segunda-feira, 8 de abril de 2024

TEOLOGIA BÍBLICA, PARÁBOLA SOCIOLÓGICA VERSUS TEOLOGIA CAPITALISTA


 

Trata-se do rico e do pobre, consequências e causas das consequências. Estamos pensando na parábola do rico avaro e do pobre que na parábola tomou o nome de lázaro. Durante a existência terrena estes dois personagens não viviam juntos e por isso não foram juntos depois desta vida. Entre eles havia um grande abismo de vida, um de banquetes “todos os dias”, o outro “com chagas” e com fome todos os dias. De tal maneira conviveram com esse abismo que só se deram conta mais tarde, mas já era tarde demais. No centro da parábola, e como consequência da divisão, vem a resposta para o sofrimento do rico que pedia ao “pai Abraão” para que mandasse  o Lázaro “molhar ao menos a ponta do dedo para refrescar a sua língua” (Lc. 16,24). Resposta do pai Abraão: Não é possível, “porque há um grande abismo entre nós, porque ninguém pode passar daqui para aí, e nem os daí podem passar até nós” (Lc.16,24). Quem fabricou esse abismo?

No concilio vaticano II a Igreja fez ou sinalizou o caminho para a opção preferencial pelos pobres (G.et Spes,n.26). Essa orientação foi especialmente acolhida nos países da América do Sul, onde as consequências do colonialismo tinham feito muitas marcas, e, depois disso, a maior parte dos países estavam em voltas com as ditaduras, impostas pelos presidentes dos USA, que no auge da guerra fria estavam espalhando uma dominação econômica, ideológica, religiosa fundamentalista e politica como um bloco contra as pretensões do Leste europeu. As pessoas eram tratadas e manobradas como instrumentos a serviço dessa ideologia e não como pessoas. Não podiam pensar por elas mas tinham que pensar pelo pensamento dos Estados Unidos da América. Lyndon Johnson e Ronald Reigan surgiu como o maior furacão do poder e da imposição dos interesses americanos, não olhando a meios nem modos.  (https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-brasil/2024/04/07/espero-que-nos-deem-credito-como-eua-apoiaram-os-militares-no-golpe-de-64.htm). A pobreza e os pobres não podiam reclamar nem cobrar seus direitos porque a ideologia e a religião americana proibiam. E apareceu a religião fundamentalista que só era religioso quem defendesse os Estados Unidos. Caso contrário, os Estados Unidos mobilizavam os exércitos e as polícias locais para prender, torturar e matar. Um detalhe importante é que os Estados Unidos encontraram um forte aliado para impor esta sua ideologia. A Igreja. E de quebra foi nessa época que aumentaram as igrejas protestantes nestes países das Américas. Foi como mel nos favos. Os Estados Unidos invadiram nossos países com seus pastores, suas bíblias, seus grossos salários a igrejas e a pastores. O carro chefe era a Igreja católica, e de quebra espalharam seitas e igrejas por todo canto. É historicamente certo e comprovado que os mesmos Estados Unidos encheram os deputados e o senado de Brasília de dinheiro para iniciar a ditadura militar no Brasil em 1964. Igualzinho como já tinham feito no México, no Chile e na Colômbia. Estava instaurada a religião fundamentalista, e o império neo-colonialista dos USA não só no Brasil mas nos países vizinhos. O suporte religioso era a teologia capitalista que defendia que só era religioso quem defendesse os Estados Unidos. E não só. Quem fosse defender as classes da pobreza estaria contra os interesses dos USA. Nessa altura e nessa situação dramática em que foram mergulhadas as nações da América do Sul foi a época que encerrou o concílio vaticano II. E como seria para enfrentar esta situação em toda América do Sul? Com o desenvolvimento do concílio formou-se a teologia que visava se colocar ao lado das classes marginalizadas e esquecidas, já que ninguém as atendia nos seus direitos básicos de salários, trabalho, saúde moradia. Além do medo natural do pobre ainda vinham todas as ameaças, se arriscassem falar alguma coisa. Em contrapartida à teologia capitalista, esta foi chamada teologia de libertação, inspirada na Bíblia quando marca o perfil do futuro Messias e que Jesus assumiu para a sua vida: “O Espírito do Senhor está sobre mim e me ungiu para levar a boa nova aos pobres, anunciar a libertação aos cativos, a vista aos cegos e publicar o ano da graça do Senhor”(Lc.4,18). Ficou bem claro que enquanto a teologia capitalista escolhia o capital, esta teologia escolhia não ser rica. A teologia capitalista dando sempre o braço aos donos do capital, a teologia da libertação dando o braço a quem sofria os abusos do capital. A capitalista dando o braço ao político que flerta com o capital, a da libertação se afastando deste tipo de flerte. A teologia capitalista visando sempre os interesses e a obediência aos Estados Unidos, a da libertação não visando esses interesses, nem essa subserviência e nem essa obediência. Não admira então que os detentores daquela política e daquela teologia capitalista ficassem de olho na teologia da libertação e nas igrejas. Até porque nas ditaduras foram proibidos e controlados os Sindicatos, associações e até as reuniões de oração eram vigiadas.

Conclusão. A teologia capitalista seguiu aliás a tradição histórica como regra geral. Desde a entrega do poder político que os primeiros imperadores cristãos no séc.IV fizeram à Igreja, ao mesmo tempo lhe entregavam a teologia capitalista. Embora eles sejam chamados de “imperadores cristãos”, de cristãos não tinham nada, só mudaram o nome de “pagãos” para convertidos de fachada. E esta fachada eram seus interesses políticos e pessoais para se aproveitarem da Igreja. Isto levou a Igreja a entrar no seu trem de domínio, de ditadura, de poder absoluto e de riqueza e ostentação. Desse jeito, por regra geral a teologia da Igreja caminhava com a política capitalista que geralmente oprime o povo. E a teologia da libertação tinha o lema de caminhar com o povo. “Não sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam?” Entre vocês não deverá ser assim”(Mt.20,17).

P.Casimiro João     smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

Nenhum comentário: