A
teologia de Isaías afirmava que, independentemente da
observância dos mandamentos, o futuro de Judá estava garantido com base na
pessoa de Davi; achando segurança no Templo, trono de Iahweh, e no culto,
através do qual sua cólera era acalmada e seu favor reconquistado. A teologia tradicional prescindia das
promessas a Davi e se apoiava no cumprimento da Aliança do Sinai. Em resumo:
A teologia de Isaías se firmava na promessa a Davi sem as tribos;
A teologia da Aliança se firmava nas promessas a Abraão, com as
tribos
Em certa ocasião as camadas da
população de Israel ficavam todas paganizadas e miscigenadas por deportações e
invasões sucessivas de habitantes de todos os lados de povos que iam e vinham
nas guerras, nas derrotas e nas conquistas e nas deportações. Pouco ou nada
sobrava da religião tradicional. Era a época de Isaías, antes de 722 a.C.
Em 722 deu-se a queda da Samaria, com
Sargão II, e, por sua vez, Judá virou vassalo do império assírio. Como Acaz se
sujeitou a todos os caprichos e cultos pagãos, misturando o culto de Iahweh com
os deuses dos assírios, quando ele morreu deixou a batata quente com o seu
filho Ezequias. Este por sua vez também se tornou vassalo de Senaquerib, que
saqueou o templo e todos os tesouros.
Aqui entra a figura de Isaías e
a sua teologia. Com ele se desenvolveram duas teologias paralelas. Uma era a teologia
tradicional que defendia a antiga Aliança do Sinai e de Siquém, segundo a
qual as tribos deviam ter preferência na composição de Israel, e os mandatos deviam
ser exercidos pelo carisma e unção divina do candidato. E a segunda teologia, de
Isaías, baseada na tomada de poder por Davi, que tendo conquistado
Jerusalém sem o concurso das tribos, fez de Jerusalém o novo centro de Israel.
E por isso mesmo teria “usurpado” o poder de Iahweh sobre Israel, construindo o
templo, firmando Jerusalém como referência e assumindo o “recenseamento”. Digamos, Davi tirou Deus do comando para se
colocar no lugar dele. A lei da Aliança do Sinai ficava ofuscada pela
instituição da aliança com Davi, a “aliança davídica”, que ele se arrogou,
apoiada pelo profeta Isaias
Em consequência, Isaías, que defendia
esta teologia davídica, era contra a Assiria, e contra o rei Acaz,
que a ela se sujeitava, e a favor de Ezequias, que se aliou ao Egito a fim de
proteger Jerusalém de ser tomada pelos assírios. Quando Sargão II fez guerra
contra o Egito, a peste bubônica impediu de continuar, e assim o Egito e
Jerusalém não foram conquistados. Por este fato propalou-se o dogma que
Jerusalém nunca seria tomada, e se tornou um dogma nacional fixo.
(Is.14,24 ss). Isaías afirmava que Davi, como “filho ungido de Iaweh”
seria protegido de seus inimigos, e que a dinastia teria um domínio sobre todos
os reis da terra.(Sal.72,8).
Esta teologia agradava á população, porque, quer observassem
ou não a lei do Sinai (primeira aliança), como dissemos, o futuro estaria
garantido com base na pessoa de Davi. Achando segurança no Templo, trono
de Iahweh, e no culto através do qual sua cólera era acalmada, e seu
favor reconquistado. Isaias defendia esta teologia porque
mesmo que as nações estrangeiras tivessem suas vitórias isto era só motivo
de servirem para a purificação da nação, de onde iria sair mais brilhante
do que a roupa na mão da lavadeira. Por isso ele um dia chamou a Assíria “o
açoite de Judá”, quando caiu na derrota com Nabocodonosor dos assírios (685 a.C).
Antes da queda de Jerusalém, as
intrigas com Acaz foram grandes, para que não se entregasse a Taglatfalasar
da Assiria, e Isaías apelou para o sinal do Emanuel: o nascimento de uma
criança na casa real, que significaria que as promessas de Iahweh a Davi
estavam firmes. Diante da recusa de Acaz, uma segunda criança na mesma
casa real levou o nome de "despojo rápido” como sinal de que a aliança com
a Assiria seria trágica. Fica aqui a distinção: teologia da Aliança do Sinai
versus teologia da aliança com Davi. Como dito acima, A teologia de Isaías
se apoiava na promessa a Davi sem as tribos; A teologia da Aliança
se apoiava nas promessas a Abraão, com as tribos
Depois de Isaías, Miqueias
seguiu nos seus passos. Miqueias acentuou: se Jerusalém for derrotada, mas Judá
será preservada por milagre, e será governada por um príncipe da Casa de Davi,
de Belém, um lugarejo perto de onde Miqueias tinha nascido, ao sul de Judá.(Miq.5,2).
A “inviolabilidade” de Sião (ou Judá) tornou-se assim um dogma fixo que seria
perigoso contradizer.
Com o rei Ezequias, Judá recuperou mais
liberdade, e conseguiu fazer algumas reformas. Porém, sucedido por seu filho Manassés,
este de novo se entregou aos Assirios. Quem botou Judá na volta à Aliança foi Josias,
que tomou a peito a reforma, aproveitando um intervalo de uns 20 anos em que a
Assiria ficou de braços cruzados. Esta reforma de Josias foi tanto ou
mais por motivo político do que
religioso, e como tal era uma questão de honra nacional livrar-se também dos
deuses da Assiria.
Esta independência relativa não durou
mais do que uns 20 anos, porque Nabopolassar, e seu filho Nabocodonosor
vieram agora com toda a força vingar as vezes que Ezequias e Manassés não
tinham cumprido suas promessas de vassalos, e também a aliança que Judá tinha
feito com o Egito anteriormente. E Judá caiu em 586 nas mãos do assírios,
contrariando as profecias de Isaías.
No sufoco final que caiu sobre Judá, o
Templo foi destruído e Judá deportado para a Babilônia, caindo por terra as
previsões de Isaias. Foi inevitável que se pusesse em dúvida a “capacidade” de
Iahweh para controlar os acontecimentos. Assim, o povo voltava-se de novo para
os outros deuses. Neste momento surgiram os profetas Jeremias e Ezequiel
defendendo a teologia do Sinai, da Liga das tribos, sem templo e sem
culto, opondo-se à teoria de Isaias que punha a segurança no Templo e no
culto da “aliança com Davi”. Até porque, nas delações destes profetas, no tempo
em que eram livres, o culto era vazio e feito só de maquiagem, e mecânico.
Relembremos o problema da dicotomia do
nosso título: A teologia de Isaias versus a Aliança do Sinai: A teologia de Isaías se firmava na promessa
a Davi sem as tribos; A teologia da Aliança se firmava nas
promessas a Abraão, com as tribos.
P.Casimiro smbn
BLOG www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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