dualista que pregava a separação entre alma e corpo, trevas e luz, vida e morte, Deus e mundo. Assim, tudo o que se dizia pertencer ao mundo era desprezado, pois o mundo era considerado uma armadilha dos poderes do mal. Considerando que já pela mulher tinha entrado o mal no mundo (Eclo. 25,24)

A Igreja dos primeiros tempos participava desta concepção. Basta olhar o calendário: Santas do calendário romano, 85 por cento são “virgens” ou “virgem e mártir”. Além destas e dos mártires, tem monges e bispos. Pouco mais. O primeiro casal que foi canonizado foram os pais de Santa Teresinha.

Para continuar entendendo o conceito de “virgindade” temos que continuar a história, e o mito greco-romano da deusa Vesta, deusa de Roma, e suas sacerdotisas, as virgens Vestais.

A deusa Vesta (em grego Héstia) era filha do Cronos, um deus dos Titãs. Mas foi devorada pelo pai. Porém, conseguiu ser salva pelo deus Zeus, irmão do pai; Quando se viu salva pediu ao tio-irmão que nunca lhe fosse permitido tirar a virgindade para não gerar mais guerras entre os outros deuses para conquistá-la.

Zeus atendeu o seu pedido e para isso reservou um lugar para ela no centro das cidades como forma de agradecimento. Por isso ela era servida por sacerdotisas virgens, as Vestais, que no centro da cidade de Roma tinha o seu templo sempre com fogo aceso como garante da Paz de Roma. Se o fogo apagasse aconteciam castigos para Roma, fomes, pestes ou guerras. E se a guerra  falhava  a culpa não era dos generais mas das Vestais.

O templo de Vesta ficava no centro de Roma. As Vestais eram encarregadas de manter no centro do templo o fogo aceso de dia e de noite como garantia da paz romana “Pax Romana”.

Nas sociedades arcaicas, o sacerdócio feminino era considerado essencial, porque se preservavam da atividade sexual, como modelos de paz numa sociedade violenta. E porque a atividade sexual era considerada uma das “portas de entrada” da violência na sociedade.

E como é que os primeiros cristãos  trataram a vida da Virgem Mãe de Deus com estes conceitos na cabeça? Será que não tiveram influência? Quando Maria foi para casa de José, cinco jovens virgens a acompanharam, que deveriam permanecer com ela na casa de José. Esses virgens a chamavam de “rainha das virgens”.

Quando José soube da gravidez de Maria, as outras virgens contaram-lhe que tinham vigiado Maria. Somente anjos conversavam com ela. “Se queres que te confessemos nossa suspeita, nenhum outro a tornou grávida senão o anjo do Senhor”.

Outra tradição diz que o escriba de Anás, numa visita que fez à casa de José percebeu a gravidez de Maria e  os denunciou ao tribunal do templo. Maria e José foram submetidos ao teste da “água da prova do Senhor”. Conforme o costume judaico, eles deviam beber essa água preparada com ervas amargas e dar sete voltas em torno do altar (Nm.5,12). Os culpados receberiam de Deus um sinal no rosto. A inocência de ambos foi comprovada.

Então Maria foi conduzida a sua casa com grande exultação e júbilo acompanhada por uma multidão de virgens.

No trânsito de Maria para o céu como foi? “No seu velório, virgens prepararam o seu corpo e seguiram o cortejo. João, aquele que recebeu o encargo de cuidar dela, levava a palma da virgindade de Maria, porque também se conservara virgem”.

Esses e tantos outros elementos nos mostram como as comunidades discutiam a questão da virgindade mariana, e como alguns elementos passaram para os evangelhos canônicos. Por outro lado, essa obsessão pela virgindade era também sinal de que o corpo não tinha valor. Os primeiros cristãos foram influenciados pela negatividade da matéria, segundo a qual Deus não criou a matéria e o mundo, e de nada se interessava com ele; o “demiurgo”, o deus intermediário entre o mundo e Deus é que foi o criador do mundo e da matéria, que é chamado nos evangelhos como o “príncipe deste mundo” (Jo.14,30 e Jo.16,10).

