sábado, 31 de outubro de 2020

O “pacote” de crenças, atitudes e práticas que herdamos, e uma Igreja que era “dona” do mundo.


 

Grande parte do “pacote” de crenças, atitudes e práticas que herdámos foi formada em uma época em que a Igreja era “dona do mundo”, mas hoje tem que reconhecer que não mais assim.

Atravessamos um grande tempo de mudanças da história, no dizer de Frei Beto. Na Igreja também acontece um extraordinário colapso da cultura religiosa que configurava a identidade católica até aqui.

Notamos que aparecem muitas opiniões que era costume e também todo mundo já não concorda cem por cento e questiona as coisas da Igreja referentes à fé e à moral. Na verdade o amor vale mais do que a fé. Constatamos que é um tempo de desafios, em, em que muitos vão ter saudades das “seguranças” do passado. Também não devemos ter medo das dúvidas, duvidar não é um pecado, mas uma procura. E o Papa Francisco falou no 28º JMJ do Rio de Janeiro para os Jovens: “Não tenhais medo das mudanças”.

Temos que nos dar conta da necessidade urgente de chegar a um acordo com os grandes desenvolvimentos sociais e científicos da nossa época. E nos das conta que é preciso integrar os desenvolvimentos atuais aos rudimentos da mensagem cristã.

O “pacote” que herdamos foi formado dentro de uma visão do mundo que era muito primitiva e era própria quer dos primeiros séculos da era cristã, quer a Idade Média e ainda até ao século XIX. E esse pacote era fruto de uma Igreja que se considerava como a “dona do mundo” e com autoridade para impô-lo. A Escritura era entendida e interpretada de uma forma literalista como se Deus tivesse ditado pessoalmente cada palavra, e todo evento tivesse acontecido exatamente como foi registrado.

Porém, tem havido mudanças dramáticas durante nossa vida. A Igreja já não ocupa o centro da cena; agora as pessoas mais facilmente questionam a autoridade. Até nosso entendimento do lugar do planeta Terra no universo mudou, e nosso conhecimento sobre sua idade e a forma como surgiu  a vida e a criação. Embora oficialmente muitos membros eclesiásticos continuem teimando em pensar que o mundo continua igual, está parecendo que estão querendo tapar o sol com a peneira.

Por isso, enfrentamos uma escolha: Podemos nos esconder ainda no “pacote  do passado, ou mudar nossa visão para rever e avaliar se nossas crenças e práticas correspondem às novas exigências e situações. Em consequência somos provocados para a necessidade de usar o próprio raciocínio para reexaminar a visão religiosa do mundo no qual fomos educados, e para o desejo de ser tratados como adultos capazes de aceitar responsabilidades. “A glória de Deus se manifesta exatamente no agir racional da humanidade”, diz Callahan.

Vejamos uma amostra do que do que pensa hoje a maioria dos católicos nas Américas: Em 1987, 79% não aceitavam a proibição papal do controle da natalidade, e em 1992 já eram 87%. Também os que acreditavam que católicos divorciados podiam ser bons católicos era 74%. Em 1992 noventa por cento (90%) acreditavam que alguém podia discordar da doutrina da Igreja e mesmo assim continuando um bom católico.

No Documento que a Juventude mundial enviou para ser debatido no Sínodo dos Bispos se expressaram assim: “embora não nos considerando jovens “religiosos”, e não aceitando em muitos pontos a doutrina oficial, queremos ser parte da Igreja”.

P.Casimiro   SMBN

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quarta-feira, 28 de outubro de 2020

As heranças biológicas e os DNAs que herdamos de nossos antepassados e como temos que gerenciá-los.

Cada um de nós carrega uma herança biológica de nossos antepassados, um DNA. A maneira de sorrir, de falar ou de calar, de contar histórias, as reações e emoções que nos  invadem fazem parte dessa herança.

Temos também uma herança espiritual sobre a maneira de imaginar como  Deus é, e o que nós somos para ele. Herdamos uma visão católica do mundo em tenra idade. Nós a aceitamos, na maioria dos casos, sem questionar e procuramos ser fiel a ela.  Geralmente herdamos a ideia de Deus como ditador cruel. Essa crença tem enorme impacto em nosso relacionamento com Deus, nosso estilo de oração, e o que Deus é para nós.

