segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Existe uma religião verdadeira?


 

No Cristianismo já se guerreou, se queimou e matou gente, se destruiu e assassinou, se falsearam documentos. Aí nos deparamos com esta pergunta: Houve coisa igual em outras religiões? Houve. No Cristianismo há gente santa? Há. Também há nas outras religiões? Há. Então a pergunta volta: haverá uma religião verdadeira ou haverá igualdade entre religiões? Junto com esta pergunta vai outra: Onde está a verdade? Vejamos: “Nenhum problema produziu na história das religiões tantas guerras como o problema da verdade. Em todos os tempos o fanatismo cego pela verdade atormentou, queimou, destruiu e assassinou impiedosamente. A consequência foi o cansaço da verdade, a desorientação e o abandono de toda religião” (H.Kung, Teologia a caminho, p.262). Para sair já de posições antipáticas, começo esta reflexão assim: No céu não haverá religiões, só uma, a do amor. Não existirá o Budismo, ou Hinduísmo, ou Islamismo, nem o Cristianismo. No final não existirá nenhuma religião, mas somente o próprio inefável ao qual se dirigem todas as religiões” (o.c.p.291). Esta é nossa premissa. Daí vamos deduzir várias verdades escondidas nesta caixa de Pandora ao contrário. A posição tradicional da Igreja era que apenas uma religião é verdadeira, todas as outras seriam falsas. Esta teologia foi preparada nos primeiros séculos por Orígenes, Cipriano e Agostinho, copiando do A.T. onde o Judaísmo funcionava como a única religião verdadeira. E isto foi definido depois pelo IV concílio de Latrão (1215), com o jargão “Fora da Igreja não há salvação”, e pelo concílio de Florença em 1442. Com a chegada das descobertas dos novos continentes a Igreja viu a fragilidade dessa teologia e procurou interpretar de forma nova esse dogma. “Roma entendeu de forma nova esse dogma absolutamente excludente, o que com frequência levou a uma reinterpretação e até transformá-lo em seu contrário” (o.c.p.266). Na verdade, como falei no Blog anterior, essa configuração da “salvação” já não servia para os tempos modernos que começaram com as descobertas. E assim se mostra que dogmas parece serem como camisas de força que com o tempo ou eles estouram ou estoura a pessoa. No concílio de Trento os teólogos Belarmino e Suarez reconheceram como suficiente para a salvação eterna um desejo inconsciente do batismo e de entrar na Igreja. E no séc.  XVII Roma condenou a proposição dos Jansenistas que era: “fora da Igreja nenhuma graça”. E no séc. XX, em 1964 o concilio vaticano II afirmou na Constituição sobre a Igreja: “Todos os que buscam a Deus sinceramente e procuram cumprir a sua vontade  conhecida por meio da consciência, e agem sob o influxo íntimo da graça podem obter a salvação” (L.G. n.16). E na Declaração sobre as religiões não cristãs: “A Igreja católica não rejeita o que é verdadeiro e santo em todas as religiões” (Nostra Aetate n.2). Como podemos ver, o dogma caiu por si mesmo como fruta passada e “fora de prazo” de validade.

Chegados neste ponto, os teólogos perguntam: então o “Cristianismo o que tem ainda para oferecer” E a questão é: se o anúncio cristão hoje, diferentemente de outras épocas, constata já não a pobreza  mas as riquezas das outras religiões, então o que o próprio Cristianismo  ainda pode oferecer? Como pode continuar oferecendo a “luz”, quando reconhece por toda a parte uma luz revelada? Se todas as religiões têm verdade, por que o Cristianismo seria a verdade? Se há salvação fora da Igreja, e do Cristianismo, o que ele tem a mais? (o.c.p.268). Antes de partir para outras reflexões, a resposta adequada será: o Cristianismo tem a oferecer a referência ao “humano”, ao autenticamente humano. Não adiantaria a multidão de ritos, de celebrações, de teologias e de orações, mas desprezando e negligenciando o ser humano. “Tudo o que quereis que os homens vos façam fazei-o vos também a eles, pois esta é a Lei e os profetas” (Mt.7,12). Porque se as outras religiões praticam isso e o Cristianismo não, o que poderia então oferecer? Não se pode apelar ao “divino” para destruir o “humano”. “Se uma religião pratica aquilo que é verdadeiramente humano, isso sim, pode invocar em seu favor a autoridade do “Sagrado” (o.c.p.274), pois o que há de mais “sagrado” é o ser humano, nem o “sábado”, nem os jejuns, sacrifícios ou orações.(Mc.2,28).

