segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Nosso cérebro é um edifício de três andares.


 

O cérebro humano é um edifício de três andares com mais de 100 bilhões de neurônios.

O 1º andar tem o nome de reptiliano,  o segundo é o límbico, e terceiro é o neocortical. Cada um destes andares, ou níveis de cérebro teve a sua data de construção, cujos intervalos levaram cerca de 70 milhões de anos cada um. O primeiro andar formou-se há 200 milhões de anos atrás; o segundo andar há 125 milhões, e o terceiro andar há três milhões. Fazendo a conta dá 75 milhões de anos entre o primeiro e o segundo andar, e 72 milhões de anos entre o segundo e o terceiro andar.

O 1º andar, o reptiliano responde por nossas reações instintivas, digamos, é o rés do chão. Esse cérebro é o 1º nível de organização cerebral, é capaz apenas de promover reflexos simples, o que ocorre também nos répteis, mormente no crocodilo, onde nenhum crocodilo divide seu território ou sua comida, por isso o nome de reptiliano. Conhecido como o “cérebro instintivo” tem como característica a sobrevivência, além de ser responsável pela organização das funções e sensações primárias como fome, sede, sono e outras. É a região do instinto e da raiva, não é controlável, podendo só por prevenção, por parte dos outros dois cérebros prevenindo suas reações. É a parte do cérebro que dá trabalho à polícia e ao Estado e é por isso que se inventam os meios de prevenção para diminuir as desordens, assim como as condições de conforto e desigualdade social para não explodirem as raivas. Por isso é que os Estados e a polícia devem ter ações de prevenção antes da repressão. O límbico, 2º andar, ou “cérebro emocional” é o cérebro dos mamíferos, é o 2º nível funcional do sistema nervoso, já equipado com os seguintes componentes motores: tálamo, hipotálamo, hipocarmo ou memória e afeto.  Responde por nossa afetividade, é o cérebro da aprendizagem e da memória. O neocortical, 3º andar, é dividido em vários compartimentos, ou lobos: o frontal, o parietal, temporal e o occipital, e outro lobo límbico, conforme suas funções: pensamento e planejamento e emoções (frontal); sensações de dor, tato, gustações e temperatura (parietal); audições e reconhecimento de sons (temporal). O lobo occipital é responsável pela informação visual; e o lobo límbico responde pelo comportamento emocional e sexual, e olfativo. Segundo os cientistas (vide MacLean) é pelo trabalho do neocortical ou neocórtex que o homem consegue desenvolver o pensamento abstrato e tem capacidade para inventar ciência. É o nível da consciência reflexa. (Fonte: Rafael Rez, em “Marketing de  conteúdos, DVS Editora).

Este edifício de três níveis ou três andares é a parte mais nobre do corpo humano, um ser dotado de um sistema sensitivo, afetivo e racional. É habitante de uma galáxia, a via Láctea, uma entre duzentas bilhões de galáxias iguais a ela, dependendo do sol, estrela de 5ª grandeza, um sol entre outros trezentos milhões de sóis iguais ao nosso, a uma distância de nove trilhões de quilômetros do centro de nossa galáxia, ou 27 anos de luz. Nosso corpo é animal do ramo dos vertebrados, da classe dos mamíferos, composto por 37 trilhões de células, continuamente renovado por um sistema genético que se formou ao longo de 3.8 bilhões de anos. Uma definição de um dos maiores pensadores mundiais nos diz que o corpo humano é “um nada diante do infinito e um tudo diante do nada; um elo entre o nada e o tudo mas incapaz de ver o nada de onde é tirado e o infinito para onde é atraído”.(Pascal,Pensamentos,72). Como diz Leonardo Boff, “somos seres inteiros mas ainda nascendo, por isso somos incompletos; estamos sempre em pré-história de nós mesmos. O que é o ser humano? Não será ele talvez o próprio Deus invertido e em exílio de si mesmo que ao voltar para si mesmo carrega tudo o que ele criou como expressão de suprema superabundância, como dizem os místicos cristãos?” (SOTER, 127).

