sábado, 28 de novembro de 2020

A Branquitude da Europa e dos USA versus Teologia da Libertação ou do 3º Mundo


 O Papa São João XXIII quando anunciou o Concílio Vaticano II disse: “A Igreja é, e quer ser a Igreja de todos e principalmente a Igreja dos pobres. Porém os bispos, por conta de atender às condições da Europa que vivia nos inícios de uma teologia do progresso e da consagração do profano, esqueceram bastante esse problema”(Gustavo Gutierrez).

Aquela recomendação do Papa João falou mais alto no pós-concílio nos bispos da América Latina, e com um representante como Dom Hélder Câmara, que promoveu várias reuniões com os bispos do Brasil nos intervalos das Sessões. E foi dessas reuniões que surgiu a CNBB da qual o Dom Helder foi o fundador, como sendo a primeira Conferência mundial dos bispos de uma nação. E entre as figuras que estiveram presentes como teólogos no Concílio foi o teólogo peruano Gustavo Gutierrez, o pai da Teologia da Libertação.

Gustavo, quando em 1965 foi pároco na cidade de Lima, capital do Peru, num bairro pobre, tinha a seguinte preocupação na sua cabeça: “como dizer ao pobre que Deus o ama”? E daí começou distinguindo dois tipos de pobreza: primeiro, a pobreza real de cada dia; a segunda, a falta de consciência e de compromisso daqueles que dizem “deixa pra lá, entrega tudo pra Deus, e cruzam os braços como se nada estivesse nas mãos deles.

Em 1969 veio para o Brasil, e aqui teve ocasião de aprender muito com o episcopado brasileiro, onde já se estava fundando a CNBB com o compromisso pelos empobrecidos. E ele viu que aqui já se falava nisso, os pobres não são pobres, mas empobrecidos. Isto é, se você é roubado de tudo que tem, você fica empobrecido. Você não nasceu pobre, é empobrecido, quer dizer roubado.

Porém, nas teologias do Vaticano os Cardeais não estavam nem aí com essa situação. Foi nessa época de 1984 a 2004 que a teologia do Padre Gustavo Gutierrez ficou sob suspeita e investigação. Foi também que essa suspeita caiu também em Leonardo Boff. 

É digno de nota que nessa época saiu, de Roma, uma Carta para o presidente dos Estados Unidos da América do Norte, Ronald Reigan, em 1984, para que proibisse na América Latina a Teologia da Libertação. Pela história, esse presidente R.Reigan foi o maior imperialista que iniciou os maiores abusos contra a América Latina.

Com a criação da “Nova Ordem Mundial” ele tornou-se o cacique mundial ao qual a Europa e Américas ficariam sujeitas, na época da queda do Muro de Berlim (1989). E claro, como a política encontra muitas vezes um aliado forte na ideia religiosa, promoveu o Instituto nacional da Religião para ser o tentáculo de dominar o mundo pela sua “mística” de viés cristão ao seu jeito. Aproveitando-se também do surgimento do Fundamentalismo protestante que prosperava nos Estados Unidos desde 1920.

Um dos pilares do Fundamentalismo protestante era a ideia fixa do retorno de Cristo que estaria próximo, e por isso seria inútil tirar os pobres da sua situação de pobreza e miséria e exploração. Foi assim que Ronald Reigan junto com  o Fundamentalismo religioso americano promoveram uma guerra declarada contra a Teologia da Libertação com as bênçãos do Vaticano.

Porém, de outra forma teria agido Roma se olhasse para estas palavras de São João Crisóstomo quando diz: “é um cisma separar o sacramento do altar do sacramento do irmão, e dissociar o sacramento da Eucaristia do sacramento do pobre”. (In José Tolentino de Mendonça, “O Elogio da sede”,138).

Assim como para os questionamentos de Dom Hélder Câmara: “O que fizemos com a mensagem de Cristo? De que maneira a multidão dos pobres, dos exilados, dos marginalizados, dos sem-casa, dos sem-terra, dos sem-nada pode acreditar que o Criador é Pai que os ama, se nós que nos dizemos cristãos, continuamos a deixar o prato deles vazio”? (id).