Chegamos a outro ponto onde topamos com outra constatação seguinte: As outras religiões têm virtudes e defeitos? Porém, há acusações contra o Cristianismo quando ele pensava ser a única religião verdadeira, justo como também o Judaísmo, o que depois achou que não era bem assim, quando se pensa na queima de “hereges” e na “venda de indulgências” em tempos idos. No critério de outras religiões o Cristianismo se apresenta ante as outras religiões com uma “consciência doentia do pecado” e da culpa, e de sua aversão contra o mundo e o corpo”, (o.c.p.273), deixando de lado o valor em si do “ser humano”, e de deixar de lado o “não faça aos outros o que não quer que façam a você mesmo”. Daí que a  verdadeira religião pode se identificar com a “bondade” ou a boa conduta, da seguinte forma: um cristão ou um budista “verdadeiro” é o cristão ou o budista “bom”. Nesse sentido a questão de qual é uma verdadeira ou falsa religião se identifica com a prática da bondade e do amor. Já dizia um cantor: “O amor é a melhor religião” (FranciscoMarinho@.com). Nesse sentido todas as religiões são iguais quando levam ao 1º e 2º mandamento do Sinai, que já não é um mandamento exclusivo mas patrimônio das religiões universais, (Mt.7,12).

Do que dissemos seguem-se alguns corolários: 1- O Cristianismo não tem nenhum monopólio da verdade, e tampouco o direito de renunciar ao testemunho da verdade que ele possui, como as outras religiões possuem as suas verdades. (L.G.16), precisando lidar com o binômio diálogo versus testemunho; 2- Depois do concílio vaticano II o teólogo Karl Rahner lapidou a frase que os fiéis sinceros das outras religiões são “cristãos anônimos”, para explicar o nº16 da Constituição sobre a Igreja, e o nº2 sobre as religiões que já aduzimos. Isso pôde ter servido para aquela época do concílio para dar o ponta pé inicial do inicio do novo jogo da teologia. Porém agora vemos que já não tem sentido uma vez que supõe uma situação de superioridade que considera de antemão a própria religião (a cristã) como a única verdadeira; e só por isso já exclui o diálogo antes mesmo de iniciá-lo. Devemos afirmar que os homens e mulheres de outras religiões devem ser respeitados como tais e não integrados ou colonizados numa camisa de força da teologia cristã. Ou seja, eles se conhecem como pertencendo e cumprindo a sua consciência e a sua religião pelo seu valor próprio e não com a “capa” de um anonimato que não existe e que esvaziaria o valor das suas crenças.

Conclusão. Poderá haver uma religião unificada para o mundo inteiro? Impossível, porque todos os caminhos bons levam a Deus. Na verdade, nenhuma religião possui toda a verdade. Apenas Deus possui a verdade plena. Só o próprio Deus, qualquer que seja o seu nome, é a verdade. No  fim da história não haverá religiões, só uma, a do amor. Já não existirá Budismo ou Hinduísmo, Islamismo ou Judaísmo ou Cristianismo. No final não existirá nenhuma religião. Nem profetas ou  iluminados como pontos de luz nos horizontes da humanidade: nem Maomé, nem Buda, nem o próprio Jesus Cristo que entregará tudo a Deus Pai (Jo.14,28).

P.Casimiro João     smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

sábado, 25 de novembro de 2023

Cristo Rei e o pastoreio em Israel.


 

“Eu vou procurar a ovelha perdida” (Ez.34,16). Deus prometia sempre procurar a ovelha perdida. Uma vez que “eles” os israelenses faziam perder. Perder quem? Os cidadãos, tratados por “ovelhas”.

No Novo Testamento acontece o paralelo: “Eu tive fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber” (Mt.25,35). A vida começa pelo comer e o beber. Os governantes deste mundo nunca experimentaram o que é ter fome e o que é ter sede. Jesus experimentou. Com algumas raras exceções: Nelson Mandela (da independência da África do Sul); Samora Machel (da independência de Moçambique); Agostinho Neto (da independência de Angola); Xanana Gusmão (da independência de Timor Leste); Mahatma Gandhi (da independência da Índia).