Depois desta visão sintética eu me pergunto: de onde vem tanta doença, tanta morte e tanta desorientação no ser humano e causada pelo ser humano, inclusive uns contra os outros? Os cientistas encontram uma resposta que na ciência, quem sabe, tomou o lugar do chamado pecado original, a saber: a resposta é encontrada na própria dinâmica do cosmo, no caso é dizer no Big-bang ocorrido há cerca de 15 bilhões de anos. E acham que ai ocorreu o caos primordial. A expressão e evolução posterior vão conferir ordem à desordem daí resultante. Por isso se diz que o universo produz sistemas cada vez mais complexos e inesperados para se ajustar. Daí resulta o trio dinâmico: ordem/desordem/renascimento. Processo que os sábios da religião hindu chamaram a tríade das três potências ou deuses, o Brahma, da criação/ o Shiva, da conservação/ e o Vishnú da destruição.

Há portanto uma desordem intrínseca na criação. A desordem, no entanto, não é desorganizada, ela se ordena sempre a ordens mais elevadas. Basta dizer que a Terra já passou por cerca de 15 grandes cataclismos, mas sempre se restaurou. Além disso, há duas forças no universo e em cada ser: a primeira é a força da auto afirmação, e a segunda é a força da integração. A primeira é como no ser humano, a autoafirmação de sua personalidade pela qual quere se separar para ser sozinho; a segunda, a integração, é a força da união, pela qual um será capaz de morrer para que os outros voltem à unidade. Pela força da autoafirmação reina a violência, pela força da integração reina a igualdade. Já o povo intui esta dinâmica quando diz: “Deus escreve direito por linhas tortas”. E ainda: "hora a hora Deus melhora” ou ainda: “não tem nada como um dia após o outro”.

Conclusão. Também vemos nessa intuição atrás descrita uma maneira de explicar o que afirmamos pela fé: que pela força da integração se gera de novo a unidade quebrada pela força da autoafirmação, e segundo a qual um será capaz de morrer para que os outros tenham vida. Isto vem no evangelho de João: “É melhor que morra um só homem pelo povo do que toda a nação ser destruída” (Jo.11,50). E por outro lado, o que os antigos chamavam do “o mal” e o “poder do mal” ou no Novo Testamento o “príncipe deste mundo”(Jo.14,30) deverá se encontrar na raiz do 1º andar da formação do cérebro humano, o reptilínio que tem as características do réptil crododilo. Quando a humanidade se deixa orientar  por este estágio do réptil crocodilo que não divide seu território nem sua comida com ninguém vivendo cada um por si, ou melhor, para si, acontece o que vemos   no planeta terra que tem mais de 2 bilhões de pessoas passando fome: sobrevivência de uns em detrimento da pobreza de outros. Em contrapartida, os cientistas estão criando algoritmos capazes de decodificar os pensamentos das pessoas, escaneando até o cérebro para estudá-lo em computador, com implantação de elétrodos nas profundezas do cérebro, para comparar o movimento do fluxo de sangue com o movimento das células cerebrais até poder chegar à influência exercida no pensamento. É a luta da ciência e da inteligência artificial para medir e controlar as influências entre os condomínios do prédio do três andaras que é o misterioso cérebro humano, como já dito noutro blog www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br (05.01.23).

Os cientistas já estão produzindo carne de frango artificial em laboratório que daqui a pouco tomará conta do mercado global. Tomara que também possam um dia produzir o 1º andar do cérebro como de gente em vez de ser só como reptiliano de crocodilo voraz naqueles que precisam.

P.Casimiro João    smbn

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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Castidade, Hormônios, Células, DNA.


 

Uma vez um rapazinho voltava da escola para casa exibindo alegria. Abraçou o pai que ficou feliz também com ele. E o menino disse, papai, hoje eu estou muito feliz. Sabe, pai, o professor falou que na minha idade os hormônios crescem mais do que a minha vontade. É por isso que eu tenho muita preguiça. Gargalhadas do pai.

