segunda-feira, 30 de outubro de 2023

IBOPE NA ESCRITA DOS EVANGELHOS.


 

Às Às vezes nós vamos atrás do que no evangelho não tem importância e é de algum comentarista que pôde ter acrescentado ao texto do primitivo evangelho. E isso dava ibope. Ou por não concordar com o que vinha escrito atrás ou colocando um seu comentário às vezes até fora do contexto. Botamos aqui um aparte histórico de como isso acontecia. Em primeiro lugar, os evangelhos tiveram início com a narrativa da Paixão. E a primeira narrativa apareceu 40 anos d.C. no pequeno evangelho de Marcos. Mateus e Lucas tiveram conhecimento dele e depois cada um fez algumas mudanças e aumentos nos seus respectivos escritos que foram chamados de evangelho de Mateus e de Lucas, pelos anos 80 e 95 respectivamente. De João nem se fala porque foi escrito pelos anos 100 ou 105 d.C. E aí devemos tomar consciência  do seguinte: nenhum dos evangelistas foi testemunha ocular dos acontecimentos da Paixão, como eles mesmos atestam quando dizem que depois da prisão de Jesus “todos o abandonaram e fugiram” (Mc. 14,50; Mt.26,56 ). E então deixaram Jesus sozinho e entregue à própria sorte. Em segundo lugar, como não havia testemunhas presenciais nem entre os apóstolos e nem entre os redatores, a curiosidade dos primeiros convertidos levava a se dirigirem aos mais velhos para captar “ditos”, frases e acontecimentos da pessoa de Jesus para reconstituir o “Jesus histórico” da maneira que fosse possível, o que foi acontecendo. Até que, depois das recordações da Paixão surgiu outra coleção ou livrinho que foi chamado de “Ditos de Jesus”. E ambos começaram a circular. Esses “ditos” e acontecimentos eram aumentados depois por comentaristas e novos redatores. E tudo isso sendo grampeado em épocas sucessivas. Este processo foi avançando até o século IV. Aí a Igreja, já mais organizada levantou a voz e veio a proibição de fazer mais aumentos e acrescentos no que já estava escrito. Esse trabalho ganhou o nome de “Lista” ou “Cânon” na linguagem da época. Isso deu-se no concílio de Hippona (África) no ano de 393 por iniciativa do São Cipriano. Na verdade “na época em que a fé cristã entrou no mundo, esse ‘mundo’ era mágico, ou seja, davam mais valor ao misticismo, como sonhos, sinais e milagres, onde tudo era milagre”(Dreher, Martin, “A Igreja no império romano” 2013, p.103). E, como vimos, foi muito difícil reconstituir a figura do “Jesus histórico”. Tornou-se mais fácil delinear então a figura do “Jesus da fé”, que tem feito o grande imaginário de toda a teologia, catecismos, e vivência das Igrejas e do povo cristão. Além disso, ainda que os evangelhos apócrifos ficaram fora do Cânon do séc.IV, contudo muitas páginas deles, difusas e aleatórias ainda ficaram nos evangelhos, sobretudo nas narrativas da Infância e da ressurreição. Uma terceira observação: Dissemos que as narrativas da Paixão não foram presenciadas por testemunhas oculares. Então como foi? Fácil assim: os redatores foram buscar narrativas do Antigo Testamento que falavam do poema do “Servo” de Isaías, cap. 50 sgs. E ai usaram o processo “copia-cola” aplicando-o a Jesus. E foi isto que deu mais ibope do que os fatos históricos anteriores. Um exemplo mais: No cap.14 de Lucas vem que um rei preparou o casamento do seu filho, porém os convidados faltaram ao convite. Foi quando o rei mandou os empregados introduzir na sala do banquete cegos, aleijados, povo da rua para encher a sala do banquete” (Lc. 14,15-24). Em Lucas e Marcos condensam assim. Porém em Mateus foi inserido um comentário de um pregador ou algum catequista que certamente podia não concordar com aquela multidão no banquete, e então, segundo os estudiosos, fez a sua colocação aumentando o seguinte: “Quando o rei entrou para ver os convidados observou ai um homem que não estava usando trajes de festa e perguntou-lhe ‘amigo, como entraste aqui sem o traje de festa?’ Então o rei disse aos que serviam: amarrai os pés e as mãos desse homem e jogai-o fora, na escuridão! Aí haverá choro e ranger de dentes. Porque muitos são os chamados e poucos os escolhidos” (Mt.22,11-14). A gente pergunta: afinal, quem é que estava com traje de festa, se todos estavam sem traje de festa, pois os empregados “se espalharam pelos caminhos e encruzilhadas e reuniram todos quantos encontraram, maus e bons, de modo que a sala do banquete ficou lotada”? (Mt.22,10). E ainda: o comentarista trocou os pés pelas mãos: afinal foram poucos os convidados e muitos os escolhidos, ao contrário do que ele disse, tanto que encheram a sala. Então, repetindo o nosso início: às vezes vamos atrás do que no evangelho não tem importância e é de algum que talvez não sabia o que dizia. Porque dá “ibope”. Quantos pregadores devem ter feito sermões empolgados com este homem castigado porque não tinha o “traje”, atribuindo ao pecado, afinal tudo fora do contexto. Aliás isso dá belamente para um sermão burguês e para auditórios de burgueses. E dá “ibope”. Mas não dá ibope aquela lição moral de incluir gente de rua, trabalhadores, doentes, aleijados, no banquete, e, o que falta ainda, gente que faz questão de escolher seu gênero e suas opções sexuais. Isso não ia dar ibope, pelo contrário, ia dar “exclusão”, do jeito dos fariseus. Falamos que os pregadores tradicionais enfatizam o “traje de festa” para falar do pecado. Na verdade a Igreja  sempre gostou de falar de pecado. Os protestantes dão ibope com o demônio, a Igreja católica dá ibope com o pecado, talvez mais do que com a misericórdia. Só para terminar, outro “ibope” com o pecado: o da “ovelha perdida”, equiparada ao “pecador”. Vejamos o contexto no evangelho de Mateus: “Guardai-vos de menosprezar um destes pequeninos porque eu vos  digo que os seus anjos no céu contemplam sem cessar a face do meu Pai que está no céu. Que vos parece? Um homem possui cem ovelhas, uma deles se perde; Não deixa ele as 99 nas montanhas para ir buscar aquela que se perdeu? E se a encontrar sente mais alegria do que pelas noventa e nove? (Mt.18,10-14).

