Os primitivos sacerdotes não tinham o
contexto sacrifical mas o serviço de “adivinhação” ou oráculos. Só
posteriormente é que assumiram o contexto sacrifical de oferecer os animais em
sacrifício. Na Mesopotâmia e no Egito o rei é que fazia as funções de sacerdote,
assistido por um grupo de sacerdotes que o auxiliavam por meio de
“adivinhações” ou oráculos. O rei é que pedia essa forma de pronunciamento
“divino” do sacerdote às questões difíceis e complicadas do povo. Este
pronunciamento ou adivinhação vinha por
meio de oráculos através de jogos de dados, pedras e pedaços de ossos (Cf.
Pedro Kramer, O sacerdócio israelita no Antigo Testamento”, pg.9; e Vanohoye,
Albert Sacerdotes antigos” p.30). Futuramente, entre os judeus, quando era
construído um novo santuário já se consagrava um sacerdote para que presidisse
o culto. Daí, com a conexão do sacerdote com o templo ele recebia a nova
atribuição da oferta de sacrifícios em nome da comunidade, sem deixar de
continuar com a primeira tarefa de comunicar os “oráculos”. (Vanhoye o.c.p.50).
Chegou também a terceira tarefa para o sacerdote: Do trabalho de adivinhação e
oráculos passou para a tarefa de ensinar a Lei, a Torá. Porque nestes inícios
não existiam ainda os “escribas”, nem os fariseus, e nem os doutores da lei,
tarefas que chegaram depois, assim como os profetas. Daí vem a noção de
“santidade”, que etimologicamente significa “separação”. Segundo o Talmude, catecismo
dos Judeus, Deus habitava o sétimo céu. Para chegar lá havia sete degraus,
separados uns dos outros por 500 anos de distância e por isso ele estava numa
distância de 3.500 anos de distância. Nesse contexto, a pessoa tem que se
afastar deste “mundo” para ficar mais “perto” de Deus. Todo mundo seria “profano”.
“Santo” era tudo que participa da santidade de Deus, da sua “separação”; “profano”,
todo campo do cotidiano do homem. Por isso começaram as “purificações”. O
sacerdote tinha esse processo de “separação” através de “separações rituais.” Além
disso, o sacerdote participava da “separação” do povo de Israel das demais
nações, dado o seu imaginário de ser o “povo escolhido” e “separado” por Deus.
A função do sacerdote era então de “conservar” e policiar essa separação para
não se misturarem com as nações pagãs. Então a nação de Israel recebe uma série
de leis sobre alimentos puros e impuros, e sobre as relações dos israelitas
entre si e com as demais nações. Quando alguém falhava estaria sujeito às “purificações”.
Essas prescrições se tornaram verdadeiras barreiras entre os israelitas e as
outras nações. Por isso, daí em diante o povo de Israel foi considerado como um
“reino de sacerdotes” ou seja de “separados” do resto do mundo (Ex.28,1;
Num.3,12). Em vista disso havia uma preocupação doentia em viver separados do
mundo profano e não cair na impureza ritual.
Falamos na primeira tarefa do
sacerdote, “adivinhação” ou oráculos; na segunda, os sacrifícios do templo; e a
terceira, o ensino da Lei, ou Torá. Com a construção do primeiro Templo, as
classes sacerdotais foram-se organizando de acordo com os reis. Depois do
exílio se olhava muito a “pureza da raça”, devido às misturas com pagãos
durante o exílio. Três grupos foram classificados e ficou estabelecida a
estratificação social: A 1ª classe, o Israel puro; a 2ª classe, as famílias de
média mistura; a 3ª classe, as famílias de misturas graves. Os sacerdotes e
levitas eram escolhidos da 1ª classe, dos “puros”. O Sumo Sacerdote era também
o presidente do Sinédrio, o Senado judeu. Os outros sacerdotes tiveram sua
organização, e só tinham duas semanas de serviço no templo por ano. Imagine o
tanto de sacerdotes que era preciso. Eram 7.200 sacerdotes em Jerusalém, que na
época tinha 15 mil habitantes, chegando na época de Jesus a 35 mil, e nas
festas da Páscoa a 60 mil. Num país com cerca de 700 mil habitantes e 250
quilômetros de comprimento por 80 de largura, 20 mil km quadrados. Veja só, um
país como o Brasil, conta com 30 mil sacerdotes. Os leigos não podiam entrar na
área do templo reservada aos sacerdotes sob pena de morte. Depois da classe
sacerdotal e levítica vem a classe da nobreza leiga, menos numerosa do que a
anterior. Os chefes destas famílias tinham assento no Sinédrio, com o nome de
“anciãos”. Constituíam o partido dos Saduceus, geralmente gente de grandes propriedades
e grandes latifúndios, eram os latifundiários da época. Os pagãos que queriam
entrar para a religião judaica recebiam a circuncisão, e as mulheres um banho
ritual.
Conclusão.
Assim como havia uma “distância” entre Deus e o povo, assim tinha que haver uma
“ponte” entre Deus e o povo. Uma pessoa “separada” do povo e mais próxima de
Deus. Esse era o sacerdote, que além de ser uma ponte tinha que policiar a
separação do povo judeu dos outros povos “impuros”. No judaísmo o Sumo
Sacerdote era também o “pontífice”, que quer dizer “ponte, nome que passou para
o Papa no século décimo. Numa sociedade como esta da antiguidade tudo estava
infestado de poderes. O poder do alto, o Deus longínquo que entregava a outros
deuses inferiores os destinos dos mortais. Os ares estavam cheios de poderes e
era preciso aprender a conviver com eles, e havia o “chefe” ou “príncipe deste
mundo”, separado do Deus supremo e separado dos mortais. Todos eles precisando
de intérpretes por meio de adivinhação ou oráculos, e sacrifícios, função dos
sacerdotes. Veio também deste imaginário a “necessidade” da “bênção”, da qual
era detentor o sacerdote. Como se em todas as coisas precisássemos de botar “uma
escada” para Deus, como se ele não estivesse em cada “coisa.” É como se todas
as coisas estivessem “separadas” de Deus e “causassem” algum mal aos mortais. Não
só naquela época, mas ainda hoje este preconceito
anda muito no imaginário atual.
P.Casimiro João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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