Na
sequência dos temas que temos desenvolvido, veremos hoje sobre a água do
rochedo. Em primeiro lugar na Argonáutica de Apolônio de Rodes: “Héracles vinha com uma sede violenta, como seria
de esperar de alguém que viaja no deserto a pé. Ele correu sobre tudo aquilo à
procura de água, o que era improvável de se ver. Mas há certa rocha por
ali e, se teve a ideia por si mesmo ou
foi inspirado por um deus, ele a chutou violentamente, e uma grande corrente de
água escoou. Pressionando ambos os braços e seu peito no chão, ele bebeu uma
grande quantidade da fenda do rochedo, até que, estirado no chão, encheu a boca
e o seu ventre” (Argonáutica, IV, 1440-1450; Ph.Wajdenbaum, Argonautas do deserto
p.285). Vejamos agora o conto em Êxodo:
“Então o povo discutiu com Moisés
dizendo, dê-nos água para beber. Moisés respondeu, porque vocês discutem comigo
e colocam Javé à prova? Mas o povo tinha sede e murmurou contra Moisés dizendo,
por quê você nos tirou do Egito? Foi para matar de sede a nós, nossos filhos, e
nossos animais? Então Deus disse: você baterá na rocha, e dela sairá água para
o povo beber. Moisés assim fez e deu a esse lugar o nome de Massa e Meriba”
(Êx.17,2-8).
2.
Davi e as manobras de ocupar o reino de Saul. Davi, pretendendo ser rei
de Judá fugiu para se aliar no exército dos filisteus. Quando Saul morreu foi
autorizado pelos filisteus a voltar. Então aliou-se com o único neto de Saul, Mefibosete,
que era coxo (2 Sm.9,1-3). “Mefibosete,
filho de Jônatas e neto de Saul, era aleijado em seus pés. Ele tinha cinco anos
de idade quando as notícias sobre Saul e Jônatas vieram de Jezrael, sua ama.
Sua ama o pegou e fugiu. E na sua pressa de fugir, aconteceu que ele caiu e
ficou coxo. Seu nome era Mefiboste.(2 Sm.4,4). Há outro conto igual
na literatura grega, que nos permite pensar que Davi é um conto, e não uma
história, admitida a teoria atual do mito de Davi. Vejamos:
”Então Tétis chamou Héfeso e
disse: Héfeso, vem aqui. O que quer de
mim, Tétis? E o muito afamado deus coxo respondeu: Então é realmente uma augusta
e honrada deusa que veio aqui; foi ela que tomou conta de mim quando eu estava
sofrendo da pesada queda que tive pela ira da minha cruel mãe, pois ela teria
se livrado de mim porque eu era coxo. Teria sido difícil para mim se Eurinome,
filha das águas sempre envolventes do Oceano, e Tétis não tivessem me tomado em
seu seio” (o.c.p.322). Vemos aqui que
ambos, Mefibosete e Héfeso caíram quando eram crianças e ficaram
coxos. No episódio seguinte, Davi se livra facilmente do seu neto coxo
Mefibosete e senta-se no trono de Judá.
Não passa muito tempo para Davi
cometer a primeira loucura, que é o assassinato de Urias, para roubar a mulher
dele. Davi mandou uma carta a Joabe para colocar Urias na traição e acabar com
ele na batalha que estavam travando. O portador dessa carta era o próprio
Urias. (2Sm.11,15). Também aqui tem um conto igual na literatura dos gregos: “Anteia, esposa de Pretus, cobiçou Belorofonte
e o teria mandado se deitar com ela em segredo; mas Belorofonte era um
homem honrado e não o faria, então ela contou mentiras sobre ele para Pretus.
Pretus, disse ela, mata Belorofonte ou morre, pois ele teria
familiaridade comigo contra a minha vontade. O rei ficou furioso, mas recusou
de matar Belorofonte. Então ela o enviou para a Lícia com cartas
mentirosas e contando muito mal contra o portador. Ele ordenou então que ele
pudesse morrer “(o.c.p.324).
