Em continuação da matéria anterior
vamos dar mais uns elementos sobre a história do reino de Israel Norte e do
reino de Judá, reino do Sul na época do exílio da Samaria (722 a.C) e de Judá
(586 a.C.). E de como houve uma “construção ideológica” de um “reinado”
que teria sido o maior assombro da humanidade para aqueles tempos, e que
ficaria registrado na Bíblia posterior como tal. E assim continuaria, se não
fossem as últimas escavações arqueológicas a demonstrar que o mesmo não passou
de uma lenda e um mito que foi fabricado pelo reino do Sul, Judá,
quando se viu livre da tutela do reino do Norte para legitimar agora o seu
momento de glória. Portanto, “esse fabuloso reino davídico-salomônico
não passou de “um sonho ardiloso de
Josias (640-609 a.C), para construir a grandeza do seu reino do Sul”. (Cf.Ademar Kaefer, “A Bíblia, a
Arqueologia”p.28). (Cf.www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
31/10/21).
Como isso aconteceu? Desde o séc.X a.C.
Samaria e Siquém tinham sido o centro político da Palestina. Foi lá, em Siquém,
que o povo que vinha com Moisés, do Sinai, se juntou ao povo de antigos judeus
que já moravam em Siquém, e praticamente foram eles que a formaram antes de
Moisés. Eles tinham vindo como trabalhadores nas minas de ferro do
Sinai. Ainda não se falava nem em Judá nem em Jerusalém (Cf Blog www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
28/3/21
Nessa época, a Samaria e Siquém tinham
já mais de 50.000 habitantes, enquanto que Judá permanecia quase desabitada e
não completava 4.000 habitantes, e Jerusalém não chegava a 1.000 almas. Quando
a Samaria foi conquistada pela Assíria,(em 722 a.C.)muitos judeus foram
deportados para a Babilônia, mas um grande número teve autorização para
migrarem para a região de Judá e Jerusalém, onde reinava Acaz, como
dependente do Israel Norte.
Feliz com isso, Acaz se viu livre do Reino do Norte e facilmente prometeu
obediência aos reis da Assíria para não ser esmagado.
Em seguida vieram Ezequias e Josias.
Josias teve quase 40 anos de aliança com a Assíria e conseguiu levar
Judá e Jerusalém a um grande desenvolvimento, enquanto que a Samaria estava bem
submissa à Assíria depois da deportação para a Babilôlnia. Até que
Josias foi morto por Necau, do Egito por traição quando este soube da
sua amizade com a Assíria. Daí para o fim de Judá só foi um fio, uns 23 anos,
na época de Sedecias, em que a Babilônia surgiu de rompante para esmagar a
Assíria e todos os seus domínios, como Judá e Jerusalém em 586 a.C.
O que fez Josias durante aqueles
quarenta anos que viveu em paz e fiel vassalo da Assíria? A maior preocupação
dele e dos seus escribas do Deuteronômio, que foi escrito nessa época, foi apagar
a memória da Samaria e do Reino do Norte, e fabricar a ideologia da
sacralidade do império de Jerusalém, tecendo figuras e impérios imaginários
como Davi e Salomão. Repetimos aqui o afirmação inicial: “A grandiosidade do Império Davídico e
Salomônico, com suas riquezas e esplendores, não passou de um sonho ardiloso do
rei chamado Josias (640-609)”para legitimar a sua arrogância” (Cf.José
Ademar Kaefer, “A Bíblia, a Arqueologia”p.28). E o mesmo autor observa: “Há cada dia menos estudiosos que sustentam a
teoria da existência da chamada monarquia unida sob os reinados de Davi e
Salmão” (id).
Salomão não é mencionado em nenhum
texto extrabíblico, nem há documentos da tal sabedoria. Pelo contrário,
trata-se da disputa entre a sabedoria de Israel e a sabedoria do Oriente e
do Egito (o.c.p.56).
Davi e Golias:
uma lenda popular que foi aplicada a Davi, aliás existe outra versão de outra
lenda dizendo que o tal Golias tinha sido morto por Elcanã e não
por Davi (1Sam.12,19), trata-se da mistura de duas lendas. Quanto a Saul
e Davi, se realmente existiram, os estudiosos afirmam que não teriam
passado de nomes de chefes de clan da época. (o.c.p.45).
Portanto, em tudo está presente a
ideologia posterior da “casa davídica”, como uma construção de Josias.
Um detalhe: Sempre que se menciona Davi, nos autores deuteronômicos, fica
sempre inocentado da morte de seus inimigos.
Para confirmar as fábulas, as
escavações arqueológicas recentes confirmam que nenhuma construção não foi encontrada em
Jerusalém, como o falado templo de Salomão. Pelo contrário, o “templo de
Jerusalém” foi construído depois do ano 722, depois da queda da Samaria, pelos
reis da Assíria para manter a unidade do império e a aliança com Acaz. E
por outro lado, há construções datadas da época dos reis do Norte em Meguido,
Hazor e Gezer mas nunca e nada do rei Salomão.
Conclusão.
Para avaliarmos as passagens da Bíblia sobre o reinado do Israel Norte devemos
ter sempre presente o seguinte: é preciso ter em mente sempre que as
informações que a Bíblia nos apresenta sobre a história dos reis do Norte
passaram pelo crivo dos reis e dos escribas do Sul.
Finalmente, a reforma de Josias:
foi mais política do que religiosa. Não é à toa que a Bíblia dá grande
preponderância a Josias. Primeiramente, ele e seus escribas fizeram a última
edição da Bíblia, chamada deuteronômica. Nessa edição fizeram as mudanças
e transposições que serviam agora ao novo Reino de Judá, apagando
quase toda a história anterior, ou adaptando à nova ideologia. Um dado
importante é que nessa época foi o surgimento do maior apogeu da escrita
entre os Judeus.
Outro aspecto importante foi a centralização
do poder e do culto, e a destruição de todos os santuários dos povoados do
interior para centralizar todo o culto no templo recém-construído
que antes era bem insignificante. Inclusive a celebração da Páscoa que
também se fazia nos povoados, se tornou uma celebração do Estado, e
adquiriu caráter fundante de Judá como Reino que antes não existia.
P.Casimiro João smbn
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