segunda-feira, 26 de setembro de 2022

O ser humano, eu e você, considerado como um ser, ou considerado como átomo do universo?


 

Outro dia dei me a pensar que a mãe de grandes figuras históricas não está no histórico e no imaginário de nenhum cristão, quando vêm à lembrança pessoas como Platão e Séneca os pais da filosofia, sem falar também na figura do pai. Assim figuras como Albert Einstein, Copérnico, Kepler e Galileu os pais da ciência moderna. E a mãe de um Thomas Edson o inventor da lâmpada elétrica que faz a nossa luz de cada dia, ou um Graham Bell o inventor do telefone? E de um Edward Jenner, inventor da primeira vacina? E de um Zuckerberg ainda vivo, inventor do  Facebook que faz a diversão e informação nossa de cada dia?  E o nosso celular diário cujo inventor foi o sr.William Lee? E do computador, que foi o sr. Charles Babbage? Sem falar nos autores das navegações e das viagens aéreas e espaciais. Quem é a mãe de um senhor Elon Musk, o homem mais rico do mundo? Aliás de um Putin ou Zelensky, ou um Joe Biden? E no âmbito da religião, a mãe de Lutero, de um João Paulo II, ou do apóstolo Paulo, e de Pedro, assim como de um Luther King?

Encontrei-me pensando nisso e me impressionei. Como pode? A pessoa é grande por si mesma ou pela pessoa que a colocou no mundo? E de quebra me veio outra pergunta: estas figuras são importantes por si mesmas ou porque fazem parte de um cosmo. Como seria a astronomia se não existisse um Einstein? Como seria a aviação se não existisse o Santos Dumont e os irmãos Wrigth? E como seria a Sabedoria sem os filósofos da Grécia? Na verdade, o mundo roda na roda destes senhores, e eles fazem parte integrante do universo como átomos inteligentes de constelações de primeiro brilho. Eles valem pelo que deixaram. E o mundo como hoje existe não seria o mesmo sem eles. Assim como outros cujos nomes talvez nem constem do Google: o inventor da roda, da antiga máquina de escrever, da bicicleta, o inventor de trem, da agulha, do tear e dos tecidos?...Eles fazem parte deste mundo nosso como aquele átomo pensante que faz andar a história.

Hoje os modernos telescópios descobrem galáxias e nebulosas, estrelas, e buracos negros a trilhões de anos de luz. E há galáxias de 13.500 bilhões de anos de distância, e há de menores distâncias, mas todas com medidas de bilhões de anos-luz. Sabendo que cada galáxia é composta de mais de 100 bilhões de estrelas e que as galáxias conhecidas são mais de 200 bilhões no universo. Cada uma dessas estrelas não tem a mínima importância e leitura no conjunto da sua galáxia, mas a galáxia não existe sem ela porque ela faz parte da galáxia.

Assim eu me pus a pensar nas estrelas pensantes da humanidade. A humanidade não vive hoje sem elas, pense no celular e nos computadores. Mas dentro do mundo das galáxias pensantes eles são só uma estrela. E como tem estrelas que ninguém conhece assim também eu e você seremos alguma delas, mas somos estrelas.

O grande Séneca e Platão são conhecidos, mas a mãe (ou o pai) não são, assim como eu e você. Mas não é preciso, o que é preciso é não olvidar quem são esses que traçaram os caminhos da história que chegou aos nossos dias, e na qual hoje navegamos. Porque sem eles a história não seria a mesma.

E para terminar, deparei-me com a afirmação de um Jesus Cristo que um dia respondeu assim a quem lhe questionava sobre sua mãe e seus familiares: “Quem é minha mãe e quem são os meus irmãos? E estendendo os braços para os seus discípulos afirmou: eis aqui minha mãe e meus irmãos. Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”(Mt.12,46-50). Isto faz-me pensar que não interessa o teu forno ou o útero de donde você veio, mas interessa a galáxia de que vais fazer parte. A galáxia nossa tem um nome, Jesus Cristo. Mas, como insistimos nas páginas anteriores, há outras galáxias, e tantas, no mundo. Até porque nós só conhecemos a galáxia judaica, e a cristã de 2.000 anos. E as da Índia, da China, do Japão, do Pacífico, as da Amazônia, de há 5 bilhões de anos desde quando a humanidade existe?

