segunda-feira, 28 de março de 2022

Moisés e a água que brotou do rochedo e o que se encontra nos gregos(TEXTOS 7).


 

Na sequência dos temas que temos desenvolvido, veremos hoje sobre a água do rochedo. Em primeiro lugar na Argonáutica de Apolônio de Rodes: “Héracles vinha com uma sede violenta, como seria de esperar de alguém que viaja no deserto a pé. Ele correu sobre tudo aquilo à procura de água, o que era improvável de se ver. Mas há certa rocha por ali  e, se teve a ideia por si mesmo ou foi inspirado por um deus, ele a chutou violentamente, e uma grande corrente de água escoou. Pressionando ambos os braços e seu peito no chão, ele bebeu uma grande quantidade da fenda do rochedo, até que, estirado no chão, encheu a boca e o seu ventre” (Argonáutica, IV, 1440-1450; Ph.Wajdenbaum, Argonautas do deserto p.285). Vejamos agora o conto em Êxodo:

“Então o povo discutiu com Moisés dizendo, dê-nos água para beber. Moisés respondeu, porque vocês discutem comigo e colocam Javé à prova? Mas o povo tinha sede e murmurou contra Moisés dizendo, por quê você nos tirou do Egito? Foi para matar de sede a nós, nossos filhos, e nossos animais? Então Deus disse: você baterá na rocha, e dela sairá água para o povo beber. Moisés assim fez e deu a esse lugar o nome de Massa e Meriba” (Êx.17,2-8).

2. Davi e as manobras de ocupar o reino de Saul. Davi, pretendendo ser rei de Judá fugiu para se aliar no exército dos filisteus. Quando Saul morreu foi autorizado pelos filisteus a voltar. Então aliou-se com o único neto de Saul, Mefibosete, que era coxo (2 Sm.9,1-3). “Mefibosete, filho de Jônatas e neto de Saul, era aleijado em seus pés. Ele tinha cinco anos de idade quando as notícias sobre Saul e Jônatas vieram de Jezrael, sua ama. Sua ama o pegou e fugiu. E na sua pressa de fugir, aconteceu que ele caiu e ficou coxo. Seu nome era Mefiboste.(2 Sm.4,4). Há outro conto igual na literatura grega, que nos permite pensar que Davi é um conto, e não uma história, admitida a teoria atual do mito de Davi. Vejamos:

”Então Tétis chamou Héfeso e disse: Héfeso, vem aqui. O que quer de mim, Tétis? E o muito afamado deus coxo respondeu: Então é realmente uma augusta e honrada deusa que veio aqui; foi ela que tomou conta de mim quando eu estava sofrendo da pesada queda que tive pela ira da minha cruel mãe, pois ela teria se livrado de mim porque eu era coxo. Teria sido difícil para mim se Eurinome, filha das águas sempre envolventes do Oceano, e Tétis não tivessem me tomado em seu seio” (o.c.p.322). Vemos aqui que ambos, Mefibosete e Héfeso caíram quando eram crianças e ficaram coxos. No episódio seguinte, Davi se livra facilmente do seu neto coxo Mefibosete e senta-se no trono de Judá.

Não passa muito tempo para Davi cometer a primeira loucura, que é o assassinato de Urias, para roubar a mulher dele. Davi mandou uma carta a Joabe para colocar Urias na traição e acabar com ele na batalha que estavam travando. O portador dessa carta era o próprio Urias. (2Sm.11,15). Também aqui tem um conto igual na literatura dos gregos: “Anteia, esposa de Pretus, cobiçou Belorofonte e o teria mandado se deitar com ela em segredo; mas Belorofonte era um homem honrado e não o faria, então ela contou mentiras sobre ele para Pretus. Pretus, disse ela, mata Belorofonte ou morre, pois ele teria familiaridade comigo contra a minha vontade. O rei ficou furioso, mas recusou de matar Belorofonte. Então ela o enviou para a Lícia com cartas mentirosas e contando muito mal contra o portador. Ele ordenou então que ele pudesse morrer “(o.c.p.324).