“As orações religiosas, as práticas devocionais, as celebrações e adorações não salvam por si mesmas; existem para nos aproximar de Deus e dos irmãos”. (Sônia Gomes de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional do Laicato do Brasil).

P.Casimiro João    smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.om.br

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

QUANDO FOI CONDENADA A TEOLOGIA DE S.TOMÁS.


 

“A condenação de Santo Tomás em 1277, três  anos após a sua morte, pelos bispos das duas  principais Universidades da Europa, Paris e Oxford, foi considerada como a mais desastrosa condenação da Idade Média porque impediu por muitos anos o livre desenvolvimento da teologia” (Kung H. “Teologia a caminho, p.190).

Não só essa condenação da teologia de Tomás mas muitas outras condenações tiveram o mesmo efeito aqui referido pelo autor citado. Isto acontece porque os grandes pensadores podem dizer o que disse o teólogo H.Kung: “Jamais aprendi a jurar pelas sentenças do mestre, porém aprendi a aprender dia após dia, pois na teologia também é preciso aprender a aprender.” (o.c.p.213). Impressiona-nos o fato pouco conhecido e menos divulgado da condenação da teologia de São Tomás. Mas também ele passou por essa experiência. Fazemos referência a este fato pelo seguinte: As gerações estão sujeitas a bitolas ou modelos de expressar a fé que já vem correndo calmos como um rio pelas suas margens. E todo mundo olha aquele rio e acha que se não fosse o seu trajeto ele não seria mais o rio. Mas a história não é só a nossa visão e o nosso horizonte e o nosso rio. Ao rio nós vamos chamar agora de religião, fé ou teologia; à bitola chamamos paradigma, ou modelo ou configuração. Um rio pode mudar o seu curso, i.é a sua configuração, devido a terremotos, abalo das placas teutônicas e outros eventos mas ele permanece o mesmo rio. A fé, a religião ou a teologia pode mudar de configuração mas permanece a mesma fé. Foi isso que fez São Tomás na Idade Média, como já tinha feito Orígenes no primeiro séc. d.C.

Nos primeiros séculos “Orígenes, o primeiro sábio e pesquisador metódico do Cristianismo” (o.c.p.179), foi condenado porque propôs a fé numa nova configuração que hoje é muito conceituada pela teologia. Em seguida veio a configuração de S.Agostinho que antes de ser aceita passou por outra condenação. Na Idade Média campeou São Tomás com a Suma Teológica, que foi condenada também depois da sua morte porque propunha a fé numa nova configuração, apoiando-se na filosofia aristotélica. A respeito disso diz Kung: ”Novos modelos teológicos não surgem porque alguns teólogos gostam de brincar com o fogo ou porque ficam sentados na sua escrivaninha criando novos modelos mas sim porque o modelo hermenêutico tradicional fracassa. Ou seja, não encontra respostas satisfatórias para as grandes questões levantadas em novos contextos históricos” (o.c.p.172). São Tomás só foi reabilitado por Pio V duzentos anos mais tarde em 1567, mas mesmo assim, no concílio de Trento foi dada muito mais relevância a Duns Escoto do que a Tomás.

A configuração teológica de S.Tomás representava um grande avanço para o séc.XIII ultrapassando as teologias de Orígenes e S.Agostinho. Por sua vez, com o andar dos tempos, o que era um avanço para aquela época já não era mais para o século 19 e 20. Antes do concílio Vat.II o mundo deu uma enorme guinada devido às descobertas científicas da época com Galileu, Copérnico, Kepler e vários outros e também por conta da pesquisa cientifica bíblica. Por isso, como dizem hoje os teólogos, o que era avanço para o séc.XIII tornou-se retaguarda ou atraso para os séculos seguintes. Justo nessa época em que era urgente uma teologia dialogante e dialógica e dialética, os Papas se firmaram numa teologia monolítica medieval e colonialista, como vinha sendo ainda a teologia escolástica e aristotélica de Tomás de Aquino, do “motor imóvel”. E assim “os pregadores e Catequistas recebiam pedras em vez de pão” (o.c.p.217). Foi nessa época que foram pulicados o “Síllabus” de condenações de Pio IX e as encíclicas Pascendi de Pio X e Generis humani de Pio XII.

