Ao
lermos isto estaremos pensando em Moisés. Mas é uma narrativa grega bem semelhante
às da Bíblia. Vejamos : “Minha mãe era
uma alta sacerdotisa, meu pai eu não conheci. Os irmãos de meu pai amavam as
colinas. Minha mãe era alta sacerdotisa, me concebeu; em segredo ela me deu à
luz. Ela me colocou num cesto de junco, e com betume selou a minha cobertura.
Ela me jogou no rio, que se elevou sobre mim. O rio me sustentou e me levou
para Akki, o tirador da água. Akki, o tirador da água nomeou-me como seu
jardineiro. Enquanto eu era jardineiro, Ishar me concedeu o seu amor, e por
quatro anos eu exerci o reinado” (A lenda da Sargão e Akkad; Ph.Wajdenbaum, Os
argonautas do deserto p.186). Há outra versão desta narrativa: Atena é uma irmã do bebê que ajudou na
restituição do seu irmão bebê para que sua verdadeira mãe pudesse alimentá-lo.
(Diodoro, Biblioteca, o.c.p.186). Quem lê estas narrativas não pode deixar de
pensar que se trata de Moisés. Seria um “Moisés” grego?
2.
As filhas de Jetro e Moisés: Há uma narrativa semelhante nos gregos
sobre as filhas de Jetro, sogro de Moisés, Êx.2,16-21. Vejamos:”Os habitantes de Pélagos estavam estabelecidos
sobre o Himeto e, partindo daquele lugar, estavam fazendo esta injustiça: as
filhas dos atenienses iam constantemente buscar água ao poço, e sempre que elas
iam eram atacadas pelos pastores. (Heródoto, vi,134). Hésperes gerou uma filha
chamada Hésperis, que ele deu em casamento ao seu irmão Atlas; e Atlas gerou
com ela 7 filhas, as sete atlântidas. Posto que essas atlântidas se sobressaíam
em beleza, Busíris, o rei dos egípcios foi pego com o desejo de ter as donzelas
em seu poder; e, como consequência, ele despachou piratas pelo mar com ordens
para se apoderarem das meninas e entregá-las em suas mãos. Nesse meio tempo os
piratas se apoderaram delas enquanto brincavam no jardim e as levaram. Héracles
encontrou os piratas quando estavam tomando uma refeição e, ao saber pelas donzelas
o que tinha acontecido matou os piratas e as trouxe de volta para o seu pai
Atlas; e Atlas ficou tão agradecido que, em reconhecimento ele não somente lhe
deu com alegria o que ele pretendia mas o instruiu sobre o conhecimento da
astrologia”.(Diodoro da Sicília, Bibloteca, IV,27; o.c.p.187). Comparemos
agora com o Êxodo:
”As sete filhas de Jetro vieram tirar água e encheram os cochos para dar água ao
rebanho do pai. Mas alguns pastores vieram e as expulsaram dali. Moisés se
levantou e veio em defesa delas e deu de beber ao rebanho. Quando elas voltaram
ao seu pai, ele lhes disse: como é que voltaram tão cedo hoje? Elas disseram:
um egípcio nos ajudou contra os pastores; ele tirou água para nós e deu de
beber ao rebanho. Ele disse às filhas: onde está ele? Porque deixastes o homem?
Convidai-o para partir o pão. Moisés concordou em ficar com o homem, que lhe
deu sua filha Séfora em casamento”(Êx.2,16-21).
3.
