domingo, 30 de maio de 2021

Um Hino, duaTeologiass , dois Continentes, dois Testamentos.


“Das alturas orvalhem os céus, e das nuvens que chova a justiça, que a terra se abra ao amor e germine o Deus salvador.”

Num dia, antes do Matal escutei este hino e fiz uma reflexão. Pensar que das nuvens chova a justiça e das alturas orvalhem os céus para chover a justiça é tirar toda a responsabilidade dos homens. E ao mesmo tempo pôr toda a responsabilidade em Deus.

Cantando esse hino diante de um tirano que oprime os cidadãos, ficaria tão feliz como se fosse um elogio. E nem sentiria que nada é com ele. Saindo da igreja iria para a fábrica ou para o governo e continuaria fazendo as mesmas barbaridades.

Esse hino prolonga a ideia e a mentalidade do Antigo Testamento que é a escatologia da seguinte maneira: colocar a responsabilidade em Deus, que manda os sofrimentos atuais, mas que no fim promete que irá vingá-los. Na verdade a escatologia tem duas faces que incluem duas cóleras de Deus: a primeira era a cólera de Deus que punia o povo mandando-lhes os inimigos para castigá-lo. A segunda era já a vingança contra esses mesmos inimigos no final da história como a vinganças dos sofrimentos que tinham causado ao mesmo povo. Como? Se tinha sido ele que os tinha mandado?

Uma resultante desta teologia era que o povo não podia fazer nada diante dessa vontade de Deus. E daí fabricavam dois erros: o primeiro, Deus é que tinha mandado esses castigos para o povo; o segundo, Deus quando quisesse iria ele mesmo determinar a hora e o tempo disso acabar. Isto é, tudo dependendo de Deus e nada do homem. É o conceito do fatalismo: é porque tem que ser  e quando Deus quer.

Por isso é que invocavam as nuvens do alto para que de lá viesse o orvalho. Isto era a teoria dos Hebreus, sempre expressa na Bíblia do Antigo Testamento. E do lado helenístico ou grego, esta teoria também tinha um nome, eram os gnósticos, segundo os quais o demiurgo era aquele segundo deus que estava entre os homens e o deus supremo, e tinha que descer das nuvens e vir socorrer os homens. Sempre reforçando a ideia do fatalismo.

Assim sendo, fabricou-se o pensamento alienado e alienante : “deixa o mal do jeito que está. Não se pode adiantar nada ao tempo de Deus. Não leva a mexer uma palha em favor da justiça. Dizem os alienados: “Deus assim o quer” São mortes? “Deus assim o quer”. A nação perdeu uma guerra? “Deus assim o quer”. E esta mentalidade passou e chegou, e ainda está presente em muitos viventes do século 21. Não podendo fazer nada, o máximo é que Deus possa apressar o final dos tempos: se ele quiser, se não quiser é porque ainda está querendo o tal sofrimento.

Nos inicios do Novo Testamento houve uns vislumbres de que os últimos dias estariam chegando. Eram os que reforçavam o messianismo de Jesus. Porque o imaginário do Messianismo era que com ele iria chegar a vingança final de Deus e o fim dos tempos. Haveria o castigo visível e claro para os maus, e todos os justos veriam o castigo dos maus e a ressureição dos justos.

Assim se fala na Carta de Pedro: “O dia do Senhor virá como um ladrão e então os céus acabarão com barulho espantoso; os elementos devorados pelas chamas se dissolverão, e a terra será consumida com tudo o que nela se fez” (2 Pd. 3,10).

E na Carta aos Tessalonicenses: “A vinda do Senhor será como um ladrão, de noite. Quando for dado o sinal, à voz do arcanjo e ao som da trombeta de Deus, o mesmo Senhor descerá do céu, e os que morreram em Cristo ressurgirão primeiro, depois nós os vivos seremos arrebatados juntamente com eles ao encontro do Senhor nos ares” (1 Tes.6,2). E nos evangelhos em vários lugares. Um lugar característico é o seguinte: “A terra tremeu, fenderam-se as rochas, os sepulcros se abriram, e os corpos de muitos justos ressuscitaram” (Mt.27, 51-52). Só o evangelho de Mateus escreveu isso aqui porque falava para judeus.