Na história da ciência teológica acontece que “os pesquisadores mais velhos e seguidores dos modelos tradicionais se opõem durante toda vida aos novos paradigmas. Isso acontece não só por causa da teimosia do idoso mas também porque estão totalmente comprometidos com os antigos modelos ou configurações. Precisa-se de uma nova geração até que finalmente a grande maioria assuma as novas configurações” (o.c.p.179). E o cientista Max Plank dizia: “Uma nova verdade cientifica não costuma se impor pelo convencimento e pela conversão de seus adversários mas sim esperando que eles desapareçam, e que as novas gerações se familiarizem com essa verdade” ( Autobiografia, p.42). Ele e também Ch.Darwin se referiam tanto às ciências como à teologia. E Eisntein disse: “É mais difícil destruir preconceitos do que desintegrar um átomo” (o.c.p.181).

“O problema maior da dificuldade e da demora de aceitar os novos modelos acontece quando a teologia e a Igreja rejeitam um modelo hermenêutico determinado é que a rejeição se transforma facilmente em condenação, e a discussão é substituída pela excomunhão; identificando-se Evangelho e teologia, realidade eclesial e sistema eclesiástico, conteúdo de fé e expressão de fé. E a consequência é que esse modelo hermenêutico tradicional com sua explicação teológica se transforma em verdade verdadeira ou seja aquele velho modelo teológico se torna dogma, e a tradição se torna tradicionalismo. Historicamente na Igreja e na teologia esse fechamento se transformou em violência e repressão: contra todos os direitos humanos, perseguição dos “hereges”, inquisição física ou psicológica dos opositores, ou simplesmente proibição da discussão, como vimos com Orígenes e Tomás de Aquino.” (Cf. o.c.p.189).

Reparando bem, atendendo a modelos ou expressões de modelos da religião ou de fé, há o essencial, e há o acidental, o acessório. ”Os representantes da religião institucional sempre se aproveitaram disso para preservar não só o essencial mas também o acessório, e até o ridículo e sobretudo para revestir o próprio poder de uma aura de eternidade e imutabilidade divinas. Quantas coisas como instituições muito terrenas (autoridades romanas), ou posições jurídicas, objetos litúrgicos e ritos folclóricos foram declarados “santos” e intocáveis para imunizá-los contra qualquer crítica e reforma. Os menores detalhes em assuntos de fé, de moral e de Igreja foram regulamentados juridicamente, sancionando-se os desvios com penas eclesiásticas, excomunhões, inclusões no índice e suspensões “a divinis” neste mundo além do fogo eterno no outro. Assim não se preservava a mensagem cristã e a causa do Cristianismo, mas também mitos e costumes, às vezes de origem pagã, a superstição, a procura de milagres e o culto das relíquias, mitos e símbolos duvidosos que, mesmo que tivessem seu sentido na sua época, não têm mais agora” (o.c.p.250).

Em 1983 realizou-se o Congresso ecumênico internacional em Tubinga, na Alemanha, e uma das coisas importantes que se constataram foi que a perda da hegemonia político-militar e econômica e cutural da Europa deu um abalo da hegemonia do Cristianismo como única religião verdadeira, “salvífica” e “absoluta”: pela primeira vez realizou-se um encontro do Cristianismo com as religiões mundiais. Aí o lado cristão deu-se conta de adquirir mais disposição em ouvir seriamente as outras religiões e aprender delas. Será que isto seria possível no modelo de teologia e de Igreja na Idade Média, com Santo Tomás de Aquino, ou no séc.XIX com os Papas Pio IX, Pio X e Pio XII?

Conclusão. Vimos nesta breve reflexão que uma pessoa pode mudar de modelo ou formato de  religião sem mudar de religião. É como trocar a moldura de um quadro mas não a figura do quadro. Assim por exemplo, quando se trata de “conversão: quando por exemplo um católico, por sentir repugnância contra o sistema romano autoritário se torna protestante, ou vice versa, se um protestante se torna católico, atraído pela unidade e universalidade católica, então, em ambos os casos não acontece uma mudança de religião propriamente dita, mas ambos permanecem cristãos, pois houve só uma mudança de paradigma (ou configuração)” (o.c.p.242). Como dizíamos, só trocaram de moldura mas a figura do quadro ficou a mesma. Isto é, não houve troca do essencial mas só do acidental ou acessório.