E tem um problema sério nisso aí. Nossa espiritualidade herdada foi formada por padrões de pensamento religioso e visões de mundo que agora não são adequados. É assim como tentar realizar uma cirurgia cardíaca em um hospital moderno só com o conhecimento da ciência médica do século XV.

No século XVI, Galileu Galilei descobriu que a Terra não era mais o centro e o eixo do mundo. A Igreja se apavorou. Mas ainda tem muito cristão que se julga ser o centro e o eixo de Deus: como se Deus tivesse que andar em volta dessa pessoa, e só pensando nessa pessoa. Ele é o Deus de 400 bilhões de galáxias e está tão presente nesses 400 bilhões de galáxias como em mim. Como diz o teólogo Morwuoord: “O Papa não tem mais a presença de Deus do que o caminhoneiro ou a enfermeira; Em mim Deus fala, move-se, dança, compõe música, ou escreve poesia, faz amor e cria vida, ri da imperfeição de tudo e chora por ela”.

Nas galáxias e na flor ele é imenso como as galáxias que se expandem e criam novas estrelas todo dia, e na flor sorri e na criança olha para mim. Mestre Eckhart dizia: O mesmo olho com que olho a Deus é o mesmo olho com que Deus me olha”.

Deus estava no início das explosões das galáxias há 15 bilhões de anos, e nos seus desenvolvimentos de explosões de lá até agora, quando foi possível ao homem detectar essa vida no universo.

E há 200 mil anos a.C. quando o ser humano começou a sentir-se diferente do como era antes, começando a ser humano. E como desenvolvimento da linguagem há cerca de 150 mil anos. A história não é a de “queda” de um estado perfeito de percepção, é antes a história do lento surgimento da vida dos seres humanos.

Há bilhões e milhões de anos houve cataclismos, os dinossauros se extinguiram há 200 milhões de anos, os continentes se juntaram e se separaram. Havia morte e havia vida; o ser humano nascia e morria muito antes dos 4.000 anos da Bíblia e por castigo nenhum. E o cérebro do ser humano estava programado para tomar consciência.

Não houve seis dias mas bilhões de anos para que a evolução nos formasse. E não há registro histórico nenhum da queda bíblica nos anais da evolução programada pela evolução do cosmo.

A espiritualidade que herdamos é formada por dualismos: céu-terra; alma-corpo; espirito-carne; cabeça-coração; sagrado-profano; católico-protestante; divino-humano. Ora Deus não está mais presente em um do que no outro, mas em todos igualmente.

Como dissemos, nossa espiritualidade herdada foi formada por padrões de pensamento religioso e visões de mundo que agora não são adequados. Isto quer dizer que, como todas as outras dimensões, também as heranças biológicas e os DNAs que herdamos  de nossos antepassados  temos que gerenciá-los e adequá~los, porque a evolução é uma lei universal e está sempre em andamento. Se assim não fizermos viramos velas apagadas, como um dia disse o grande mestre do espaço,  Einstein.

P.Casimiro   SMBN

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sábado, 24 de outubro de 2020

Mulheres: a tradição bíblica do véu


 

Donde vem essa tradição? Vejamos onde São Paulo se apoia, iremos citar as suas Cartas. Primeiro vamos dizer qual era o costume das mulheres da cidade de Roma e Corinto.

As classes altas usavam cabelos curtos e muito bem cuidados e enfeitados. As mais pobres usavam cabelos compridos. As mulheres em casa não podiam responder a seus maridos e nem dar opiniões. O respeito era de serva para com o seu senhor e não de companheira. Os homens andavam de cabelos curtos e de barba curta e raspada. Naquela época já tinham lâminas adequadas para sua barba.

Quando havia uma reunião ou assembleia na casa dos cristãos, só o marido é que podia falar, e a mulher nem abrir a boca não podia. E sempre devia se apresentar com a cabeça coberta. O serviço delas era só ouvir e não opinar. Este era o ambiente social donde Paulo tirou os conselhos para as suas Cartas.

1º- “Eu não permito à mulher que ensine, e que se arrogue a autoridade sobre os homens, mas permaneça em silêncio” (1 Tim.2,12). “Como em todas as igrejas, as mulheres estejam caladas nas assembleias, mas devem ficar submissas como ordena a lei” (1 Cor.14,34).