3. Elias e o carro de fogo. “Enquanto Elias e Eliseu continuavam andando e falando, um carro de fogo com cavalos de fogo separou os dois e Elias ascendeu ao céu num redemoinho. Eliseu ficou olhando e gritando, Pai, pai! Os carros de Israel e seus cavaleiros!” (2Rs.2,11-12). Outro conto semelhante na literatura dos romanos: “Assim que o poder onipotente inspecionou os céus reluzentes, Rómulo viu o sinal e, se apoiando em sua lança, ele monta seu carro, seus corcéis. Então salta sobre o seu carro rumo às esferas, rápido como uma seta que voa” (Ovídio e Plutarco Metam. XIV, 805-30; o.c.p.354).

4. Eliseu e o machado. Outros contos sobre o machado de Eliseu e de Hermes: Vejamos sobre Hermes: ”Um trabalhador, derrubando madeira na margem de um rio, deixou seu machado cair por acidente em um poço fundo. Hermes apareceu e interpelou a causa de suas lágrimas. Hermes mergulhou no riacho e, trazendo um machado de ouro perguntou se era aquele que ele tinha perdido. Ele disse não. Hermes despareceu de novo debaixo da água e voltou com um machado de prata. Também o trabalhador disse que não era o seu machado. Hermes mergulhou pela terceira vez e trouxe o machado que havia sido perdido. Hermes, impressionado com a sua honestidade deu a ele os machados de ouro e prata além do seu próprio.” (Esopo, Fábulas, Hermes e os trabalhadores”; o.c.p.355). Vejamos o conto na Bíblia:

Eis que os companheiros dos profetas disseram a Eliseu: como vês, o lugar onde vivemos sob os teus cuidados é pequeno demais para nós; vamos para o Jordão e lá coletemos cepos, um para cada um de nós, e construamos ali um lugar para vivermos. Ele respondeu, fazei isso. Então um deles disse, por favor, vem com os teus servos. E ele respondeu, eu irei. Então Eliseu foi com eles. Quando chegaram ao Jordão cortaram árvores. Mas quando um estava derrubando um cepo, seu machado caiu na água e ele gritou: ai de mim, meu senhor; meu machado era emprestado. Então o Eliseu disse, onde caiu? Quando lhe mostrou o lugar, ele cortou um pau, jogou-o ali e fez o ferro boiar. Ele disse, pega-o. Então ele estendeu a mão e o pegou” (2Rs.6,1-7). Fica à sua consideração comparar os dois contos.

Conclusão. Encerramos esta sequência de temas que autores atuais destacam como muito semelhantes nas duas literaturas, bíblica e platônica. Seguimos a publicação de Philippe Wajdenbaum, "Os argonautas do deserto"Paulus 2015, que faz um estudo comparativo entre as duas literaturas tomando como exemplos maiores as Leis de Platão, a República, Fédon, Atlântida e Górgias.  Na verdade, este é ainda um início das investigações deste gênero e ele, como pioneiro começa abrindo caminhos para futuras conclusões.

É conhecido que havia a Academia platônica em Alexandria, onde os intelectuais judeus se formavam desde os tempos dos Asmoneus, até o séc.VI d.C. sendo que um deles foi Antíoco de Ascalón que se destacou como presidente da mesma Academia nos anos 220-105 a.C. A academia foi depois desfeita pelo imperador Justiniano no ano de 529 d.C. porque não convinha mais aos interesses do império em decadência. Na verdade, a República de Platão seguia na contramão dos desmandos e da ganância do império, que foi herdado depois pela Igreja, porque quando o império desmoronou, a Igreja herdou muitas das suas caracteristicas.

No entanto, uma coisa é certa, foi devido a este compartilhamento entre a literatura greco-platônica e a literatura bíblica que o cristianismo penetrou no espírito grego sendo a religião mais aceite pelos gregos e cristãos helenizados.  