P.Casimiro João   smbn

www.paroquiuadechapadinha.blogspot.com.br

 

 

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

GÊNESIS OU TERRAPLANISTA? VOCÊ TOPA?

Nossos antepassados nem imaginavam as maravilhas que se escondem na composição do Sol e do nosso universo. O sol produz os fótons em seu centro, onde a fusão atômica cria átomos de hélio e de hidrogênio, e, no processo, fotos são liberados na luz do sol. Os ións do cérebro dependem do alimento, o alimento depende dos fótons produzidos no centro do sol, o sol resulta de explosões anteriores, quando estrelas explodiram, e tudo isso resulta de seja o que for que aconteceu no primeiro momento do início dos 15 bilhões de anos. Essa saraivada fotônica do início dos tempos provê de energia nosso modo de pensar. Incêndios do início dos tempos fortalecem agora mesmo, neste instante você mesmo. O que você pensa e sente neste momento só é possível através do fogo cósmico. Todo o seu sistema nervoso é rico de deste fogo. Por isso o cientista Carl Sagan dizia que nós somos faíscas de estrelas. A bola de fogo primeva existiu duzentos bilhões de ambos sem consciência introspectiva. Por si só essa estrela não podia se dar conta da sua beleza. Mas a estrela pode, por nosso intermédio, refletir sobre si mesma e, em certo sentido, você é essa estrela. Você é aquela estrela trazida a uma forma de vida que possibilita à vida refletir sobre si mesma. Então sim, a estrela realmente sabe de seu grande trabalho, de sua entrega ao encanto da vida e de sua enorme contribuição à vida, mas por meio de sua articulação ulterior – você. Mais ainda nossa admiração cresce se soubermos o seguinte: qualquer pesquisa vai fornecer uma riqueza de informações cheias de fascínio sobre nossa galáxia e seu lugar no universo. Por exemplo: Há mais de 200 bilhões de estrelas só na nossa galáxia. Nossa galáxia é tão extensa que a luz, viajando 300.000 quilômetros por segundo leva 100 mil anos para atravessá-la. O Sol com seus planetas viaja ao redor desta galáxia à velocidade de 210 quilômetros por segundo. Uma viagem ao redor da galáxia o nosso Sol leva 250 milhões de anos. Nossa galáxia é a segunda maior num grupo de 30 galáxias. A maior é Andrômeda, que está a 18.921.600.000.000.000 quilômetros de nós. Os astrónomos calculam que há mais de 300 bilhões de galáxias, cada uma com bilhões e bilhões de estrelas. Ainda mais: nosso Universo é apenas um entre uma multidão de Universos e, em certo sentido, os muitos Universos competem uns com os outros pelo direito de existir. (Cf. John Gribbin, “Os princípios, a formação do Universo, 1994 p.XIII). Tudo isto fruto do Big Bang inicial acontecido há 15 bilhões de anos atrás. Aconteceram explosões que foram criando galáxias, estrelas, constelações, aos bilhões. E ainda continuam numa atividade criativa infinita em expansão contínua. Comparando agora, em contrapartida, com a visão primitiva do Gênesis, podemos baixar as seguintes conclusões: A morte não veio ao mundo por intermédio do pecado humano. A morte já era realidade milhões e milhões de anos antes que os seres humanos caminhassem no planeta. Desenvolvimento, morte, desastres e revoluções eram partes essenciais da existência deste planeta milhões e milhões de anos antes que os seres humanos entrassem em cena, com o sistema solar criado há 5 bilhões de anos incluindo a Terra, as plantas e as flores há 600 milhões de anos, e o ser humano há cinco milhões de anos. No entanto, toda a teologia do Novo Testamento está baseada nisso como se fosse real. Então não deveríamos concluir que a “Queda da criação” não será uma metáfora? Que não houve uma queda nada parecida com o que está descrito no Gênesis? Como fica então a vida de Cristo e sua missão? Ou não deveremos pensar o quanto de simbólico e não literal é a narrativa com que estamos lidando? (Cf. M.Morwood o.c.p.19 e 33). Dessa visão ou cosmologia antiquada e mítica do mundo é que, por exemplo, o Novo Testamento tirou as consequências para a teologia de São Paulo que se baseava no imaginário lendário da “criação de um só homem, e que pelo ‘pecado de um só homem’ entrou o pecado no mundo” (Rom.5,17). A respeito disso devemos reler o documento da Pontifícia Comissão Bíblia que nos fala nas “cosmologias já ultrapassadas: “O fundamentalismo tem uma tendência a uma grande estreiteza de visão, pois ele considera conforme à realidade uma antiga cosmologia já ultrapassada, só porque encontra-se expressa na Bíblia”(Pontifícia Comissão Bíblica, 1993, 40-41). A Igreja no princípio se negou a compartilhar a ciência de Galileu e ficou como hoje estão os terraplanistas, fora dos padrões da ciência. Na época, a Igreja, se apoiando numa falsa autoridade sobre a ciência condenou a ciência em nome da teologia, invertendo a definição de teologia e trocando cosmologia por teologia e teologia por cosmologia, firmando-se que a ciência de Galileu era contra a Sagrada Escritura. Tanto assim que só 350 anos mais tarde deu o braço a torcer apresentando ao mundo científico desculpas pelo modo como tratou Galileu e os cientistas. Hoje em dia todo mundo está sendo formado na ciência de Galileu sobre a astrofísica, astrologia e cosmologia, sobre a Terra que gira em torno do Sol, e não o Sol em volta da terra, coisa que a Igreja condenava, como se fosse missão da Igreja governar a ciência. E nós também somos convidados a outra visão do mundo diferente daquela na qual a fé cristã se formou, com a teoria terraplanista. É nessa visão que somos desafiados a falar de Deus, Jesus, Igreja e nossa fé cristã.