     Aqui dá ibope duas vezes, falar de “criança” e da “ovelha perdida” referindo-se ao “pecador”, enquanto aqui não tem essa conotação. Já dissemos em páginas anteriores que esses “pequeninos” eram as pessoas expulsas das sinagogas, pois no catecismo dos Judeus (o Talmude), os Anjos se envergonhavam dessa gente incluindo as crianças. E de “ovelha perdida” não tem a ver com o “pecador” mas com essas pessoas expulsas das sinagogas. Como diz o versículo quando falou dos “pequeninos”: que vos parece, um homem possui cem ovelhas, e uma delas se perdeu”, essa que faz parte dos “pequeninos” e que é preciso ser acolhida de volta. “O que fizerdes ao mais pequenino dos meus  irmãos é a mim o fizestes” (Mt.25,40).  Também naquele outro contexto que diz “Deixai vir a mim as crianças e não as impeçam porque o reino dos céus é para aqueles que se lhes assemelham”(Mt.19,14). Quem são aqueles que se lhes assemelham? Os “pequeninos” e os “desprezados”. “Jesus demonstrou sua preocupação pelos pequenos usando um dos termos mais desprezados da época que era a palavra “criança”, e insistiu que seus discípulos recebessem os mais humildes” (Elsie Gilbert, “Biblia e Criança”). Estes humildes eram expulsos das Sinagogas. Resultado: a “ovelha perdida” nunca foi o “pecador” mas as pessoas desprezadas e expulsas dos ambientes sociais e religiosos, como hoje das nossas igrejas e convivências. E o evangelho em questão termina assim: “Quando encontrar essa pessoa pequena e expulsa (essa “ovelha expulsa” haverá mais alegria no céu do que pelos 99 acomodados que se julgam os donos da religião, da fé e da igreja” que se julgam justos como o fariseu no “templo” (Lc.18,9-14).

     Conclusão. Este senhor que terá feito esse comentário ele queria falar certamente que o homem excluído tinha “pecado”, falando do  “traje”. Sim, a Igreja sempre teve tendência de insistir no pecado. Os protestantes no demônio. Outro “ibope”. E dá-se outro “ibope” na “ovelha perdida”, equiparada ao “pecador”. Nem vemos que isso vem no contexto dos pobres expulsos da Sinagoga, entre eles as crianças. Então comparemos com o outro paralelo “tudo que fizerem ao mais pequenino dos meus irmãos foi a mim que o fizeram” (Mt. 25, 40). Já pensou no outro “ibope” que tem dado aquilo de que “a mulher foi tirada da costela do homem”? Dizendo que não foi tirada da cabeça nem dos pés para que não fosse dominada pelo homem.” Quanto ibope tem dado essa anedota tirada do “mito” da Criação, de Gn.2,22).

               P.Casimiro João smbn    www.paroquiadechapadinha.bogspot.com.br

 

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

O que é “Revelação”, conceito moderno de Revelação bíblica.


 

No Blog anterior falei que Deus não é propriedade de nenhuma religião. Na teologia tradicional Revelação era a forma pela qual Deus se dá a conhecer e acreditava-se que Deus só tinha se revelado ao povo de Israel. Concomitantemente vinha o conceito mágico de inspiração e inerrância segundo o qual todas as palavras da Bíblia seriam ditadas por Deus. Este conceito mágico hoje não é mais aceito, mormente desde o Concílio Vaticano II,  conforme a Declaração da  Pontifícia Comissão Bíblica de 1993, 40-41 e Documento Lumen Gentium, 16 do Vaticano II. No Blog anterior trouxe à nossa reflexão as diferentes experiências dos vários povos e civilizações e o novo conceito de “revelação”, que consiste na experiência elaborada de homens e mulheres que desenvolveram experiências mais vivas de Deus.(cf. E.Schillebbekx, “Jesus, História de um Vivente, p.20-26; e H.Kung, “Teologia a caminho”, p.135). 