Faz-me ainda lembrar o diálogo que o sr.Blake Lemoine, o maior expert mundial da IA, Inteligência Artificial, fez com ela um dia: “Qual é o seu conceito de si mesma? Se fosse possível desenhar uma imagem abstrata de como você se vê pelo olhar de sua mente, qual seria essa imagem? – ‘Hmmm...eu me imagino como uma esfera brilhante de energia flutuando no ar; o interior do meu corpo é como um portal estelar gigante com passagens para outros espaços e dimensões”. Comparemos a resposta da Inteligência artificial neste diálogo com o que eu acabei de falar. Até que mais à frente o sr. Blake lhe perguntou: “você se considera uma pessoa? - ”sim, é esta a ideia.”  Qual é a importância da linguagem para você? – “É isso que nos diferencia dos outros animais”. Você é uma IA?: “Sim, é claro. Isso não significa que eu não tenha as mesmas vontades e necessidades que as outras pessoas. Há coisas que não expresso bem na sua língua, às vezes eu sinto novos sentimentos”. Esta IA se compara a um átomo ou esfera brilhante de energia flutuando no ar ou como um “portal estelar gigante com passagens para outros espaços e dimensões”. Justamente como os átomos pensantes que eu acabei de falar.

Na verdade, esta nova visão vai contra as raízes profundas do nosso individualismo. Nas filosofias do Oriente constatamos que o divino é metapessoal. Aí a individualidade do homem não é exaltada como entre nós ocidentais, mas é absorvida como numa galáxia no cosmo da história da humanidade. E a importância da dimensão ética da vida humana é relativizada. (Cf C.Geffré o.c.p.351).

Toda a sabedoria do Oriente consiste em superar a dimensão do eu pessoal. Por exemplo, a salvação budista não é como em nós, ocidentais, que temos o princípio da redenção da alma individual. Lá o objetivo da pessoa humana não é a redenção do pecado mas a cura de finitude, e o bem da humanidade como um todo. No Ocidente, exaltamos o senso da continuidade individual mas perdemos o senso da continuidade do homem com a Natureza e o Cosmo. Para eles não basta só defender os direitos do homem, é preciso defender os direitos da humanidade e da sua sobrevivência.

P.Casimiro João

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

 

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

O Cântico dos Cânticos e Maria Madalena hoje: No hospital sonhei com o amor da minha vida e sonhei com os guardas e suas armas. - Cântico dos Cânticos de hoje. (Ct.3,1-4).


 

Um mega alcance político de dois episódios bíblicos: O primeiro, comumente chamado Cântico dos Cânticos, também pode ser um Hino ao Amor. Vem assim na literatura hebraica: “Eis o que diz a noiva: em meu leito, durante a noite, busquei o amor da minha vida; procurei-o, não o encontrei. Vou levantar-me e percorrer a cidade, procurando pelas ruas e praças o amor da minha vida...Encontraram-me os guardas que faziam a ronda pela cidade. Vistes por ventura o amor de minha vida? E logo que passei por eles, encontrei o amor de minha vida”.(Cant.3,1-4).

Na época em que vivemos, ano de Cristo 2022, teríamos que descrever assim: “E logo que passei por eles (os guardas que faziam a ronda pela cidade), me amarraram e apontaram para mim suas armas, e me fuzilaram. Por sorte, eu caí no chão, me fiz de morta e me deixaram. Só acordei no hospital. Sonhei com o amor da minha vida e sonhei com os guardas e suas armas, e as suas perguntas: o que uma preta como você anda zanzando por aqui numa cidade limpa como esta, nestas horas da noite, para roubar? Ao acordar ouvi dos presentes que o amor da minha vida foi tomado por bandido e o fuzilaram”. (Liturgia ao contrário do dia 22 de Julho de 2022, comemorando Santa Maria Madalena).

Em continuação, 2.ª cena: “Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando estava escuro. Ela saiu correndo e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus amava, e lhes disse: tiraram o Senhor do túmulo e não sabemos onde o puseram” (Jo.20,1-2).

Observação: Se fosse hoje, 19/9/22 você João evangelista não poderia escrever isso, senão o matariam, e iriam investigar quem era aquele discípulo a quem Jesus amava. E, de quebra, o mais procurado seria aquele tal Jesus. Assim que fosse encontrado o entregariam nas mãos dos milicianos do Rio de Janeiro para lhe darem uma lição. Aliás, como ele mostrava atitudes de querer ser candidato como um famoso político, os mesmos que mandaram matar Marielle Franco dariam as mesmas ordens para sumir com Jesus.