E quanto a cobrir ou não a cabeça: “Se uma mulher não se cobre com um véu, então corte o cabelos. Ora, se é vergonhoso para a mulher ter os cabelos cortados ou a cabeça rapada, então se cubra com um véu”. (1 Cor.11,6).

2º- “A mulher deve trazer o sinal da submissão sobre sua cabeça” (1 Cor. 11,10).

3º- A cabeça da mulher é o homem, como Cristo é a cabeça da mulher” (Ef. 5,22).

4º- “Quanto ao homem, não deve cobrir sua cabeça, porque é imagem e glória de Deus, mas a mulher é a glória do homem”. (1 Cor.11,7).

5º- “O homem não foi criado para a mulher, mas a mulher foi criada para o homem”.(1 Cor.11,8).

Vamos dar uma análise e tirar algumas conclusões: 1) – A cabeça da mulher é o homem” (Ef.5,22), como assim, será que as mulheres não têm cabeça? Quantas vezes você já ouviu também isso? Afinal essa discriminação já vem de longe.....2) Se uma mulher não se cobre com um véu, corte o cabelo? ”(1 Cor.11,6) o que isso significa? Será que São Paulo falava para as mais pobres, porque as mais ricas traziam os cabelos cortados e bem caprichados e não botavam véu. Não é outra discriminação? ...

Obs: Compare com outra afirmação, onde o Paulo se contradiz: “É uma glória para a mulher uma longa cabeleira porque lhe foi dada como um véu.”(1 Cor.11,15)...Afinal, precisa ou não de véu? Antes dizia que precisava, aqui diz que não porque a cabeleira lhe foi dada como um véu... 3) “A mulher deve trazer o sinal da sua submissão sobre a sua cabeça” (1 Cor.11,10)  submissão a quem? Ao marido, justo como era submissa em casa. Pode?   4)- “As mulheres estejam caladas, como manda a lei”(1 Cor.14,34)  a qual lei se refere? À mesma lei de ficar calada em casa, a mesma sujeição ao marido...  5)- “O homem é imagem e glória de Deus, mas a mulher é glória do homem”(1 Cor.11,7)...Como assim? Só o homem é imagem de Deus?   Até o Gênesis aqui foi deturpado, porque lá se fala no “ser humano” incluindo os dois gêneros. (Gn.1,26)    6)- “O homem não foi criado para a mulher, mas a mulher foi criada para o homem”(1 Cor.11,8)... Aqui o Paulo se apoiou na antropologia do gênesis  e nessa antiga  cosmologia mítica hoje descartada. Aqui a afirmação é perigosa. Tomada a sério libera o adultério para os homens e só amarra a mulher. E era isso que os judeus faziam, e ainda muitos entendem assim.

CONCLUINDO: Se você usa véu então concorda com os seguintes itens

1- O seu véu é só sinal de submissão ao seu marido;

2- O seu véu é para ficar calada em casa e na igreja;

3- O seu véu é para não abrir o bico em casa;

4- O seu véu é sinal que você não é imagem nem glória de Deus;

5- O seu véu é sinal que você foi criada pro seu marido, e ele não para você;

P.Casimiro    SMBN

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sábado, 17 de outubro de 2020

“Dai a Deus o que é de Deus e a César o que é de César” (Mt.22,21). Dai a Deus o que é de Deus e ao Povo o que é do Povo


 

Na antiguidade o rei era o representante de Deus. E mesmo era o filho de Deus. Mais à frente, o rei considerava-se o mesmo deus. Para quê ter outro Deus, se ele mesmo era?

Nos Judeus não era diferente, o rei era o filho de Deus. E havia até uma entronização: Quando o rei passava o trono para o filho havia uma cerimônia de entronização, e o filho do rei era aclamado filho de Deus “Senhor dai ao rei vossos poderes”, Sl 71).

Como o rei era o filho de Deus, nomeava sacerdotes para o culto e o templo, e proclamava as festas. Daí que o Sacerdote e o Rei eram uma só coisa. Eram os tempos da chamada Teocracia, ou seja o mando de Deus. Deus era o governador, e o rei era o seu representante.

Quando veio o império romano, o sumo sacerdote e o sinédrio só faziam o que o governador queria. O Pilatos inclusive é  que nomeava os sumos sacerdotes.