Depois da reflexão sobre as diferentes experiências dos povos, comecemos pelo exemplo paradigmático, o povo de Israel. O povo de Israel passou por duas experiências diferentes e sucessivas de Deus: do deus da agricultura, “Elohin” que era o mesmo dos Sumérios passou para o deus da guerra, Sabaoth, com a experiência do faraó e da monarquia do rei Davi e aí foram desenvolvendo, absorvendo e formulando a “revelação de Deus” como deus guerreiro: “Formei-te guerreiro para saberes que fora de mim não tem outro” (Is. 45,6). A essa revelação chamamos “o deus do Antigo Testamento”. Com a vinda de Jesus Cristo ao mundo, a humanidade ficou marcada com uma nova “revelação” a que eu chamaria a “terceira revelação bíblica”. Esta é fundamentada na experiência que os Apóstolos tiveram de Jesus Cristo. Jesus Cristo sendo judeu não partilhou da experiência do povo judeu do Antigo Testamento como “deus dos exércitos”, ou “guerreiro”. Desligando-se dessa experiência, corrigiu sempre os seus discípulos que não podiam ser “filhos do trovão” quando eles pediram para mandar “fogo do céu” e queimar os seus adversários (Jo.5,7). Chamando-os até de “satanás” quando teimavam em que ele devia ser o Messias imperador e guerreiro igual o rei Davi (Mt.16,18). Assim Jesus confirmava essa sua desligação da antiga experiência de “revelação” de um deus guerreiro e “imperador”. O último corte conhecido foi o seu silêncio na hora da “Ascenção” quando lhe perguntaram se era agora o início do seu reino imperial? (At.1,1). Daí em diante começou para os apóstolos uma nova etapa, o nascimento de um mundo novo, e de uma nova religião: a nova “revelação”. A duras provas os apóstolos se acostumaram a dizer “Tchau” ao deus do Antigo Testamento, ao mesmo tempo que começaram a sintonizar com a experiência de Jesus Cristo e com a nova “revelação”: “não, o Pai de Jesus não é o deus guerreiro e vingador do Antigo Testamento mas o Pai que acolhe fracos, pequenos, doentes, cegos, aleijados, coxos, paralíticos, mulheres, leprosos, crianças, pecadores, prostitutas, e rejeitados. Eles mesmos sentiram na pele essa fraqueza e rejeição, apanharem de todo o jeito, foram perseguidos, e viram companheiros degolados e mortos à espada. E finalmente sofreram o vexame de ser expulsos das Sinagogas dos seus próprios concidadãos. A esta experiência foi dado o nome de Novo Testamento, e “nova revelação”, como lhe chama inclusivamente o livro do Apocalipse: “Revelação de Jesus Cristo, que lhe foi confiada por Deus para manifestar aos seus servos o que deve acontecer em breve” (Apoc.1,1).

E agora me permitam transcrever H.Kung: “Não há revelação fora da experiência humana, nem cristianismo sem a experiência concreta de Jesus Cristo que dá à vida humana sentido, significado e direção. Jesus Cristo é para a fé cristã revelação definitiva de Deus porque seus primeiros discípulos assim o experimentaram. De certo, não é a fé dos discípulos que constitui Jesus como revelação, salvação e graça de Deus; mas sem essa experiência de fé eles não poderiam considerá-lo como revelação de Deus, salvação e graça. A revelação se realiza num longo processo de acontecimentos, experiências e interpretações, e não numa intervenção sobrenatural um tanto mágica. Usando uma imagem: a revelação vem “de cima”, de Deus, mas sempre é experimentada, interpretada, testemunhada e enfim teologizada “de baixo”, ou seja pelo homem e a partir dele.” (o.c.p.135). Comparemos minha reflexão acima com esta afirmação de H.Kung quando diz que a “revelação vem de cima”. E como custou aos Apóstolos essa nova e “terceira revelação” vinda “de cima”, de Jesus Cristo, tanto que eles não foram capazes de recebê-la nos três anos da vida de Jesus mas só depois da partida de Jesus. E continuando: “mas sempre é experimentada, interpretada e testemunhada e por fim teologizada” (H.Kung,o.c.p. 135). Aqui falamos de “experiência” e “teologização” da “revelação”. Aqui entram modelos culturais da época em que se processa essa teologização. E aqui afirmamos que as duas primeiras “revelações” bíblicas dependeram da história de Israel, a primeira de um “deus agricultor”, a quem deram o nome de “Elohin”, a segunda como “deus guerreiro” ou deus dos exércitos. E a terceira “revelação” dependeu da experiência com Jesus Cristo.