Assim, tudo o que se dizia pertencer ao “mundo” era desprezado e considerado uma armadilha dos poderes do mal. Deus está longe do mundo e não tem muita influência sobre a vida espiritual das pessoas. A cada ser humano restava o desafio de tornar-se um ser espiritual de verdade, abstendo-se da vida sexual e do contato com a matéria do corpo. A alma morava no céu e caiu no corpo, um dia ela teria que retornar ao paraiso. Quando a alma conquistasse o conhecimento, ela iniciaria o processo de viagem ao paraíso.

Esta era uma viagem perigosa porque tinha que enfrentar os anjos maus nesse trajeto onde eles estavam prontos para tomar a alma. A alma teria que ser sábia para enfrentá-los. A única segurança da alma seria a pureza virginal, que lhe garantiria a natureza divina, como acima dito.

A tradição revela que Maria teve medo de encontrar-se com esses anjos maus quando saísse de seu corpo, por isso pediu a proteção dos apóstolos na custódia de seu corpo.

Como vemos há nestas tradições uma cultura baseada em mitos trabalhados por aquelas gerações de pagãos e cristãos. E de uma maneira ou outra  influenciaram os escritos dos evangelhos.

Como diz o historiador dos inícios do Cristianismo Frei Jacir de Freitas “muitas crenças de nossa devoção popular mariana provêm dos evangelhos apócrifos” (As origens apócrifas do cristianismo, 122).

Já deu para dar uma resposta ao nosso título desta matéria que preocupava demais as primeiras gerações de nossos antepassados, os primeiros cristãos, e procuravam encontrar respostas:  A ALMA MORAVA NO CÉU E CAIU NO CORPO; COMO SERÁ A VIAGEM DE VOLTA AO PARAISO ?

P.Casimiro

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

sábado, 19 de dezembro de 2020

A Teologia da Libertação e o Regime da Ditadura Militar no Brasil.


 

Dizia um slogan da Teologia da Libertação: “Devemos defender os Pobres”. Diz um slogan dos Governos: “Devemos defender-nos dos Pobres”.

Como assim? As Nações, no geral, são fábricas de pobreza para uma metade da sociedade, enquanto aumentam a riqueza para outra metade. As classes esquecidas são frutos da fábrica da pobreza. E aqui há uma progressão geométrica: quanto mais aumenta a fábrica que produz os ricos mais aumenta a fábrica que produz a pobreza.

Os mandatários do governo vêm da fábrica que produz a riqueza. E eles já têm a receita em rótulos para se defender da classe da pobreza: são “agitadores” e “desordeiros”. Se ficam quietinhos no seu silêncio escondido não perturbam a “ordem” dos ricos. Se vão para a rua protestar, o governo bota a policia, os cavalos e as bombas. Eles vão dizer que são pobres, que as panelas estão vazias, que os filhos não têm escolas. Aí o governo já tem o seu aparato de repressão para se defender deles.

Afinal, o governo também tem outra maneira para se defender dos ricos. Qual é? Aumentar o dinheiro para eles, projetos e salários. Ele faz como aquela madame do Rio de Janeiro que dizia: “eu gosto muito dos pobrezinhos, a última vez que eu vi um, foi junto do bueiro, e eu dei-lhe um empurrãozinho para cair no buraco”.

Na história da Igreja praticamente também tem acontecido coisa semelhante: Tem teologias que se declaram pela defesa do pobre. E tem teologias que se declaram para se defender dos Pobres, acontecendo assim como com os governos. Esta última agrada aos Governos. Enquanto que a teologia que defende os pobres é tachada de “comunista”.

Nosso Senhor Jesus Cristo iniciou a vida pública assumindo o programa do profeta Isaias: “O Espirito do Senhor está sobre mim, ele me enviou para dar a Boa Nova aos Pobres, para proclamar a libertação dos oprimidos e a liberdade aos prisioneiros”(Is.61,1-4 e Lc.4,18-20),

A Boa noticia ela não é neutra, ela é boa para uns, e ruim para os outros. Se ela é boa para os pobres, se torna ruim para os poderosos. É contraditória. João Batista e Jesus Cristo começaram com essa Boa Nova. Os poderes da nação e da religião procuraram logo se defender deles. Não traziam boas noticias para eles.

Essas palavras do profeta Isaias, e a vida de João e de Cristo são o princípio da Teologia da Libertação: Defender o pobre. Quando a Igreja começou imitando e copiando os métodos do Império após o Edito de Constantino (313), começou em larga escala a se defender dos Pobres e fazendo alianças com os centros de poder e de riqueza. E a teologia foi seguindo por esse caminho. Porque tem aquele adágio em latim: “agere sequitur esse”, i.é, o agir segue o ser e o pensar.

