sábado, 28 de janeiro de 2023

ESPÍRITO DE POBRE E ESPÍRITO DE RICO. (Mt.5,3).

 

“Bem aventurados os pobres em espírito porque deles é o reino dos céus”(Mt.5,3).

Há pobre que é pobre mas tem espírito de rico. E por outro lado pode haver rico com espírito de pobre. O que significa espirito de rico? Quais as manifestações? Em três, pela seguinte ordem: primeiro, ganância; segundo, desejo de acumular, e terceiro, desprezo pelo pobre. E como será o rico com espírito de pobre? Em três dimensões: primeiro, entender o pobre; segundo colaborar para que o pobre fique menos pobre; e terceiro, trabalhar pela justiça social.

Tentemos analisar cada um destes itens, começando pela ganância que caracteriza o ser do rico: A ganância é prima do desejo de ajuntar e acumular sempre mais, sem nunca saciar. E a luta para acumular vai usar de meios lícitos e ilícitos, até mentir, defraudar, e até matar o opositor. Fiar-se no que já tem para conseguir o que não tem, com atividades preventivas e planejadas com advogados e parceiros de crime. E, claro, a consequência é o terceiro item que é o desprezo e o deboche pelo pobre; este espirito dá valor ao ter, e não à pessoa. Quem tem dinheiro vale, quem não tem não vale.

Por outro lado, vem o rico com espírito de pobre quando o rico tem empatia para com o pobre e entende e se dói com o pobre. É um primeiro passo. O segundo passo é fazer ações para que o pobre fique menos pobre e consiga chances de mudar para melhor. O terceiro passo é trabalhar pela justiça social, se colocando ao lado de movimentos, projetos e políticas que promovam mais igualdade entre as classes sociais.

O prêmio apontado no evangelho em referência, é que o espírito de pobre herdará o reino dos céus. O evangelho de João nos dá um palpite sobre o reino dos céus. “Na casa do meu Pai há muitas moradas, e vou preparar um lugar para vocês” (Jo.14,3). Na verdade Deus bem quereria que nesta vida cada um tivesse já a sua morada. Mas como Deus terceirizou o mando deste mundo, acontece que quem tem o mando se apodera do melhor ou de tudo, deixando tanto cidadão sem uma morada. Aí vem a ideia sempre viva no Antigo Testamento da escatologia que Deus irá recolocar tudo no seu lugar com o nome “reino dos céus”. Ali, no final dos tempos, Deus assume o poder, e dará a cada um a sua morada. Acabando com a terceirização e má distribuição.

Na casa do Pai, ou “reino do Pai” haverá moradas. E sabemos que neste mundo não ter morada significa não ter trabalho porque não tem estudo; não tem estudo, não tem dinheiro; não tem dinheiro não tem o que comer; não tem o que comer e onde morar, por isso vai morar na rua; morar na rua é ficar doente; e morrer cedo e não incomodar mais a sociedade.

O jornalista e professor Douglas Gavras põe esta questão: Porque é que nos últimos anos a “direita” se fortaleceu em larga escala? E ele parte da análise de dados como o monopólio do acesso escolar que tem sido sequestrado pelas elites. “Se duas pessoas terminam o Fundamental ou o Médio, as oportunidades de trabalho vão para os da elite, sempre brancos ou amarelos, enquanto que os mesmos diplomados pretos, indígenas e pardos ficam sobrando”. Sendo assim, com o mesmo grau de instrução, 10% por cento no topo ganham mais do que todos os outros. A elite econômica captou 65% dos ganhos no nível Fundamental e Médio, e 30% para o superior”(Douglas Gavras). E continua: “O esgotamento dos ganhos educacionais é uma das principais razões do diminuição de democracia, e, por consequência, da ascensão da “direita”. Os dados sugerem que os brasileiros de menos renda ganham no mercado de trabalho, mesmo que tenham igual ou mais estudo. Por isso as elites fazem tudo para limitar o acesso ao estudo para que as demais faixas da população não tenham acesso.” E, como dizia o ministro da Educação em 2022, Milton Ribeiro, que fez o “Gabinete paralelo” no governo, com seus pastores evangélicos: “Pobre não pode ser doutor”. Além de que entre mulheres e homens, a renda do trabalho, ainda que com os mesmos diplomas, eles recebem de 150% a 50% a mais do que elas. Isto pertence aos direitos de gênero, estabelecido pela CONSTITUIÇÃO brasileira no art.126, mas certos governos odiavam o conceito e o estudo de gênero nas escolas, para ficar longe desses direitos.