Foi daí que nasceu em 1920 o Fundamentalismo bíblico nos Estados Unidos. Os fundamentalistas aguardavam no tempo deles essa vinda final do Messias, e com ele o final dos tempos. E como estava nessa época florescendo a teologia da libertação, eles combateram-na com toda a política dos USA, aliada a todo protestantismo e ao presidente americano da época. Porquê? Era proibido lutar em favor do pobre, porque Jesus estava para chegar. Eles tinham que morrer assim mesmo.

O segundo motivo era que eles, como os antigos, olhavam para as nuvens, não para o chão e nem para o sofredor. Eles se castravam olhando só para as nuvens e por não entender o evangelho quando diz: “quando o boi  ou o jumento caiem no poço, vocês não o tiram? No entanto deixam o ser humano caído no fundo do poço” (Lc,14,5).

Essa luta era contra também a teologia da libertação que olhava para o ser humano caído no fundo do poço. Um teólogo disse: “Uns defendem os Pobres, outros se defendem dos Pobres”. E na verdade a defesa do pobre é o lema de toda a Teologia da Libertação. Porque uma teologia que tem por princípio “se defender dos Pobres” é muito de acordo  com os governos atuais.

Os setores da Igreja que dizem que a Teologia da Libertação usa métodos marxistas de análise da sociedade estão querendo “botar água no feijão da Santa Ceia”: “eu digo uma coisa mas eles entendem outra” diz Maria Elisabeth; eu falo de evangelho e eles entendem que falo de métodos. Na verdade os métodos não têm religião. O contrário é querer tapar o sol com a peneira ou querer botar água no feijão da Santa Ceia.

Esses fazem como aquela madame que dizia assim no Rio de Janeiro: “eu sou muito amiga dos pobres, a última vez que foi quando vi um pobrezinho perto de um bueiro e ajudei ele a cair no buraco”.

P.Casimiro     smbn

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domingo, 23 de maio de 2021

TRINDADE: O Imaginário Coletivo e os Arquétipos do Ambiente em que se formou a Doutrina da Trindade no séc.III e IV do Cristianismo


 Os primeiros escritores dos primeiros tempos do cristianismo já eram herdeiros e navegavam num universo e um imaginário de tríades de deuses, que criava um inconsciente coletivo de paternidade, e filiação entre os deuses, e que incluía a gênese da nossa doutrina atual da Trindade. Comecemos por etapas:

1ª etapa:  Os gnósticos gregos faziam a distinção entre “o Cognoscível” e o “Incognoscível.” O Incognoscível era o Intelecto Supremo, a quem chamavam de Pai. Ele tinha o seu Monógenes ou Unigênito, pelo qual o incognoscível se daria a conhecer aos mortais. Algumas seitas tinham a Mistagogia, que era a arte da iniciação do incognoscível.

Tertuliano participava desta filosofia e dizia que “o filho (o unigênito) revela o Pai ao qual ninguém conhece”. E Valentim: “o Pai desconhecido se dá a conhecer às mentes por meio do Monógenes. (unigênito). Porém, para os Coptas, “Ninguém pode conhecê-lo contra a sua vontade”.

Não é difícil ver aqui o lastro que iria levar ao desenvolvimento cristão da Trindade, e as semelhanças em causa. Exemplo, “Unigênito” (Monógenis), palavra das antigas religiões que ainda não eram cristãs, e que a religião cristã tomou delas. De resto veja outro paralelo no evangelho: “Ninguém conhece o filho (o unigênito) senão o Pai, e ninguém conhece o Pai senão o filho e aquele a quem o filho quiser revelar” (Mt.11,27).