Passando pela Idade Média, onde as associações de libertação dos oprimidos, com raras exceções eram perseguidas e excluídas, como os valdenses, e por pouco os franciscanos, chegamos a uma época que após o Concilio Vaticano II surgiu a Teologia da Libertação. Porém, antes da teologia da libertação tinham chegado outros movimentos da libertação do espirito humano, que culminaram na Declaração Universal dos Direitos Humanos se tornando o fulcro central a Revolução Francesa (1788) com os 3 pilares “Liberdade, Fraternidade, Igualdade”.

Todo o século 19 foi testemunha do surgimento de movimentos todos nascidos desses pilares de Liberdade, fraternidade, Igualdade. Como consequência, a teologia da libertação foi também um despertar para a Igreja.

Porém, estando em andamento, o Estado brasileiro passou a persegui-la quando justamente institucionalizou a repressão às liberdades civis no ano de 1964 com a Ditadura Militar. O mundo estava no ambiente da Guerra Fria, Estados Unidos versus Rússia. E com o medo do Comunismo.

O Brasil vivia um ambiente de euforia com a construção da nova Capital, Brasilia. O presidente João Goulart tentou uma politica de diminuir as desigualdades sociais no país. E propunha algumas medidas muito sérias: A Reforma agrária, educacional, fiscal e urbana. Antes dele, Jânio Quadros tinha aberto o país às relações diplomáticas e comerciais com todas as Nações do mundo.

Isto começou a não agradar a muitos Grupos econômicos que tinham os seus monopólios. E sobretudo desagradou aos Estados Unidos que não permitiam que alguma nação se relacionasse com seus inimigos políticos, sobretudo a Rússia.

Por outro lado, Jânio Quadros fez o primeiro Embaixador negro do Brasil, fez o Parque Nacional do Xingú e concedeu muitos direitos aos Índios e combateu a corrupção.

Este processo foi barrado diretamente, digamos logo, pela política dos Estados Unidos, que enviaram recados e dinheiro aos governos e aos Militares brasileiros para parar com isso. E conseguiram. Os Estados Unidos começaram a treinar agentes de tortura e repressão para mandar para o Brasil.

Assim os Estados Unidos e as classes altas prepararam o caminho para que os Militares dessem o golpe militar e implantar a Ditadura Militar em 31 de Março de 1964. Houve quase um milhão de mortos e desaparecidos civis, além de genocídio de milhares de Índios. Inclusive mandando aviões para espalhar veneno na Amazônia. Os torturadores recebiam cartas com dólares todos os meses, dos Estados Unidos.

Como os Estados Unidos tinham medo da Rússia, espalharam esse mesmo medo por toda a América do Sul, e para eles, tudo que não fosse dos Estados Unidos era comunista. Então o comunismo virou bicho-papão para eles puderem perseguir, prender e matar. Esse bicho papão ainda hoje está na cabeça de muitos militares brasileiros.

A teologia da libertação foi sufocada na Ditadura, e teve muitos mártires, a maioria da Ordem dos Pegadores ou Dominicanos: Entre eles Frei Beto, que sobreviveu depois de passar 4 anos nas cadeias e nos porões, sem janelas e sem banheiro, e conseguiu escapar da morte, Frei Fernando, Frei Ivo, Padre Augusto, Frei Georgio, Frei Mauricio e Frei Tito Alencar, que foi pego assessorando o 30.º Congresso nacional da União Nacional dos Estudantes (UNE), e sucumbiu ao martirio. Nessa perseguição à UNE foram presos mais de 700 estudantes, e assassinados os dois líderes universitários Alexandre Vannucchi Lemos e Honestino Guimarães.

Frei Tito: Os militares mataram-no se divertindo atirando o corpo dele para dar com a cabeça contra as paredes da cela por dias seguidos. Queimavam o seu corpo com pontas de fogo diariamente, mormente na boca dizendo que “era para tomar a hóstia”. Com isso o governo americano conseguiu a obediência dos Militares brasileiros, e enfraquecer a Teologia da Libertação.

Na verdade, Frei Beto tem a seguinte afirmação: “Todos nós cristãos somos discípulos de um prisioneiro politico, Jesus, preso, torturado e condenado à morte por dois poderes, politico e religioso”. 