Este é o “reino da terceirizado” daqui debaixo que pouco a pouco tem que ser desmontado. Contrariamente à opinião do Antigo Testamento que só aguardavam para o final dos tempos. A Constituição brasileira diz que todos são iguais perante a Lei, no art.V. E no art.126 trata do gênero afirmando os mesmos direitos sociais e políticos para gênero masculino e feminino e outros. Mas num País que tem se negado a estudar nas Escolas o conceito de gênero, como poderia cobrá-lo para o cumprimento da Constituição?

Conclusão. Esta reflexão deve-nos levar à convicção de que as Bem-aventuranças, embora tenham muito do pensamento escatológico judaico, não são receita de “ópio do povo” ou tentativa de anestesia perante os desmandos da sociedade, mas apelam para “uma parceria entre Deus e aqueles que vivem de acordo com os propósitos de Deus” (Warren Carter, evangelho de Mateus, p.183), enquanto aguardam o “império dos céus” e a utopia possível do governo de Deus, que é também a utopia do governo do povo (democracia). A tarefa dos pobres é lutar para frear a ganância dos mais ricos, e para frear os desmandos da sociedade.

P.Casimiro João    smbn          www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br


segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

O que significa “evangelizar os pobres” (Lc.4,18)


 

Nos tempos áureos das Missões muitos meninos da Europa alimentavam o imaginário de ser missionários em lugares longe, de gente pobre e carente não só da fé mas também dos bens da vida. E se formaram nesse sonho, levando a bandeira da sua cultura na sua bagagem e na sua fé. Eles tinham duas motivações, primeiro é que eles eram também pobres porque os seminários “de Missões” eram direcionados a candidatos de recursos modestos e não tinham meios econômicos para estudar em Liceus ou instituições mais caras, vez que naquela época não havia Ensino Público gratuito estatal ou federal. Depois, porque se sentiam mais à vontade com as classes mais baixas, igual eles. Já por exemplo os seminários diocesanos ficavam mais caros, e os futuros párocos se instavam em paróquias confortáveis. Uma pesquisa diz que 85%por cento dos missionários nos séculos passados estavam neste patamar. E se jogavam mais facilmente em riscos e aventuras devido à sua infância de maiores carências e sacrifícios. Mas será que é isso mesmo a explicação evangélica de “evangelizar os pobres”? O Espirito do Senhor está sobre mim porque me ungiu, e enviou-me para proclamar a boa nova aos pobres ”(Lc.4,18)?

Vejamos quais eram as notícias, as más novas que os pobres sempre ouviam: Que pobre não vale nada; tem que “apanhar” para trabalhar; se não pagar suas contas vai virar escravo porque o proprietário vai tirar suas terras. E não adianta reclamar, porque isso é “o destino”, é “vontade de Deus”; porque “Deus fez o pobre e fez o rico” (Sam.2,7). Se precisar de esmola bote o pé na estrada porque a esmola ajuda para mantê-los na sua inferioridade. Pobre vive só para trabalhar pros seus patrões, e comer só o tanto para continuar o seu trabalho. Assim chegou-se à seguinte constatação: “Onde há grandes propriedades tem que haver grandes desigualdades; Para um muito rico tem que haver pelo menos 500 pobres, e a riqueza de poucos se apoia na indigência de muitos.” (Adam Smith, economista britânico).

Estas eram no Antigo Testamento as más “notícias” de cada dia para os pobres. Na vertente oposta, a “boa notícia” para dar aos pobres da parte de Deus era outra, e toda contrária a essa lista das más notícias: 1) pobre tem valor, sim, tem o mesmo valor do rico;  2) E não é destino coisa nenhuma, nem vontade de Deus, é mau governo dos homens 3) tem direito de acesso ao estudo para não depender de esmolas alheias; 4) ser pobre não é “da vontade de Deus” mas dos homens; 5) Isto era o contrário da filosofia de Platão que dizia que só alguns eleitos podiam dedicar-se ao estudo das ideias que moram no Olimpo celeste, enquanto que os outros que trabalham com a matéria não podem ter acesso a ela.