2.ª etapa: Na religião da Babilônia havia a tríade:  SolLuaTempestade; "AnuBelEa". No Egito outra tríade: "KaKamutEf". Essas tríades passaram para o mundo grego. A filosofia alexandrina de Pitágoras se apoiava em Números, os números simbólicos de Pitágoras: o Uno, elemento central que une as qualidades opostas, o que resulta infalivelmente em Três. Os Judeus, em contato com os Alexandrinos, adotaram o Logos e a Sofia ao lado de Iahweh, considerados como personificação da divindade judaica. Mais tarde, a teologia cristã vai ver nessa versão uma pré-configuração da Trindade.

3ª etapa: Os estudiosos chamam a estas realidades ideias pré-cristãs da Trindade e que são adequadas para uma plataforma de um diálogo do cristianismo com as outras religiões não cristãs. “Muitas vezes nós pensamos que somos totalmente originais, que o cristianismo é uma religião independente das demais. No entanto, os antropólogos, junto com Gustav Jung revelaram uma interdependência enorme. E nos leva a acolher o mistério divino que se revela em cada religiosidade.” (Oliveira, Morais, “O Amante, o Amado e o Amor, Paulus, 36).

Como podemos ver, estes foram caminhos para chegar à formulação da doutrina da Trindade. Vários esforços começaram a se esboçar. Um deles foi o Modalismo, de Noeto, em Roma, no séc.III, segundo o qual Deus é Uno, mas na sua comunicação se mostrou de três modos diferentes. Agostinho esclareceu que não são três modos mas uma essência em três pessoas. Outra formulação foi do Subordinacionismo, de Paulo de Samosata, de Alexandria no séc. IV, que admitia a inferioridade ou subordinação do filho ao Pai. E outra era o triteiísmo, de Fiore, já no séc. XII, na Itália, segundo o qual seriam três deuses na Trindade. Estas especulações foram formuladas com as categorias filosóficas, sobretudo a filosofia grega.

A doutrina católica que se expandiu teve a primeira configuração no concílio de Niceia (325) e também recebendo influências dos conceitos filosóficos helenísticos e platônicos. E assente também em moldes antropomofórmicos, com os conceitos de natureza e pessoa.

Em 1054 deu-se o cisma do Oriente entre a Igreja de Roma e Constantinopla, e entraram motivos políticos para essa separação, não menos que religiosos, aliás tudo só por causa de uma única palavra no respeitante à procedência do Espirito Santo do Pai e do Filho.

Em 381 aconteceu o concílio de Constatinopla convocado pelo imperador Teodósio para esclarecer dúvidas sobre a formulação trinitária. E tanto num concílio quanto no outro os historiadores vislumbram motivos políticos, sob a alçada dos imperadores forçando os participantes para costurar a união do império às custas da união doutrinal.

Assim a fé na Trindade tem sido o motor da ortodoxia católica. No entanto, “a fé humana nunca é definitiva, nunca é ponto de chegada, mas antes uma interminável peregrinação” (Abrahan Joshua Heshel em “Jesus segundo o Judaísmo, 35).

E como dizem os teólogos da Teologia africana: “Os Credos e as Doutrinas da Igreja, formulados pelos primeiros Pais, estão envolvidos na mitologia e na visão da época em que foram formulados” (Setiloane, em “África, o evangelho nos pertence", Loyola, 53).

E conclui o teólogo Vicente, José Armando: “Assim sendo, algumas afirmações dos Credos e da doutrina cristã ocidental não tem sentido na África banto. A luta, portanto, não é contra a Fé ou o Kerygma, mas contra os acréscimos ocidentais transformados em dogma.” (A Salvação nas Religiões Tradicionais Africanas, RTA, Loyola, 2021, pg. 69).

Não somos originais, somos peregrinos da verdade, iguais aos que de um modo ou de outro procuram e procuramos “Deus às apalpadelas” (1 Cor.17,27). Somos ao mesmo judeus, gregos, latinos e gnósticos.

P.Casimiro João    smbn

 

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domingo, 16 de maio de 2021

AS CRIANÇAS SEM BATISMO SE SALVAM?