Conclusão. Se isto fosse parar na mente de terraplanistas iriam se arrepiar pensando que na Bíblia nunca leram isso. E nunca irão ler. Como os bebês de proveta não vêm na Bíblia, e também as últimas possibilidades de editar embriões humanos, e quem sabe, selecionar embriões inteligentes para futuros super-homens e super-mulheres, e implantações de chips nos cérebros humanos, e escanear o cérebro para ver as possibilidades de seu pensamento e seus planos, o que servirá para futuras investigações forenses e policiais, isso também não vem na Bíblia Assim como a Inteligência Artificial e os robôs de múltiplos serviços que estão invadindo o mundo, de tal maneira que, no Japão, o povo não distingue quem é gente e quem é robô que está enchendo as ruas das cidades. Termino, com a pergunta que não cala, do início do texto: O antes e o depois do Gênesis, ou continuar terraplanista, você topa?

P.Casimiro João      smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

  

 

 


segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Revelação, inerrância e inspiração bíblica


 

“O concílio de Trento não foi claro, e deixou a discussão em aberto sobre se a Escritura é a única fonte da Revelação ou se esta tem duas Fontes, a Escritura e a Tradição. O Vaticano II também não encerrou com clareza o assunto, embora se notasse a favor das Duas Fontes pela pressão da Cúria. A única tábua de salvação sobre a Escritura como única Fonte da revelação foi uma indicação velada no último capítulo da Constituição sobre a Revelação onde se indica a Escritura como “alma da Teologia” (Cf. Hans Kung, “Teologia a caminho” p68-71). Estamos falando em Fontes da Revelação, ou seja a Escritura e a Tradição. Tradicionalmente tem-se defendido as Duas Fontes. É por isso que colocamos a posição do concilio de Trento e do Vaticano II, na análise do teólogo H.Kung que foi perito no Vaticano II. Quer no concilio de Trento quer no Vaticano II campearam fortes reações, como era de esperar, contra a Reforma protestante do século XVI. Por seu lado, o protestantismo reagiu atribuindo a infalibilidade às frases bíblicas, a mesma que os católicos atribuíam ao Papa e à Tradição. Por isso que para eles a Bíblia é como um “Papa de papel” (o.c.p.71). Isto é, como para os católicos o Papa teria o dom da infalibilidade, assim para eles a Bíblia tem infalibilidade, como única Fonte da Revelação.