3. Elias e o carro de fogo.
“Enquanto Elias e Eliseu continuavam
andando e falando, um carro de fogo com cavalos de fogo separou os dois e Elias
ascendeu ao céu num redemoinho. Eliseu ficou olhando e gritando, Pai, pai! Os
carros de Israel e seus cavaleiros!” (2Rs.2,11-12). Outro conto semelhante
na literatura dos romanos: “Assim que o
poder onipotente inspecionou os céus reluzentes, Rómulo viu o sinal e, se
apoiando em sua lança, ele monta seu carro, seus corcéis. Então salta sobre o
seu carro rumo às esferas, rápido como uma seta que voa” (Ovídio e Plutarco
Metam. XIV, 805-30; o.c.p.354).
4. Eliseu e o machado.
Outros contos sobre o machado de Eliseu e de Hermes: Vejamos sobre Hermes:
”Um trabalhador, derrubando madeira na
margem de um rio, deixou seu machado cair por acidente em um poço fundo. Hermes
apareceu e interpelou a causa de suas lágrimas. Hermes mergulhou no riacho e,
trazendo um machado de ouro perguntou se era aquele que ele tinha perdido. Ele
disse não. Hermes despareceu de novo debaixo da água e voltou com um machado de
prata. Também o trabalhador disse que não era o seu machado. Hermes mergulhou
pela terceira vez e trouxe o machado que havia sido perdido. Hermes,
impressionado com a sua honestidade deu a ele os machados de ouro e prata além
do seu próprio.” (Esopo, Fábulas, Hermes e os trabalhadores”; o.c.p.355). Vejamos
o conto na Bíblia:
“Eis que os companheiros dos profetas disseram a Eliseu: como
vês, o lugar onde vivemos sob os teus cuidados é pequeno demais para nós; vamos
para o Jordão e lá coletemos cepos, um para cada um de nós, e construamos ali
um lugar para vivermos. Ele respondeu, fazei isso. Então um deles disse, por
favor, vem com os teus servos. E ele respondeu, eu irei. Então Eliseu foi com
eles. Quando chegaram ao Jordão cortaram árvores. Mas quando um estava
derrubando um cepo, seu machado caiu na água e ele gritou: ai de mim, meu
senhor; meu machado era emprestado. Então o Eliseu disse, onde caiu? Quando lhe
mostrou o lugar, ele cortou um pau, jogou-o ali e fez o ferro boiar. Ele disse,
pega-o. Então ele estendeu a mão e o pegou” (2Rs.6,1-7). Fica à sua
consideração comparar os dois contos.
Conclusão. Encerramos esta sequência de
temas que autores atuais destacam como muito semelhantes nas duas literaturas,
bíblica e platônica. Seguimos a publicação de Philippe Wajdenbaum, "Os argonautas do deserto"Paulus 2015, que faz um estudo comparativo entre
as duas literaturas tomando como exemplos maiores as Leis de Platão, a
República, Fédon, Atlântida e Górgias.
Na verdade, este é ainda um início das investigações deste gênero e ele,
como pioneiro começa abrindo caminhos para futuras conclusões.
É conhecido que havia a Academia
platônica em Alexandria, onde os intelectuais judeus se formavam desde os
tempos dos Asmoneus, até o séc.VI d.C. sendo que um deles foi Antíoco de Ascalón
que se destacou como presidente da mesma Academia nos anos 220-105 a.C. A
academia foi depois desfeita pelo imperador Justiniano no ano de 529 d.C.
porque não convinha mais aos interesses do império em decadência. Na verdade, a
República de Platão seguia na contramão dos desmandos e da ganância do império,
que foi herdado depois pela Igreja, porque quando o império desmoronou, a
Igreja herdou muitas das suas caracteristicas.
No entanto, uma coisa é certa,
foi devido a este compartilhamento entre a literatura greco-platônica e a
literatura bíblica que o cristianismo penetrou no espírito grego sendo a
religião mais aceite pelos gregos e cristãos helenizados.
P.Casimiro João smbn
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