Em continuação do BLOG anterior, vamos dar seguimento à segunda parte, os motivos que levam hoje a afirmar que as Crianças que morrem sem batismo não se podem condenar, estão salvas, até porque alguém pediu esta matéria. Antes de tudo vamos dar uma olhada às razões que levavam à obrigação do baismo.

1. Razões antropológico-bíblicas primitivas:

1). As razões da Igreja da Idade Média para a não salvação das Crianças sem o batismo baseavam-se na primitiva antropologia da fabricação do homem com o barro (teoria Criacionista). Agora atende-se à teoria evolucionista, na qual o Adão e a Eva são os nossos Ancestrais desde 500 mil anos atrás, em evolução progressiva até chegar, por uma Sinapse do Córtex cervical à formação da Consciência .

2). Devido a isto, acrescenta-se a teoria do polimorfismo genético pela qual em muitos Casais primevos aconteceu esta evolução (teoria do Poliformismo).

3). Não há como dizer que o homem na sua evolução até ao Homo sapiens e Neandertal não tivesse morrido, antes numa consciência em evolução, e depois já em plena consciência.

4). Não há portanto como como dizer que antes o homem era imortal e que só teria morrido por causa do pecado.

5). Por fim, o ser humano foi evoluindo tanto na sua Consciência como na sua evolução física e biológica, e da formação do seu Genoma genético.

6). Atribuindo à história bíblica o gênero mitico e lendário primitivo, do jeito primitivo de forjar uma explicação para o inexplicável sem a Ciência de hoje, temos que a Criança nasce sem pecado, como é afirmado na teoria evolucionista, hoje aceita oficialmente pela Igreja.

2. Razões filosóficas e antropológicas

Vamos ao ponto fulcral de Agostinho. Ele dizia que o pecado original vinha da relação sexual, que é matéria. E porque a matéria era má, todo o sexo era mau. Agostinho seguiu a filosofia dos Maniqueus, fundada por Mani (250 d.C.) que tinham a matéria como má aproveitando-se das ideias de Platão (450 a.C.). Segundo eles, o demiurgo era o intermediário de Deus na criação, responsável pelo mal que não podia ser atribuído ao Criador Supremo, que não tinha nenhum envolvimento com o mundo e com a matéria. Seriam então dois deuses, o demiurgo e o deus supremo.

Como a criança nasce da matéria pela relação sexual, ela vinha condenada pelo pecado de origem dos pais. E foi nessa linguagem que o fruto da relação começou a ser chamado de pecado original. Chama-se Filosofia Maniqueista dualista e gnóstica da condenação da matéria.

Como vimos atrás, a esta filosofia dualista maniqueísta juntava-se a primitiva antropologia da criação pelo barro, dum único casal humano na descrição do mito da Criação. Tiradas estas bases, pode se ver a nuvem em que Santo Agostinho trabalhava. Como dito antes, não sendo consistente essa teologia, os pensadores da Idade Média quiseram resolver o problema com a estória do Limbo, que também não deu certo. Este pessimismo maniqueu vai na contramão da apreciação positiva do Gênesis: "E Deus viu que tudo era bom" (Gn.1,19).

3. Razões históricas.

1ª etapa – A tese bíblica do Antigo Testamento era a certeza que Israel estava destinado a ser o dono do mundo. E todo mundo seria circuncidado para ser do reino. Os apóstolos tinham isso na cabeça e o mostraram no episódio da Ascensão: “Senhor, é agora que vais restaurar o reino de Israel”? (At. 1,6).

2ªetapa: Isso não foi possível, e chegou novo dono do mundo, o império romano, que dominou a Palestina e todo mundo ocidental. Até o séc. VI-VII. Mas também o império romano foi embora com os seus sonhos imperiais de seis anos. No séc.VI o império romano se dividiu.