Já vemos que a condenação de Jesus foi tanto pelo sumo sacerdote como pelo Pilatos. Os sacerdotes diziam nós não queremos ele, queremos o imperador César. Por isso a pergunta: “é lícito pagar o imposto a César ou não”? Jesus respondeu: vocês não têm César? Então paguem. Vocês não têm Deus? Então adorem a Deus. Na Idade Média ainda vigorava o direito divino dos reis, que acabou no séc.18.

Aplicação para a vida de hoje: Na época chamada moderna, desde o séc.18, deu-se a separação de Igreja e Estado, porque até lá ainda andavam um fazendo oque o outro queria. Agora não. É por isso que as nações agora se chamam Estados laicos ou laicais. Estados laicos. O Brasil é também um Estado laico. Então Jesus nessa hora já foi moderno, como agora o Estado laico: o governo é uma coisa, a Igreja é outra. A Deus o que é de Deus, a Cesar o que é de César.

O governo faz as leis para todos, e cobra impostos de todos. Por exemplo: não pode fazer leis que agradem só aos católicos,  ou aos protestantes, porque na nação não tem só católicos nem só protestantes, tem gente de  todo tipo. E quando ele vai só pelo lado dos católicos ou dos protestantes ele não está certo, tem que consultar a todos: é por isso que às vezes tem o plebiscito em causas que os legisladores não se entendem. Aí consulta a nação inteira. É por isso que houve já plebiscitos sobre o aborto na Espanha, em Portugal, Argentina etc.

Outro dia o governo fez uma besteira. Sabem qual foi? As igrejas protestantes estavam devendo ao Fisco Um Bilhão de Reais, e o governo perdoou. Isso é besteira. É uma falta constitucional ao Art.5,VI da Constituição Federal, e art. 19,1. Essa dívida era para toda a nação. Assim muitas populações ficaram sem hospital, sem casa, sem remédios, sem auxílio emergencial, e convivendo no meio de esgotos por falta desse dinheiro que foi para os bolsos dos colarinhos brancos dos pastores. E assim por diante. Nosso governo aí não praticou a Lei, faltando à lei e roubo de uns para dar a outros.

Dai a Deus o  que é de Deus e ao Povo o que é do Povo.

P.Casimiro smnb

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domingo, 11 de outubro de 2020

Somos pó da terra, na cosmologia antiga; Somos uma faísca das estrelas na nova cosmologia.


 

A cosmologia é um critério e uma bitola para basear a conversa diária e não só, mas para basear ou fundamentar a conversa  religiosa, filosófica e teológica.

Assim por exemplo, quando dizemos que o homem é pó da terra nos baseamos no tipo antropológico da criação recebida do Gênesis de que Deus fez o homem do pó da terra. E ainda mais, teria sido criado imortal, mas foi condenado a morrer e volta ao pó.

Porém, hoje em  dia a cosmologia nos levou a olhar a explosão das Galáxias, dos Sóis e das estrelas e dos planetas a partir da explosão inicial que chamamos big-bang há 15 bilhões de anos. Dessa explosão se originou o nosso Sol e a nossa Terra. Eles são faíscas dessa explosão e nós somos faíscas de 2ª grandeza, pois eles são de 1ªgrandeza.

Tem consequências? Tem. As primeiras consequências são as seguintes: A evolução das espécies desde a época de 5 bilhões de anos atrás. Começou a vida pelos unicelulares ou bactérias nessa era dos 5 bilhões. A vida foi-se desenvolvendo nas Águas por toda e espécie de peixes e répteis até chegar aos primeiros dinossauros e primatas, de 4,5 bilhões de anos atrás. A consciência foi a última explosão, tão importante como o big-bang, quando alguns primatas desenvolveram os primeiros raciocínios, até chegar aos hominídeos, há 500 mil anos atrás. A segunda fase foi o desenvolvimento da fala, processo que levou 150 mil anos, isto é, há 150 mil anos que os primeiros hominídeos começaram a linguagem humana. E tudo  isto aconteceu na África.

Os físicos dizem que o primeiro insumo da consciência é a linguagem. Existem processos químicos e físicos que alteram a linguagem, porque alteraram a consciência, e mexem com o córtex cerebral. Estudando assim é que os teóricos da evolução afirmam que a consciência é produto da seleção natural e da organização do sistema nervoso; os esquisofrênicos têm menos tecidos nervosos  do que as pessoas normais.