Há aquele dito que diz assim: “Deus terceirizou o governo deste mundo aos humanos. E os que mandam se apoderam de tudo. Mas quando chegar o “reino de Deus” vai haver distribuição. “Na casa do meu Pai há muitas moradas, e eu vou preparar uma morada para cada um” (Jo.14,6).  A luta dos pobres deverá ser para frear muita ganância dos poderosos, e diminuir os estragos. Este é o kit de novidades e “boas notícias” que significa a palavra “evangelizar os pobres”. Além de dar boas notícias tem ainda o significado de “conscientizar”, uma vez que a luz da  consciência dos pobres estava apagada. E só orientada pelas mentiras sociais da sociedade e da religião, quando os informavam que “era a vontade de Deus”, ou “destino”. E quando a pessoa tantas vezes escuta uma mentira, essa mentira passa a ser verdade na cabeça do povo que internaliza essa mentira, no dizer de Joseph Goebbers ministro da cultura da Alemanha nazista; e quando essa mentira é religiosa é mais cruel.

Conclusão. “Eu fui enviado para evangelizar os pobres”(Lc.4,18) não é para mantê-los na ignorância do “em nome de Deus”, ou “do destino” dizendo-lhes que o estado em que se encontram é da “vontade de Deus” ou do destino. Se os evangelizadores forem pregar que isso é da vontade de Deus estariam fazendo da religião o que denunciou Karl Marx “fazendo da religião o ópio do povo”. (Cf.www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 01/01/23). Resumo: "Evangelizar os Pobres" é então dar BOAS NOTÍCIAS AOS POBRES.

P.Casimiro João   smbn.

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segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

O ser humano: caminha e regride para o homem das cavernas, ou caminha para as estrelas?


 

Freud dizia que já nascemos com o instinto de matar. E Darwin estabeleceu o princípio da luta pela sobrevivência. Os homens primitivos só viviam para isso, matar para sobreviver.

Há hoje ainda esse instinto hoje em dia estimulando para matar, o que contribui para o aumento da criminalidade. Imagine-se, por ocasião de uma rixa, cada um saindo por aí matando o inimigo. Os homens que assim fazem regridem ao estado dos homens primitivos, o homem das cavernas como dissemos noutro blog  (www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 04/12/22). O primeiro Código da Humanidade, o Hamurabi já sancionava isso quando prescrevia “Olho por olho, dente por dente, morte por morte.”

Mas eu não posso julgar nem condenar o outro, como ficou escrito nos evangelhos, depois de copiar também o avanço do mesmo Hamurabi “não faça aos outros o que não quer que façam a você mesmo”. Há a justiça institucionalizada, a quem os cidadãos entregam o direito e a tarefa de julgar e condenar. Alguém pode argumentar que ela não é perfeita. Mas vejamos como neste mundo nada é perfeito, mas há um caminho para percorrer e chegar mais adiante. Caso contrário o mundo não existiria, porque não é perfeito, mas, como dizem os cientistas há uma lei interna nas criaturas e no mundo que tende para a perfeição. As moléculas e as células se mobilizam nos organismos vivos, plantas, animais e no ser humano para reparar os erros e curar as feridas. É assim que, graças a Deus também acontece na humanidade. Também dizem os cientistas que a natureza é inteligente. Ela participa no seu grau da Inteligência humana, pois a Inteligência humana é o fruto mais perfeito do KIT cósmico como um todo.

A inteligência humana passou por vários degraus mas avançou para mais à frente. Na verdade, “os biólogos costumam dizer que a ontogenia recapitula a filogenia” (Harvey Cox, A Fé do futuro, pg 29). Isto é, o desenvolvimento de um indivíduo repete a evolução da espécie como um todo, ou por outra, o indivíduo é a miniatura de todo o cosmo, é portanto um microcosmo. Na verdade, a filogenia é paralela com a teoria do hilemorfismo de Tomás de Aquino que por sua vez herdou de Aristóteles. Esta teoria explica o desenvolvimento do embrião nas suas três fases, começando pela fase vegetal, passando para a fase sensitivo-animal, até chegar à fase racional (Cf. mesmo Blog citado).