Vejamos mais sobre Moisés e a sarça do deserto: “Um pastor que tomava conta dos seus rebanhos em uma montanha encontrou
uma divindade e dela recebeu uma inspiração divina e um cajado. As deidades
ensinaram a Hesíodo gloriosas canções enquanto ele estava pastoreando os seus
rebanhos. Então me deram uma vara, um galho de louro resistente, uma coisa
maravilhosa, e sopraram dentro de mim uma voz divina para celebrar as coisas
que serão e as coisas que outrora foram; e me ordenaram cantar sobre a raça dos
deuses bem-aventurados que são eternamente, mas delas mesmas cantar sempre em
primeiro e por último” (Hesíodo, Teogonia,24-35;o.c.p 188). Vejamos agora o
mesmo episódio no Êxodo:
“Moisés estava pastoreando o rebanho do
seu sogro Jetro(sacerdote de Madiã). Levou as ovelhas além do deserto e chegou
ao Horeb, a montanha de Deus. O anjo de Javé lhe apareceu numa chama de fogo no
meio de uma sarça. Javé viu Moisés que se aproximava para olhar. E do meio da
sarça Deus o chamou: Moisés, Moisés! Moisés respondeu, aqui estou. Deus disse:
Não te aproximes porque o lugar onde estás é um lugar sagrado”(Êx.3,1-5).
Comparemos
as semelhanças de ambas as narrativas: 1. As deidades deram ao pastor uma
inspiração divina e um cajado; O anjo de Javé apareceu no meio do fogo
a Moisés, que tinha um cajado; 2. Lá as deidades sopraram dentro de
mim uma voz divina, disse o pastor; Deus chamou Moisés :”Moisés, Moisés”....3. Lá um
pastor tomava conta dos rebanhos; Moisés também tomava conta dos
rebanhos; 4. As deidades deram ao pastor uma vara; Moisés também
tinha a vara de Deus; 5. Lá tudo se passava numa montanha; No
Êxodo também tudo se passa numa montanha.
4- Falamos
agora sobre o Êxodo. O Êxodo não dá o nome do faraó, da época, porque
foram muitos os faraós. Porém na literatura grega tem uma história semelhante e dá o nome do
faraó Quéops. Vejamos: “Ora, até o
rei Rampsinito todas as boas leis estavam no Egito, e o Egito prosperava
grandemente. Mas depois dele, Quéops se tornou o seu rei e os levou a
todos os tipos de maldade; pois primeiro ele fechou todos os santuários, e
impediu-os de sacrificar e, depois, ordenou que todos os egípcios
trabalhassem para ele. A alguns foi mandado que das minas de pedra na
montanha da Arábia, eles deveriam arrastar pedras até o Nilo. Eles trabalhavam
em grupos de dez miríades de seres humanos, e cada destacamento de três
em três meses. E a população exausta deviam passar dez anos nesta
tarefa arrastando as pedras para construir a pirâmide. Os dez anos se
foram tanto naquela mesma estrada até nos edifícios subterrâneos que ele havia
construído como lugares de sepultura para si. No caso da própria pirâmide de 20
anos se passaram na construção dela. (Heródoto II,124; o.c.p.184). Semelhanças
na história do Êxodo:
“20
anos para a construção, 10 mil homens; e turnos de 3 em 3 meses;
10 mil homens em 1Reis, 5,27; turnos
de 3 em 3 meses;(em 1Rs.52); E o tempo gasto foi de 20 anos (1Rs.9,10),
tudo como na narrativa grega.
Outro
paralelo ou coisa estranha: o Êxodo
diz que Israel se tornou escravo de um rei estrangeiro (Êxodo 2,23), e ao mesmo
tempo afirma que os egípcios se transformaram em escravos do próprio faraó,
no mando de José. Por outro lado diz que Israel tornou-se também escravo do
próprio rei, Salomão (1 Rs,9,15), e que Salomão usou o seu povo para
trabalhos forçados tornando-o escravo” (1 Rs 5,27 e 9,15). Desta confusão resulta que a Bíblia mistura as
narrativas de Herodoto.
Conclusão: Já vimos como Salomão e Davi são figuras lendárias (cf
BLOG www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 07/04.21), o que por aqui se torna também evidente. E também
vemos como eram comuns o compartilhar das histórias e narrativas e lendas entre
os povos vizinhos. No próximo blog veremos mais exemplos sobre Moisés e o Êxodo.
P.Casimiro
João smbn