Na verdade, na adolescência e juventude os hormônios crescem. É por isso que o desejo sexual e os hormônios da sexualidade, que um dia farão de você um pai ou uma mãe eles crescem também mais do que a sua vontade.  Está aí um motivo de uma preocupação grande pela castidade. Mas, como aquele menino achou desculpas para a sua preguiça e ficou feliz, você pode considerar-se também feliz igual a ele porque não  tem assim tantas culpas quanto você pensava quanto à sua castidade. Bote um pouco mais de culpa nos hormônios e tire mais culpa de você. Fique mais tranquilo e desculpado. E libertado. E equilibrado. Sabe porquê? Você só botava as culpas em você mesmo. Agora divida com os seus hormônios.

Em 1953 os cientistas Warson e Crick, em continuidade de Friedrich Mischer  descobriram o DNA. E descobriram que no corpo humano temos 100 trilhões de células. E junto com o DNA tem os genes, que são sustentados por 6 bilhões de bases oxigenadas. Tudo isto levou já os cientistas a um conceito e a uma admiração do Deus presente no âmago do ser de todo vivente. No Novo Testamento dizemos que somos imagem e semelhança de Deus. Porém este conceito de imagem de Deus encontra-se em muitas outras tradições religiosas. Este ser polimisterioso que somos nós, seres humanos que concentramos toda a energia cósmica num cérebro, chegou à suprema evolução na consciência, e tomou depois o nome de pessoa. 

 Levou muito tempo para uma definição de pessoa. Devemos a Boécio (séc. VI) a primeira definição de pessoa, partindo do grego e formando para o latim e para as nossas línguas: pessoa ou hipóstasis é o que se segura por si mesmo, ou “substância individual de natureza racional”(Boécio).  Até que Descartes (séc. XVII), nos tempos modernos, se apoiando nele, definiu como definição moderna de pessoa ”Eu penso, logo existo”, vale dizer que a pessoa se segura essencialmente pelo pensamento, pela consciência. E Boécio e os teólogos aplicando inclusive esta filosofia à Trindade de Deus chegaram a afirmar que “pessoa na Trindade é os três modos do aparecer ou do agir de Deus”. Daqui em diante entramos numa contemplação do ser humano e da realidade divina que se chama mística.

Se a pessoa é o que se segura por si mesmo, quanto mais eu me seguro por mim mesmo, mais pessoa, e mais me aproximo do ser de Deus, o consistente supremo. E quanto mais consciência, mais pessoa.  Faça crescer sua consciência, porque. como diz o ditado, quem anda pela cabeça dos outros é piolho.

 Resulta daí toda uma metodologia do crescimento humano e cristão. Tem governos e tem políticos que, para manter o povo na sujeição impedem o desenvolvimento da consciência, e portanto da pessoa. Não querem pessoas, mas rebanhos e marionetes ou piolhos. Por isso que não promovem a educação, a instrução, mas investem no analfabetismo. É hora de investir na sua consciência e na sua pessoa, e no seu ser cristão e divino. 

 Por isso diz o profeta: “Então brilhará a tua luz como a aurora e à tua frente caminhará tua justiça, e a glória do Senhor te seguirá”. (Is, 68,10).

 P.Casimiro João      smbn

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domingo, 19 de fevereiro de 2023

A terceirização da justiça


 

“Ouvistes o que foi dito aos antigos “olho por olho e dente por dente”, eu porém vos digo, amai os vossos inimigos (Mt.5,38 ss). Jesus é apresentado aqui maior do que Moisés e veio para aperfeiçoar a lei. Moisés deu a lei, que deu origem aos fariseus e ao fariseismo: seguindo a letra pela letra, Jesus manda olhar para o coração e o interior das intenções. “Vós observais o exterior mas desprezais a justiça e o amor de Deus” (Mt.22,23). Moisés fez a lei; Jesus fez o coração.