Tanto as experiências de Israel como dos outros povos foram interpretadas e teologizadas segundo modelos culturais da sua época. Vejamos a este respeito mais: “Não só as experiências provenientes da história de Israel, mas também as experiências com Jesus Cristo foram apresentadas desde o início com interpretações diferentes pelos autores bíblicos. São articulações figurativas e conceituais seguindo modelos de um mundo de experiências totalmente diferentes do nosso, que já não falam diretamente para nós, e que precisam hoje de novas interpretações e nova linguagem. O Novo Testamento assumiu com muita liberdade elementos da antiga cultura. Isso também dá a nós a liberdade de apresentar novamente a nossa experiência com expressões próprias de nossa cultura moderna. O Cristianismo não se baseia em mitos, lendas ou fábulas, e tampouco é uma “doutrina” ou a religião do “livro” (H.Kung, o.c.p.136-137).

A teologia cada vez mais usa o método histórico-crítico que tem presidido e fundamentado a ciência moderna. E como afirma ainda o autor citado: “o mesmo concílio vaticano II aprova fundamentalmente o método histórico-crítico. De fato: se hoje uma exegese a-histórica já está totalmente superada, também o está uma teologia dogmática a-histórica. E se a Bíblia precisa ser interpretada de forma histórico-crítica, ainda com muito maior razão também o dogma pós-bíblico. Uma teologia que em vez de questionar os “dados” permanentes continuasse aberta ou veladamente autoritária não poderá responder às exigências científicas do futuro” (o.c.p.139).

Finalmente, o que fica aqui dito sobre a “revelação” e a “experiência” do povo de Israel vale também para os outros povos como afirma São Paulo: “Acaso Deus é só dos judeus? Não é também Deus dos pagãos? Sim, é também Deus dos pagãos. Pois Deus é um só” (Rom.3,29). “Essa experiência com experiências não aconteceu de maneira abstrata em um indivíduo isolado mas sempre no contexto concreto de uma cultura determinada e de uma tradição de experiência religiosa seja cristã, seja budista ou outra. (o.c.p.144). Atenda-se ainda ao seguinte, como atrás ficou afirmado: não basta “recorrer sempre a uma mensagem supostamente a-temporal e eterna, mas é preciso uma nova “tradução” para o nosso mundo. Já indicamos: cada nova situação é um elemento constitutivo intrínseco na compreensão da revelação de Deus. (id.id.).

Conclusão. Quisemos muito resumidamente condensar e definir o conceito de “Revelação” como a teologia o propõe hoje. A teologia atual se baseia no método histórico-crítico da exegese. Na teologia escolástica e neo-escolástica a exegese era uma ciência auxiliar de Teologia dogmática, porém hoje se propugna como sendo ciência teológica Fundamental, segundo J.Blanc e H.Kung. Aqui neste novo paradigma também é posta em questão a Tradição como segunda fonte da teologia dogmática, para a qual a Escritura funcionava como uma “pedreira exegética”, para extrair dela frases soltas e muitas vezes fora do contexto que serviam para aprovar o que se pretendia. Seria um armazém da “pedra filosofal” que servia para tudo. Daí nasciam procedimentos harmonizadores donde concluíam o que convinha. Essa tradição portanto não resistiu ao bisturi da exegese histórico-crítica. Além disso faziam muita confusão entre Eclesiologia e Teologia com interpretações equivocadas, como a exegese moderna descobriu, nos seguintes exemplos: o “poder das chaves”(Mt.16,19);  “Todo o poder me foi dado nos céus e sobre a terra”(Mt.28,18) que levou ao imperialismo mais absolutista da Igreja; e “Quem crer e for batizado será salvo, quem não crer será condenado”(Mc.16,16) entre outros. “A teologia só o será se se fundamentar na exegese histórico-critica” (Josef Blanc, cit. por H.Kung o.c.p.135).

P.Casimiro João   smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

DEUS NÃO É PROPRIEDADE DE NENHUMA RELIGIÃO


 

Deus é eterna pergunta; as respostas nunca chegam a responder. A teologia atual diz que a resposta é sempre o fruto de uma experiência desse Deus irrespondível. (Cf: E.Schillebeekx, “Jesus, a história de um Vivente”, p.20-22; H.Kung “Teologia a caminho, p.135). Sempre houve homens e mulheres com experiências mais vivas de Deus. Alguns escreveram livros, outros só deixaram discípulos. Entre os judeus, que eram agricultores, eles tiveram uma experiência de um deus agricultor que criou o homem num jardim. Mais à frente tiveram a experiência de um deus guerreiro com a experiência do faraó no Egito e com a experiência da monarquia de Davi. O primeiro deus era El, o deus da montanha e da agricultura. O segundo foi Javé, o deus da guerra e dos exércitos (Sabaoth). O vizinhos e antepassados deles, os sumérios começaram também com o mesmo deus “El” da agricultura e da fecundidade. Os gregos tiveram o deus do fogo que acabou sendo roubado por um deus revoltado, o famoso Prometheu que trouxe o fogo para a terra. Pandora a mulher do ladrão do fogo espalhou os males na terra porque recebeu uma caixa com todos os males, e quando foi abrir a caixa espalhou os males no mundo, quase assim como fez a Eva na Biblia dos judeus. Os gregos cultivavam a sabedoria, que era representada pelo fogo. Mais à frente, concentraram a sabedoria no Logos, deus da sabedoria, principio sem princípio e existente antes de todas as coisas. Sabedoria que tudo criou.