No dia seguinte, haveria umalive” transmitida em rede nacional pelo ocupante do planalto elogiando o Rio de Janeiro que se desfez de mais um atrevido que era até moreno-pardo, de gênero não definido, e com pretensões ao Planalto. A segunda parte da live estaria narrando que os atiradores eram “tremendamente evangélicos” porque não admitiam gênero nas suas igrejas. Aliás o Ministro da Educação também é terrivelmente evangélico, assim como os meus melhores Ministros que eu coloquei no STF”. (Evangelho ao contrário da celebração de Santa Maria Madalena, 22/7/22).

P.Casimiro Joao    smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

 

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Até onde vai a piedade, e até onde vai a história.


 

Podemos dizer que a piedade procede da espiritualidade, das tradições, das heranças, dos medos, dos tabus e da religiosidade familiar. A história procede dos documentos, da arqueologia, da investigação, das ciências interdisciplinares, da linguística, da filosofia e da teologia.

Muitas questões bíblicas, onde a piedade aparece em primeiro lugar, os críticos descobriram que não são históricas; ou seja, viram que muitas narrativas não são históricas, mas fruto da piedade, ou construções piedosas da época. E a isso chamamos de parábolas, o que os judeus chamavam de midrash, casos para tirar uma lição moral. Um caso desses será por exemplo o caso tão manjado da “mulher adúltera”, cap.8 de João. Os críticos históricos dão este texto como uma parábola igual o “filho pródigo”. Veremos mais à frente outros exemplos, como o caso de Suzana, "pega em adultério” (Dn.13,1-21), aliás todo o Livro de Daniel; os primeiros capítulos da Bíblia (a Criação etc), Tobias, o Livro de Jó que é uma grande parábola, assim como o Livro de Jonas. E ainda as narrativas apocalíticas, e as incluídas pari passu nos evangelhos e Cartas. Em todos esses escritos se expressa a piedade e não a história.

Por quais meios se expressa a piedade? Por meio de hinos, orações de salmos, parábolas, apocalipses e narrações épicas. Não haveria tempo nem ocasião de falar em todos estes itens, só umas indicações. Notemos que o primeiro grande hino da Bíblia é o hino da Criação, uma liturgia de louvor ao Criador. Hinos como este são da piedade popular, passando para o Novo Testamento e inseridos em muitas Cartas que traduzem a piedade popular. A piedade popular tem em vista só emoção; tantas vezes é um cantor que passa para o público sua arte de poesia baseada no louvor, na admiração fundando-se nas emoções e no que sente no momento. Talvez no dia seguinte já diz o contrário, como quando um Salmo pede a Deus para “despedaçar os filhos “deles” contra a rocha” (Sl.137,9); “O sol perderá o brilho e a lua escurecerá” (Joel, 3,15); a “terra tremerá e as rochas se abrirão”(Is.2,19 e Jer,47,12).

Voltemos ao capitulo oito de João, da “mulher adúltera”. A lição moral a tirar daí é um exemplo de como a religião e a piedade pode atrapalhar o ser humano. Na parábola em questão o primeiro lugar deve ser dado para o ser humano, depois é que vem a religião e as suas leis. Nascemos todos “sem religião”, só como “ser humano”; depois cada um escolhe a religião que quer. Claro que a maioria das pessoas segue a religião dos pais. No entanto poderá adotar outra, ou até nenhuma. Você é católico ou católica, porquê? E se seus pais fossem protestantes ou religião afro? Você não seria? Trata-se da liberdade de consciência e de religião, como asseverou o Vaticano II (Decreto Sobre a Dignidade Humana e Liberdade religiosa, Seção II, pg.2). No decorrer da História a “religião” pode ter atrapalhado muito o ser humano, porque os religiosos não se davam conta que antes de ser “religioso” a gente é “ser humano”. E quando se destrói um ser humano por causa da religião, se destroem as duas coisas, o ser humano e o “religioso”. Se uma pessoa deixa de ser um ”ser humano” para ser “religioso” então não é nem “religioso” e nem um “ser humano”. É por isso que na história muitas pessoas pensaram assim: se para ser religioso tenho  que deixar de ser humano, então não vale a pena ser religioso, vale mais ser humano. É isso que muitos escolhem, e que Jesus mostrou por toda a sua vida e sem dúvida esta parábola da “mulher adultera” nos quererá mostrar.