Porém, em 2016 novos ventos sopraram no Vaticano. Nesse ano de 2016 o teólogo Gustavo Gutierrez, do Peru, Jon Sobrino da Espanha, e Leonardo Boff do Brasil foram recebidos pelo Papa Francisco em Roma para a sua reabilitação teológica, pois os seus livros tinham sido proibidos pelo Papa anterior e pelo Card.Ratzinger quando Prefeito da Congregação da Doutrina Cristã.

Após aterrissar em Roma, ao ser recebido pelo Papa, Leonardo Boff perguntou direto ao Papa Francisco: “Santo Padre, mas o outro ainda está vivo, ele não aceita”. “ - Sim, mas o Papa agora sou eu”, respondeu o Papa Francisco. Dá para ouvir as palavras do Roger Cipó, filósofo e fotógrafo brasileiro: “A branquitude decide quando nos ouve ou não”.

Na entrevista a Leonardo Boff, o jornalista Joachim Frank em 25/10/2016 perguntou-lhe se a encíclica do Papa “Laudato Si” tinha a colaboração do teólogo Boff. Boff respondeu: Sim, ele me solicitou material para a Encíclica, e recomendou: “Não mande a papelada para a Cúria senão os funcionários interceptam e eu não receberei; mande para o embaixador da Argentina, assim eu vou receber”.

Esses são os ventos novos da Igreja que mesmo assim ainda atrapalhados por estruturas pesadas do passado. De novo vale ouvir a afirmação do Roger Cipó: “A branquitude decide quando nos ouve ou não”.

E parece até que a “a branquitude” da Europa estava sentindo saudades da Inquisição, e da colaboração com os Impérios,  como no caso da Carta para o presidente dos Estados Unidos da América do Norte.

Obs. Para a Entrevista do jornalista Joachim Frank veja a Fonte: www.ihu.unisinos.br

P.Casimiro    smbn

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sábado, 21 de novembro de 2020

A primeira comunhão e um banco de alimentos. “O que fizerem ao mais pequeno dos meus irmãos foi a mim que o fizeram” (Mt.25,40).


 Hoje vamos ver um exemplo de quando a senhora Sara Milles, fez a sua primeira comunhão e de repente teve a ideia de começar com um banco de alimentos: “O que fizerem ao mais pequeno dos meus irmãos  foi a mim que o fizeram” (Mt.25,40)

A distribuição de marmitas e pratos aos moradores de rua pelos franciscanos da cidade de São Paulo é uma extensão da mesma Ceia do Senhor. Assim como o Padre Júlio Lancellotti vem fazendo há muitos anos, intensificando agora em tempos de pandemia, na sua Paróquia de São Miguel, na arquidiocese de São Paulo.

Não serão estes que estão cumprindo aquilo de São Mateus “O que  fizeram ao mais pequeno dos meus irmãos foi a mim que o fizeram”? (Mt.25,40). E ainda: “Vão pelas esquinas das ruas e convidem todos que encontrarem, e tragam todos pro meu banquete”? (Mt.22,9).

No ano de 2010 a senhora Sara Milles entrava numa igreja pela primeira vez. Não sabendo nada de igreja, mas chegando na hora da comunhão aproximou-se e recebeu a comunhão. Voltou mais duas ocasiões, e então pensou: “eu que tenho tudo em casa de comidas abundantes, e este povo aqui comendo um pãozinho tão pouco. É possível? E pensou em organizar um banco de alimentos para os moradores de rua.

Com autorização do pároco fez as primeiras distribuições de comida no espaço da igreja, após as missas, convidou os membros da igreja para a distribuição, e logo na segunda fase já os próprios moradores de rua prepararam e distribuíram as refeições na praça da igreja. Em pouco tempo duzentos e cinquenta passaram a vir a cada vez. Sem saber muito de igreja, mas começou a praticar a solidariedade. Hoje o movimento chama-se Sopa Sara Milles.