Os reurônios foram capazes de controlar funções vitais através de impulsos elétricos e estímulos sensoriais. Substâncias químicas  podem ainda hoje alterar a consciência humana, pense nos distúrbios de consciência, por conta das pulsões elétricas ocorridas nas membranas nervosas. E tudo acontece como no zigoto que dá origem ao embrião humano encarregado de formar o DNA que é a programação de cada humano. E como se forma o DNA se forma também a consciência. A consciência depende de estímulos elétricos e químicos resultantes de sinapses dos reurônios que podem gerar células cancerígenas ou ideias genocidas, para só falar dos extremos.

É de notar que uma parte dos hominídeos desenvolveram mais a linguagem, do que outros. E os que desenvolveram mais a linguagem conseguiram acabar com os outros. Estes processos deram-se em períodos de centenas de milhares de anos.

Estes processos ainda estão hoje na fase do desenvolvimento das Crianças. Primeiro nasce e caminha de quatro; em segundo lugar leva em média um ano e meio para aprender a fala. Isso corresponde aos períodos e demoras de andar em pé, e do desenvolvimento da fala: o que agora são meses, naquela época eram centenas de milhares de anos.

As outras consequências, consequências morais:

O Gênesis narra que a morte veio por conta da desobediência. Porém, como a criação, provindo do barro se baseia no mito, essa da morte também, visto que desde a primeira evolução os hominídeos vieram morrendo, e os primeiros homens também. Por milhões e milhões de anos, como os animais. Como a Bíblia não queria nem podia ensinar ciência porque não sabia e nem tinha esse objetivo, então só pretendia ensinar o que sabia. O que sabia? Que o homem e toda a natureza só podia vir de Deus. Como? Formando a imaginativa compartilhada de outros povos e de outros livros dessa criação dos seis dias.

E sobre o pecado? Como viam que havia sofrimento, e eles tudo diziam que o culpado era Deus, então o sofrimento só podia vir de uma desobediência e por isso o homem foi castigado e formaram essa novela ou saga, ou mito, do fruto da árvore onde o homem “desobedeceu” para que fosse culpado e castigado.

Falámos que o homem então é uma faísca das estrelas. Nós somos alguma coisa brilhante, alguma coisa de luz, alguma coisa de Deus. E ser luz é um anseio da humanidade. A saudade de Deus e a saudade da luz andam sempre nos acompanhando.

Um dia um profeta da Bíblia teve uma expressão maravilhosa quando disse: “Naqueles dias dez homens de todas as línguas faladas entre  todas as nações vão segurar pelas bordas do manto um homem de Judá dizendo, nós iremos convosco porque ouvimos dizer que Deus está convosco” (Zac.8,20-23).

Aconteceu assim com Francisco de Assis, aconteceu assim com Maria de Nazaré, aconteceu assim com o Padre Cícero, aconteceu assim com Jesus de Nazaré. Porquê? Porque neles se manifestava de modo brilhante essa faísca divina, faísca das estrelas e de Deus.

Na verdade, o ser humano precisa de ícones que o ultrapassem, que vão à frente e mostrem um caminho de luz. Os caminhos de Jesus de Nazaré são os caminhos da felicidade humana, da solidariedade, fraternidade, igualdade, daquele ideal que todos tenham o pão de cada dia, de ninguém tirar nada de ninguém, mas de doar a sua vida para um mundo mais igual e melhor.

Este foi o Francisco de Assis, a Santa Dulce dos Pobres da Baía, um S.Camilo e São João de Deus, fundadores de Hospitais e Ordens hospitaleiras, um Antônio Conselheiro e  um Padre Cícero, e um Mahtma Gandi e um Luther King. Todos eles nas pegadas de Jesus de Nazaré , porque “ouvimos dizer que Deus está convosco”. Gente que deu a vida para que outros tenham mais vida.

Estas pessoas são patrimônios da humanidade. Não há quem não tire o chapéu a uma figura como Francisco de Assis ou um Luther King, ou um Einstein ou Galileu Galilei. Donde vinha tanta força e iluminação para essas figuras mundiais? Não seria a mesma força e iluminação que explodiu na pessoa de Jesus de Nazaré?