P.Casimiro João   smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

domingo, 20 de março de 2022

A MAGIA NA BIBLIA E NA LITERATURA GREGA DE PLATÃO. (TEXTOS GREGOS 06)


 

Em Dt.18,9-14 é proibida a prática da magia. Diremos o motivo desta proibição. Aliás na literatura dos gregos vem também a mesma proibição e concordamos que a motivação seja igual. Vejamos nas Leis de Platão sobre o caso:

Qualquer homem que fere os outros com amarrações mágicas, encantamentos, feitiçaria ou qualquer das práticas semelhantes, ainda que ele se tenha como um profeta ou adivinho, que morra; e se, não se tendo por um profeta, se for condenado por feitiçaria, assim como no caso anterior, que seja fixado o que ele deve pagar ou sofrer” (Platão, Leis, 93 c-e; Ph.Wanderbaum, Argonautas do deserto, p.246).

Vejamos na Bíblia: Não se achará no meio de ti ninguém que faça passar um filho ou filha pelo fogo, ou que pratique adivinhação, ou que seja agoureiro ou feiticeiro, ou alguém que lance encantos, ou que consulte fantasmas ou espíritos ou que busque oráculos dos mortos. Qualquer um que faça estas coisas é abominável ao Senhor.” (Dt.18, 10-12). A magia era proibida, tanto em Platão como na Bíblia por causa do perigo da cair no politeísmo, invocando outros deuses nos encantamentos, portanto era para defender o monoteísmo. Em Atenas, assim como Sócrates, também defendiam o monoteísmo, conforme Platão, Livro X; o.c.p,246).

2. Sobre os juízes do povo. Vejamos primeiro nas Leis de Platão, e depois sobre o mesmo assunto na Bíblia: “Aqueles que servem o seu país devem servir sem receber presentes, e não deve haver desculpas ou aprovação para o ditado: ’os homens deveriam receber presentes como recompensa pelos bons, mas não pelos maus feitos’; pois saber o que estamos fazendo e nos mantermos firmes pelo nosso conhecimento não é uma questão fácil. A direção mais clara é obedecer à lei que diz: ’não preste nenhum serviço por um suborno’, e aquele que desobedecer, se condenado, que simplesmente morra”(Platão, Leis, 955,c-d; o.c.p.247). Comparemos o mesmo tema na Bíblia:

“Não distorcerá a justiça; não mostrarás parcialidade; e não aceitarás subornos, porque o suborno cega os olhos dos sábios e subverte a causa daqueles que estão no direito. A justiça, somente a justiça buscarás, de modo que possas viver e ocupar a terra que o Senhor te deu”.(Dt.16,19-20).

3. Sobre os juros. “Se emprestares dinheiro ao meu povo, aos pobres no meio de ti, não tratarás com eles como um credor; não exigirás juros deles” (Êx.22,25).

Agora nas “Leis” de Platão”: “Ninguém depositará dinheiro com outro em quem não confie como amigo, nem emprestará dinheiro a juros, e o mutuário não deverá estar com a obrigação de pagar capital ou juros”(Leis – Platão, 742b; o.c.p.255).

4. Sobre os pecados dos pais. Bíblia: “Os pais não serão mortos por causa dos seus filhos, nem os filhos serão mortos por causa dos seus pais, apenas pelos seus próprios crimes as pessoas podem ser condenadas à morte” (Dt.24,16). Comparando com Platão: “Haja uma regra geral de que a desgraça e a punição do pai não deva ser visitada nos filhos, exceto no caso de alguém cujo pai, avô, e bisavô foram sucessivamente submetidos à pena de morte” (Leis, 856 c-d; o.c.p. 256).

5. sobre que o Sol parou. Tanto Josué como Agamenón oram para que o Sol parasse antes de terem derrotado os seus inimigos. Vejamos primeiro no poema da Ilíada, de Homero: “Agamenón orou dizendo: Zeus, deus glorioso, que habitas no céu a cavalgas sobre as nuvens de tempestade, concede que o Sol não se ponha nem a noite caia até que o palácio de Príamo seja derrubado e as suas portas sejam consumidas com fogo. Fazei com que a minha espada possa perfurar a camisa de Heitor sobre o seu coração e que muitos dos seus companheiros possam comer o pó ao redor dele.” (Ilíada, II, 410-20; o.c.p.262). Agora a Bíblia:

“No dia em que o Senhor entregou os amorreus aos israelitas, Josué falou ao Senhor, e disse na presença de Israel: ‘Sol, fica parado em Gibeão, e Lua no vale de Aijabom’; e o Sol se deteve e a Lua parou até que a nação se vingou dos seus inimigos” (Jos,10,12-14).