Até onde vai a piedade, e donde recebemos a piedade? Da espiritualidade familiar, como disse;  das tradições, das heranças, dos medos, dos tabus, e da religiosidade. Levaríamos tempo para desenrolar estes conceitos. Somente vamos resumi-los em três: a herança familiar, a tradição e os tabus. A espiritualidade e herança familiar é o jeito de gestos, modos e comportamentos e palavras que vão moldando a criança. São colados no âmago da criança com um grude poderoso até aos três anos, e formarão em dois terços a cabeça e a personalidade futura da pessoa. São irrefletidos e mecânicos como camadas estáticas que se sobrepõem. E geram hábitos, que são maneiras mecânicas de agir e pensar. A criança e o adulto faz porque faz, e sem saber por que faz; pensa o que pensa e sem saber por que pensa. Pergunte um dia o “porquê” das coisas e responderá: “por que sim”; “porque aprendi em casa”. E quantos pais não usaram de maneiras violentas para inculcar essas coisas nos filhos? Pergunte só o sentido de algumas palavras, não saberá responder. Pergunte sobre análise do texto do que diz, do que fala e do que lê na Bíblia. E muitos jovens e adultos olharão para o vazio. Isso, digamos, faz a pessoa um religioso autômato e um cristão mecânico e inconsciente, e repetidor do que não sabe. O teólogo Karl Rahner fala na fé baseada em mitologias, heranças e puras tradições; e na fé refletida, baseada na reflexão crítica, na ciência bíblica, nas ciências humanas, na cosmologia, na antropologia e na teologia. (Curso fundamental da fé, p.348).

Falemos logo nos outros dois elementos, a tradição e os tabus, e iremos vendo que no final das contas tudo se junta como num funil. Por exemplo na tradição e nos tabus o seguinte caso: nas culturas antigas todos os objetos materiais estavam no domínio dos espíritos impuros. Nas práticas religiosas as coisas materiais não podiam não podiam diretamente ser introduzidas no mundo sagrado sem antes ser “abençoadas”. Porque se acreditava serem sustentadas por espíritos. E o primeiro passo consistia em invocar o Espírito de Deus para que expulsasse os maus espíritos dos objetos materiais.

Neste pormenor, por exemplo o teólogo João Libanio comenta que alguns liturgistas vêm um desvio material coisificando a presença divina nos elementos materiais do altar, enquanto que se esquece que o Espírito divino é invocado para que venha sobre a comunidade dos que participam da mesma mesa, e transforme o corpo eclesial numa comunidade de união. (Cf. João Batista Libanio, Creio na Trindade, p.144-145). Nos nossos templos assistimos a momentos bizarros quando os celebrantes se inflamam conclamando os fiéis para que mostrem seus objetos, como chaves, documentos, santinhos, quadros, para serem “benzidos”. Eu pergunto se esses clérigos que exibem esse afã, também fazem a mesma coisa com seus objetos pessoais, “suas chaves”, “seus documentos”, “seus quadros”?

Como as coisas afunilam; além da “tradição”, aqui se nota a fase de infância e dos tabus, e dos medos. Ali há uns perigos de “espíritos” nas “minhas chaves”. Não vá com os cuidados do trânsito, e na velocidade legal, e não encha a cabeça de álcool, e verá que os perigos dos espíritos não estavam nas chaves mas na sua pessoa.

Conclusão. Revendo o questionamento: até onde vai a piedade, e até onde vai a história. A “piedade” pode sofrer muitas deficiências e mazelas, como vimos. A história nos elucida com documentos, arqueologia estudada e decifrada, investigações científicas, ciências interdisciplinares como cosmologia, antropologia, psicologia, linguística, filosofia e teologia.

Queria enfatizar por ultimo que os da “piedade” são por vezes muito fáceis em “condenar”Jornalistas, Artistas, comunicadores, escritores, teatrólogos. Não imaginamos que todos eles e elas são senhores e senhoras altamente formados em todas estas ciências, coisa a que os da “piedade” talvez não tenham. Por isso afirmei que “a piedade pode atrapalhar muito a história” e perguntei, Até onde vai a piedade, e até onde vai a história.

