domingo, 25 de julho de 2021

Adocionismo, Subordinacionismo e Separatismo e suas influências na cristologia e escatologia dos escritos joaninos: “Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado” (Jo.3,18)

Para os evangelhos sinóticos a vida eterna era destinada para o final dos tempos; mas para João é agora, já na presença atual de Jesus. Para os sinóticos Jesus voltaria no final dos tempos como filho do Homem para o julgamento; para João, durante seu ministério terrestre Jesus já tinha descido de Deus para ser juiz.

Estas diferenças do entendimento da escatologia de João são o desdobramento da sua cristologia da preexistência do Verbo em Jesus. E daí podia tecer agora as afirmações acima “Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado” (Jo.3,18).

O cristão joanino não pensava que seria preciso esperar até a segunda vinda para ver a Deus. Para João, todo aquele que viu Jesus já viu o Pai: “desde agora o conheceis e o vistes” (Jo. 4,7). Isto era um grande argumento para enfrentar as consequências da expulsão das Sinagogas que os cristãos joaninos tinham sofrido nessa época. Por isso acrescentou também “não vos deixarei órfãos” Jo.14,18.

Estamos no tema joanino da preexistência do Verbo. Além desta cristologia da preexistência há outras influências da primitiva cristologia do Subordinacionismo neste evangelho, e do Separatismo. Como vimos no Blog anterior a primitiva cristologia tinha três correntes, o Adocionismo, o Subordinacionismo, e o Separatismo.  Na doutrina do Adocionismo Jesus era só filho adotado de Deus, desde o batismo; na doutrina do Subordinacionismo, Jesus era subordinado a Deus e não era deus; na doutrina do Separatismo era Deus, mas desde a Paixão tinha se separado do homem Jesus e veio depois unir-se a ele na ressurreição. Em João há passagens colocando lado a lado umas que afirmam que Jesus é igual a Deus em Jo.15,19; outras que descrevem Jesus como subordinado a Deus, e “que não pode nada por si mesmo” em contrate com “Eu e o Pai somos Um” Jo.10,30).

Outras afirmações consequências da cristologia da preexistência são muito claras “Ninguém subiu ao céu senão aquele que desceu do céu, o filho do Homem que está no céu” Jo.3,13. Em seguida há uma contraposição a Moisés: “Não foi Moisés que vos deu o pão do céu, mas meu Pai é que vos dá o verdadeiro pão do céu” 6,32. E ainda : “ E que será quando virdes subir o filho do Homem para onde ele estava antes”? 6,62.

Para entender o alcance deste diálogo devemos saber que os cristãos samaritanos que fizeram parte da comunidade de João diziam que Moisés viu a Deus e depois voltaria para revelá-lo. João replicava: “Não foi Moisés, mas Jesus que viu a Deus, e depois voltou à terra para falar do que viu”, Jo.13.31 E Jo.6,46.

Há um detalhe na primitiva comunidade joanina que ambienta estas teorias. A comunidade joanina era composta por um grupo de cristãos judeus e um grupo posterior de cristãos galileus samaritanos convertidos e de outro terceiro grupo de pagãos convertidos. Deste grupo de cristãos pagãos convertidos é que são mais notórias as teorias helenísticas do IV evangelho, da preexistência.

E da parte dos cristãos convertidos samaritanos vinham as tendências de ser contra o Templo e as outras instituições, dando preferência ao Espírito, como afirma o “diálogo com a samaritana” Jo.4,23.  Além disso, uma separação com as instituições recebidas de Abrão: “ Aos que o receberam deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus os quais não nasceram da carne nem do sangue” Jo.1,13.

Aqui os cristãos joaninos insistiam em que a entrada no reino não se baseava na descendência humana de ser ou não filho de Abrão, mas em ter sido gerado pela fé e na aceitação de Jesus. Por isso não precisavam da instituição do Templo e das estruturas judaicas.

Também o IV evangelho deve ter tomado a cristologia da preexistência das Cartas de Paulo onde fala da “condição divina”: “Sendo ele de condição divina não se prevaleceu da sua igualdade com Deus mas aniquilou-se a si mesmo assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens” Fil.2,6-7. Estas passagens podem significar que, diferentemente de Adão, o qual também era feito à imagem de Deus e tendo a condição divina mas se rebelou contra Deus, enquanto Jesus não se revoltou mas aceitou a condição humana de servo, o que Adão não fez. A este respeito já escreveu Orígenes: “Nenhum deles, Paulo, Mateus, Marcos e Lucas declararam abertamente a divindade de Jesus como João, quando fez Jesus dizer “Eu sou a luz do mundo”, “Eu sou a verdade e a vida”, “Eu sou a ressurreição”. (Em Raymond Brown “ A comunidade do discípulo amado”, p.47).