Agora vamos falar da inerrância. Em que consiste a inerrância? Aquilo que não tem erros, infalível. Fabricada pela Reforma protestante, para se contrapor à infalibilidade do Papa, a inerrância seria aplicada a todas as palavras e frases da Bíblia. Esse assunto nem apareceu no concílio de Trento. Simplesmente os Papas, no século XIX se aproveitaram dessa doutrina dos protestantes em favor de sua própria política. No Vaticano II o esquema que trazia a discussão sobre a inerrãncia foi retirado da ordem do dia pelo Papa São João XXIII, o Papa que convocou o concílio. Porém, o sucessor, Paulo VI, homem indeciso e obedecendo de novo ao esquema da Cúria aceitou colocá-lo de novo na ordem do dia da terceira sessão, para surpresa de todos.” (o.c.p73). Então as conclusões do vaticano II foram as seguintes: A palavra “inerrância” foi substituída pela outra palavra “inspiração”, tirando da cabeça que o autor da Bíblia não é um “instrumento” de Deus, como se dizia no sentido de “inerrância”, mas que era o autor descrevendo suas experiências e de seu povo, experiências estas que se alimentavam da convivência com Deus. Portanto, não havia uma limitação ou supressão da sua autoria, como antes se pensava. Inclusive, o autor estava sujeito a erros, como expôs o cardeal de Viena, Franz Konig (o.c.p.74). Daí em diante, autores católicos seguidos por muitos protestantes concordam nos seguintes pontos básicos: 1) Os livros bíblicos são também totalmente humanos; devem ser julgados e relativizados de acordo com seus dons e suas limitações, seus conhecimentos e possibilidades de erro. 2) Não são como um ditado, e não se trata de um milagre, como por exemplo no caso do Corão que, na crença do islão, veio diretamente do céu e ditado por um Anjo. 3) Os escritos do Novo Testamento não pretendem ter caído diretamente do céu e não são excluídas deficiências nem falhas, obscuridades nem confusões, limitações nem erros (Cf. o.c.p.76-77).

Em último falemos de Magistério da Igreja. O Magistério da Igreja consiste no conjunto dos dogmas, encíclicas papais e documentos da Sagrada Congregação da doutrina da Fé. Vejamos quatro itens que é preciso refletir. 1) ”Não só os Santos Padres mas também os concílios ecumênicos se desautorizam muitas vezes um ao outro, ou se corrigem de  fato; 2) Nem sequer os concílios ecumênicos têm, a priori, a verdade em seu favor; ao contrário, ela somente se revela pelo fato de as afirmações conciliares serem “recebidas” e aceitas por toda a Igreja; 3) A intenção dos próprios concílios não é constituir uma doutrina, mas apenas constatar e confirmar o que já vem sendo crido; 4) Os concílios não têm a capacidade de dispor da verdade de Cristo, devem esforçar-se por compreendê-la; 5) Portanto, Sim à Bíblia, mas não ao biblicismo, que tende a idolatrar a letra da Escritura. E também Sim à autoridade, mas não ao autoritarismo que tende a idolatrar a autoridade quando rejeita qualquer crítica à autoridade em nome de suposta ortodoxia católica” (o.c.p 78-79).

Referimos algumas vezes nestas páginas o documento da Pontifícia Comissão Bíblica que nos alerta sobre muitas passagens bíblicas que são baseadas numa “antiga cosmologia já ultrapassada”, e que não precisam ser aceitas “só porque encontram-se na Bíblia” (PCB, 1993, pp.40-41). E também os autores bíblicos são autores humanos e não “anjos” ou “instrumentos” de Deus, como dizemos nesta página. Sabemos que muitas narrativas antigas passaram para a Bíblia, como o caso dos primeiros Onze capítulos do Gênesis, para dar só um exemplo e são cópia de “mitos” antigos. Então não será lógico que um dogma que se baseia num mito antigo só poderá vir a ser um dogma mitológico?

Conclusão. Encontramos várias narrativas na Bíblia que relatam “cosmologias antigas e ultrapassadas” que já não têm aplicação para o agora de hoje, “passaram de prazo”. A mesma afirmação não valerá também para vários atos do Magistério que se apoiam nessas narrativas e passagens da Escritura já “passadas de prazo”? Dogmas que dependem de mitos bíblicos e dessas cosmologias, não estarão também eles debaixo de suspeição?

P.Casimiro João.     Smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br