6. Sobre Sansão. Resumiremos aqui as semelhanças entre Heracles e Sansão. No Livro de Juízes se diz sobre o conto: ”A esposa de Manoá, um homem da tribo de Dan, foi visitada pelo anjo de Deus. Ela foi informada de que o seu filho por vir seria um nazireu, que ele se absteria de bebidas alcoólicas. Ele finalmente tornaria Israel livre das mãos dos filisteus”(Jz.3,2-7).”Sansão se deixou capturar pelos homens de Judá, que o entregaram aos filisteus, mas depois se livrou facilmente das amarras. Ele massacrou Mil homens com a queixada de um jumento” (Jz.15,11-16).  Vejamos na literatura grega:

“Quando Héracles chegou ao Egito, os egípcios lhe puseram grinaldas e o levaram em procissão para sacrificá-lo a Zeus; e por algum tempo ele permaneceu em silêncio, mas quando eles estavam começando o seu sacrifício no altar ele se entregou à bravura e matou todos eles”.(Heródoto,II,45 e Apolodoro, Bibl.2,5,11 o.v.p.285).

Outro episódio: “Uma vez Sansão foi a Gaza onde viu uma prostituta e foi até ela. Os gazeus disseram, Sansão entrou aqui. Então eles cercaram o local e ficaram à espera dele a noite toda. Eles ficaram quietos pensando, esperemos até a luz da manhã, então o mataremos. Mas Sansão se deitou somente até a meia noite. Assim, à meia noite ele se levantou, pegou as portas da entrada e as duas ombreiras, puxou-as com as trancas e tudo, colocou-as em seus ombros e as carregou até o topo da montanha que está diante de Hebron”(Jz.16,1-3). Conto igual na Argonáutica dos gregos:

Ao famoso Micenas irei, alavancas e picaretas tomarei, pois levantarei de sua própria base com alavancas de ferro essas muralhas da cidade que os ciclopes enquadraram com fio de plumo vermelho e ferramentas de pedreiro. Mas antes que ele pudesse, a pobre mãe pegou o seu bebê, levou-o para dentro de casa e fechou as portas; imediatamente o homem louco, como se ele realmente estivesse às muralhas ciclópicas, começa abrir as portas com alavancas e, derrubando as suas ombreiras, com uma coluna caída abateu esposa e filha. No chão ele caiu, ferindo as costas contra uma coluna que tinha desabado em duas no chão quando o telhado desmoronou” (Eurípedes, Héracles, 990-1010). Continua o conto da Bíblia:

“Ela, a Dalila o deixou cair no sono em seu colo, chamou um homem e mandou-lhe raspar as sete tranças da sua cabeça. Ele começou a enfraquecer, e a sua força o deixou. Então ela disse, os filisteus vêm sobre ti, Sansão! Quando ele acordou do seu sono pensou, sairei como das outras vezes e me livrarei. Mas ele não sabia que o Senhor o havia deixado”(Jz.16,19-20).Então os filisteus o prenderam e furaram os seus olhos. Trouxeram-no a Gaza e o amarraram com correntes de bronze, e ele moía no moinho da prisão” Assim terminou o conto de Sansão. E agora vejamos como também igual terminou o conto de Héracles dos gregos:

Depois disso o herói foi para Quios e cortejou Mérope, filha de Enopião. Mas Enopião o embebedou, arrancou os seus olhos enquanto ele dormia e os lançou na praia”. (Apolodoro, Bibl., 1.4.3; o.c.p.287).

Conclusão. O tema da mulher traiçoeira que corta o cabelo de outra pessoa, a traição sobre o herói, os olhos arrancados e o aprisionamento não podem ser ao acaso se não houver compartilhamento entre os dois contos. No próximo Blog daremos por fim a esta sequência de temas da comparação entre ambas as Literaturas judaica e grega. Veremos os temas sobre Moisés e a água que escorre do rochedo; sobre Samuel, e sobre Golias, aguarde.

