No Cristianismo já se guerreou, se queimou
e matou gente, se destruiu e assassinou, se falsearam documentos. Aí nos
deparamos com esta pergunta: Houve coisa igual em outras religiões? Houve. No
Cristianismo há gente santa? Há. Também há nas outras religiões? Há. Então a
pergunta volta: haverá uma religião verdadeira ou haverá igualdade entre
religiões? Junto com esta pergunta vai outra: Onde está a verdade? Vejamos: “Nenhum
problema produziu na história das religiões tantas guerras como o problema da
verdade. Em todos os tempos o fanatismo cego pela verdade atormentou, queimou,
destruiu e assassinou impiedosamente. A consequência foi o cansaço da verdade,
a desorientação e o abandono de toda religião” (H.Kung, Teologia a caminho, p.262).
Para sair já de posições antipáticas, começo esta reflexão assim: No céu não
haverá religiões, só uma, a do amor. Não existirá o Budismo, ou Hinduísmo, ou
Islamismo, nem o Cristianismo. No final não existirá nenhuma religião, mas
somente o próprio inefável ao qual se dirigem todas as religiões” (o.c.p.291).
Esta é nossa premissa. Daí vamos deduzir várias verdades escondidas nesta caixa
de Pandora ao contrário. A posição tradicional da Igreja era que apenas uma
religião é verdadeira, todas as outras seriam falsas. Esta teologia foi
preparada nos primeiros séculos por Orígenes, Cipriano e Agostinho, copiando do
A.T. onde o Judaísmo funcionava como a única religião verdadeira. E isto foi
definido depois pelo IV concílio de Latrão (1215), com o jargão “Fora da Igreja
não há salvação”, e pelo concílio de Florença em 1442. Com a chegada das
descobertas dos novos continentes a Igreja viu a fragilidade dessa teologia e
procurou interpretar de forma nova esse dogma. “Roma entendeu de forma nova
esse dogma absolutamente excludente, o que com frequência levou a uma
reinterpretação e até transformá-lo em seu contrário” (o.c.p.266). Na verdade,
como falei no Blog anterior, essa configuração da “salvação” já não servia para
os tempos modernos que começaram com as descobertas. E assim se mostra que dogmas
parece serem como camisas de força que com o tempo ou eles estouram ou estoura
a pessoa. No concílio de Trento os teólogos Belarmino e Suarez reconheceram como
suficiente para a salvação eterna um desejo inconsciente do batismo e de entrar
na Igreja. E no séc. XVII Roma condenou
a proposição dos Jansenistas que era: “fora da Igreja nenhuma graça”. E no séc.
XX, em 1964 o concilio vaticano II afirmou na Constituição sobre a Igreja: “Todos os que buscam a Deus sinceramente e
procuram cumprir a sua vontade conhecida
por meio da consciência, e agem sob o influxo íntimo da graça podem obter a
salvação” (L.G. n.16). E na Declaração sobre as religiões não cristãs: “A Igreja católica não rejeita o que é
verdadeiro e santo em todas as religiões” (Nostra Aetate n.2). Como podemos
ver, o dogma caiu por si mesmo como fruta passada e “fora de prazo” de validade.
Chegados neste ponto, os teólogos
perguntam: então o “Cristianismo o que tem ainda para oferecer” E a questão é:
se o anúncio cristão hoje, diferentemente de outras épocas, constata já não a
pobreza mas as riquezas das outras
religiões, então o que o próprio Cristianismo
ainda pode oferecer? Como pode continuar oferecendo a “luz”, quando
reconhece por toda a parte uma luz revelada? Se todas as religiões têm verdade,
por que o Cristianismo seria a verdade? Se há salvação fora da Igreja, e do
Cristianismo, o que ele tem a mais? (o.c.p.268). Antes de partir para outras
reflexões, a resposta adequada será: o Cristianismo tem a oferecer a referência
ao “humano”, ao autenticamente humano. Não adiantaria a multidão de ritos, de celebrações,
de teologias e de orações, mas desprezando e negligenciando o ser humano. “Tudo o que quereis que os homens vos façam
fazei-o vos também a eles, pois esta é a Lei e os profetas” (Mt.7,12).