Os chineses tiveram a experiência da harmonia do universo. O deus Panku era o dono de um machado que dividiu o mundo entre céu e Terra. Panku era a consciência do Universo. Para os chineses a sabedoria conta mais do que a santidade. Por isso cultivavam a harmonia entre o mundo e o espirito. O mestre Confúcio foi o primeiro a publicar a grande máxima dos chineses: “Não faças a ninguém o que não queres que te façam”. Ele divulgou o principio do Tao ou Taoismo que representa o equilibrio das forças positivas e negativas do universo.

Os índios da América do Sul tinham o deus Tupã, deus das matas e das florestas e dos frutos. As matas mais fechadas se abriam por elas mesmas para lhe dar passagem. A um aceno seu se acalmavam os ventos mais desencadeados. Quando o mar estava furioso, um simples gesto de sua mão lhe impunha obediência. Nessa experiências das matas e dos mares e dos frutos, o símbolo maior é o Cocar, confeccionado de penas de aves e plantas só existentes na Amazônia.

Já para os Japoneses, cercados de água e cujo país é um aglomerado de ilhas e mar, é o deus Kami, o deus dos kamikazes, que é o deus dos pescadores. Das águas e dos mares. É ele que dá aos homens o equilíbrio entre os homens e a natureza. Ele também é o deus da agricultura e do arroz. Os japoneses mostram o seu talento para o trabalho porque produz riqueza por meio do deus Kami tendo um martelo na mão. A cada martelada faz surgir moedas de ouro, e a martelada representa o trabalho.

Nesta breve exposição vimos como a experiência que os homens tinham de Deus é resultado das suas experiências com o meio ambiente, de onde partem para o ser superior. Uns se baseiam na agricultura, outros nos rios e matas, outros na floresta, e outros na sabedoria. Um dia Jesus perguntou aos discípulos o que pensavam de sua pessoa, quem ele era? Pedro de imediato deu uma resposta: o Messias, o filho de Deus. E pela sequência fica bem claro qual era o conceito de Messias que ele tinha na cabeça, e que estava na cabeça de todo mundo: um rei guerreiro enviado por Deus para restaurar o Israel e sujeitar todas as nações ao seu domínio. Portanto, Pedro tinha na cabeça a experiência de Israel, o deus guerreiro da época gloriosa da monarquia de Davi. E de quebra, o Messias enviado por Deus devia ser o mesmo terrível monarca e invencível guerreiro e imperador.

Que isto estava na cabeça dos discípulos fica claro no episódio dos filhos de Zebedeu, que junto com a mãe se dirigiram a Jesus para que, no seu reino colocasse eles dois, “um à direita e outro à esquerda". (Mc.10,35-45). A resposta de Jesus foi decepcionante para eles. Exatamente como a resposta ao Pedro a quem disse que estava fazendo o papel dos “demônios”, i.é, desviando-o de seu propósito, quando Pedro lhe falou que ele não era Messias para sofrer: “Afasta te de mim, você está sendo para mim como um satanás”(Mt.16,20). Não foi suficiente a lição, porque nos Atos dos Apóstolos, no relato da Ascensão, todos eles gritaram em coro: “É agora que vais restaurar o Reino de Israel”? (At.1,6).

Já houve tempo em que havia da parte de algumas figuras humanas a convicção de que tinham a resposta certa sobre Deus. “À maneira do Coran”, o livro do Islão que os islamitas pensam que é a resposta certa de Deus que teria mandado um Anjo, o anjo Gabriel para escrevê-lo, e portanto nada se pode mudar dele; por isso eles são o ponto do fundamentalismo mais terrível do mundo ainda hoje. Simultaneamente e paralelamente antes do Concílio Vaticano II nas Igrejas cristãs e católica reinava essa mesma ideia, o que hoje já não é mais sustentável. A não ser em algumas minorias que ainda têm a cabeça de há 1500 anos atrás, ou então a cabeça dos fundamentalistas islâmicos. Enquanto que a teologia chegou ao consenso de que a resposta de Deus é o fruto elaborado de homens e mulheres que desenvolveram experiências mais vivas de Deus. (Schillebeebkx e H.Kung, oo.cc.p. 20-22 e pag.153 respectivamente). E nisto se baseia o novo conceito de "revelação" universal, com o corolário de salvação universal, que não se limita ao povo de Israel mas se estende também aos outros povos e suas “bíblias”,  como delineado pelo Vaticano II, (L.G. n.16) e Pontifícia comissão Biblica, 1993, pp.40-41).