Ainda bem que dessa faísca divina participamos todos nós, seguidores de Jesus, ou imitadores também de um Francisco de Assis, de um Paulo de Tarso ou admiradores de um Luther King, ou de um Einstein? Se nós somos uma faísca de estrelas, nessas pessoas essa faísca virou uma estrela de 1ªgrandeza no céu da humanidade, ou da ciência ou no céu da entrega ao próximo.

Os profetas do Antigo Testamento eram assim também homens luminosos que eram ícones do povo no seguimento de Deus. Profetas eras um tipo de catequistas ambulantes, que, queimados pela faísca de Deus, pegavam fogo em toda a sua volta, e faziam o bem e transformavam as pessoas. O maior bem que faziam era sustentar a fé dos pobres da nação, incentivando-os a viver, porque Deus é maior. Catequistas andarilhos. Era a faísca que os movia. Como os franciscos de assis e os santos e santas de hoje, e os sábios que nos ensinam os segredos da ciência.

Resumindo, na mística atual de um autor célebre: “Deus não vem de fora para o mundo, mas surge de dentro do mundo. Jesus é a aparição do divino na evolução, mas não só ele, também o divino se manifestou nas grandes personagens de fé como o pobre de Assis, Buda e os grandes santos e cientistas. A encarnação também é redenção, mas é em primeiro lugar a exaltação e a divinização da criação”(L.Boff).

P.Casimiro      smbn

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domingo, 4 de outubro de 2020

A teologia particular de cada autor dos livros da Bíblia – os Gêneros literários – a Inerrância bíblica – a Verdade bíblica e a Exegese Hermenêutica.


 “A Bíblia não caiu do céu. É a memória escrita do antigo e novo Israel a caminho no tempo  e na história e é, em primeiro lugar e em toda a sua amplidão da palavra, palavra humana. Na Bíblia há imperfeições, lacunas, limites científicos, filosóficos e também religiosos, datas inadequadas, muitos traços folclóricos e legendários, etc. Como conciliar estes dados com a verdade da palavra de Deus, com a inerrância-verdade da Escritura? Fidelidade ao mistério da Bíblia significa antes de mais nada, tomar consciência de sua humanidade, sob pena de nos tornarmos “monofisitas”. (Valério Mannucci, 91-92).

Para entrar na interpretação da Bíblia são usadas, agora, muitas ferramentas. A que deu origem a várias delas foi a ferramenta dos gêneros literários. O pai dos gêneros literários foi H.Gunkel (1.862-1932), o autor da célebre expressão Sitz in Leben, i.é, situação vital.

Gunkel começou por aplicar essa ferramenta aos salmos e Gênesis, depois vieram Dibelius, Schmid, Bultmann,  que estenderam essas ferramentas aos Evangelhos Sinóticos. Daí em diante teólogos e pesquisadores católicos e protestantes deram-se as mãos. Nos últimos decênios os estudos redacionais puseram em primeiro lugar a intenção particular e a concepção teológica de cada autor ou redator final. Daí veio outro resultado, que foi unir à história redacional a história das formas.

E a primeira pergunta que vem é sobre a Inspiração bíblica. Claro que no mundo da Bíblia existiam as pitonisas  e os adivinhos ou videntes, entre eles a famosa Pitonisa de Delfos, um lugar mais famoso que o João de Deus de Goiás. E eram os donos dos oráculos. Nessa época também apareceu a lenda dos LXX, segundo a qual a Bíblia judaica passou para a língua grega em 70 dias por 70 escribas, como sendo ditada e inspirada diretamente pelo espírito de Deus. O judaísmo também julgava a Toráh como inspirada por Deus e até pré-existente em Deus. (Vannucci,150).

Durante toda a Idade Média reinava o conceito de Inspiração como se toda a Bíblia fosse inspirada e ditada por Deus. A primeira vez que se falou em “Inspiração” foi no Concílio de Florença no séc. XV, (1442). Pelo conceito de inspiração acreditava-se que todas as palavras da Bíblia eram ditadas diretamente por Deus. E que os escritores eram simples instrumentos.