E o que dizer quando o IV evangelho chama os judeus de “filhos do diabo”? Jo.8,44. Tem a explicação no ambiente da turbulência de quando os judeus convertidos foram expulsos das Sinagogas depois do ano 70 d.C. Nessa época estava sendo escrito este evangelho e acontecia a pior briga tanto assim que os convertidos judeus já não se consideravam mais como “judeus”, e por conseguinte rotulavam os outros como “diabos”. Aí vinham as acusações de que “eles” tinham matado Cristo, e não só, também Estêvão, e Tiago irmão de João e Tiago irmão de Jesus, e no presente momento açoitavam os que se convertesse ou deduravam aos romanos para serem presos e mortos.

Aqui está o auge do conflito no IV evangelho: Os galileus samaritanos  contrários ao Templo, e os que continuavam aceitando o Templo se degladiavam no mesmo grupo e na mesma comunidade. E como diz R.Brown, o que aconteceu no IV evangelho é que o vocabulário do tempo do evangelista foi transposto para o tempo do ministério de Jesus em pessoa (o.c.p.47). A briga portanto acontecia dentro da própria comunidade. Até porque os estudiosos concordam em que Jesus em vida nunca pisou em território samaritano.  A encenação da “Samaritana” portanto é uma composição do IV evangelho. O que aqui acontece é que este vocabulário foi aplicado a Jesus como tendo se reportado às autoridades judaicas, enquanto na realidade era da época da escrita do evangelho.

E o que dizer então daquela piada “não dizíamos nós, com razão, que tu és samaritano?” (jo.8,41). Aqui o histórico da composição do IV evangelho refere-se aos samaritanos do cap. 4 e 5 onde traz a  polêmica entre os judeus-cristãos tradicionais e  os samaritanos que tinham entrado em cheio na comunidade joanina na Síria. Isto sugere que a comunidade joanina era considerada pelos judeus cristãos como “avançada demais”. Seria como dizer hoje na ideologia polarizadavocê é comunista”, “fulano é comunista”,  uma vez que não é da ideologia do outro lado.

Falei semana passada nas características do evangelho de João, que sai dos padrões dos evangelhos sinóticos. E nestes sete itens apontados salta aos olhos a sobrevivência dos ambientes filosóficos do gnosticismo, com a preexistência do Verbo. E assim como a alternância do afirmações da cristologia do Separatismo e do Subordinacionismo, quando em várias passagens João balança entre as duas teorias.

Por outro lado, é uma comunidade em conflito, dado que se formou na época da destruição do Templo e da cidade de Jerusalém, e aí sofreu no centro do furacão as investidas dos judeus que acabaram por expulsar das Sinagogas os que se convertessem. E a convulsão aí aumentou balançando entre o poder do Espirito e as estruturas do judaísmo tradicional.

Aqui convém recordar um dado importante que a comunidade não aceitava e não adequava com a instituição de Pedro como “a pedra da Igreja” e o conceito das “chaves”, que era a principal bandeira da comunidade de Mateus, pois a comunidade de Mateus seguia à risca a tradição e herança de Israel, que na verdade foi o formato que a Igreja adotou. Foi por esse motivo que posteriormente um outro redator eclesiástico aumentou o último capítulo ao evangelho de João, o capítulo 21, para poder ser aceito nos evangelhos canônicos.

P.Casimiro Joao                    SMBN

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domingo, 18 de julho de 2021

Seitas, e Polêmicas do Inicio da Igreja e os Escritos Joaninos da Época – Evangelho e Cartas de João.


 

As Cartas de João mostram mazelas e polêmicas nos inícios da Igreja. Porém, esses desconfortos tornam-se mais relevantes depois do evangelho, nas Cartas joaninas.  Para o autor Raymond Brown, que estudou o assunto durante trinta anos, isso “mostra um quadro mais leal da vida da Igreja, “com mazelas e tudo”. (A comunidade do discípulo amado, Paulus, 8ª edição, 2020, p.9).