No caso da senhora Milles, um fundamentalista seria tentado a proibir-lhe a comunhão, pois tinha chegado atrasada. Mas na verdade ela foi introduzida logo no centro do reino de Deus que é não admitir ser feliz sozinha. Ela entendeu que ser feliz sozinha não dava certo. E de repente entrou na dinâmica do Reino de Deus, que é experimentar ser feliz junto com os outros.

“A expressão ‘reino de Deus’ é uma das mais mal utilizadas e mal compreendidas da Bíblia. Por vezes se pensa que para lá talvez você vá quando morrer quando a história deste mundo acabar, ou algo que é inteiramente interior. Enquanto que é algo que acontece neste mundo e para este mundo. (Harvey Cox, 62 “O futuro da fé ” Paulus, 2015).

Veja a conexão do Pai Nosso: “Venha o vosso reino” “O pão de cada dia tenhamos hoje” (Mt.6,9).

E as célebres palavras do programa de Jesus: “O Espirito do Senhor me enviou para pregar o evangelho aos pobres, libertar os presos, curar os cegos, e dar a libertação aos oprimidos” (Lc. 4,11). Ora, na outra vida não há pobres, nem presos, nem cegos, e nem oprimidos. E nem precisa o pão de cada dia. Onde precisamos  então “o pão de cada dia” ?

Também havia um grande banquete preparado para os convidados. Porém, cada um foi pro seu interesse pessoal: Um foi para os seus bois, outro para sua fazenda, outro pra sua família (Lc.14,18-20). Aqui cada um quis ser feliz sozinho, não com os outros. Escolher ser feliz sozinho não é o reino de Deus: mas escolher ser feliz om os outros é o reino de Deus.

Há uma poesia no Antigo Testamento  do profeta Isaias sobre o reino de Deus, que eles chamavam também de Shalom e que está escrita assim, descrevendo como será a Nova Jerusalém:  “Nela não se tornará a ouvir o choro com lamentação. Já não haverá ali crianças que vivam apenas alguns dias, nem velho que não complete sua idade. Os homens construirão  casas e as habitarão. Plantarão vinhas e comerão os seus frutos. Já não construirão para que outro habite a sua casa. Não plantarão para que outro coma o fruto” (Is. 65,19-22).

Poesia, mas essa Nova Jerusalém dos sonhos é aqui, porque na outra vida não tem videiras para plantar, nem casas para construir, e isto é tremenda denúncia sobre quem não tem uma casa e só vive construindo para os outros, e só plantando para os outros comerem.  

Esta denúncia em poesia evoca uma imagem muito diferente daquela Nova Jerusalém que vemos em desenhos de revistas mostrando anjos espalmados em túnicas sem caimento, e empoleirados nas nuvens e tocando harpas.

Estamos em tempos da pandemia. O que aconteceu com alguns poucos que desviaram o muito dinheiro para a saúde pública? Não é que quiseram arriscar ser felizes sozinhos? Será que isso é o reino de Deus? O que acontece quando eu quero ser feliz sozinho?

A teologia da libertação na América latina tinha este slogan: “Quando chega para todos, chega também para mim; quando chega só para mim não chega para todos”. E o Padre Lencellotti diz: “Desde criança aprendi que o pouco que a gente tem é uma fortuna para quem nada tem”.

P. Casimiro    smbn

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sábado, 14 de novembro de 2020

O Fundamentalismo bíblico-religioso: onde e como nasceu e quais os objetivos.

 


O fundamentalismo nasceu nos Estados Unidos da América do Norte no ano de 1920, com quatro objetivos principais. Primeiro, em oposição aos progressos dos métodos históricos dos estudos bíblicos que se incrementaram no século XIX e XX. Segundo em oposição às teorias segundo as quais algumas Cartas não eram de São Paulo das Quatorze atribuídas a ele.

O terceiro objetivo era a ênfase e o destaque à Segunda vinda iminente de Cristo a iniciar-se com Pragas, Fomes e com uma violência e degradação das  condições do mundo.