Em segundo lugar, há aqui a “terceirização da justiça” quando lemos “não enfrenteis quem é malvado” (Mt.5,39). Deus terceirizou a justiça às nações. Contra fazer a justiça pelas próprias mãos. Por isso tem os magistrados, os tribunais e os juízes. Você entregou sua causa ao juiz, terceirizou;  fica com a disposição de perdoar, mas a nação fará o seu trabalho. Se todo mundo fosse vingar pelas próprias mãos voltaríamos aos tempos primitivos do princípio do animal que destrói o outro animal. Essa fase já passou, seria a segunda fase da humanidade quando o cérebro ainda estava na sua segunda fase de agir pelo impulso. Sabemos que o nosso cérebro é um edifício de três andares, o 1º é o rés do chão, no nível de planta, o 2º andar evolui para o nível de sensitivo-animal, e o 3º andar é o de raciocínio, de Inteligência e de consciência reflexa e de fé. Por isso o mal que é feito depende do grau e do nível da ação. É devido a isto que os juízes mandam analisar psicologicamente tantos “criminosos” para poder estabelecer o grau de culpa imputável. Esse é o serviço da terceirização da justiça, para o particular e o cristão cabe o perdão e a compreensão da avaliação do “culpado”.

P.Casimiro João       smbn

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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Casamento como moeda de troca: um histórico do percurso da instituição familiar.

Na antiguidade e no A.T. os casamentos funcionavam como ferramentas de manutenção de relacionamentos entre grupos sociais e como moeda de troca para aumentar as propriedades dos mais ricos. Muitos casamentos eram desfeitos conforme alguns dos pais achavam vantagem para aumentar suas propriedades com a troca de esposas. Assim, um casamento era considerado como meio de manutenção do poder econômico.(W.Carter, evangelho de Mateus, 476). Na continuação da história, isto funcionava na Europa durante toda a Idade Média, para fazer alianças políticas e militares entre reis, príncipes, e demais membros da nobreza. E também para a celebração do casamento continuavam o mesmo ritual de Antigo Testamento.

Durante a Idade Média, como no A.T. o matrimônio era evento familiar e civil antes de ser religioso, e era realizado quando o noivo tivesse a sua casa pronta. A cerimônia era realizada na casa dos pais do noivo. Os pais e os familiares mais próximos acompanhavam os noivos até o quarto. Depois despiam-nos, abençoavam-nos, e deixavam-nos sozinhos e todos iam para um banquete.(Malina e R.Bohrbaugh, Sinóticos, 113). Depois da cerimônia o marido era o “patrão” da sua esposa. Ela passava a ser propriedade do marido, e só tinha a função de reproduzir filhos, e se não tivesse dava-se logo o divórcio ou a poligamia. Por isso havia os preconceitos contra o sexo que não fosse reprodutivo, como atos solitários e homossexualidade, que apesar da proibição na Bíblia ela existia, como vem aí: “A alma de Jónata se ligou com a alma de Davi; e Jónata o amou como à sua própria alma. Jónata tirou todas as suas roupas, entregou-as a Davi e se deitou com ele. E inclinando-se três vezes beijaram-se um ao outro” (1 Sam.18,1-3; 20,41). Assim como entre duas mulheres Noemi e Rute, onde se diz: “Aonde quer que tu fores eu irei, e onde quer que tu pousares ali pousarei eu; onde que que morreres eu morrerei e ali serei sepultada”. É significativo que a pena de morte para o adultério se aplicava só à esposa, e nunca ao marido. E por qualquer coisa, não importa o quê, como perda de beleza, doença, embriaguez ou discussão com a sogra. Aliás, já nos povos vizinhos também havia a pena de morte, não era só nos judeus. O imperador Augusto e tantos outros a plicaram, e porquê? Sempre contra a mulher. Vejamos: adultério significava “ir contra a honra de um homem tendo relações sexuais com a sua esposa” (Malina o.c.p.113). Daí que o adultério então era só em relação à mulher, o oposto não se dava. Era um desafio à honra do homem é que estava em questão.

Depois dessa época alguns chefes de famílias começaram a convidar o padre da igreja para essa cerimônia da bênção dos noivos. E daí é que pouco a pouco a celebração passou para a alçada da igreja. O caráter irrevogável, como no Antigo Testamento, dependia dos interesses dos grupos envolvidos no contrato. Inclusive, para os nobres a dissolução do matrimônio dependia de decisões parlamentares, que decretavam ou não a quebra do matrimônio. E o consentimento? O consentimento só começou a fazer parte da tradição a partir do séc.XII com o Decreto da Graciano. E foi só no séc.XII em diante que o casamento ficou sob a alçada da Igreja. É por isso que o matrimônio só foi declarado sacramento no séc.XII. Antes não era sacramento. E somente a partir do séc.XIX, em 1836 que o casamento se tornou civil quando foi documentalmente assumido pelo Estado, e religioso quando assumido pela Igreja.