Ele nos surpreende com uma afirmação que nem esta: “O meu interesse aqui é a aplicabilidade do termo religioso “seita” à comunidade joanina em relação às outras comunidades cristãs do final do século primeiro. J.N. Sanders e M.R.Hilmer propuseram que o 4ºevangelho foi primeiro aceito por grupos que poderiam ser classificados como heterodoxos”(o.c. p.12).

Outro argumento a favor do sectarismo joanino é que este foi o primeiro evangelho a ser adotado nas comunidades gnósticas do século segundo. Internamente o 4º evangelho era anti-sacramental ou não sacramental. Mais tarde é que um autor desconhecido fez os acrescentos referentes à “água do batismo” e o acréscimo referente “à carne e o sangue da eucaristia” (Jo.6). Ele tem também uma posição anti-institucional contra a orientação de Pedro; e baseando-se na autoridade do Pneuma, Espírito.

Quanto à Cristologia, é desenvolvida no formato do docetismo. Em Jo.19,35 na afirmação de “testemunha ocular” há uma clara evidência de que o evangelista está claramente modificando a imagem histórica do ministério de Jesus para seus interesses teológicos” (o.c.p.19). Em consequência, “só com grande circunspecção é que se pode usar o evangelho de João como fonte histórica” (M.Jonge,18).

Há outras omissões, como a omissão do termo “igreja”, “concepção virginal”, “apóstolo”, no evangelho de João e omissão da “ação eucarística sobre o pão e o vinho” que colocaram em sérios apuros a primitiva igreja para reconhecer como canônicos os escritos joaninos.

Já publiquei neste local em matérias anteriores que os primeiros Padres foram levados a aceitá-los no cânon devido à seguinte confusão: eles consideraram como autor o “discípulo Amado” e “Ancião” como sendo o apóstolo João. O que foi posteriormente considerado falso por evidências e documentos descobertos posteriormente. Qual era então o “discípulo amado” e “Ancião”? Era o cristão-judeu mais velho da comunidade deles, o mais avançado em idade e que tinha algumas vezes acompanhado Jesus não como apóstolo, mas como discípulo e “penetra”. E “Amado” porque eles chamavam a sua comunidade de “comunidade amada”, ou discípulo amado, porque o evangelho transformou aquele discípulo no herói da comunidade. E se o “discípulo amado” não era o apóstolo João também não tinha estado na última Ceia. (Cf. BLOG www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 07/02/2021).

Na verdade, como diz Richard Bauckhan: “Alguns escritores do segundo século estavam conscientes de que este homem “o Ancião” não era o João, o filho de Zebedeu. No decurso do tempo, porém, os dois chegaram a ser confundidos. As evidências mais antigas foram mal compreendidas por terem sido lidas à luz das mais recentes” (Testemunhas Oculares, p.530).

Falando em “mazelas” e seitas e polêmicas do início, lembramos que houve a formação de dois grupos que se desenvolveram dentro da própria comunidade joanina, como é demonstrado na 1 Carta (1 Jo.2,19). A dissolução destes dois grupos se deu depois que as Cartas foram escritas.

Havia os “separatistas   “ e os “conservadores”.  Aqueles seguiram o caminho do docetismo e agnosticismo. Os conservadores foram-se misturando com as outras comunidades mais ortodoxas  e institucionais, mas pagaram o preço de renunciar à  sua Pneumatologia que dava mais independência à atuação do Espirito e menos institucionalidade, assim como à pré-existência do verbo.

Existe o ditado que “foram-se os anéis mas ficaram os dedos”. Foi o que aconteceu com esses dois grupos. Foram-se os elementos, mas ficaram  os escritos e os formatos de suas teologias. Foram-se os anéis mas ficaram os dedos e as marcas de suas teologias no evangelho de João com as cores do docetismo e gnosticismo, anti-instituição e pneumatologia e a pré-existência como marcas dos escritos joaninos.

P.Casimiro João  

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domingo, 11 de julho de 2021

Deus diz: “Eu sou o Sol que se manifesta na luz do Sol; sou o Oceano que se eleva na forma das Ondas; sou o UNO que é muitos” (Rami M.Shapiro).

- Deus é o EU SOU de todos- “O Espirito Santo não é judeu nem samaritano, nem é cristão nem muçulmano”.

- “Contemplai o Pai em mim e vejam o EU de vocês todos.”