P.Casimiro João   smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

segunda-feira, 14 de março de 2022

A divisão do mar vermelho, as serpentes venenosas, a jumenta de Balaão, e a divisão da terra pelas 12 tribos, na Bíblia e na literatura dos gregos.(TEXTOS 5)


 

“Moisés então estendeu a mão e o Mar Vermelho se abriu. Os israelitas passaram através dele, como se as duas partes do mar fossem paredes. Quando os egípcios se encarregaram de persegui-los Moisés estendeu a sua mão novamente, as águas os cobriram e eles se afogaram”(Êx.14,21-29).

Uma história semelhante se encontra em Heródoto, nos gregos: “Quando três meses se passaram enquanto Artabazos cercava a cidade, deu-se ali um grande refluxo do mar que durou muito tempo; e os persas, vendo que se tinha produzido água rasa, esforçaram-se por passar para dentro da península. Mas quando tinham passado por dois quintos do trajeto e ainda restavam três quintos, os quais tinham que passar antes de estar dentro da península, então veio sobre eles uma grande maré alta do mar, maior do que nunca. Assim, aqueles que não podiam nadar pereceram, e aqueles que podiam  nadar foram mortos pelos inimigos, que os perseguiam em barcos” (Heróto,8,129; Ph.Wandenbaum, Argonautas do deserto, p.197).

2. As serpentes venenosas. “Quando os israelitas se queixaram de novo no deserto Deus lhes enviou serpentes venenosas que morderam o povo” (Nm.21,4-6). Este conto também é encontrado na Argonáutica, dos gregos onde os argonautas estão perdidos no deserto, e Mopsos pisa numa cobra venenosa e morre. (Argonáutica, IV,1518). A Bíblia continua: “E o Senhor disse a Moisés: faça uma serpente de bronze e a  coloque em  uma haste; e todos aquele que for mordido deverá olhar para ela e viver. Então Moisés fez uma serpente de bronze e a colocou numa haste; e sempre que uma serpente mordesse alguém, essa pessoa olharia para a serpente de bronze e viveria”(Nm.21,4-6). Vejamos a continuação do conto na Argonáutica: “Esculápio era filho do deus Apolo, o deus da medicina. Os argonautas estavam infetados por uma praga e pediram auxílio a Apolo, deus da cura. Apolo mandou o seu filho Esculápio se dirigir ao rei em sonho, dizendo: esqueça os seus medos porque eu virei a ti e deixarei meu altar. Mas agora você olhe para a serpente com as suas voltas que se seguram entrelaçadas em torno deste bastão, e abra bem os seus olhos para que você possa reconhecê-la. Sou eu que me transformarei nesta forma, mas de um tamanho maior; eu aparecerei aumentado e de uma magnitude à qual um ser celeste deve ser manifestado” (Ovídio, Metam. XV,650; o.c.p.229). A Bíblia mistura este conto no Novo Testamento, que mistura com o Antigo Testamento, que mistura com os contos gregos. Este conto mitológico, que é o mesmo da Bíblia, deu origem ao símbolo das Farmácias em todo o mundo com a serpente enrolada numa haste significando Esculápio filho do deus Apolo.

3. A jumenta de Balaão. “Quando a jumenta viu o anjo do Senhor ela se deitou debaixo de Balaão; e a ira de Balaão se acendeu e ele espancou a jumenta com o seu bastão. Então o Senhor abriu o boca da jumenta e ela disse a Balaão: o que te fiz e por quê me bateu três vezes? Balaão disse à jumenta: porque fizeste de mim um tolo? Eu queria ter uma espada na minha mão! Eu te mataria agora mesmo. Mas a jumenta disse a Balaão: não sou eu a tua jumenta, a que tens  montado toda a tua vida até hoje? Tem sido o meus costume tratá-lo dessa maneira? E ele disse : Não” (Nm.22,22). Vamos agora comparar um conto semelhante na literatura grega.