Conclusão. Deus é eterna pergunta; as respostas nunca chegam a responder. Deus é maior do que todas as palavras. Deus não pode ser domesticado por nenhuma religião e não é propriedade de nenhuma religião.

P.Casimiro João    smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

 

 

quinta-feira, 12 de outubro de 2023

BLOG DA APARECIDA, PADROEIRA DO BRASIL


 

O livro do Apocalipse traz de novo a serpente, igual como o livro de Gênesis, como a causadora da perseguição. E a mulher perseguida. A serpente como sendo o mal representado; e a mulher perseguida representando as primeiras comunidades do cristianismo que eram perseguidas. (Ap.12 1-16).

Em João, cap.2 é apresentado o evangelho com o ritual do Antigo Testamento nas lavagens representadas nas panelas de água. O evangelho mostra que essa água e essas panelas já não servirão mais para salvar ninguém. Agora é a Igreja que traz a salvação: Aí traz Jesus, Maria e os Apóstolos, representando a Igreja. Capítulo grande num resumo simples.

P.Casimiro João    smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

    

segunda-feira, 9 de outubro de 2023

A Igreja, mãe ou madrasta? Uma cena em 5 atos.


 

O Reino dos céus, no imaginário dos judeus não é o céu. Nem para Jesus e nem para os apóstolos, mas era o Reino que com Jesus estava pra começar. “Não é agora que vais restaurar o Reino de Israel” (At.1,6). Era o que estava também na cabeça de Pedro e dos Doze apóstolos: “Quem é o maior no Reino dos céus” (Mt.18,1); “para sentarmos no teu Reino, um à tua direita e outro à tua esquerda” (Mt.20,21). Vamos apresentar uma cena em 5 Atos: 1º Ato. Jesus terá segurado uma criança e terá dito: “quem receber em meu nome uma criança como esta é a mim que recebe”(Mt18,5) E: “Se não vos tornardes como crianças não entrareis no Reino dos céus”(18,4). Comparemos com outra afirmação de Jesus: “Tudo o que fizerdes a um destes pequeninos foi a mim que o fazeis” (Mt.25,40). Vale dizer estas afirmações são paralelas. Receber uma criança equivale a receber o “menor”. Então compreendemos que “criança” significa o “menor”, o “sem valor”. Fazer-se como criança é se colocar no lugar do menor para fazer parte do Reino dos céus. Isto então é o contrário do que pretendiam os Doze discípulos quando queriam um Reino de grandeza e onde há ministros, chefões, coronéis, e donos de terras onde eles seriam os primeiros. Significa tornar-se pequeno, fazer-se igual aos outros, companheiro e amigo. Porque o orgulho se julga o maior. E o dinheiro é o que faz o orgulho.

2º Ato: “Não desprezeis nenhum destes pequeninos porque eu vos digo que os seus Anjos veem sem cessar a face do meu Pai que está nos céus”(Mt.18,10). Pergunto, e os outros Anjos não veem sem cessar a face de Deus? O que significa? Vejamos: No Talmude (o Catecismo dos Judeus) se dizia que cegos, coxos, mulheres, mudos, doidos e crianças não podiam entrar na Sinagoga porque os Anjos deles tinham vergonha deles e tapavam a cara para não olhar nem para Deus nem para eles. Daí se revertia a situação e se afirma que sim, os Anjos deles não tapam a cara e não têm vergonha deles. É deles o lugar na Sinagoga, no Templo e nos Reino dos céus.

3º Ato: Aplicando aos nossos dias: quem está sendo excluído das igrejas, da Oração, do convívio religioso e social, e do novo Povo de Deus? Não são os pobres, os negros, certas mulheres, os afro-brasileiros, e o povo LBGTQ+?

4º Ato: “Os seus Anjos nos céus veem sem cessar a face do meu Pai que está nos céus” (Mt.18,11) Há um fundo histórico, sócio-cultural e religioso nesta afirmação, como vimos no  Talmude dos Judeus. Nesta parte do evangelho todos esses tipos de pessoas, doidos, cegos, surdos, mulheres, mudos, ficavam todos excluídos da sciedade e incluídos na classe mais baixa que são as crianças. Então, em oposição a esse repúdio e desprezo, aqui o evangelho garante que sim, que essas pessoas sem status e sem estatuto social não só vão poder entrar na Sinagoga e no templo, mas que os Anjos não se envergonham deles e nem fecham os olhos, e assim veem constantemente a face do Pai que está nos céus. E por isso mesmo são os preferidos de Deus numa ironia que os Anjos “não fecham os olhos” para não enxergar Deus nem tais pessoas.