Alguns setores da Igreja acusam a teologia da libertação de usar métodos do marxismo. Ora os métodos não têm religião. Estão querendo "botar água no feijão da Santa Ceia". Como diz Marcella Reid, "eu estou falando de evangelho, e eles estão desconversando de métodos" ou de papo furado, ou  de água no feijão da Santa Ceia", querendo lavar as mãos como Pilatos e jogar a água no feijão.

Alguns bispos fizeram raras visitas a alguns Freis presos nas masmorras. Dois deles, depois foram cardeais. Um deles, cujo nome omito aqui, numa visita de meia hora, viu prisioneiros torturados e sangrados, mas os miliares lhes disseram na gozação que “tinham caído de uma escada”.  E as palavras que falou para os Freis foram: “Ah, vocês são todos envolvidos com os terroristas, não é?” Dali a algum tempo foi nomeado cardial, e em Roma numa missa falou infelizmente que “no Brasil não tem tortura”.

Um outro, Dom Lucas, agora já falecido, viu o Frei Tito torturado e sangrando e os Freis pediram-lhe para fazer um depoimento. Ele se recusou dizendo que “não quero prejudicar minha amizade com os meus amigos militares”. Será que eles tinham a teologia de defender os Pobres, ou a teologia de se defender dos Pobres, igual os governos? Ou não foi o caso de "lavar as mãos também"?

Eu disse atrás que tudo que não fosse dos Estados Unidos era “comunista”. Então o comunismo virou bicho-papão para eles puderem perseguir, prender e matar. Aqui em Chapadinha na época de 1980 não se podia falar em “Comunidades”, porque era “comunismo”. Tinha um delegado que  dizia que as comunidades eram “células comunistas”, e eram para tirar as terras dos fazendeiros.

Os primeiros dirigentes das comunidades católicas ou comunidades eclesiais de base foram presos. E os sacerdotes difamados nos jornais como comunistas. Várias ocasiões foram intimados perante o juiz da cidade, ameaçados de prisão e expulsão.

Esse bicho papão de usar o “comunismo” para barrar tudo que é direitos das classes pobres ainda hoje está na cabeça de muitos militares e governantes com formação militar. O pobre quando reclama é “comunista” e é fim de papo. Vai levar tempo para higienizar a cabeça de tantos que foram infetados com esse vírus da época da Ditadura militar, e desse veneno que foi deixado no Brasil pelos Estados Unidos da América do Norte.

Obs: Veja a lista de Teólogos da Libertação do Brasil e do estranjeiro: Andrés Torres Queiruga, Jean Luis Segundo, Gustavo Gutierrez, Carlos Filipe Ximemes, João Batista Libanio, Jon Sobrino, Camilo Torres, Carlos Mesters, José Comblin, Jorge Pixley, Clodovis Boff, Leonardo Boff, Domingos Barbé, Elza Tamez, Marcella Althan-Reid, Enrico Dussel, Marcelo Barros, Milton Shwants, Pablo Richard, Erwin Krautler, Frei Beto, Pedro Casaldaliga, Hélder Câmara, Hugo Assmann, Paulo Evaristo Arns, Roselvo Sagues, Ruben Alves, Ignacio Ellacuria e Samuel Ruiz.

P.Casimiro     smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

sábado, 12 de dezembro de 2020

Quando foram descobertas as primeiras vacinas do mundo – A CIÊNCIA E A FÉ.


 A primeira vacina do mundo foi descoberta na Inglaterra há 273 anos para a varíola, que já tinha matado mais de 400 mil pessoas. O inventor foi o médico dr.Edward Jenner  em 1747. Ele reparou que as pessoas que viviam de gado não tinham tanto a epidemia. E quando ordenhavam as vacas ficavam mais imunizadas. Então lembrou de tirar o pus das mãos de pessoas que ordenhavam o gado, injetou nos doentes da varíola e começaram curando. Foi esse o inicio das vacinas. “Vacina” vem da palavra vaca (em latim) justo por conta disso;  o leite da ordenha com o pus de alguma pessoa que ordenhava.  Em 1800 foi oficialmente aprovada na Inglaterra a primeira vacina do mundo. De lá até agora vivemos sob a proteção das vacinas.