Aquiles retirou seus homens da guerra contra Tróia como resultado da sua contenda com Agamenon. Mas quando seu melhor amigo Pátroclo foi morto, Aquiles decidiu vingá-lo e arreou os cavalos porque Pátroclo tinha pego os cavalos e armas de Aquiles, mas nunca voltou vivo. Em sua ira e tristeza Aquiles com voz forte repreendeu os seus cavalos dizendo: “Xanto e Bálio, descendência famosa de Podarge, desta vez quando lutarmos, certifiquem-se de trazer o vosso condutor em segurança de volta e não deixá-lo morto no chão como fizestes a Pátroclo”. Então o ligeiro Xanto respondeu: ‘temível Aquiles, disse ele, decerto te salvaremos agora, mas o dia da tua morte está próximo e a culpa não será nossa pois será a sorte severa do céu que te destruirá. Nem foi por qualquer preguiça ou negligência da nossa parte que os troianos despiram Pátroclo da sua armadura, foi o deus poderoso a quem o encantador Leto deu à luz quem o matou enquanto ele lutava entre os primeiros e concedeu um triunfo a Heitor. Nos podemos voar tão rapidamente quanto Zéfiro, o mais ligeiro de todos os ventos, no entanto, é teu destino cair pela mão de um homem e de um deus; Quando ele assim falou, as Erínias deusas da vingança calaram a sua boca”(Homero,II,XIX,400-20; o.c.p.230-231). Em Números, da Bíblia, Balaão discutindo com a jumenta; No Livro da Odisseia do grego Homero, Aquiles brigando com seus cavalos. Em ambos os contos as deidadesdotaram os animais com a fala humana”.

4. O cadastro e a divisão da terra pelas 12 tribos. Em Números, chegamos ao paralelo mais significativo com o “Livro das Leis,” de Platão, onde também fala das doze tribos. Vejamos primeiro o que conta a nossa Bíblia: “Este foi o primeiro número dos Israelitas: seiscentos e um mil setecentos e trinta. O Senhor falou a Moisés dizendo: Para estes a terra será repartida por herança de acordo com o número de nomes. Para uma grande tribo dareis uma grande herança e para uma tribo pequena uma pequena herança; a cada tribo será dada a sua herança de acordo com o seu registro. Mas a terra será repartida por sorteio; de acordo com o nome das suas tribos eles herdarão. Sua herança será repartida de acordo com a sorte entre as maiores e as menores”(Nm.26,51-56).

Agora nas LEIS de Platão: “O legislador dividirá os cidadãos em doze partes e organizará o restante das suas propriedades tanto quanto possível de modo a formar doze partes iguais; e  deverá haver um registro de todos. Depois disso eles deverão atribuir doze lotes a doze deuses, chamá-los pelos seus nomes, dedicar a cada deus as suas várias porções e chamar as tribos de acordo com eles. E eles deverão distribuir as doze divisões do país da mesma forma.”(Leis, 745b-c; o.c.p.236). Em Platão assim como na Bíblia acontece o mesmo método e o mesmo critério, e também as terras não podem ser vendidas. Um detalhe: A palavra hebraica “goral” que significa lote deriva da palavra grega usada por Platão, “kleros”. Nos dois textos a palavra lote significa um pedaço de terra, e a operação de escolha por sorteio. (.o.c.p.237).

Conclusão: O arcebispo Desmond Tutu, da África do Sul, prêmio Nobel da Paz de 1984, falou uma vez que “Deus não é cristão”. Será que não é também grego, africano, asiático, índio?

S.Agostinho disse que Deus fez dois Livros, a Natureza e a Bíblia. Será que o livro da Natureza não é maior que a Bíblia? Parafraseando Santo Agostinho, também poderíamos dizer Deus fez dois Livros, a Filosofia e a Bíblia: será que a Filosofia não veio antes que a Bíblia?

Nos próximos blogs veremos mais, como sobre a Magia na Biblia e nos gregos, a Usura, os pecados dos pais, e os contos de Débora e Sansão e Gedeão. Aguarde

P.Casimiro João

www.paroquiadechapadinha.bogspot.com.br

 

sábado, 12 de março de 2022

As lições do Tabor.


 

Dois homens estavam conversando  com Jesus, eram Moisés e Elias, e conversavam sobre a morte que Jesus iria sofrer em Jerusalém...E da nuvem saiu uma voz que dizia: este é o meu filho, o escolhido, escutai o que ele diz”(Lc.9,30.31.35).