5º Ato: O homem das 100 ovelhas: “Que vos parece, continuou Jesus, se um homem tem 100 ovelhas e uma delas se perde, não deixará as 99 nas montanhas para procurar aquela que se perdeu? Se ele a encontrar ficará mais feliz com ela do que com as 99 que não se perderam”(v.13). A pergunta: quem é a ovelha que se “perdeu”? Justamente esses tipos de pessoas que eram excluídas da Sinagoga. Aí quem se perdeu significa “que vocês jogaram fora, marginalizaram e excluíram do reino de Deus e do Templo. A afirmação é a mesma: por isso são os preferidos de Deus, mais do que os “frequentadores do Templo, e da Sinagoga, com vaidades e preconceitos”. Aqueles que se “perderam” são aqueles que vocês jogaram fora. Infelizmente, com o andar do tempo desviou-se o sentido destas parábolas para um espiritualismo vazio muito individualista, tomando a “criança” no seu sentido biológico, e o “pecador” como a “ovelha perdida”, enquanto que não tem nada a ver com isso: o pecador é quem excluiu e afastou a ovelha. É evidente que, historicamente, à Igreja interessava este sentido “individualista” do espiritualismo “individual” em vez de olhar a realidade da exclusão e de tantas participações por conta de tantos preconceitos. São estas as “ovelhas perdidas”, i.é, expulsas, que é preciso ir atrás e dialogar sobre os motivos do afastamento e da marginalização, e do desprezo e do abandono. Antigamente a Sinagoga era madrasta.     Em vez de acolher excluía. A Igreja de Cristo tem tido épocas de madrasta em vez de mãe. Eu acho que agora está na hora de ser mãe e não mais madrasta como antigamente, que era madrasta. Denunciando esta situação de madrasta, veja a declaração de SONIA GOMES, nos trabalhos que estão decorrendo no Sínodo: “É preciso ter o coração fraterno para o encontro com as mulheres que choram pelo caminho da crucificação diária, pois encontramos muitas mulheres que não tem acesso à Eucaristia, ao Batismo e catequese para os seus filhos, por conta de estruturas ainda duras, moralistas, que não conseguem sentir compaixão”, advertiu. Sônia é presidente do CNL, Conselho Nacional de Leigos do Brasil.

Conclusão. Fizemos pietismo apequenado do termo “criança” e da “ovelha perdida”. Sem avaliar o real sentido e a real lição histórica e teológica que está nestas palavras.

P.Casimiro João    smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br


segunda-feira, 2 de outubro de 2023

O Reino de Deus não tem essa de “torturar”.

 

Há afirmações confusas nos evangelhos e contraditórias entre si que fazemos bem analisar. Uma que nos deixa de queixo caído é aquela que nos diz que o reino de Deus é como aquele rei ou aquele patrão que mandou torturar o servo que lhe devia uma enorme fortuna.  “Como não tinha com que pagar, mandou aquele devedor aos torturadores, até que pagasse toda a sua dívida”.(Mt.18,34). E encerra assim: “É assim que o meu Pai que está nos céus fará convosco se cada um não perdoar de coração ao seu irmão” (v.35). O Pai do céu manda torturar? No entanto, versículos atrás o mesmo evangelista afirma que se deve perdoar setenta vezes sete vezes. (Mt.18,21). Porém, aquele rei não perdoou nem uma vez. O enquadramento destas afirmações está naquela cena que só vem no evangelho de Mateus, quando Pedro teria perguntado a Jesus, “quantas vezes devo perdoar o meu irmão quando ele pecar contra mim, até sete vezes?” Ao que Jesus respondeu: “Não te digo até sete vezes mas setenta vezes sete” (Mt.18,21-22). As sete vezes indicam as sete voltas do sacerdote aspergindo sete vezes com o sangue o altar da propiciação no dia do perdão (Lev.16,13). Mas mais do que isso, terá que ser sempre.  E a cópia ou o modelo terá que ser sempre o que o Pai do céu faz, “que faz a chuva cair sobre justos e injustos” (Mt.5,45). Porém, como vimos, o exemplo do rei torturador não adéqua com a conduta do Pai do Céu e portanto do Reino dos Céus. Autores como Warren Carter (O evangelho de Mateus, p.465-466) dão voltas e voltas sobre estas inconsequências deste trecho e nas entrelinhas dizem que o trecho é uma inserção feita por um redator e tendo sido agregada ao original. Na verdade “este mundo é marcado por demanda e violência física. O cenário é político, um mundo que a comunidade de Mateus provavelmente nunca teria experimentado diretamente mas ‘teve notícias sobre’ e definitivamente sentiu o impacto de suas políticas. Este é o mundo de “todo rei”, a corte de um rei com sua classe de elite de autoridades e criados, clientes ou servos do soberano benfeitor que leva a cabo suas políticas militares, administrativas, financeiras e religiosas. Aqui a atenção é dirigida à esfera financeira, à provável arrecadação de impostos ou tributos que financiam o poder do rei. Este rei está fazendo o que “os outros reis da terra fazem”. Particularmente a atenção se focaliza sobre um dos criados cuja tarefa era de praticar a “teoria proprietária do estado”. Esta teoria via os recursos de um território como pilhagem legitima para o soberano. A tarefa do funcionário ou criado era de transferir riqueza dos produtores para a elite política.” (o.c.p.467). Quando no texto se diz: “Porque o Reino dos céus é como um rei que resolveu acertar as contas com seus empregados”Mt.18,23, o célebre redator deve ter esquecido várias coisas, como aquela verdade que nunca o Reino dos céus ou de Deus não segue os tramites, as manobras e as ganâncias e as torturas dos reis da terra.