Agora aconteceu a pandemia do COVID 19. Há muita gente dizendo que só tem fé em Deus. Já pensamos que todos nós vivemos das vacinas?  Não basta ter fé em Deus e não tomar as vacinas, senão vai morrer. Seria como ter fé em Deus e não se alimentar, vai morrer. Estamos aguardando as vacinas contra a COVID 19. Agora aconteceu a pandemia do COVID 19. Há muita gente dizendo que só tem fé em Deus. Já pensamos que todos nós vivemos das vacinas? 

Os cientistas dizem que o vírus veio para ficar, e essa vacina fará parte do KIT das vacinas pro futuro para todo o mundo. Enquanto a vacina não chega, temos um meio provisório de proteção que é a máscara.

 Não é difícil de constatar. Todos vamos no médico e no hospital e nas vacinas. Porquê? Porque temos fé na ciência. Todos vamos na missa e nos cultos e nos sacramentos, porque temos fé em Deus. Isto é viver da fé: fé em Deus e fé na ciência. O mesmo Deus que fez a fé fez a ciência. Já tradicionalmente os homens e as mulheres rezadeiras e os curandeiros misturavam a eficácia das plantas e as rezas a Deus. Vamos fazer uma reflexão sobre a fé em Deus e a fé na Ciência.

Pela fé em Deus, sabemos que ele fala, não ao modo humano mas ao modo de Deus, e embora coisas que eu não entendo, não ouço, não vejo, mas acredito. Pela fé na Bíblia, acredito ser uma manifestação de Deus. Pela fé na ciência eu dou crédito à ciência porque a ciência foi feita por Deus. O mesmo Deus que fez a fé fez a ciência.

A fé em Deus vem desde o berço da humanidade. Com a humanidade nasceu o “numinoso”, aquilo de mistério que ultrapassa o que é humano. E isso de “numinoso” desde o  início teve nomes  e designações conforme as capacidades metafísicas e discursivas e filosóficas dos vários grupos humanos. Variam, portanto, os nomes de Deus, como de regiões e culturas tem o mundo. E, quem sabe, cada grupo fabricou o seu deus à sua imagem e semelhança.

Os hebreus disseram na Bíblia que Deus fez o homem “à sua imagem e semelhança”, mas na prática eles é que fizeram Deus à sua imagem e semelhança: com sentimentos de vingança, como um guerreiro militar, como um imperador, e também como um deus de amor, porque os homens têm vingança, guerra, mando e poder e  amor. E tudo isso os judeus, como os outros povos, colocaram em Deus. E tinham: o deus da guerra, do amor, da fertilidade, o deus dos campos e o deus da cidade. Mas Deus foi sempre um mistério.

A isto é que chamamos o “numinoso” ou o “mistério” e só se pode imaginar “às apalpadelas” como diz São Paulo “(tudo isto para que procurem a Deus e se esforcem por encontrá-lo como que às apalpadelas, pois na verdade ele não está longe de cada um de nós” (At.17,27) e nunca sendo tocado, mas acreditado e temido, mais temido do que amado. Então nós temos fé em Deus e na ciência, e nos sinais dele, por exemplo a Bíblia, para nós cristãos, o Corão para os Árabes, o Veda para os hindús, e  os livros dos budistas e dos japoneses.

Fé na ciência: Além da fé em Deus e no mistério universal, os humanos de espírito lúcido temos também fé na Ciência. A fé na ciência é dar crédito ao resultado da ciência. Como na matemática que é a base das Ciências exatas. Chamam-se exatas porque dão sempre resultados certos e comprováveis como dois e dois são quatro. As outras ciências são as chamadas ciências humanas. A religião, se fosse ciência, não seria ciência exata, porque é um esforço de andar procurando encontrar a Deus “às apalpadelas” (At.17,27).

As ciências humanas como a filosofia, antropologia etc, não são ciências exatas porque que não se fundamentam em dados comprovados como a matemática, onde 2 mais 2 são sempre 4. No entanto além destes dados corriqueiros de todo dia, nas ciências exatas há dados de milhões de algarismos e equações e dados de química e física e astronomia que são acessíveis só aos grandes estudiosos e especialistas. A fé na Ciência refere-se a estes dados astronômicos e inacessíveis aos leigos, e também à biologia, como a engenharia genética.

Então, a mesma fé que eu tenho em Deus, eu tenho também na Ciência, porquê? Porque Deus fez a fé e a Ciência. Essas leis da ciência vieram desde o princípio do mundo. Por isso é alienante pensar que só acredito em Deus mas não na ciência. É sinal de um espírito alienado.