Esta é uma parábola, ou uma maneira de falar, como dizemos. Os evangelhos estão cheios destas parábolas direcionadas ao povo da época para tirar lições e conclusões. Exemplos: “Deus falou do meio do trovão e do meio do fogo”(Êxodo, cap.20); “E do meio da sarça ardente” a Moisés(Êx.3,4); “E do céu fez-se ouvir uma voz”, no batismo de Jesus (Lc.3,15); “caminhando sobre as águas”(Lc.8,45); “os anjos apareceram aos pastores,” no Natal (Lc.2,14); “As mulheres viram anjos vestidos de branco no túmulo de Jesus”(Jo.20,12); “Deus disse, faça-se a luz”(Gn.1,3). O que interessa em todas estas maneiras de falar é a lição moral que está detrás dessas catequeses. Assim por exemplo ninguém vai cortar um pé, ou mão, ou arrancar um olho quando se lê:Se teu pé te leva a pecar, corte-o; se tua mão te leva a pecar corte-a; se teu olho te leva a pecar, arranque”(Mc.9,41)

Por exemplo, a lição moral do Tabor será uma ou duas, quem sabe até mais, eu vou pensar em duas: a primeira: aqueles homens estavam tão contrários a que Jesus sofresse, que foi preciso os escritores imaginar dois mensageiros vindos do céu do cacife de Moisés e Elias para convencê-los. A segunda é que hoje todos os injustiçados são os messias e os profetas que nos revelam as injustiças que se praticam nos países, e quem são os culpados.

P.Casimiro João    smnb

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

domingo, 6 de março de 2022

Abrão e Sara, Menelau e Helena, dois contos, um conto hebreu e um conto grego. (TEXTOS 4.)


 

Vimos no blog anterior sobre a vida de Moisés e o seu nascimento; o cesto onde foi escondido no rio; sobre as 7 filhas de Jetro e o casamento de Moisés; sobre a “sarça” do deserto; a fala de Deus com Moisés e a fala das “deidades” com o outro pastor grego; sobre os trabalhos forçados dos hebreus nas construções. Hoje vamos ver dois contos paralelos sobre Abraão e Sara, comparado com outro conto grego de Menelau e Helena.

1. “Houve uma grande carestia no país e, como a fome apertava, Abraão desceu ao Egito para aí morar junto com sua mulher Sara. Quando estava chegando ao Egito, Abraão disse à sua mulher: olhe, eu sei que você é uma mulher muito bonita; quando os egípcios virem você, vão dizer é a mulher dele, e me matarão deixando você viva. Diga por favor que você é minha irmã para que eles me tratem bem por sua causa e, assim, graças a você, eles me deixarão vivo. De fato, quando Abraão chegou ao Egito, os egípcios viram que sua mulher era muito bonita. Os oficiais do faraó viram Sara e a elogiaram muito  diante dele; e Sara foi levada para o palácio do faraó. Este, por causa de Sara, tratou bem Abraão; ele recebeu ovelhas, bois, jumentos, escravos, escravas, jumentas e camelos.”(Gn.12,10-20). Vejamos os detahes:

Abraão estava em Negueb; Foi para o Egito, para morar lá; “Fale que você é minha irmã, falou ele para sua mulher; O faraó a tomou como sua mulher; recebeu riquezas em gado, do faraó; Javé castigou o faraó com doenças; o faraó chamou Abraão e lhe disse “o que fizeste?”é tua mulher, leve de volta; Abrão voltou com Sara para Negueb. Continuando em Negueb, o rei de lá, Abimelec tomou também Sara; Abimelec recebeu um sonho: “você vai morrer”; Abimelec se desculpou porque Abraão tinha-lhe também falado que ela era sua irmã; Abimelec despachou-a dando-lhe muitos presentes e gados; todas as doenças cessaram na casa de Abimelec.