Porque se as outras religiões praticam isso e o Cristianismo não, o que poderia
então oferecer? Não se pode apelar ao “divino” para destruir o “humano”. “Se
uma religião pratica aquilo que é verdadeiramente humano, isso sim, pode
invocar em seu favor a autoridade do “Sagrado” (o.c.p.274), pois o que há de
mais “sagrado” é o ser humano, nem o “sábado”, nem os jejuns, sacrifícios ou
orações.(Mc.2,28).
Chegamos a outro ponto onde topamos com
outra constatação seguinte: As outras religiões têm virtudes e defeitos? Porém,
há acusações contra o Cristianismo quando ele pensava ser a única religião
verdadeira, justo como também o Judaísmo, o que depois achou que não era bem
assim, quando se pensa na queima de “hereges” e na “venda de indulgências” em
tempos idos. No critério de outras religiões o Cristianismo se apresenta ante
as outras religiões com uma “consciência doentia do pecado” e da culpa, e de
sua aversão contra o mundo e o corpo”, (o.c.p.273), deixando de lado o valor em
si do “ser humano”, e de deixar de lado o “não faça aos outros o que não quer
que façam a você mesmo”. Daí que a verdadeira
religião pode se identificar com a “bondade” ou a boa conduta, da seguinte
forma: um cristão ou um budista “verdadeiro” é o cristão ou o budista “bom”. Nesse
sentido a questão de qual é uma verdadeira ou falsa religião se identifica com
a prática da bondade e do amor. Já dizia um cantor: “O amor é a melhor religião”
(FranciscoMarinho@.com).
Nesse sentido todas as religiões são iguais quando levam ao 1º e 2º
mandamento do Sinai, que já não é um mandamento exclusivo mas patrimônio das
religiões universais, (Mt.7,12).
Do que dissemos seguem-se alguns
corolários: 1- O Cristianismo não tem nenhum monopólio da verdade, e tampouco o
direito de renunciar ao testemunho da verdade que ele possui, como as outras
religiões possuem as suas verdades. (L.G.16), precisando lidar com o binômio diálogo
versus testemunho; 2- Depois do concílio vaticano II o teólogo Karl Rahner
lapidou a frase que os fiéis sinceros das outras religiões são “cristãos anônimos”, para explicar o nº16
da Constituição sobre a Igreja, e o nº2 sobre as religiões que já aduzimos.
Isso pôde ter servido para aquela época do concílio para dar o ponta pé inicial
do inicio do novo jogo da teologia. Porém agora vemos que já não tem sentido uma
vez que supõe uma situação de superioridade que considera de antemão a própria religião
(a cristã) como a única verdadeira; e só por isso já exclui o diálogo antes
mesmo de iniciá-lo. Devemos afirmar que os homens e mulheres de outras
religiões devem ser respeitados como tais e não integrados ou colonizados numa
camisa de força da teologia cristã. Ou seja, eles se conhecem como pertencendo e
cumprindo a sua consciência e a sua religião pelo seu valor próprio e não com a
“capa” de um anonimato que não existe e que esvaziaria o valor das suas crenças.
Conclusão.
Poderá haver uma religião unificada para o mundo inteiro? Impossível, porque
todos os caminhos bons levam a Deus. Na verdade, nenhuma religião possui toda
a verdade. Apenas Deus possui a verdade plena. Só o próprio Deus, qualquer que
seja o seu nome, é a verdade. No fim da
história não haverá religiões, só uma, a do amor. Já não existirá Budismo ou
Hinduísmo, Islamismo ou Judaísmo ou Cristianismo. No final não existirá nenhuma
religião. Nem profetas ou iluminados
como pontos de luz nos horizontes da humanidade: nem Maomé, nem Buda, nem o próprio
Jesus Cristo que entregará tudo a Deus Pai (Jo.14,28).
P.Casimiro João smbn
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