- Deus diz: “Sou o Sol que se manifesta na luz do Sol; sou o oceano que se eleva na forma das ondas; sou o Uno que é muitos”.

 “ Nada separa Criador de criatura, nada separa o raio e o Sol ; a onda e o Oceano.”

- “ A morte se aplica apenas à personalidade; o verdadeiro eu é eterno”( Rami.M.Shapiro).

“ Jesus é uma flor do Judaísmo cortada em pleno florescer” (Daniel Matt).


Nesta página damos continuidade à matéria  anterior. (Cf.BLOG www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br de 27/7/2021).

Teremos em vista a obra de Beatrice Bruteau, “Jesus segundo o Judaísmo” Paulus, 4ª edição, 2016.

1. O Jesus teológico. “Há uma antiquíssima tradição religiosa segundo a qual as histórias religiosas têm de ser consideradas em termos metafóricos, e não apenas literalmente. Muitas histórias são tratadas dessa maneira na tradição judaica. O que há de interessante, e por vezes frustrante, nas metáforas, é que, se tentar o suficiente, você pode extrair qualquer conceito de qualquer história.”(Lance Fliter, o.c.p.169).

- Muitos dos escritos dos evangelhos “correspondem por coincidência ao formato helênico comum das fábulas sobre realizadores de prodígios. Alguns elementos religiosos do   mundo mediterrâneo divulgavam sagas chamadas aretologias que engrandeciam rotineiramente a fama, as palavras e as obras de um herói, com frequência com o fim exclusivo de atrair novos fiéis ou adeptos”. (Michael J.Cook o.c. p.22-23).

“Seria bom nos engajarmos em tentativas acadêmicas para distinguir o que Jesus de fato disse, e o que lhe é atribuído pelos autores dos evangelhos ou diferenciar entre o que ele pode ter comunicado a seus seguidores e as elaborações teológicas ulteriores de Paulo e João” “Muitas histórias de conflitos com os judeus refletem a situação nas gerações que vieram depois de Jesus quando os evangelhos eram compilados” (Andrew V. Ettin,o.c.97).

- “As disputas quanto à interpretação e aplicação de leis bíblicas foram exageradas pelas polêmicas da época, bem como pela política dos relatórios dos evangelhos em seu próprio ambiente e de depois pela instituição eclesiástica posterior” (Andrew V. Ettin, o.c p. 90).

 “Muitas Palavras de Jesus foram relatadas anos depois por parte interessadas com seus próprios públicos e objetivos”(id. p.90

“A linguagem oral, parábolas e comparações e os exemplos no momento são respostas às necessidades ou estímulos particulares, e aquele que fala não pretende necessariamente que suas palavras sejam solidificadas em posições eternas. Não obstante ao serem tornadas sólidas, elaboradas em forma de “testamento” essas palavras se enrijecem em construções absolutas e duradouras” (Andrew V. Ettin), 94.

O “servo sofredor”: “Os Judeus e a maioria dos estudiosos entendem que remete a Israel.” (Lance Flitter,o.c.p.178)

O absoluto de Deus - “Quando buscamos revelar o absoluto de Deus falamos da verdade. Quando buscamos aplicar os atributos divinos no mundo relativo dos homens e das mulheres, falamos da lei. Separar verdade de lei e lançá-los um contra o outro é trair a integridade que é Deus. A lei aplica verdade a situações cotidianas de nossa vida. A verdade revela que nossa vida nada tem de nosso, dado que ela pertence a Deus; revela que não somos “eus” separados, porém manifestações sem par e temporárias do EU uno, do EU SOU que se acha por trás de todo aquele que diz “eu sou”.(Rami Shapiro),o.c.p.225).

O reino de Deus está entre ou dentro de vocês (Lc.17,20). Essa consciência de Deus como fonte e substância de todas as coisas requer radical mudança de consciência. Exige de nós que vejamos o Uno que é igualmente muitos. É essa mudança radical de consciência que que Jesus alcançou. Jesus voltou ao mundo de seus contemporâneos judeus e tentou ensinar-lhes que também eles contêm o reino dos céus em si mesmos, e que também eles são a um só tempo humanos e divinos” (o.c. p.225).