Mas ainda a Igreja e  o império trabalharam unidos uns séculos. E foi aí que, como no Judaísmo todo mundo tinha que se circuncidar, na religião do império todo mundo tinha tinha que se batizar. Foi por esse tempo que estavam sendo feitas as últimas edições dos evangelhos sinóticos. E apareceram vários acrescentos, entre os mais importantes o acrescento feito ao evangelho de Marcos na última metade do último capítulo: ”Quem crer e for batizado será salvo; quem não crer será condenado” (Mc. 16,16).

3ª etapa: - Com o fim do império romano dividido, chegou a Igreja católica. A Igreja herdou as vestimentas, os poderes e os brazões da nobreza. O império romano se foi embora mas esses costumes ficaram na Igreja. Os bispos eram os príncipes, o Papa era o Rei dos reis.

4ª  etapa: Como no Judaísmo todo mundo teria que se circuncidar, na Igreja todo mundo teria que se batizar, senão ia se condenar como falámos na 2ª etapa.

5ª etapa; Nos povos das Colônias, no séc. XV em diante todos os colonizados eram obrigados a se batizar, escravos e crianças para irem pro o céu, e para ter os direitos de cidadão.

Esta é uma breve resenha antropológico-filosófica, pré-cristã e histórica das andanças em que têm andado os caminhos teológicos do Batismo.

Com a abertura da Igreja à teologia do pluralismo teológico e ao pluralismo das religiões, e com as novas teorias antropomórficas, foi possível olhar e compreender as razões históricas, e afirmar corajosamente a salvação. Passando do antigo aporema: “Fora da Igreja não há salvação(Cipriano, 258), para o novo aporema: “Fora da Igreja muita salvação” como vem desde o Concílio Vaticano II.

Na verdade, muitas hipóteses se têm levantado, como aquela do “batismo de desejo”, outras vezes se tem falado na “igreja visível e na igreja invisível”, daqueles que não pertencem visivelmente à Igreja de Cristo. Tem se falado dos “com culpa ou sem culpa”. Mas a  Lumen Gentium (Vaticano II) afirmou “Quem se salva, salva-se por Cristo e em sua Igreja: pertença a ela visível ou invisívelmente”  (LG.16). Daqui a conclusão: As crianças se salvam porque são sem culpa.

E o Catecismo da Igreja Católica: “Aqueles que não receberam o Evangelho estão relacionados com o Povo de Deus de várias maneiras” (CIC), 838-839.

 

P.Casimiro João     smbn

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domingo, 9 de maio de 2021

BATISMO: Antes de Santo Agostinho não havia a teoria do pecado original, e as crianças que morriam sem o batismo iam pro Céu; Santo Agostinho botou elas pra fora do Céu. E agora?

Agora a Igreja  bota de novo as crianças sem batismo no Céu. É por isso que não obriga a ser batizados pouco depois de nascer como antes. “Uai”, podia dizer o mineiro, então os protestantes têm razão?  Têm e não têm.  Porquê? Porque se um adulto morrer sem ser batizado também vai pro céu.

Então para quê Jesus mandou batizar? Primeiro, era para aceitar a ele publicamente e aceitar fazer parte da Igreja que estava começando, com os compromissos consequentes, como ser irmãos na partilha e fazer uma sociedade igual. “Os cristãos tinham tudo em comum, dividiam seus bens com alegria: Deus espera que os dons de cada um se repartam com amor no dia a dia” (Cf. Atos, 2,42).

Segundo, o batismo não é para a outra vida mas para esta vida, é um compromisso escrito de fazer o bem aceitando Jesus e a sua Igreja. E fazer o bem não se faz na outra vida é nesta, e a Igreja é só para esta vida.

Por isso o  chinês, o japonês, e o asiático e outros que seguem sua consciência de fazer o bem e não prejudicam ninguém também o céu é deles. “Virão muitos do oriente e do ocidente  se assentar à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus” (Mt.8,4). “Ide às encruzilhadas dos caminhos e chamai para a festa  todos quantos encontrardes” (Mt. 22, 1-14).

