domingo, 30 de maio de 2021

Um Hino, duaTeologiass , dois Continentes, dois Testamentos.


“Das alturas orvalhem os céus, e das nuvens que chova a justiça, que a terra se abra ao amor e germine o Deus salvador.”

Num dia, antes do Matal escutei este hino e fiz uma reflexão. Pensar que das nuvens chova a justiça e das alturas orvalhem os céus para chover a justiça é tirar toda a responsabilidade dos homens. E ao mesmo tempo pôr toda a responsabilidade em Deus.

Cantando esse hino diante de um tirano que oprime os cidadãos, ficaria tão feliz como se fosse um elogio. E nem sentiria que nada é com ele. Saindo da igreja iria para a fábrica ou para o governo e continuaria fazendo as mesmas barbaridades.

Esse hino prolonga a ideia e a mentalidade do Antigo Testamento que é a escatologia da seguinte maneira: colocar a responsabilidade em Deus, que manda os sofrimentos atuais, mas que no fim promete que irá vingá-los. Na verdade a escatologia tem duas faces que incluem duas cóleras de Deus: a primeira era a cólera de Deus que punia o povo mandando-lhes os inimigos para castigá-lo. A segunda era já a vingança contra esses mesmos inimigos no final da história como a vinganças dos sofrimentos que tinham causado ao mesmo povo. Como? Se tinha sido ele que os tinha mandado?

Uma resultante desta teologia era que o povo não podia fazer nada diante dessa vontade de Deus. E daí fabricavam dois erros: o primeiro, Deus é que tinha mandado esses castigos para o povo; o segundo, Deus quando quisesse iria ele mesmo determinar a hora e o tempo disso acabar. Isto é, tudo dependendo de Deus e nada do homem. É o conceito do fatalismo: é porque tem que ser  e quando Deus quer.

Por isso é que invocavam as nuvens do alto para que de lá viesse o orvalho. Isto era a teoria dos Hebreus, sempre expressa na Bíblia do Antigo Testamento. E do lado helenístico ou grego, esta teoria também tinha um nome, eram os gnósticos, segundo os quais o demiurgo era aquele segundo deus que estava entre os homens e o deus supremo, e tinha que descer das nuvens e vir socorrer os homens. Sempre reforçando a ideia do fatalismo.

Assim sendo, fabricou-se o pensamento alienado e alienante : “deixa o mal do jeito que está. Não se pode adiantar nada ao tempo de Deus. Não leva a mexer uma palha em favor da justiça. Dizem os alienados: “Deus assim o quer” São mortes? “Deus assim o quer”. A nação perdeu uma guerra? “Deus assim o quer”. E esta mentalidade passou e chegou, e ainda está presente em muitos viventes do século 21. Não podendo fazer nada, o máximo é que Deus possa apressar o final dos tempos: se ele quiser, se não quiser é porque ainda está querendo o tal sofrimento.

Nos inicios do Novo Testamento houve uns vislumbres de que os últimos dias estariam chegando. Eram os que reforçavam o messianismo de Jesus. Porque o imaginário do Messianismo era que com ele iria chegar a vingança final de Deus e o fim dos tempos. Haveria o castigo visível e claro para os maus, e todos os justos veriam o castigo dos maus e a ressureição dos justos.

Assim se fala na Carta de Pedro: “O dia do Senhor virá como um ladrão e então os céus acabarão com barulho espantoso; os elementos devorados pelas chamas se dissolverão, e a terra será consumida com tudo o que nela se fez” (2 Pd. 3,10).

E na Carta aos Tessalonicenses: “A vinda do Senhor será como um ladrão, de noite. Quando for dado o sinal, à voz do arcanjo e ao som da trombeta de Deus, o mesmo Senhor descerá do céu, e os que morreram em Cristo ressurgirão primeiro, depois nós os vivos seremos arrebatados juntamente com eles ao encontro do Senhor nos ares” (1 Tes.6,2). E nos evangelhos em vários lugares. Um lugar característico é o seguinte: “A terra tremeu, fenderam-se as rochas, os sepulcros se abriram, e os corpos de muitos justos ressuscitaram” (Mt.27, 51-52). Só o evangelho de Mateus escreveu isso aqui porque falava para judeus.

Foi daí que nasceu em 1920 o Fundamentalismo bíblico nos Estados Unidos. Os fundamentalistas aguardavam no tempo deles essa vinda final do Messias, e com ele o final dos tempos. E como estava nessa época florescendo a teologia da libertação, eles combateram-na com toda a política dos USA, aliada a todo protestantismo e ao presidente americano da época. Porquê? Era proibido lutar em favor do pobre, porque Jesus estava para chegar. Eles tinham que morrer assim mesmo.

O segundo motivo era que eles, como os antigos, olhavam para as nuvens, não para o chão e nem para o sofredor. Eles se castravam olhando só para as nuvens e por não entender o evangelho quando diz: “quando o boi  ou o jumento caiem no poço, vocês não o tiram? No entanto deixam o ser humano caído no fundo do poço” (Lc,14,5).

Essa luta era contra também a teologia da libertação que olhava para o ser humano caído no fundo do poço. Um teólogo disse: “Uns defendem os Pobres, outros se defendem dos Pobres”. E na verdade a defesa do pobre é o lema de toda a Teologia da Libertação. Porque uma teologia que tem por princípio “se defender dos Pobres” é muito de acordo  com os governos atuais.

Os setores da Igreja que dizem que a Teologia da Libertação usa métodos marxistas de análise da sociedade estão querendo “botar água no feijão da Santa Ceia”: “eu digo uma coisa mas eles entendem outra” diz Maria Elisabeth; eu falo de evangelho e eles entendem que falo de métodos. Na verdade os métodos não têm religião. O contrário é querer tapar o sol com a peneira ou querer botar água no feijão da Santa Ceia.

Esses fazem como aquela madame que dizia assim no Rio de Janeiro: “eu sou muito amiga dos pobres, a última vez que foi quando vi um pobrezinho perto de um bueiro e ajudei ele a cair no buraco”.

P.Casimiro     smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

 

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