Veja bem, o mais notável de tudo isso é ser possível remontar o processo seguinte: Os íons no cérebro dependem do alimento, o alimento depende de fótons produzidos no centro do sol, o sol resulta de explosões anteriores quando estrelas explodiram e deram origem ao sol, e o sol deu origem a nós. Essa saraivada fotônica do início dos tempos provê de energia nosso ser e nosso pensamento. Incêndios do início dos tempos fortalecem você e eu agora mesmo. Nós somos fruto do fogo cósmico A bola de fogo primeva existiu durante vinte bilhões de anos sem consciência introspectiva. Por si só, essa estrela não podia se dar conta da própria beleza ou da própria atividade. Mas a estrela pode, por nosso intermédio, refletir sobre se mesma. É por isso que você é a estrela. Você é aquela estrela que possibilita à vida refletir sobre si mesma. (Cf. Michel Morwoord “O católico da amanhã” p.24 e 27). E Carl Sagan dizia “somos faíscas de estrelas”.

Afinal, nós, eu e você, quando éramos embrião, passámos por períodos que são a miniatura de milhões e milhões de anos das mesmas fases pelas quais passou o desenvolvimento e evolução da Terra, onde, primeiro, começou a fase de vida das plantas; depois a fase de vida sensitivo-animal com as primeiras amebas unicelulares até chegar à 3ª fase da consciência e inteligência. Deixando para trás as inteligências de planta, de animal, até evoluir para a Inteligência humana. Tudo isto desde os 15 bilhões de anos do BIG-BANG. De lá para cá a natureza tem desenvolvido o princípio de cooperação para a vida, eliminando os “acasos” menos felizes e desenvolvendo seu sistema de progresso.

E se repararmos na humanidade inteligente, ela vai por esse caminho. Desde o jargão ”olho por olho, dente por dente, morte por morte”, os códigos humanos antes da vinda de Cristo já partiram, como disse, para outro jargão, que como o anterior, também passou para a Bíblia: “Não faça aos outros o que não quer para você mesmo” (Tob.4,13 e Mt.7,12).

Nesse princípio está uma certeza: o caminho do aperfeiçoamento universal vem garantido pela existência e preservação da natureza e do cosmo, como consequência e fruto de um princípio dinâmico inerente às próprias coisas. Na fé, nós chamamos a este principio de providência, mas cientificamente também comprovado na dinâmica inicial e interna dos seres é chamado de evolução. É por isso que a bondade vence a maldade, e a ordem supera sempre a desordem e a violência. Na verdade, a humanidade tem superado guerras, desastres, cataclismos e dilúvios de toda espécie, e doenças e pandemias as mais devastadoras. Os cientistas, hoje, sabem que “a morte não veio ao mundo por intermédio do pecado humano; a morte já era realidade milhões e milhões de anos antes que os seres humanos caminhassem no planeta. E sabemos que não houve uma Queda da Criação, que é uma metáfora. Desenvolvimento, mortes, desastres, e revoluções eram partes essenciais da existência deste planeta milhões e milhões de anos antes que os humanos entrassem em cena” (M.Morwoord o.c.p.33).

Conclusão. Do refletido atrás podemos tirar a conclusão que o ser humano caminha para as estrelas. No jargão antigo se dizia: “Lembra-te ó homem que és pó e ao pó hás de voltar”. Agora porém, graças não só à fé mas também à ciência podemos dizer que o homem não veio do pó, mas da luz das estrelas, e para lá voltará. Portanto, o positivo e inteligente agora é dizer: “Lembra-te ó homem que vieste das estrelas, e estrela serás”.

P.Casimiro João   smbn

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segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

O BIG-BANG DA EXPLOSÃO E DA EVOLUÇÃO FÉ E DA RELIGIÃO EM ISRAEL


 No ano de 586 a.C. quando começou o exílio israelita em Babilônia o politeísmo fazia parte da cultura de Israel. Foi apenas após o exílio que a adoração única e exclusiva de Javé tornou-se estabelecida e possivelmente só mais tarde no tempo dos Macabeus, duzentos anos a.C.

O Deus bíblico do Antigo Testamento provavelmente foi uma fusão de vários Deuses pagãos. A personalidade e os atributos de Javé foram influenciados por outras antigas divindades do Oriente como o Pai celestial El, e o jovem guerreiro Baal e a deusa Asherah.  Elementos comuns à cultura das antigas civilizações do Médio Oriente, principalmente da região onde hoje fica o Estado de Israel, o território palestinense, o Líbano e a Síria contribuíram para as ideias sobre os seres divinos. Há bons indícios de que o Deus do Velho Testamento é uma fusão entre um Deus idoso e paternal El, um jovem Deus guerreiro, Baal e a Deusa do sexo feminino Asherah, porque na realidade os antigos não concebiam um Deus sem família. 