O quarto objetivo  foi a ideia de que era inútil qualquer esforço e preocupação social, uma vez que ninguém podia fazer nada para melhorar o mundo e nem impedir que os Pobres morressem, e assim condenavam a teologia da libertação.

Financiados por Empresários conservadores publicaram milhões de Panfletos e distribuíram por pastores, empresários, classes políticas e por todos os setores das igrejas protestantes americanas. Eles oficializaram o nome de Fundamentalismo em 1920 na Revistas “Baptist Standard” onde conclamavam todos os “corajosos” que defendiam esses princípios focais, e oficializaram o nome de fundamentalismo como sua bandeira (H.Cox, 197).

Este nome fundamentalismo migrou facilmente para outros continentes e religiões que o adotaram, como o Islão e judaísmo, que o adotaram, e formaram também as suas fileiras de fundamentalistas. Os fundamentalistas americanos se consideravam o “Bote salva-vidas” dos tempos atuais, e também se consideravam os “guerreiros fundamentalistas”.

Até hoje, no séc.XXI, fazem seleções de palavras e frases extraídas da Bíblia fora do seu contexto e as empregam numa batalha atual. É assim que também os próprios tradicionalistas católicos gastam pouca energia criticando os protestantes, antes sua apaixonada crítica vai contra a atual liderança da Igreja, às vezes incluindo o Papa.

Sociologicamente falando, todo movimento novo tem suas origens e causas em acontecimentos novos. O Iluminismo, o Liberalismo, o Racionalismo, os Novos métodos científicos e históricos aplicados em todos os campos literários donde não escaparam as investigações bíblicas, foram o rastilho que deu origem à explosão do fundamentalismo bíblico-religioso.  Mas, como diz o ditado, “quem vive do passado é museu”.

Durante as últimas décadas do séc. 19, sobretudo nos Estados Unidos “seguir a Bíblia” passou a ser uma espécie de teste decisivo para ver se alguém era ou não “cristão de verdade”. Para os fundamentalistas, seguir Bíblia significava seguir a letra e não o espírito, e ficavam confusos quando ouviam por exemplo que Moisés não escreveu o Pentateuco, e que Deus não precisava se abaixar para, como oleiro, amassar barro e soprar para formar os homens. Considerando então os avanços da época é compreensível que algumas pessoas sentissem a sua fé abalada, saindo daquela bitola.

Por coincidência, as mesmas mudanças da sociedade foram também sentidas na Igreja católica na Europa. E como o protestantismo tremeu com o perigo em relação à Bíblia, o catolicismo tremeu com o perigo em relação à Igreja como um todo. Nesta virada histórica, a Igreja temia o perigo de não ser mais a única instituição doutrinária que determinava as regras e normas que conduziam a sociedade e a vida dos homens.

 A Revolução Francesa em 1789 tanto se fez sentir  nos Estados Unidos como na Europa, com os seus três pilares “Igualdade, Fraternidade, Liberdade” que foram a base para a DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS no dia 10 de dezembro de 1948, que deram origem à também moderna ordem política da SEPARAÇÃO DE IGREJA E ESTADO na maior parte das Nações.

Ainda bem que Pio IX encontrou um meio de se livrar de tantos apuros, convocando o Concílio Vat.I em 1870 onde ele torceu para a definição da infalibilidade pontifícia.

Concluindo, vemos que para novos eventos tem que haver novos enfrentamentos. Será que as Igrejas iriam virar sempre museu se segurando simplesmente no passado sem se abrir para o presente? As Igrejas protestantes encontraram-se com novos apuros que as surpreenderam, e a Igreja católica com os mesmos apuros que também a surpreenderam. E as reações foram em parte semelhantes, será que foram as melhores? O tempo ainda não foi suficiente para um resultado completo, e por isso vale a máxima: “ o tempo o dirá”.

P.Casimiro    smbn

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domingo, 8 de novembro de 2020

Reflexões sobre aborto e não aborto


 

A vida e as instituições são feitas à base de mitos, e tabus. Vou dar alguns exemplos a respeito.

 O primeiro exemplo que me vem à mente são os Estados Pontifícios, baseados numa falsa assinatura atribuída ao imperador Constantino (272-337), que hoje se descobriu ser um mito.