A família do A.T. incluía o esposo, suas esposas e seus filhos, suas concubinas e seus filhos, os filhos casados, as noras, os netos, os escravos de ambos os sexos e seus filhos sob o mesmo teto.(Cf. Gn,14,14). Ter muitos filhos era a maior necessidade para trabalhar a terra que era a principal ocupação dessa época, além de aumentar homens para as guerras. Ainda vem a propósito o conceito da Igreja na Idade Média sobre a moral do matrimônio: Apesar de necessário o sexo no matrimônio continuava sendo pecado para muitos sacerdotes e moralistas; e devia limitar-se somente à reprodução que não estava livre do estigma de pecado, sendo severamente proibido todo erotismo e jogos sexuais. (www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 20/11/22).

Como vimos, ao longo de toda a história da espécie humana diversas foram as configurações assumidas pelos agrupamentos familiares, segundo as culturas, e visões de mundo e concepções teológicas. (No Brasil o adultério era considerado crime antes de 1940, com reclusão dos culpados. Só em 2005 ficou isento, pela Lei 11.106).  A família é algo de direito natural inscrito na condição humana, de toda a forma que possa ser vivida. Não é supérflua a reflexão que só no séc. XIII lentamente entrou dentro dos interesses da Igreja. Vem ao nosso propósito a seguinte reflexão de Rita C.Rodrigues: “Ainda que as religiões cristãs sejam majoritárias em nosso país não podemos nos esquecer que estamos  num país laico e democrático, regime que não se deixa regular pela primazia dos interesses da maioria sobre os da minoria. No Brasil a liberdade de culto, e inclusive a de não ter nenhum credo é direito constitucionalmente assegurado. Desta forma resulta inválido invocar argumentação de caráter religioso para tratar institutos de natureza civil. Tratar dessa forma  histórica e dogmática as questões da vida civil, penso que não contribui para melhorar o entendimento entre os segmentos em debate” (Rodrigues, Rita, (“Jus.com.br”). Por tudo que fica dito a família é uma instituição de direito natural. Isto quer dizer que não é só a Igreja que tem o direito de legislar sobre o matrimônio mas também o Estado.

Conclusão. Atendendo ao histórico do matrimônio desde o A.T. entre os Judeus e passando por toda a Idade Média, e tendo em conta os preconceitos da Igreja sobre o sexo e de quebra sobre o matrimônio, fica válida a nossa avaliação da possibilidade de bastante suspeição a respeito de muitos eclesiásticos em seus pronunciamentos sobre matrimônio, família, sexo e até atenuantes de julgamentos abortivos. Ainda mais quando esses assuntos são proferidos exclusivamente por homens, sempre os homens falando em nome das mulheres, e ainda mais, homens solteirões, e nunca  dando oportunidade e chance a mulheres mais esclarecidas e científicas em casos onde a mulher é a principal acionista. A suspeição aí pode chegar aos 100% por cento.

P.Casimiro João     smb  www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

 

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Filtro para a leitura da Bíblia e interpretações fajutas.


 