A poucos quilômetros ao Norte de Canaãn, a atual Síria, ficava a cidade-Estado de Ugarit, cuja língua e cultura eram praticamente idênticas às de seus primos israelitas Os estudiosos chegaram à conclusão de que Israel e Ugarit pertenciam à mesma grande matriz cultural. Todos eles tinham a “grande deusa” da luz, a deusa do Sol, ou a “Luz dos deuses”, o grande Sol, que também era seguido pelo antigo Israel. Mais à frente essa luz foi aplicada à Torá, (a Lei), como a luz de Deus, a “luz da Torá” como os Judeus gostavam de dizer. Compare com a afirmação de Jesus “Eu sou a luz do mundo” (Jo.8,12). Tanto nos textos ugaríticos como no antigo Israel o Sol fazia parte do panteão dos deuses, e portanto fazia parte dos deuses e do culto ritual. O antigo número de 70 deuses encontrado nos textos ugaríticos sobreviveu na religião judaica dos 70 anjos, um para cada um dos povos do mundo (Cf. Dt.32,8).

Em geral, a imagem de Javé como deus guerreiro e patrono divino  pressupunha certa tolerância e culto a outras divindades em sua casa divina, mas sendo subordinados a ele. Existiam outros deuses para Israel mas Javé deve ser  o incontrolável deus patrono (Mark Smith “O Memorial de Deus”, 148). Notemos que o primitivo nome de Israel era Isra-yahu, e quando adotou o deus El, dos vizinhos mudou o nome para Isra-El, Israel do novo Deus.

Em Jeremias, cap. 7 e 44 fala-se de uma grande deusa, a rainha dos céus. Esta rainha dos céus ou Asherah fazia o casal junto com Javé. Porém, na habilidade e psicologia israelita esta deusa deu lugar mais tarde à “Sabedoria” descrita em Provérbios, 3,18 como tendo todos os atributos divinos, como uma “emanação de Deus”.

Em outras tradições, os “filhos divinos“ eram filhos de Deus que depois se transformaram em anjos. Faziam parte do panteão dos deuses. Alguns tinham cargos especiais e nomes como Miguel. O mais importante deles quis ocupar o trono de Javé mas acabou jogado para a terra. 

O  evangelho de Lucas faz-se eco desta  tradição lendária quando coloca na boca de Jesus: “Eu vi Satan caindo do céu como um relâmpago” (Lc.12,10), assim como o Livro do Apocalipse no cap. 12,7-9. Também isto da literatura ugarítica é partilhado em Gn.6, 1-2: “quando os homens começaram a ser numerosos sobre a terra, e lhes nasceram filhas, os filhos de Deus viram que as filhas dos homens eram belas e tomaram como mulheres todas as que que lhes agradavam” (Gn.6, 1-2).

Vamos dizer que o monoteísmo só conseguiu implantar-se depois do exílio da Babilônia. Antes disso o povo vinha convivendo com tantos deuses. Porquê? E nos Mandamentos? “não terás outros deuses diante de mim”? (Ex.20,3)? Isso é uma prova de que eles conviviam com esses deuses. Acontecia entre os judeus o que acontecia na Idade Média. Os reis recebiam as Encíclicas dos Papas e diziam: "Publique-se, respeite-se, mas não se cumpra”. Assim também faziam os Judeus sobre os mandamentos:  "Publique-se, respeite-se, mas não se cumpra”.  E sempre os Judeus foram convivendo com outros deuses. Jeroboão, no ano 930 a.C. quando se separou do reino de Judá, fez os templos de Dãn e Betel e lá tinha os seus deuses e os bezerros de ouro (1 Reis 1,12-26). E quando foi vencido pelos reis da Pérsia em 722, os reis do Sul disseram que foi castigo de Javé. Porém, em 580 a.C o reino do Sul, Judá, também foi vencido por Nabucodonosor rei da Babilônia, e foram também para o exílio. E agora, foi castigo de quem?