Na verdade, um tal Cristóforus secretário do Papa Estêvão I redigiu essa suposta “Doação” de Constantino ao Papa no ano de 750 d.C. a qual hoje é conhecida como “a fraude mais bem sucedida da história” (André Chevitaresse, historiador da UFRJ). 

Estávamos no ano 750 d.C. e ele  colocou a data de 315 d.C. Fez Isso para passar a ideia de segurar aquela posse perante os povos bárbaros que invadiram a Itália. A motivação da doação: que o imperador tinha sido curado de uma lepra por uma bênção do Papa.

Quem desmascarou essa falsa assinatura, e também que o imperador nunca teve essa lepra,  foi o historiador e filólogo italiano Frei Lorenzo Valla em 1439, no Livro intitulado: DE FALSO CREDITA ET EMENTITA CONSTANTINI DONATIONE DECLAMATIO, contra a DOAÇÃO de Constantino.  

Como consequência, o rei Vitor Emanuel II, em 1870 anexou os Estados Pontifícios à União da Itália. Com isso, o Papa ficou só com a cidade-Estado do Vaticano, pelo Tratado de Latrão, feito com o Papa Pio XI, no ano de 1929.

O segundo outro mito ou farsa bem sucedida é a lenda de Santiago de Compostela na Espanha. Esta lenda teve inicio com um eremita de nome Pelágio, no ano de 813, num suposto sonho em que teria visto umas luzes noturnas e um túmulo de mármore com os ossos de São Tiago. 

Logo o rei Alfonso II declarou que eram genuínos e nomeou Santiago protetor da Espanha. Foi o rastilho que faltava para as lutas contra os muçulmanos que estavam invadindo a Península ibérica. Era o grito de Santiago que vencia os inimigos.

Em 1640 o Papa Alexandre VII quis declarar que era lenda e mito essa história, mas o rei ameaçou de cortar os altos dízimos de ouro que mandava para o Papado, e ele então desistiu.

Em 3º lugar, nem é preciso falar do mito bíblico da criação do homem pelo barro, como narrado em Gn.2,7.

Porém, agora recentemente, no ano de 1809-1882 surgiu a figura de Charles Darwin que trouxe a teoria da evolução, com novas luzes para a formação das espécies incluindo aí o surgimento da consciência, com a célula geradora do córtex cerebral. 

A consciência terá surgido como uma força primária entre alguns répteis, e aves e mamíferos como uma primeira fase. Na segunda fase surgiu em alguns primatas e no homo sapiens a consciência com dois novos tipos de memória. Daí chegou-se à ponte entre o DNA e  a mente, no final do milênio 2000. 

Vem daí a novidade dos algoritmos que dão sempre certo nas condições certas. A teoria darwiniana é um algoritmo, não é um acaso, como dizem os cientistas atuais. Os Softwares são algoritmos, assim também como o bolo confeitado.

Para S.Tomás de Aquino (1225-1274), o desenvolvimento do embrião se baseia na teoria do Hilemorfismo, em três fases: Na 1ª fase o embrião só tem vida vegetativa ao modo de planta; Na 2ª fase ganha uma vida vegetativa-sensitiva ao modo de animal. E na 3ª fase ganha a forma humana de consciência.

Os cientistas e biólogos Jaques Menod e Y.Jacob afirmam não haver vida humana até o 5º ou 6º mês de gestação, quando se forma o sistema nervoso central. Estas proposições são muito paralelas com a tese do Hilemorfismo de Tomás de Aquino, como atrás referido. E também adéqua com Darwin e T. de Chardin sobre a célula embrionária do córtex e do sistema neuropsíquico.

O historiador Hurts afirma que nos princípios da Igreja, faltas como adivinhação, suborno e roubo tinham penas maiores do que a interrupção da gravidez. E a moralidade desta não derivava do aborto em si mesmo, mas pela intenção de encobertar um adultério ou fornicação. Simplesmente isso. Nos primeiros estágios não era considerado um homicídio. 