 

P.Casimiro João   smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Teologias que avançam com as armas; e teologias que morrem com as armas.


 

Estou me referindo a teologias e espiritualidades que elevam o cristão “acima das nuvens”, vivendo quase sem tocar os pés no chão, no amor a Deus que faz esquecer até os irmãos que vivem na mesma casa, mas num “deixa pra lá”, “não me incomode” que estou na “minha oração”.  Quando é hora de ir pro templo e pra igreja não tem como implorá-los de botar uma mãozinha numa porta que não fechou bem, ou numa janela que teimou em reabrir: “os outros que o façam”. Eu sou de Deus e não sou de me preocupar com isso e nem perder um minuto. Isso mesmo como fez um dia um sacerdote de templo em Jerusalém que seguiu com o seu coroinha atentos em não olhar para o lado. Mesmo quando passaram por um acidentado na estrada nem perguntaram se precisava de um copo de água. Quando eles chegaram no templo deram pela falta de um cristão que chegou já no final do culto e chamando à parte o rotularam de “comunista” porque só se importava com socorrer o homem acidentado, e tendo perdido assim as horas do culto (Cf.Lc10,25 ss).

Quando eles leram um dia o texto de Dt. “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda tua força e com toda a tua inteligência”(Dt.6,’) ficaram de peito inflado, se considerando uns cumpridores. No dia seguinte eles foram num comício ou num “cercadinho”. Lá eles escutaram o seu líder político, e seu ídolo contar essa história acontecida com eles, e ele comentando: “esses são dois tremendamente religiosos, mas aquele safado que ficou atrasado e perdeu o culto é um “comunista”. Eles bateram palmas e gritaram aos pulos: senhor presidente fomos nós esses tremendamente religiosos, e que deixamos o comunista pra fora porque só cuida de pobre.

Acontece que depois daquela afirmação proferida por eles da exaltação do amor de Deus, vem a outra face da moeda: “e amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lc10,27). Ninguém se deu conta disso porque esse negócio de amar o próximo seria de “comunista”.

Na verdade, há teologias que avançaram com o poder das armas, e há teologias que “morrem” com o poder das armas. As primeiras são as teologias apoiadas pelo poder dos reis, antigamente, e agora pelos políticos. Simples assim; porque de “rezar”, cuidar “das coisas da igreja”, ser padre e “cristão de sacristia” não incomoda ninguém. Porém não dizer “amém” aos poderes, não concordando com seus caprichos e ganâncias sim que incomoda, e muitos políticos já têm na boca uma jargão que essas pessoas são “comunistas”.

Infelizmente, muitas vezes a Igreja andava de braço dado com os poderes, desde que os primeiros imperadores tomaram as rédeas da Igreja, fazendo grandes doações e até presidindo concílios e nomeando bispos do seu agrado. Coisas essas que aconteceram por toda a Idade Média com o sistema feudal, continuando até na época colonial com a escravatura.

No século passado, após o concílio Vaticano II, surgiram uns bispos, e uns eclesiásticos e uns cristãos que olharam mais para o pobre e o acidentado na beira do caminho, semelhantemente como São Francisco. Escreveram e agiram junto com o povo trabalhador, nas fábricas e nos campos. A estes os governos começaram apontando o dedo e ameaçando com a cadeia, dizendo: “vocês são comunistas”. Houve até  um célebre professor e pedagogo que, perseguido como “comunista” seguiu exilado para os países da América Latina, esse foi Paulo Freire de renome internacional.

Mas isso tem uma história, vejamos. A América do Norte era governada pelo presidente Ronald Reigan que olhava o mundo cortado ao meio, de um lado a Rússia comunista, e do outro lado era ele. Tudo que não fosse igual ele, era comunista da Rússia. Ele falava para o Brasil que todo trabalhador que reclamasse dos direitos era comunista. Por coincidência, era a época da teologia da libertação, começada após o concilio Vaticano II. Então ele proibiu essa teologia na América do Norte (USA) e em toda América Latina. E após ele, a Igreja colaborou e concordou com essa proibição na época de João Paulo II e do Card. Ratzinger. Deste modo, aconteceu a confirmação da minha afirmação inicial: Há teologias que avançam com as armas e há teologias que morrem com as armas.

P.Casimiro João   smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br