Falei que a matemática se apoia em dados exatos. Quando os cientistas jogam um satélite nos ares eles sabem de antemão quantas voltas vai girar em volta da Terra, e quantos dias levará para chegar à Lua ou a Marte. Andam  Sondas agora neste momento no espaço que daqui a 20 anos chegarão a bilhões de quilômetros para investigar as galáxias. Eles sabem que daqui a 20 anos chegarão ao ponto definido. Porquê? Porque se baseiam em leis da ciência exata.

Por isso é alienante pensar que só acredito em Deus mas não na ciência. É sinal de um espírito alienado. Use a fé e a ciência e terá vida longa.

Obs: famosos que morreram de varíola antes da descoberta da vacina: A rainha MARIA II, da Inglaterra; o rei Luiz XV, da França; o imperador Pedro II, da Rússia; o presidente Abraham Lincoln, dos Estados Unidos da América do Norte; e Shunzh, imperador da China.

P.Casimiro     smbn

www.paroquiadechapadinha.blgsopot.com.br

domingo, 6 de dezembro de 2020

A ação conjunta e desencontrada de São Pedro, São Mateus e São Marcos para a redação dos evangelhos, e o evangelho apócrifo de Tomé

O evangelho de Mateus coloca a figura de Pedro em destaque como liderança, porém o evangelho de Marcos enfoca a característica de seguir Jesus como Messias. E só Mateus traz a famosa investidura de Pedro como a pedra da igreja e a entrega das chaves, omitidas pelos evangelhos de Marcos, Lucas e João.

Quando Jesus perguntou: “Quem dizem os homens que eu sou” (Mt.16,13), a resposta de Pedro em Marcos é “Tu és o Messias” (Mc.8,29);  Em Lucas é: “Tu és o Cristo de Deus” (Lc.9,18), enquanto que em Mateus é: Tu és o Cristo, o filho de Deus vivo” (Mt. 16,16).   Respondeu Jesus:“Feliz és tu, Simão filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isso mas o meu Pai que está nos céus. E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja; e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt.16,16-20). Em Marcos, Lucas e João não tem esta resposta de Jesus.

E isto de só Mateus trazer ele sozinho esse texto é significativo, uma vez que Marcos é anterior, e é a fonte tanto de Mateus como de Lucas, de onde eles, os dois, compartilharam os seus evangelhos. Mas então  porquê só Mateus acrescentou tudo isso e chama a sua comunidade de “igreja”? As comunidades de Marcos, Mateus e João não eram também “igrejas”?  Claro que sim, mas ele foi o único a destacar essa comunidade no universo das outras comunidades como sendo a evangelizada por Pedro, em oposição às outras igrejas fundadas e evangelizadas por Paulo. Eles achavam Paulo mais avançado, e dando mais destaque à graça do que a lei, e ao Espirito do mais do que à liderança.

Temos de perguntar mais: qual o real motivo destas diferenças? Além do objetivo de destacar a figura de Pedro, dizem os estudiosos da Crítica das Formas: “As tradições foram não apenas adaptadas mas, em muitos casos, criadas para o uso que as igrejas cristãs as destinavam na pregação ou no ensinamento. O processo de transmissão era bastante criativo.” Isto quer dizer que os redatores iniciais dos evangelhos se sentiam bastante livres para “formularem as tradições de Jesus para o propósito bem diferente de testemunhar a presença atual de Jesus em suas comunidades.” (Richard Bauckham, Jesus e as testemunhas oculares, 310).

Além de as comunidades de São Mateus acharem São Paulo mais avançado, eles se consideravam mais na linha da messianidade e da escatologia, isto é, afirmando que Jesus era o descendente de Davi, e que ia trazer a vitória final e o julgamento dos últimos dias em breve tempo, na linha da escatologia do Antigo Testamento.

Foi assim que essa afirmação única do evangelho de Mateussobre esta pedra construirei a minha igreja”(Mt.16,18) que eles aplicaram à sua comunidade particular, passou para toda a Igreja.

Já Marcos e Lucas não tinham esses problemas no seu entorno. Na verdade os evangelhos de Mateus e de Lucas não compartilharam essa afirmação da “pedra da igreja” e “das chaves”. No evangelho de João também não há nada a respeito.

