segunda-feira, 22 de abril de 2024

TEOLOGIA BÍBLICA, ADIVINHAÇÃO COMO PRIMEIRA OCUPAÇÃO DOS SACERDOTES ANTIGOS


 

Os primitivos sacerdotes não tinham o contexto sacrifical mas o serviço de “adivinhação” ou oráculos. Só posteriormente é que assumiram o contexto sacrifical de oferecer os animais em sacrifício. Na Mesopotâmia e no Egito o rei é que fazia as funções de sacerdote, assistido por um grupo de sacerdotes que o auxiliavam por meio de “adivinhações” ou oráculos. O rei é que pedia essa forma de pronunciamento “divino” do sacerdote às questões difíceis e complicadas do povo. Este pronunciamento ou adivinhação  vinha por meio de oráculos através de jogos de dados, pedras e pedaços de ossos (Cf. Pedro Kramer, O sacerdócio israelita no Antigo Testamento”, pg.9; e Vanohoye, Albert Sacerdotes antigos” p.30). Futuramente, entre os judeus, quando era construído um novo santuário já se consagrava um sacerdote para que presidisse o culto. Daí, com a conexão do sacerdote com o templo ele recebia a nova atribuição da oferta de sacrifícios em nome da comunidade, sem deixar de continuar com a primeira tarefa de comunicar os “oráculos”. (Vanhoye o.c.p.50). Chegou também a terceira tarefa para o sacerdote: Do trabalho de adivinhação e oráculos passou para a tarefa de ensinar a Lei, a Torá. Porque nestes inícios não existiam ainda os “escribas”, nem os fariseus, e nem os doutores da lei, tarefas que chegaram depois, assim como os profetas. Daí vem a noção de “santidade”, que etimologicamente significa “separação”. Segundo o Talmude, catecismo dos Judeus, Deus habitava o sétimo céu. Para chegar lá havia sete degraus, separados uns dos outros por 500 anos de distância e por isso ele estava numa distância de 3.500 anos de distância. Nesse contexto, a pessoa tem que se afastar deste “mundo” para ficar mais “perto” de Deus. Todo mundo seria “profano”. “Santo” era tudo que participa da santidade de Deus, da sua “separação”; “profano”, todo campo do cotidiano do homem. Por isso começaram as “purificações”. O sacerdote tinha esse processo de “separação” através de “separações rituais.” Além disso, o sacerdote participava da “separação” do povo de Israel das demais nações, dado o seu imaginário de ser o “povo escolhido” e “separado” por Deus. A função do sacerdote era então de “conservar” e policiar essa separação para não se misturarem com as nações pagãs. Então a nação de Israel recebe uma série de leis sobre alimentos puros e impuros, e sobre as relações dos israelitas entre si e com as demais nações. Quando alguém falhava estaria sujeito às “purificações”. Essas prescrições se tornaram verdadeiras barreiras entre os israelitas e as outras nações. Por isso, daí em diante o povo de Israel foi considerado como um “reino de sacerdotes” ou seja de “separados” do resto do mundo (Ex.28,1; Num.3,12). Em vista disso havia uma preocupação doentia em viver separados do mundo profano e não cair na impureza ritual.

Falamos na primeira tarefa do sacerdote, “adivinhação” ou oráculos; na segunda, os sacrifícios do templo; e a terceira, o ensino da Lei, ou Torá. Com a construção do primeiro Templo, as classes sacerdotais foram-se organizando de acordo com os reis. Depois do exílio se olhava muito a “pureza da raça”, devido às misturas com pagãos durante o exílio. Três grupos foram classificados e ficou estabelecida a estratificação social: A 1ª classe, o Israel puro; a 2ª classe, as famílias de média mistura; a 3ª classe, as famílias de misturas graves. Os sacerdotes e levitas eram escolhidos da 1ª classe, dos “puros”. O Sumo Sacerdote era também o presidente do Sinédrio, o Senado judeu. Os outros sacerdotes tiveram sua organização, e só tinham duas semanas de serviço no templo por ano. Imagine o tanto de sacerdotes que era preciso. Eram 7.200 sacerdotes em Jerusalém, que na época tinha 15 mil habitantes, chegando na época de Jesus a 35 mil, e nas festas da Páscoa a 60 mil. Num país com cerca de 700 mil habitantes e 250 quilômetros de comprimento por 80 de largura, 20 mil km quadrados. Veja só, um país como o Brasil, conta com 30 mil sacerdotes. Os leigos não podiam entrar na área do templo reservada aos sacerdotes sob pena de morte. Depois da classe sacerdotal e levítica vem a classe da nobreza leiga, menos numerosa do que a anterior. Os chefes destas famílias tinham assento no Sinédrio, com o nome de “anciãos”. Constituíam o partido dos Saduceus, geralmente gente de grandes propriedades e grandes latifúndios, eram os latifundiários da época. Os pagãos que queriam entrar para a religião judaica recebiam a circuncisão, e as mulheres um banho ritual.

Conclusão. Assim como havia uma “distância” entre Deus e o povo, assim tinha que haver uma “ponte” entre Deus e o povo. Uma pessoa “separada” do povo e mais próxima de Deus. Esse era o sacerdote, que além de ser uma ponte tinha que policiar a separação do povo judeu dos outros povos “impuros”. No judaísmo o Sumo Sacerdote era também o “pontífice”, que quer dizer “ponte, nome que passou para o Papa no século décimo. Numa sociedade como esta da antiguidade tudo estava infestado de poderes. O poder do alto, o Deus longínquo que entregava a outros deuses inferiores os destinos dos mortais. Os ares estavam cheios de poderes e era preciso aprender a conviver com eles, e havia o “chefe” ou “príncipe deste mundo”, separado do Deus supremo e separado dos mortais. Todos eles precisando de intérpretes por meio de adivinhação ou oráculos, e sacrifícios, função dos sacerdotes. Veio também deste imaginário a “necessidade” da “bênção”, da qual era detentor o sacerdote. Como se em todas as coisas precisássemos de botar “uma escada” para Deus, como se ele não estivesse em cada “coisa.” É como se todas as coisas estivessem “separadas” de Deus e “causassem” algum mal aos mortais. Não só naquela época, mas ainda hoje  este preconceito anda muito no imaginário atual.

P.Casimiro João     smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

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