Até ao séc.18 e 19 não existiu proibição em matéria de aborto. Em 1713 a Congregação da Santa Inquisição ou do Santo Ofício  que deu origem à Congregação da Doutrina da Fé, perguntada sobre o batismo dos fetos abortados, respondeu: “Se existe uma base para pensar que o feto é animado por uma alma, pode e deve se batizar; No entanto se não existe tal certeza não deve se batizar sob nenhuma circunstância” (Hurst J.; Muraro R.M p.7-40- 1992).

O cientista e teólogo do séc.20, o Jesuíta Teilhard de Chardin disse: a formação do embrião não depende da ideia antropomórfica de colocar Deus como oleiro soprando uma alma, mas no desenvolvimento da consciência, isto é que origina o ser humano, e ocorre na formação do córtex cerebral” (Cross F.L Livingstone – The Oxford Dictionary of the  Christian Church, 1997).

Duas observações: 1º Os cientistas sabem que 75% dos zigotos são expelidos na fecundação natural. E as mesmas quantidade ocorrem na fecundação in vitro. Porquê se considera lícito realizar experiências com embriões desenvolvidos in vitro sem que se tenha o sentimento de estar manipulando seres humanos?

2º Na Encíclica Humanae Vitae, Paulo VI, em 1968 proibia os anticoncepcionais, porém, de lá até aqui ninguém parou de usar. Porque virou tabu falar de aborto aqui entre nós? Será que a Europa toda está errada, e só nós estamos certos? Aqui, numa nação onde mais se mata? 

Ainda bem que o Papa Francisco, nesta mesma linha de ideias, estendeu para todos os sacerdotes, pela BULA DO ANO DA MISERICÓRDIA, “Misericordia et misera” de 21/11/2016 o poder de perdoar todos os pecados de aborto, igual todos os outros pecados. Entenda-se, foi como que a descriminalização do aborto a nível de Igreja.

P.Casimiro João   smbn

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domingo, 1 de novembro de 2020

Religião – Religiosidade e – Religiosismo – Onde mais se fala em Deus é onde mais se mata.

Quando a religião é dar mais valor ao que eu faço do que a Deus, isso é falsa religião e pode virar só religiosidade ou religiosismo.

Vamos dar uma olhada pelos evangelhos e enumerar até 10:

1º - “Tende cuidado com o fermento dos fariseus que é a hipocrisia” (Lc.12,1). Então a religião falsa em 1ºlugar é a hipocrisia. “Ai de vós, fariseus, que pagais o dízimo da hortelã, da arruda e todas as outras ervas, mas deixais de lado a justiça e o amor de Deus”(Lc.11,42). Ai de vós, magistrados e juízes que condenais o pobre por uma galinha mas soltais o rico e poderoso por suborno.

2º - A religião falsa ou religiosidade é usar o nome de Deus em benefício próprio. “Ai de vós que buscais o 1ºlugar nas sinagogas e ser cumprimentados nas praças públicas”. Isso é mais culto do EU do que culto de Deus. Ai de vós chefes da nações que usais o nome de Deus para se perpetuar no poder corrompendo os colegas com o dinheiro público.

3º-  A falsa religião oprime os irmãos com impostos e com a própria religião: “Ai de vós que colocais sobre os homens cargas insuportáveis, e vós mesmos não tocais nessas cargas nem com um só dedo” (Lc.11,46). Isso se pratica nas igrejas exigindo muitas cobranças, e na política exigindo muitos impostos enquanto que grandes fortunas não pagam nada.

4º- A falsa religião vive da mentira: “Não façais como eles, pois eles dizem e não fazem. Fazem longas orações para serem vistos pelos homens, e trazem longas faixas e longas franjas nos seus mantos” (Mt.23,3). Basta olhar para as ricas vestimentas de dignitários das igrejas e os colarinhos brancos no Planalto e seus aviões.