“ Diz-se que ele alimentou uma multidão, tal como Elias o fizera, e que fez um homem ressurgir dos mortos como Elias e Eliseu fizeram” (G.b.Gamaliel, o.c.p.118).    Curas: O contemporâneo de Jesus, Hanina ben Dosa curou à distância o filho de Gamaliel”. As cobras não o matavam, curava pessoas a distância, fazia chover. E árvores renascer. Assim como Apolônio de Tiana era capaz de ressuscitar mortos, afastava epidemias, ressuscitou uma jovem, desaparecia e aparecia, inivssível. Eliázar expulsava demônios. (Cf.Daniel Matt.o.c. p 104).

Sobre a ressurreição dos justos:  fé que foi recebida da fé iraniana, e vem do problema da reteibuição”. Não deixar  os maus sem castigo e os justos sem prêmio. Aqui não acontece, então é transferido para a outra vida. Aparece esta doutrina na época dos Macabeus (Cf História de Israel, J.Bright, 537).

3. O Jesus histórico.

“O real caráter de nosso primo Jesus tem sido obscurecido pelos exageros publicitários e pelas distorções nos meios de comunicação. Sob tudo isso podemos perceber um perspicaz  mestre com um jeito especial de usar um útil mashá ou parábola e  um dito espirituoso, bom como dotado de uma excelente opinião acerca de sua própria certeza. Mas sua real identidade tem sido coberta por tantas camadas de tradução e transmissão que o Yeshua original não pode ser totalmente revelado” (Andrew V.Ettin o.c. p.92).

“A Palestina do séc.I estava repleta de candidatos a Messias, e Jesus terá sido visto como apenas um outro numa linhagem de pretendentes ao trono de Davi. O que lhes causava preocupações era a ameaça que Jesus representava para a sobrevivência nacional” (Rami. M.Shapiro, o.c.p.221).

 “ Os romanos não faziam distinção entre movimentos religiosos e políticos. Após o assassinato de João Batista ficaram de olho em Jesus e tinham vigias para acompanhar os seus movimentos. Eles tinham o slogan: “onde se fala em religião ali está a sedição”. O verdadeiro motivo da morte de Yesua foi o temor de que o movimento assumisse feições políticas” (Daniel Matt).o.c

 “Herodes ficou alarmado. A eloquência que Jesus tinha era tão grande que o seu efeito sobre as pessoas poderia levar a alguma forma de sedição. Herodes decidiu então que seria melhor entrega-lo e livrar-se dele antes que seu trabalho levasse a uma rebelião. A acusação era de sedição ou de traição” (Josefo, Antiguidades,18,117-118), o.c. p.110).

Um exemplo histórico: Ao rabino Shammai um pagão lhe pediu “converta-me, desde que me ensine toda a TORÁ enquanto eu conseguir me manterá num só pé. Ele o mandou embora de volta. O mesmo foi ter com o rabino Hillel que logo lhe disse: “Não faça aos outros o que não quer que façam a você mesmo”, o resto são comentários”. Comparando com Jesus: “Destes dois mandamentos depende toda a Lei e os Profetas”  (Lawrence Edwuard, o.c.187).

Sobre os samaritanos: “Muitos dos antigos samaritanos tinham sido convertidos à força por João Hircano I no século II antes de Cristo na guerra dos Macabeus.(Daniel Matt, p.105).

Definição de Jesus: “Jesus foi um judeu super piedoso, intensamente apaixonado por Deus, embriagado do Divino, anticonvencional e extremo em sua devoção a Deus e ao semelhante” (Daniel Matt, p.103).

“Quando os meus olhos se encontram com algo que me parece o “autêntico” Jesus vejo outro par de olhos judeus e posso respeitar a pessoa que me olha de volta com seus olhos” (Lance Flitter, o.c.p.174).

Reflexões do rabino Rami M.Shapiro: “Passado algum tempo abri os olhos e percebi à minha frente um grande crucifixo. Também percebi que Jesus chorava. Ouvi de repente uma voz, Jesus falava comigo: “rabino, disse ele, o que você está fazendo aqui? Respondi: Rabino Jesus, o que você está fazendo aí?” E nós dois nos fitamos durante longo tempo. Jesus finalmente respondeu: “Não é terrível que eles tenham trucidado milhões de pessoas em meu nome? E ouço o clamor da alma dessa gente, todos meus irmãos e irmãs, diga-lhes que parem de matar em meu nome” (o.c. p.160).