Dá para voltarmos ao início do nosso tema para vermos o histórico da nossa questão. Santo Agostinho viveu no séc.V da nossa era, e converteu-se e foi batizado aos 40 anos de idade. Antes ele seguia uma filosofia chamada maniqueísmo. Essa filosofia dizia que tudo era matéria, não tinha espírito. O impulso sexual produzia a miséria das pessoas porque era coisa da matéria. Então a criança nascia do impulso sexual, estava condenada se não fosse batizada.

A Igreja foi aceitando essa teoria, e mesmo já na época, Agostinho encontrou-se com o filósofo cristão Pelágio, e viu que não concordava com ele. Os teólogos da Idade Média respondiam com aquela história de “Trancoso”, do Limbo, para onde botavam as crianças  que morriam sem o batismo, uma vez que não iam nem pro céu, nem pro inferno e nem para o purgatório.  Nos anos de agora isso passou, virou lenda.

Por  isso de novo a pergunta: Antes de Agostinho não havia o pecado original; as crianças que morriam sem o batismo iam para o céu; Santo Agostinho botou elas para fora do céu. E agora? Agora a Igreja bota elas de novo para o céu.

Cf. BLOG www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

De 20/05/2018

P.Casimiro João      smbn 

segunda-feira, 3 de maio de 2021

A teologia de Isaias versus a Aliança do Sinai: A teologia de Isaías se firmava na promessa a Davi sem as tribos; A teologia da Aliança se firmava nas promessas a Abraão, com as tribos.

A teologia de Isaías afirmava que, independentemente da observância dos mandamentos, o futuro de Judá estava garantido com base na pessoa de Davi; achando segurança no Templo, trono de Iahweh, e no culto, através do qual sua cólera era acalmada e seu favor reconquistado.  A teologia tradicional prescindia das promessas a Davi e se apoiava no cumprimento da Aliança do Sinai. Em resumo: A teologia de Isaías se firmava na promessa a Davi sem as tribos; A teologia da Aliança se firmava nas promessas a Abraão, com as tribos

Em certa ocasião as camadas da população de Israel ficavam todas paganizadas e miscigenadas por deportações e invasões sucessivas de habitantes de todos os lados de povos que iam e vinham nas guerras, nas derrotas e nas conquistas e nas deportações. Pouco ou nada sobrava da religião tradicional. Era a época de Isaías, antes de 722 a.C. 

Em 722 deu-se a queda da Samaria, com Sargão II, e, por sua vez, Judá virou vassalo do império assírio. Como Acaz se sujeitou a todos os caprichos e cultos pagãos, misturando o culto de Iahweh com os deuses dos assírios, quando ele morreu deixou a batata quente com o seu filho Ezequias. Este por sua vez também se tornou vassalo de Senaquerib, que saqueou o templo e todos os tesouros.

Aqui entra a figura de Isaías e a sua teologia. Com ele se desenvolveram duas teologias paralelas. Uma era a teologia tradicional que defendia a antiga Aliança do Sinai e de Siquém, segundo a qual as tribos deviam ter preferência na composição de Israel, e os mandatos deviam ser exercidos pelo carisma e unção divina do candidato. E a segunda teologia, de Isaías, baseada na tomada de poder por Davi, que tendo conquistado Jerusalém sem o concurso das tribos, fez de Jerusalém o novo centro de Israel. E por isso mesmo teria “usurpado” o poder de Iahweh sobre Israel, construindo o templo, firmando Jerusalém como referência e assumindo o  “recenseamento”.  Digamos, Davi tirou Deus do comando para se colocar no lugar dele. A lei da Aliança do Sinai ficava ofuscada pela instituição da aliança com Davi, a “aliança davídica”, que ele se arrogou, apoiada pelo profeta Isaias

Em consequência, Isaías, que defendia esta teologia davídica, era contra a Assiria, e contra o rei Acaz, que a ela se sujeitava, e a favor de Ezequias, que se aliou ao Egito a fim de proteger Jerusalém de ser tomada pelos assírios. Quando Sargão II fez guerra contra o Egito, a peste bubônica impediu de continuar, e assim o Egito e Jerusalém não foram conquistados. Por este fato propalou-se o dogma que Jerusalém nunca seria tomada, e se tornou um dogma nacional fixo. (Is.14,24 ss). Isaías afirmava que Davi, como “filho ungido de Iaweh” seria protegido de seus inimigos, e que a dinastia teria um domínio sobre todos os reis da terra.(Sal.72,8).