5º- A falsa religião é orgulho e vaidade: “Gostam de ser chamados de Rabi pelos homens, mas vós não vos façais chamar rabi porque vós sois todos irmãos” (Mt.23,8). Basta olhar o tom de Vs. Excelências em todo trato pela classe política, enquanto se quer acabar com o ensino de qualidade neste país para fabricar um país de analfabetos.

6º- A falsa religião atrapalha a salvação dos outros: “Ai de vós que fechais o Reino dos céus. Vós não entrais e nem deixais que entrem os que querem entrar” (Mt.2313). As classes políticas não cumprem as leis e provocam a baderna e a violência nas ruas das cidades.

7º-  A falsa religião  é alienar a apelar mais para objetos de devoção como produtos de venda para aumentar o capital e o lucro. Esta religiosidade cai fácil na superstição em tanto insistir em artigos de suas Loas. Basta olhar as propagandas de venda e de produtos que se fazem nas TVs confessionais católicas e protestantes, assim como dos políticos nas campanhas de eleição....”Hoje em dia há Movimentos e Organizações com muito dinheiro e poder mas com teologia e espiritualidade quase nulas” (Valério Vannucci).

8ª- A falsa religião é usar uma bandeira como falácia, assim como, pelo descaso da população pobre, condenar famílias inteiras a viver na fome e na doença, donde surgem muitas mortes, mais do que as causadas pelo aborto. Na verdade, há mais mortes pela violência e pela fome do que pelo aborto, mas só levantam a bandeira do aborto para agradar aos religiosos e para dizer que se é religioso.

Esquecem a bandeira da violência e da fome e suas mortes. Porque será que o Brasil, um País contra  o aborto, é o mais violento da América do Sul, só ultrapassado pelo México e pelos Estados Unidos, ambos da América do Norte? E onde se praticam cerca de 800 mil abortos clandestinos por ano?  Isto não será farisaísmo e hipocrisia, falsa religião ou religiosismo humano, como lhe chama Roger Cipó?

9º- Falsa religião é de quem mantém 25 milhões de pobres abaixo do nível de pobreza, e aumentando salários de poderosos da nação, e promovendo genocídio dos Índios, vendas de armas aos milicianos, invasão da Amazônia pelos madeireiros, fazendeiros e garimpeiros?

10º- Falsa religião é manter na fome 14 milhões de famílias, mas levantando a bandeira do aborto não pensando que tudo isso é mais mortal do que o aborto, rasgando todas essas bandeiras para segurar a bandeira do aborto, para botar poeira nos olhos das igrejas?

Nessas famílias carentes com 4 e 5 filhas, a quantos abortos estão sujeitas por falta de condições mínimas de criar os filhos? Não é o Brasil o País mais favelado do mundo? Com 55 milhões de favelados, ¼ da população?  Não serão esses governantes os culpados por esses abortos, e falam que são contra o aborto? – Pura hipocrisia. Conseguindo enganar igrejas só com sua astúcia e invocação do nome de Deus  em benefício próprio e uso de uma bandeira, e de Deus para proveito próprio? Em todos os países da Europa, inclusivamente a Itália não têm a criminalização do aborto. Porque a criminalização ou não do aborto não depende só da visão religiosa, mas da visão antropológica e cosmológica do homem e da mulher e duma nova cosmovisão do mundo e da humanidade.

Eu sou contra o aborto em nível de consciência, mas ser contra o aborto como marketing político é farisaísmo. Esse tipo de farisaísmo promove o aborto de milhões de homens e mulheres e de famílias e de abortos abortados nessas famílias estupradas por governos mentirosos, num país assassinado todos os dias por milicianos e balas perdidas. Isso é intolerável.

Já reparou que na lei do aborto quem é condenado?  Só a mãe? Cadê os outros envolvidos no aborto? Só tem  lei contra a mulher? O aborto é como a religião, tem que ser de consciência, e não de imposição. Para a criminalização do aborto teríamos que incluir a culpabilidade de muitos elementos inclusivamente os governos que roubam do pobre todas as possibilidades de viver. O resto é farisaísmo e marketing enganoso político e religioso. Porque será que num país que mais fala de Deus é o pais onde mais se mata?

P.Casimiro   SMBN

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