A água da samaritana: “Essa sede só chegou ao fim quando se mostra que o eu é uma parte do todo que é Deus.” (p.225)

- Deus é o EU SOU de todos- “O Espirito Santo não é judeu nem samaritano, nem é cristão nem muçulmano”.

“O mito do filho de Deus explode na verdade segundo a qual todo ser humano, toda criatura, toda a qualquer coisa é uma encarnação de Deus” (id).

- “Jesus deixa claro que não é Jesus que é Deus, e sim Deus que é Jesus”.

“O reino de Deus está dentro de vós”: Lc.17,3. Lucas pretendia comentar o versículo  que diz  “a lei não está no céu, está ao nosso alcance para que a coloquemos em prática” (Dt 30,11).(id)

- “No mundo do absoluto não existe tempo, não há nascimento nem morte, não existe mudanças. Deus foi e será o EU de todos”.

- “Contemplai o Pai em mim e vejam o EU de vocês todos.”

- Deus diz: “Sou o Sol que se manifesta na luz do Sol; sou o oceano que se eleva na forma das ondas; sou o Uno que é muitos”.

 “ Nada separa Criador de criatura, nada separa o raio e o Sol ; a onda e o Oceano.”

- “ A morte se aplica apenas à personalidade; o verdadeiro eu é eterno”( Rami.M.Shapiro).

“ Jesus é uma flor do Judaísmo cortada em pleno florescer” (Daniel Matt),o.c.110

No documento “A Alegria do evangelho” eis as palavras do Papa Francisco referindo-se aos nossos irmãos judeus: “A Igreja que partilha com o Judaísmo uma parte importante da Escritura Sagrada considera o Povo da Aliança e a sua fé como uma raiz sagrada da própria identidade cristã. Não podemos considerar o judaísmo como uma religião alheia.

O diálogo e a amizade com os filhos de Israel fizeram parte da vida dos discípulos de Jesus. Somos levados a lamentar as terríveis perseguições de que foram vítimas, em particular as praticadas quando envolveram cristãos

A Igreja também se enriquece quando recolhe os valores do Judaísmo. Há uma rica complementaridade que nos permite ler juntos os textos da Bíblia, e ajudar-nos mutuamente a desentranhar as riquezas da Palavra” (Alegria do Evangelho, nn. 247-249).

P. Casimiro João     smbn


 

sexta-feira, 9 de julho de 2021

O que signifca "botar água no feijão da Santa Ceia"


 

Alguns setores religiosos dizem que a Teologia da Libertação usa métodos marxistas de análise da sociedade estão querendo “botar água no feijão da Santa Ceia”: “eu digo uma coisa mas eles entendem outra” diz a cristã Maria Elisabeth; eu falo de evangelho e eles entendem que falo de métodos". Na verdade os métodos não têm religião. O contrário é querer tapar o sol com a peneira ou querer "botar água no feijão da Santa Ceia".

Esses fazem como aquela Madame que dizia assim no Rio de Janeiro: “eu sou muito amiga dos pobres, a última vez foi quando vi um pobrezinho perto de um bueiro e ajudei ele a cair no buraco”.

P.Casimiro     smbn

Cf.BLOG www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 04/07/2021

domingo, 4 de julho de 2021

Um Hino, duas Teologias, dois Continentes, dois Testamentos


 

“Das alturas orvalhem os céus, e das nuvens que chova a justiça, que a terra se abra ao amor e germine o Deus salvador.” . (Salmo 84)

Esse hino prolonga a ideia e a mentalidade do Antigo Testamento que é a escatologia da seguinte maneira: colocar a responsabilidade em Deus, que manda os sofrimentos atuais, mas que no fim promete que irá vingá-los. Na verdade a escatologia tem duas faces que incluem duas cóleras de Deus: a primeira era a cólera de Deus que punia o povo mandando-lhes os inimigos para castigá-lo. A segunda era já a vingança contra esses mesmos inimigos no final da história como a vinganças dos sofrimentos que tinham causado ao mesmo povo. Como? Se tinha sido ele que os tinha mandado?

Uma resultante desta teologia era que o povo não podia fazer nada diante dessa vontade de Deus. E daí fabricavam dois erros: o primeiro, Deus é que tinha mandado esses castigos para o povo; o segundo, Deus quando quisesse iria ele mesmo determinar a hora e o tempo disso acabar. Isto é, tudo dependendo de Deus e nada do homem. É o conceito do fatalismo: é porque tem que ser  e quando Deus quer.