Vale dar uma olhada agora para o que refere o evangelho de Tomé, que é da mesma data de Marcos, sobre o mesmo assunto: “Jesus perguntou a eles: A quem vocês pensam que eu me assemelho? Pedro respondeu: Tu és como um anjo justo. Mateus respondeu: Tu és como um sábio filósofo.” E disse também Tomé: “ Mestre, minha boca é completamente incapaz de dizer a quem te assemelhas.” Jesus lhe respondeu: “ Não sou eu teu mestre, pois bebeste, te tornaste ébrio da fonte borbulhante que eu cavei”? (Dito 13 de Tomé). Isto porque o evangelho de Tomé não tinha interesse algum na Bíblia hebraica ou na expectativa messiânica hebraica” (Richard Bauckham, 303).

Na verdade, houve cinco etapas na redação dos evangelhos: 1. memórias sem ordem e sem cronologia, 2. recontagens 3. reformulações, 4. expansões,  e 5. trabalho editorial dos redatores (evangelistas).  Até que ponto a tradição foi conservada ou criativa e, portanto, em que medida o conteúdo dos evangelhos preservou fidedignamente o que Jesus, de fato, disse e fez, é questão sobre a qual os estudiosos divergem largamente.

Vamos analisar outras narrativas agora: 1º a transfiguração: A cena da transfiguração de Marcos (Mc.9.2-10) foi compartilhada por Lucas e por Mateus. Nesta cena, a figura de Pedro incorpora e envolve os leitores. A proposta de Pedro a Jesus, é a mesma que qualquer leitor seria levado a dizer “ Mestre, é bom estarmos aqui; façamos três tendas, uma ti, outra para Moisés, e outra para Elias” (Mc.17,5). Esta é a habilidade e intencionalidade dos escritos do evangelho de Marcos: envolver o leitor, colocá-lo ali na presença.

Aqui seria necessário enfocar o gênero literário “teofania”, manifestação divina ao jeito das teofanias  do Antigo Testamento com o objetivo de impactar o leitor no ensino a ser transmitido, como assim em outros episódios onde o escritor põe Deus “falando” no meio do fogo, da tempestade, das nuvens e relâmpagos e dos trovões.

A sonolência na hora da Agonia: Aqui Pedro e os outros decepcionaram Jesus ao adormecerem no Getsêmani. A função narrativa desta sonolência é possibilitar ao leitor  compreender e simpatizar com a incapacidade dos discípulos de permanecer acordados. O episódio é um apelo à nossa identificação com eles, outro jeito de habilidade do evangelista.

3 - As negações de Pedro: Também o episódio das negações de Pedro foi compartilhado por Mateus e Lucas. É constrangedor que Pedro tivesse por três vezes negado Cristo (Mc 14.66-72). Mas assim como nos episódios já mencionados, também a negação é um apelo que provoca e envolve o leitor de Marcos.

Também o leitor contemporâneo de Marcos tinha ocasião de sacar daí algumas lições: Assim como o “mais corajoso dos apóstolos” negou o Cristo e se recuperou, não seria um apelo para que muitos que teriam negado a sua fé pudessem também voltar para ela e para a conversão? Eis a questão.

Antes de terminar gostaria de enfocar uma conclusão que alguns teólogos protestantes tiram da existência das várias teologias e enfoques teológicos nos evangelhos. Por exemplo Kaselmann diz que isso não funda a unidade da Igreja mas a “diversidade das confissões”.

A esta questão responde Leonardo Boff que não se deve olhar a uma parte mas ao todo dos textos neotestamentários, validando a aporia de que o todo vale mais do que a parte. ”A unidade da Igreja é uma realidade teológica fundada na audiência e obediência do único evangelho de Jesus Cristo que está para além dos textos evangélicos. Aqui não decide a história mas a fé”. (Leonardo Boff,A Igreja, Carisma e poder”, 135).

Tivemos ocasião de ver o ambiente em que os evangelhos foram pensados e escritos.  Mateus e Lucas beberam na fonte de Marcos, que é o 1º evangelho. E apesar de ser o primeiro, a palavra “igreja” e chaves não aparece em Marcos e nem em Lucas, e vimos a variante do evangelho de Tomé.

Voltemos de novo ao título da matéria que é a ação conjunta e desencontrada de São Pedro, São Mateus e São Marcos para a redação dos evangelhos, e o evangelho apócrifo de Tomé

P.Casimiro    smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br