O óleo dos carros é muito bom e muito perfeito mas antes de entrar no motor tem um filtro. O nosso café tem um filtro. Após o liquidificador, a sua fruta tem um filtro. Na leitura da Bíblia devemos também usar um filtro. No filtro não passa tudo, também na Bíblia não pode passar tudo à letra. Por exemplo quando se perdia uma guerra o povo pensava que era um castigo de Deus. A doença, a lepra, a cegueira, a paralisia também eram considerados como castigos de Deus. Diz-nos o teólogo Pierre Grelot: “Atualmente conhecemos textos mesopotâmicos sobre a criação, o jardim do Éden, o dilúvio, e sabemos que os autores da Bíblia se inspiraram neles para expor sua própria visão das coisas e do mundo. Desse modo, podemos entender melhor sua mensagem”(Cit.por Gilles Brolet “Compreender o A.T. p.33). Os mesmos textos inspiraram os primeiros Onze capítulos da Biblia onde o escritor colocou Deus feito oleiro formando o homem com o barro e todo o seguimento até à torre de Babel.  Aí tem a semelhança com as histórias dos  povos vizinhos  como os Persas e Sumérios, onde o mesmo homem era amassado não com água, e sim com  o sangue de um deus caído do céu, Marduk. Em consequência a Igreja e a Comissão Bíblica já comentaram essa forma de história como uma metáfora, ou tipo lenda mítica para imaginar como seria se fosse. Noutro Blog já falei a respeito, e como a história do começo do mundo vem de 15 bilhões de anos,(Big-Bang), e a história do nosso sistema solar vem de 5 bilhões de anos atrás. Aqui é para marcar um lugar importante e por demais claro para usarmos um filtro na Bíblia. Uma Encíclica de Pio XII em 1943 já dizia: “ A regra suprema para uma interpretação correta  dos textos da Bíblia consiste em encontrar e definir o que o autor queria dizer, e estar atento aos gêneros de discurso e de escrita que ele utiliza.” (Div.Aflante Spiritu, 1943).

Outros exemplos: “Falai ao coração de Jerusalém e dizei em alta voz que sua servidão e a expiação  de suas culpas foi cumprida; ela recebeu das mãos  do Senhor o dobro por todos os seus pecados”(Is.40,2). Pouco antes tinha falado: “É a vingança que vem” (Ia.35,4). As afirmações são sobre o que os antigos pensavam que Deus era “vingador” e que mandava “castigo para o povo”. Será que o cativeiro de uma nação vencida na guerra era castigo, de Deus? É vingança de Deus? Será que Deus tem vingança? Vemos aí a necessidade do filtro de hoje para não “engolir” aquelas ideias e teologias e para não atribuir a Deus os sentimentos que há em nós.

Noutro Blog referimos que os primeiros humanos "fizeram  Deus à nossa imagem e semelhança". E também os Judeus na Bíblia embora tenham dito que “Deus fez o homem à “sua imagem e semelhança no entanto, eles é que fizeram  Deus também “à nossa imagem e semelhança”. (www.paroquiadechapadinha.blogspot,com.br 04/12/22).

 Outro grande exemplo estaria no próprio São Paulo, sobre a circuncisão. Ele entendeu que a circuncisão, apesar do ser o ícone da fé de Moisés, já tinha passado de prazo com a vinda de Jesus. E Paulo colocava os judeus diante do dilema: ou Moisés, ou Jesus Cristo. Ou você continua com Moisés e a circuncisão, ou com Jesus Cristo sem a circuncisão.

Outras atitudes em que é preciso usar filtro: quando nos evangelhos se fala de “mulheres encurvadas” e “homens de mãos secas”, como metáforas que indicam que a Sinagoga é que encurvava as pessoas; e secava as vidas representadas pelas “mãos secas”. (www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 26/3/23). E ainda quando nas Cartas de João se fala em “anticristos” que já chegaram (1Jo.2,22), que é uma metáfora da época contra uma parte da comunidade que eles consideravam como “seita”. A maneira de dizer “anticristo” era igual a maneira de dizer “hereje”. Era portanto uma briga da época, igual a briga das igrejas evangélicas quando se separaram da Igreja de Roma no séc.XVI e que se chamavam umas às outras de “hereges”. (Cf. Jhon Bright, O evangelho de João). Do mesmo modo outro filtro como quando se fala sobre que o trabalhador deve ele mesmo se considerar como “servo inútil” quando fizer o seu trabalho, também usando as categorias sociais da época.(www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br. 16/4/23).

Conclusão. Seria muito desumano tomar por exemplo à letra o tal dito atribuído a Jesus quando se diz “somos servos inúteis,”(Lc.10,17), sem usar o “filtro” sobre a época em que essa sentença foi usada pelos editores do evangelho de Lucas. Quem é a pessoa mais útil no mundo senão o trabalhador? Toda a cozinha tem filtros em casa para nosso café, assim a cozinha da Bíblia deve ter seus filtros para não brincar com interpretações fajutas como essa de “considerem-se servos inúteis quando fizerem seus trabalhos.”

P.Casimiro João    smbn

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