Bem que Jeremias dizia que também era castigo de Javé, mas o povo continuava negando e dizia que era castigo de Aserah, a rainha dos céus, que era a família de Javé,  por terem esquecido dela. (Mark Smith o.c.148). Daí em diante, no exílio, o povo refletiu e refizeram as suas teologias. Foi nessa época que nasceu o livro do Êxodo e Gêneses. E de toda a sua experiência tiraram a lição de que, para sobreviverem como povo e como religião não podiam mais agarrar-se a outros deuses, mas escolheram Javé como único Deus. Na verdade Jeroboão tinha deuses e foi vencido. Roboão tinha Javé embora adicionando outros, e também foi vencido. E agora? Politicamente não podiam sobreviver imitando outras nações mas fecharam com um só deus Javé. E no caso de se recuperarem ainda como povo se comprometiam a ser no mundo um povo monoteísta. Esta foi a opção deles, e é assim que fizeram o novo Catecismo que foi Gênesis e Êxodo, donde nasceu a Torá. Foi assim que assumiram a sua condição de povo “sofredor”. E assim o povo de Israel deu uma volta de 190 graus de conversão. Em vez de quererem deus ao seu serviço“deus dos exércitos”), o povo dominado pelos outros povos, decidiu ser o povo servidor do Senhor e se colocar ao seu serviço como “servo”. Daí nasceu um dos Cantos mais bonitos da Bíblia, o “SERVO DE JAVÉ” do segundo Isaías, cap.42-54. E de quebra, teriam que levar a sua luz, que era a “Luz da Torá” a todas as nações.

Conclusão: Pela história da religiões sabemos que antes do séc. décimo a.C. o rei Akenatón já tinha promovido o monoteismo. E no séc. VI na Pérsia a religião do Masdeismo também houve o monoteismo, pregado por Zoroastro. E os judeus só acertaram com o monoteismo depois de retornarem do Exílio da Babilônia, "sem rei e sem papa", como se diz,  porque  os reis tinham ficado todos na Babilônia, ou morotos ou presos, porque se voltassem com o rei, continuariam com os deuses do rei porque todos os reis tinham os seus deuses. Portanto, o monoteismo em Israel vingou só depois do séc.II antes de Cristo pelos motivos citados. Por isso que podemos considerar essa realidade como falámos no titulo desta nossa publicação: O BIG-BANG DA EXPLOSÃO E DA EVOLUÇÃO FÉ E DA RELIGIÃO EM ISRAEL


P.Casimiro João       smbn

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segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

O que é Socialismo, O que é capitalismo, O que é Comunismo – A doutrina Social da Igreja.


 


Socialismo olha para a pessoa. Capitalismo olha para o capital. O comunismo no princípio era um ramo do Socialismo. Vejamos a história. E como todos estes três sistemas tiveram uma raizinha na Bíblia, comecemos com um fato histórico..

Certo dia um judeu estava confuso, e duvidava sobre as disposições do primo Jesus. Enviou até ele duas pessoas da sua confiança para questioná-lo: escute, é você mesmo o enviado de Deus, pois eu escuto um monte de notícias sobre você, que se envolve com a pobreza, com os marginais e as pessoas duvidosas? Jesus levou as mãos à cabeça, como dizendo, afinal, nem o João entende a minha vida? Chamou então pra perto de si os que tinham vindo e lhes deu o seguinte recado para João: Não é o cuidado com cegos, aleijados, gente sem casa, sem trabalho e sem saúde com que eu me ocupo? Levem esse recado a João. E digam ainda o seguinte: ele terá sorte e será dos meus se não se decepcionar comigo. Não vão lhe dizer que eu faço muitas orações, muitos jejuns, muitos sacrifícios, muitos cultos e boas doutrinas. (Cf.Mt.11,2-7). E Jesus concluiu com a seguinte afirmação: “Os pobres são evangelizados”. (v.5).