Agora vamos conferir este conto bíblico com outro conto grego sobre Helena e Menelau vendo as suas semelhanças: Menelau foi para a guerra de Tróia, e deixou a esposa Helena aos cuidados do seu tio Proteu, rei do Egito. Porém, o principe Teoclímeno apaixonou-se por Helena. Retornando de Tróia, Menelau foi informado de que sua esposa estava  lá no Egito; então ele a encontrou e a ganhou de volta. Eles planejavam fugir do Egito enquanto tentavam evitar o perigo de o rei matar Menelau por causa de Helena. Então ele se fingiu de ser um soldado grego e se            apresentou ao faraó dizendo que o navio deles tinha afundado no mar, e que “Menelau” se afogou. O príncipe acreditou e pensou que agora ele podia casar-se com Helena, pois que estava viúva. O “soldado” e Helena pediram para oferecer um sacrifício aos mortos do mar, como exigem os costumes gregos. O príncipe aceitou, e mais feliz ficou para poder casar com Helena. Agora o diálogo: Principe: “Quão longe da costa o navio irá?” Soldado: “Tão longe que a espuma do seu rastro possa ser vista com dificuldade da costa”. Principe: “Por que vocês observam esse costume?” Soldado: “Para que a onda não possa lançar fora do navio as nossas ofertas aos deuses.” Principe: “Os remadores fenícios percorrerão a distância em quanto tempo?” Soldado: “Isso será bem feito e também gratificante para Menelau”. Principe: “Tu não podes realizar esses ritos suficientemente sem Helena?” Soldado: “Essa tarefa pertence à mãe, à esposa e aos filhos”. Principe: “Então é tarefa dela, de acordo contigo, sepultar o marido?” Soldado: “Certamente; a crença exige que os mortos não sejam roubados do que lhes é devido”. Uma vez a bordo do navio, o soldado e seus homens mataram os remadores e fogem do Egito. Um mensageiro vem trazer a noticia ao príncipe, que quer perseguir Menelau e Helena, mas Cástor e Pólux, irmãos de Helena, defuntos, lhe aparecem. Eles lhe dizem que uma vontade divina permitiu que Menelau e Helena escapassem, impedindo-o de cometer um ato injusto.”(Eurípedes, 1265-1280, o.c.p.193).

“Assim, na “Helena” de Eurípedes encontramos um conto como sendo um “Êxodo” do Egito. O tema do faraó apaixonado por uma mulher casada que, por fim, é devolvida ao seu marido é semelhante tanto à história de Abraão e Sara no Egito como a segunda versão dessa história com o rei Abimelec de Gênesis, capítulo 20.” (o.c.p.193).

Conclusão. Comparemos as semelhanças nos dois contos: 1) Sara é pega para mulher do faraó bíblico; Helena é pega para mulher do também faraó, o príncipe Teoclímeno. 2) Sara é liberada de volta para Abraão; Helena é liberada  de volta para Menelau. 3) Sara e Abraão voltam para Negueb; Menelau volta da guerra e recupera sua esposa Helena. 4) Sara e Abraão recebem muitos presentes; Helena e Menalau recebem muitos presentes para os sacrifícios. 5)Abraão corria perigo de morte por causa de Sara; Menelau corria perigo de morte por causa de Helena. Abimelec teve um sonho para não ficar com Sara; O príncipe teve um sonho para não ficar com Helena: “você vai morrer porque essa mulher é casada”(Gn.20,3).  6) Em ambos os contos tem a fuga do Egito. 7) Em ambos os casos o motivo da fuga são os sacrifícios sagrados. 8) Nos gregos, o Soldado e os marinheiros mataram  os remadores e fogem do Egito; Nos hebreus houve a morte dos filhos dos egípcios.

Sobre estes contos, a BÍBLIA PASTORAL, comenta que “Este texto é uma antevisão do Êxodo, no Egito. Sara é o símbolo do povo oprimido”(Bíblia Pastoral, nota caps.10-20). E também Jacques Cazeaux diz ser uma versão condensada da história do Êxodo” (Ph.Wandenbaum, Argonautas do deserto, p.191). Cada vez mais, os mais renomados autores atuais colocam sérias dúvidas sobre o Êxodo e sua historicidade.

 

        No próximo blog continuaremos e entraremos mais no centro do Êxodo, com os contos paralelos dos gregos e da Bíblia, aguarde.

          P.Casimiro João   smbn

          www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br