Por isso é que invocavam as nuvens do alto para que de lá viesse o orvalho. Isto era a teoria dos Hebreus, sempre expressa na Bíblia do Antigo Testamento. E do lado helenístico ou grego, esta teoria também tinha um nome, eram os gnósticos, segundo os quais o demiurgo era aquele segundo deus que estava entre os homens e o deus supremo, e tinha que descer das nuvens e vir socorrer os homens. Sempre reforçando a ideia do fatalismo.

Assim sendo, fabricou-se o pensamento alienado e alienante : “deixa o mal do jeito que está. Não se pode adiantar nada ao tempo de Deus. Não leva a mexer uma palha em favor da justiça. Dizem os alienados: “Deus assim o quer” São mortes? “Deus assim o quer”. A nação perdeu uma guerra? “Deus assim o quer”. E esta mentalidade passou e chegou, e ainda está presente em muitos viventes do século 21. Não podendo fazer nada, o máximo é que Deus possa apressar o final dos tempos: se ele quiser, se não quiser é porque ainda está querendo o tal sofrimento.

Nos inicios do Novo Testamento houve uns vislumbres de que os últimos dias estariam chegando. Eram os que reforçavam o messianismo de Jesus. Porque o imaginário do Messianismo era que com ele iria chegar a vingança final de Deus e o fim dos tempos. Haveria o castigo visível e claro para os maus, e todos os justos veriam o castigo dos maus e a ressureição dos justos.

Assim se fala na Carta de Pedro: “O dia do Senhor virá como um ladrão e então os céus acabarão com barulho espantoso; os elementos devorados pelas chamas se dissolverão, e a terra será consumida com tudo o que nela se fez” (2 Pd. 3,10).

E na Carta aos Tessalonicenses: “A vinda do Senhor será como um ladrão, de noite. Quando for dado o sinal, à voz do arcanjo e ao som da trombeta de Deus, o mesmo Senhor descerá do céu, e os que morreram em Cristo ressurgirão primeiro, depois nós os vivos seremos arrebatados juntamente com eles ao encontro do Senhor nos ares” (1 Tes.6,2). E nos evangelhos em vários lugares. Um lugar característico é o seguinte: “A terra tremeu, fenderam-se as rochas, os sepulcros se abriram, e os corpos de muitos justos ressuscitaram” (Mt.27, 51-52). Só o evangelho de Mateus escreveu isso aqui porque falava para judeus.

Foi daí que nasceu em 1920 o Fundamentalismo bíblico nos Estados Unidos. Os fundamentalistas aguardavam no tempo deles essa vinda final do Messias, e com ele o final dos tempos. E como estava nessa época florescendo a teologia da libertação, eles combateram-na com toda a política dos USA, aliada a todo protestantismo e ao presidente americano da época. Porquê? Era proibido lutar em favor do pobre, porque Jesus estava para chegar. Eles tinham que morrer assim mesmo.

O segundo motivo era que eles, como os antigos, olhavam para as nuvens, não para o chão e nem para o sofredor. Eles se castravam olhando só para as nuvens e por não entender o evangelho quando diz: “quando o boi  ou o jumento caiem no poço, vocês não o tiram? No entanto deixam o ser humano caído no fundo do poço” (Lc,14,5).

Essa luta era contra também a teologia da libertação que olhava para o ser humano caído no fundo do poço. Um teólogo disse: “Uns defendem os Pobres, outros se defendem dos Pobres”. E na verdade a defesa do pobre é o lema de toda a Teologia da Libertação. Porque uma teologia que tem por princípio “se defender dos Pobres” é muito de acordo  com os governos atuais.

Os setores da Igreja que dizem que a Teologia da Libertação usa métodos marxistas de análise da sociedade estão querendo “botar água no feijão da Santa Ceia”: “eu digo uma coisa mas eles entendem outra” diz Maria Elisabeth; eu falo de evangelho e eles entendem que falo de métodos. Na verdade os métodos não têm religião. O contrário é querer tapar o sol com a peneira ou querer botar água no feijão da Santa Ceia.

Esses fazem como aquela madame que dizia assim no Rio de Janeiro: “eu sou muito amiga dos pobres, a última vez que foi quando vi um pobrezinho perto de um bueiro e ajudei ele a cair no buraco”.

P.Casimiro     smbn

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