Tratamos
agora da teologia do pluralismo religioso de fato e teologia do pluralismo
religioso de direito. Definição. O pluralismo religioso de
fato é a constatação histórica que depois de 20 séculos o cristianismo só
se estabeleceu nos países “colonizados”, e em 17,7% da população global.
O pluralismo religioso de direito, segundo o teólogo Claude Geffré baseia-se na reflexão teológica sobre a
“salvação presente nas religiões mundiais, não apesar das suas teologias,
mas pelo valor das suas teologias. E mais, atendendo ao principio
seguinte: elas têm uma plenitude de salvação quantitativa em relação ao
cristianismo, que dizemos que rem uma plenitude qualitativa. O que não
significa que elas tenham de deixar o que são, para integrar-se no
cristianismo, ou seja nas Escrituras, ritos e liturgias do cristianismo, mas continuando
com as suas “Escrituras, ritos e liturgias (Cf. Claude
Geffré, de Babel a Pentecostes, p.72). Na verdade, “se estas religiões do mundo
invocam sua religião como “Escrituras Sagradas” perguntamo-nos por que seria
impossível considerar essas “sementes como palavras de Deus aos homens?(Id).
Desde
que há homens há uma única revelação como dom de Deus que coincide com a
experiência espiritual do Absoluto que todo ser humano pode fazer, no dizer de
Karl Rahner. E ainda: Se as diversas tradições religiosas têm um lugar no
interior do desígnio de salvífico de Deus, isso quer dizer que há maior verdade
religiosa na soma de todas as religiões do que numa religião tomada
isoladamente, inclusive o cristianismo. (Cf.o.c.p. 70).
Tomamos
como premissa que o amor vale mais do que a fé, como tenho repetido neste
Blog(cf.1 Cor.13,13). Porém, olhando para a história, a constatação não é essa,
mas para a Igreja e para as Igrejas a fé tem valido mais que o amor. Por causa
da fé se caluniava, se brigava, se matava, se perseguia,
se queimava gente. Esse alerta de Paulo sobre o amor não era posto em
prática. A fé divide e só o amor une. Hoje em dia o Espírito orientou os olhos
dos estudiosos para enxergar que as Igrejas deixem de perseguir outras igrejas
e outras religiões e outras teologias. Na verdade, Deus não cabe nos conceitos
humanos, Deus é maior do que as palavras. Deus não cabe aí, só cabe no amor. É
por isso que “há maior verdade religiosa na soma do que numa parte”. Você
observa uma flor; e observe um jardim; quem sabe, lá tem a totalidade da
beleza. Mas não na flor que tem na mão. Uma flor é uma flor, um jardim é um
jardim. Tudo que há no mundo são parcelas, são sementes do bem. E por
isso trata-se das sementes de verdade, de bondade e de santidade das quais as
próprias religiões são portadoras. Veja bem, no Antigo Testamento vem assim,
que a “Sabedoria” diz: “Em mim está o
caminho de toda a verdade, da vida e da virtude”(Versão latina de Siraque,
24,25). E que afinal os evangelhos aplicaram a Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vai ao Pai senão por mim”(Jo.14,6).
Isto não admira, na medida em que toda a religião se arroga o direito de
ser a verdade e o caminho, como direi no próximo tema (www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
19/6/22).
É
a Constituição Lumen gentium que faz referência ao bem e
“Sementes do Verbo” no coração dos seres humanos, e também a Enciclica “A
missão do Redentor” de Pio XII fala das “sementes e fulgores que se abrigam nas
pessoas, e nas tradições religiosas da humanidade(n.51). Como eu falei, na soma
das religiões como um jardim, o teólogo Claude Geffré diz que “há verdades nas
outras religiões, e experiências autênticas que não foram e nem serão
tematizadas ou postas em prática no interior do cristianismo pelo fato mesmo de
sua particularidade histórica”(o.c.p.72). São como as flores que não estão
todas no pequeno jardim do cristianismo. O mesmo teólogo fala de “palavras de
Deus” nessas religiões, como estas flores que não germinaram no nosso jardim, e
fala de “plenitude qualitativa” cristã, e de “plenitude quantitativa”
a de todas as religiões. E deste modo também são palavras de Deus aos homens.
(o.c.p.72). Isto nos leva a pensar na possibilidade de cada religião ser
portadora de salvação.
No
Blog anterior falámos que o “céu geográfico” da teologia do eurocentrismo foi
ultrapassado pelo “céu planetário”, e que, por outro lado, o “céu olímpico” de
que eles se julgavam donos também, eles não são mais os donos. Se nos apoiarmos
no nascimento de Jesus como localizado no “céu geográfico” da Palestina temos
que convir que Jesus levava esse “céu geográfico na sua pessoa, na suas cultura
e na sua história. Da tradição de Jesus recebemos a instituição da Igreja, da
Palavra, dos ministérios, e dos sacramentos. Porém, como lembrou a Constituição
Lumen gentium, “a graça é oferecida a todos os homens segundo as vias
conhecidas só de Deus”. E no decreto Ad gentes afirma-se que o “desígnio
salvifico de Deus se realiza igualmente pelos atos religiosos pelos quais, de
diversas maneiras, os homens buscam a Deus”(n.3). E João Paulo II: “Cada oração
autêntica é suscitada pelo Espírito Santo que está misteriosamente presente em
cada pessoa humana”. Outro teólogo do pluralismo religioso declarou: Se muitos
homens e mulheres são salvos, não é apesar da sua religião, mas nela e através
dela”.
Chamamos
a isto teologia do pluralismo religioso de direito, que é o
reverso da medalha do pluralismo religioso de fato. Vale dizer,
por um lado a religião cristã só é praticada por 17,7%por cento da
população global, restando os 82,3% por cento sem o cristianismo. E por
outro lado, que as religiões destes 82,3% por cento constituem possíveis mediações de
salvação.(Christian Dupuis).
Falámos
atrás na metáfora do imenso jardim para a amplitude das religiões mundiais. E,
como aqui cada flor ou canteiro de flores contém suas características e
propriedades, não se deve ter a pretensão de substituí-las para que ingressem
ou tomem a cor dos canteiros do cristianismo. Quer isto dizer que a Igreja não
pode pretender integrar nem substituir as riquezas autênticas das outras
religiões.
Conclusão. Podemos concluir com o teólogo Claude
Geffré: “É por isso que nos parece legítimo falar de um pluralismo religioso de
principio (ou de direito) que depende do desígnio de Deus criador e libertador.
Como conclusão é adequado dizer que se os valores das religiões são
recapitulados em Cristo é sob a condição de que seus valores próprios não sejam
compreendidos como degraus inferiores e transitórios que desapareceriam
completamente quando encontrassem seu cumprimento na religião cristã. Cada
figura religiosa tem algo irredutível na medida em que pode ser suscitada pelo
Espírito de Deus que sopra em todos os lugares.” (o.c.p.83).
P.Casimiro
João smbn
www.paroqiadechapadinha.blogspot.com.br