Esta teologia agradava á população, porque, quer observassem ou não a lei do Sinai (primeira aliança), como dissemos, o futuro estaria garantido com base na pessoa de Davi. Achando segurança no Templo, trono de Iahweh, e no culto através do qual sua cólera era acalmada, e seu favor reconquistado. Isaias defendia esta teologia porque mesmo que as nações estrangeiras tivessem suas vitórias isto era só motivo de servirem para a purificação da nação, de onde iria sair mais brilhante do que a roupa na mão da lavadeira. Por isso ele um dia chamou a Assíria “o açoite de Judá”, quando caiu na derrota com Nabocodonosor dos assírios (685 a.C).

Antes da queda de Jerusalém, as intrigas com Acaz foram grandes, para que não se entregasse a Taglatfalasar da Assiria, e Isaías apelou para o sinal do Emanuel: o nascimento de uma criança na casa real, que significaria que as promessas de Iahweh a Davi estavam firmes. Diante da recusa de Acaz, uma segunda criança na mesma casa real levou o nome de "despojo rápido” como sinal de que a aliança com a Assiria seria trágica. Fica aqui a distinção: teologia da Aliança do Sinai versus teologia da aliança com Davi. Como dito acima, A teologia de Isaías se apoiava na promessa a Davi sem as tribos; A teologia da Aliança se apoiava nas promessas a Abraão, com as tribos

Depois de Isaías, Miqueias seguiu nos seus passos. Miqueias acentuou: se Jerusalém for derrotada, mas Judá será preservada por milagre, e será governada por um príncipe da Casa de Davi, de Belém, um lugarejo perto de onde Miqueias tinha nascido, ao sul de Judá.(Miq.5,2). A “inviolabilidade” de Sião (ou Judá) tornou-se assim um dogma fixo que seria perigoso contradizer.

Com o rei Ezequias, Judá recuperou mais liberdade, e conseguiu fazer algumas reformas. Porém, sucedido por seu filho Manassés, este de novo se entregou aos Assirios. Quem botou Judá na volta à Aliança foi Josias, que tomou a peito a reforma, aproveitando um intervalo de uns 20 anos em que a Assiria ficou de braços cruzados. Esta reforma de Josias  foi tanto ou  mais por  motivo político do que religioso, e como tal era uma questão de honra nacional livrar-se também dos deuses da Assiria.

Esta independência relativa não durou mais do que uns 20 anos, porque Nabopolassar, e seu filho Nabocodonosor vieram agora com toda a força vingar as vezes que Ezequias e Manassés não tinham cumprido suas promessas de vassalos, e também a aliança que Judá tinha feito com o Egito anteriormente. E Judá caiu em 586 nas mãos do assírios, contrariando as profecias de Isaías.

No sufoco final que caiu sobre Judá, o Templo foi destruído e Judá deportado para a Babilônia, caindo por terra as previsões de Isaias. Foi inevitável que se pusesse em dúvida a “capacidade” de Iahweh para controlar os acontecimentos. Assim, o povo voltava-se de novo para os outros deuses. Neste momento surgiram os profetas Jeremias e Ezequiel defendendo a teologia do Sinai, da Liga das tribos, sem templo e sem culto, opondo-se à teoria de Isaias que punha a segurança no Templo e no culto da “aliança com Davi”. Até porque, nas delações destes profetas, no tempo em que eram livres, o culto era vazio e feito só de maquiagem, e mecânico.

Relembremos o problema da dicotomia do nosso título: A teologia de Isaias versus a Aliança do Sinai:  A teologia de Isaías se firmava na promessa a Davi sem as tribos; A teologia da Aliança se firmava nas promessas a Abraão, com as tribos.

 P.Casimiro   smbn

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