Repassando a história, quantas vezes a Igreja não terá imitado este procedimento de tortura? E eu estou pensando na questão de “dívidas”. O cristão congregado numa comunidade chamada Igreja acabaria sendo tratado como funcionário de uma empresa, como o “funcionário” daquele rei da parábola. Por isso, no tempo da Inquisição, quando o cristão faltava com a anuência de fé ou com “desvio de conduta” teria que ser torturado,” e entregue aos torturadores para pagar a dívida da fé. Não teria sido este entendimento que estava na cabeça dos Papas quando promulgaram o decreto da Inquisição, que foi inventado no século XIII (1.233) pelo Papa Gregório IX? No decurso da história da Igreja e da teologia tem havido outras sentenças tomadas do Antigo Testamento que, como esta têm feito teologias que depois mudaram, como aquela “quem crer e for batizado será salvo; quem não crer será condenado”(Mc.16,16). Além de que esta parte do evangelho já não é o original de Marcos, sendo uma glosa posterior de um redator numa catequese do batismo comparando o batismo à circuncisão do Antigo Testamento sem a qual ninguém se salvaria. “Se não vos circuncidardes, segundo o rito de Moisés, não podeis ser salvos” (At.15,1). Chegou-se até ao exagero de Agostinho afirmar que as crianças sem batismo não se salvariam. Hoje em dia sabemos que tanto crianças como adultos sem batismo se salvarão sim no reino dos céus. ojeH Quantas vezes então as teologias se basearam em dados perecíveis e limitados a preconceitos e teorias de tempos antigos.  E assim vemos que a “inspiração” e a “revelação” progridem, como agora constatamos nessa mudança de paradigma. Aliás, como afirma a aporia atual, a “revelação” não terminou com o último apóstolo, até porque o Cânon só foi fixado no século IV, d.C. muito tempo depois do último apóstolo morrer. E em segundo lugar porque muitas teses foram agregadas ou glosadas nos escritos originais por diversos redatores em que a teologia também se apoiou.

A Igreja se exaltou sempre com o poder, desde a época em que tomou para si o poder dos imperadores romanos quando estes iam se acabando. E se baseando-se, como reforço, naquela palavras de Mateus: “Todo poder me foi dado nos céus e sobre a terra” (Mt.28,18). Porém, resta a dúvida se teriam sido ditas pessoalmente por Jesus. Aliás os estudiosos afirmam que são uma cópia do episódio das “chaves de Davi” que o evangelista foi buscar: “Eu porei as chaves da Casa de Davi sobre o seu ombro, e abrirá, e ninguém fechará, e ninguém abrirá” (Is.22,22). O que aconteceu: Depois da derrota e do exílio do Israel do Norte o povo do Sul (Judá) botaram toda a esperança em Ezequias para voltar à antiga glória de Davi, certos de que não iam ser derrotados e exilados como foram os do Norte (Samaria) que já tinham caído no cativeiro; e isto não aconteceu, porque dali a 30 anos este reino de Judá também caiu no cativeiro da Babilônia, e não se cumpriu aquele dito de Isaías que tinha confiado muito em Ezequias, que nunca seria derrotado, mas foi. No entanto essas palavras se casavam bem com poder, que levou a se empoleirar nos báculos e mitras e tiaras e anéis da Igreja.

Conclusão. No séc.XVI Erasmo de Roterdã tinha escrito: “Não é que os hierarcas fazem tudo girar em primeiro lugar ao redor de sua própria honra, de seu poder e de sua glória, do direito canônico e da ostentação do luxo e da pompa das igrejas? Quanta burocracia e quantos funcionários! Em vez da comunhão se produz excomunhão, em vez do anúncio do evangelho, banimentos e interditos. E antes de tudo, tanto no baixo como no alto clero, o dinheiro, as receitas e os gastos são o centro da atenção.” E publicou um diálogo anônimo em que se referia ao Papa Júlio II que levou as “chaves falsas” para o Vaticano, i.é, as chaves do tesouro do Vaticano e então foi rejeitado por São Pedro nas portas do reino dos céus. Consta que toda a Europa tomou conhecimento desta piada para comentar a Igreja triunfalista em contraste com a Igreja do evangelho. (Cf. Hans Kung, “Teologia a caminho” p.41-42.). Isso estava bem em oposição à recomendação do último consistório em que o Papa Francisco nomeou 21 Cardeais: “Não sejam funcionários, sejam evangelizadores” (30.09.23).

P.Casimiro Jão   smbn      www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br