Após vermos as ações que Jesus fazia em favor da sociedade, teremos que enfocar agora estas duas sentenças com que Jesus remata o seu recado: 1º, “Os pobres são evangelizados”, 2º “feliz aquele que não se escandaliza comigo” (Mt.11,5-6). Primeiro, “os pobres são evangelizados”. Isto que tem sido muito manjado significa a espinha dorsal da questão: é dada uma boa notícia aos pobres, os pobres são notificados de uma grande notícia. Qual é? É que os pobres têm o mesmo valor dos ricos e de quem tem muito dinheiro. Porquê isto? Porque as notícias que os pobres recebiam era que eles não valiam nada, nem mereciam andar com a outra gente. Segundo: “Feliz quem não se decepciona comigo”, isto é, aqueles que pensavam que eu, Jesus, só vim para rezar, fazer bons cultos, muitas orações, muitos sacrifícios e jejuns, e grandes pregações vão-se decepcionar comigo. Porém, o reino dos céus está em primeiro lugar na felicidade das pessoas, na saúde, na alimentação de cada dia, em ter trabalho e casa de morar. Ou seja, numa sociedade mais igual e fraterna. Portanto, a boa notícia (que quer dizer “evangelho”) é essa para os pobres que não a tinham: trocar o medo pela paz; a carestia pela abundância, as opressões pelas liberdades, as doenças pela saúde. Uma sociedade melhor. A isto chamamos Socialismo. O Socialismo olha para a pessoa. O contrário chama-se capitalismo. O socialismo olha a pessoa; capitalismo olha o capital. E o comunismo?

O seguinte: O Comunismo era um ramo do socialismo. Porém, na época em que se começava a falar isto na Europa, alguns filósofos notaram que os países que praticavam mais a opressão dos pobres eram os mais ricos e capitalistas, e eram todos cristãos: olhavam só o capital e o dinheiro. Então pensaram assim: esse povo usa a religião para fazer o povo sofrer. Foi aí que Karl Marx cunhou a célebre acusação que foi a ideia mestra do comunismo: “A religião é o ópio do povo”. Como dizendo: se a religião é que anda tão ligada com o capital e com o sofrimento dos pobres, é melhor não ter religião.

Vários críticos sociais criticaram os excessos de pobreza e desigualdade, e pensaram em reformas com a distribuição mais igualitária de riquezas e a transformação da sociedade. Entre eles Charles Fourier, Louis Blanc, o conde de Saint Simon, e Marie Reybaud, na França. Na Inglaterra destacou-se o filósofo Robert Owen. Entre as iniciativas começaram com cooperativas nos campos e conselhos de operários nas cidades. Porém, o fundador do Socialismo é considerado Pierre Leroux com a publicação do Livro “Da Plutocracia” em 1834. Para ele socialismo combinava com compartilhar, socializar, em oposição a “individualismo.”. Daí em diante muito se debateu esse tema em teorias e experiências.

Na Rússia essas ideias chegaram com grande impacto. Críticos e filósofos observavam que a Igreja ortodoxa russa andava muito unida com o império, e era de lá que saíam os principais generais e homens da política. Lá se formou o Partido Operário Social-Democrático Russo que deu origem ao Partido comunista Russo que promoveu a revolução bolchevista de 1917, com Vladimir Lenin. Mais à frente, em 1948, Karl Marx e Friedrich Hengels publicaram o “Manifesto Comunista”. A ideia central era: “Mostrar aos trabalhadores que o que os impedia de ter uma vida digna eram as relações de subordinação impostas pelos seus respectivos empregadores”.

Hoje em dia várias nações adotaram a filosofia socialista, e vários partidos surgiram com sigla que inclui o Social. Porém, nenhum Partido tem mantido na totalidade estes objetivos, só conservam o nome, uns mais outros menos. E a ideia mais espalhada nas Nações moderadas é a Social-Democracia.

Conclusão. Tivemos ocasião de ver como a filosofia do Socialismo tem suas raízes no evangelho. Apesar de que tardiamente, a Igreja tem procurado se redimir de bastantes fracassos. Uma das maneiras tem sido a publicação das Encíclicas Sociais. A primeira grande encíclica que deu muito impacto foi a “Rerum Novarum”, do Papa Leão XIII em 1891. Nela se abordavam justamente os problemas que os mesmos filósofos e críticos do socialismo faziam nos seus escritos: Relacionamento entre patrões e operários, salário justo, limite das jornadas de trabalho, o trabalho insalubre, o trabalho das mulheres, o trabalhos das crianças, e trabalho escravo. Seguiram-se outras, entre as mais importantes estão as seguintes: Quadragesimo anno, de Pio XII, 1931; Mater et Magistra e Pacem in Terris de João XXIII, de 1963; Populorum Progressio de Paulo VI em 1967; Laborem exercens, e Solicitudo Rei Socialis, de João Paulo II em 1981 e 1987, e Centesimus annus de 1991. Com o Papa Francisco as duas Encíclicas também de aspecto social “Laudato Si e Fratelli Tutti de 2020 e 2021.

P.Casimiro João   smbn

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