Pio XII no documento sobre o Espirito Santo e a Bíblia (Divino aflante Spiritu), em 1943 já falou que é preciso atenção especial aos gêneros literários. E o Vat.II falou depois que os escritores não são instrumentos, mas verdadeiros autores. E referiu-se à ciência bíblica para tirar proveio das modernas descobertas. (DV.11). Eis as palavras: “A inspiração não tira nem substitui a plena, livre e consciente atividade do autor humano, e por isso não se resolve num ditado da parte de Deus, e nem é equiparável a uma inspiração tipo divinatório. O intérprete volta com a mente para aqueles remotos séculos do Oriente, e com o apoio da história e da arqueologia é guiado a discernir os gêneros literários” (EB.558-559). Os escritores bíblicos são verdadeiros autores; nós os ofenderíamos se não lhes reconhecêssemos com todos os direitos o titulo de “verdadeiros autores” (DV.11).

A este respeito comenta Valério Vannucci: “Todo recurso apressado ao Espírito contra a letra do texto é ao mesmo tempo uma traição à palavra de Deus e às leis do falar humano”(361).

Nos últimos decênios, dizíamos atrás, os estudos redacionais puseram em primeiro lugar a intenção particular e a concepção teológica de cada autor ou redator final. Porquê? Porque os papiros ou pergaminhos originais se perderam. Daí facilmente aconteceram erros de transmissão porque foram feitas cópias de cópias de material muito prejudicado com o tempo. Tertuliano foi o primeiro que usou o nome de Novo Testamento, no ano  200 d.C.

O Conc.Vat.II também se pergunta se há revelação-inspiração nas grande religiões. O Concílio inclinou-se a responder no positivo, como no Corão, Veda do hinduísmo, Tripitaca do budismo e Kojikei-Nihonshoki do Shintoismo japonês. O documento Nostra Aetate, n.2 recomenda respeito para com esses livros. Já no Simpósio de Bagalore, na Índia, promovido pela Cmissão Ncional de Liturgia e Catequese católica se firmavam essas ideias, em 1947. Aliás, a respeito das verdades católicas,  o Vat. II tem a seguinte afirmação: “Existe uma hierarquia nas verdades da doutrina católica, sendo diverso o seu nexo com o fundamento da fé” (DV.11).

Antes do Conc.Vat.II havia a “Inerrância”  segundo a qual não podia haver erros na Bíblia. O Vat.II suprimiu a palavra inerrância e a substituiu  por:  a verdade das Sagradas Escrituras” Inerrância significava que a Bíblia não continha erros. A “verdade bíblica” significa: a verdade que Deus quis comunicar-nos, também chamada de “verdade salfífica” (DV.11).

Aí faz-nos voltar de novo aos gêneros literários que já referimos atrás, entre os quais entre o mito e a saga, no exemplo maior que é o episódio de Jonas. Em Israel e na cultura do tempo ensinava-se narrando. Então é um tipo de novela que divertindo mostra a vontade salvífica de Deus a respeito de todos os povos, como nas novelas modernas: não aconteceu mas conta-se como tendo acontecido.

E leva-nos para a exegese hermenêutica. O primeiro neste trabalho foi Origenes, séc. III, para o qual a exegese era descobrir o sentido literal e o sentido espiritual. Continuou em toda a Idade Média até o Renascimento, com a preocupação de novas ferramentas para a Escritura. O pai da hermenêutica moderna  é Schleiermacher, 1768-1834).

Podemos definir assim a hermenêutica: “A ciência e arte de compreender as expressões da vida fixadas por escrito”. Depois dele vieram outros como: Dibelius, Heideger, Bultmann, Gadamer, Habernas, e veio a hermenêutica psicanalítica com Von Rad, Pannemberg, Moltmann, P.Ricoeur e Ferdinand Han, assim como na hermenêutica social teve os mestres da suspeita, Freud, Nietzsh  e Marx.

Começámos este tema como: Bíblia palavra humana, e vimos o esforço humano e as ferramentas humanas de redação e interpretação, e terminamos com a verdade bíblica da Bíblia onde se enfoca a vontade salvífica de Deus contida na Bíblia. Então será bom o nome: Bíblia palavra humana e palavra de Deus.

Por fim, o Vaticano II foi muito sábio quando deixou o “caminho aberto para tirar proveito das ciências modernas”, e elas ainda não se esgotaram.

P.Casimiro   smbn

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