segunda-feira, 16 de outubro de 2023

DEUS NÃO É PROPRIEDADE DE NENHUMA RELIGIÃO


 

Deus é eterna pergunta; as respostas nunca chegam a responder. A teologia atual diz que a resposta é sempre o fruto de uma experiência desse Deus irrespondível. (Cf: E.Schillebeekx, “Jesus, a história de um Vivente”, p.20-22; H.Kung “Teologia a caminho, p.135). Sempre houve homens e mulheres com experiências mais vivas de Deus. Alguns escreveram livros, outros só deixaram discípulos. Entre os judeus, que eram agricultores, eles tiveram uma experiência de um deus agricultor que criou o homem num jardim. Mais à frente tiveram a experiência de um deus guerreiro com a experiência do faraó no Egito e com a experiência da monarquia de Davi. O primeiro deus era El, o deus da montanha e da agricultura. O segundo foi Javé, o deus da guerra e dos exércitos (Sabaoth). O vizinhos e antepassados deles, os sumérios começaram também com o mesmo deus “El” da agricultura e da fecundidade. Os gregos tiveram o deus do fogo que acabou sendo roubado por um deus revoltado, o famoso Prometheu que trouxe o fogo para a terra. Pandora a mulher do ladrão do fogo espalhou os males na terra porque recebeu uma caixa com todos os males, e quando foi abrir a caixa espalhou os males no mundo, quase assim como fez a Eva na Biblia dos judeus. Os gregos cultivavam a sabedoria, que era representada pelo fogo. Mais à frente, concentraram a sabedoria no Logos, deus da sabedoria, principio sem princípio e existente antes de todas as coisas. Sabedoria que tudo criou.

Os chineses tiveram a experiência da harmonia do universo. O deus Panku era o dono de um machado que dividiu o mundo entre céu e Terra. Panku era a consciência do Universo. Para os chineses a sabedoria conta mais do que a santidade. Por isso cultivavam a harmonia entre o mundo e o espirito. O mestre Confúcio foi o primeiro a publicar a grande máxima dos chineses: “Não faças a ninguém o que não queres que te façam”. Ele divulgou o principio do Tao ou Taoismo que representa o equilibrio das forças positivas e negativas do universo.

Os índios da América do Sul tinham o deus Tupã, deus das matas e das florestas e dos frutos. As matas mais fechadas se abriam por elas mesmas para lhe dar passagem. A um aceno seu se acalmavam os ventos mais desencadeados. Quando o mar estava furioso, um simples gesto de sua mão lhe impunha obediência. Nessa experiências das matas e dos mares e dos frutos, o símbolo maior é o Cocar, confeccionado de penas de aves e plantas só existentes na Amazônia.

Já para os Japoneses, cercados de água e cujo país é um aglomerado de ilhas e mar, é o deus Kami, o deus dos kamikazes, que é o deus dos pescadores. Das águas e dos mares. É ele que dá aos homens o equilíbrio entre os homens e a natureza. Ele também é o deus da agricultura e do arroz. Os japoneses mostram o seu talento para o trabalho porque produz riqueza por meio do deus Kami tendo um martelo na mão. A cada martelada faz surgir moedas de ouro, e a martelada representa o trabalho.

Nesta breve exposição vimos como a experiência que os homens tinham de Deus é resultado das suas experiências com o meio ambiente, de onde partem para o ser superior. Uns se baseiam na agricultura, outros nos rios e matas, outros na floresta, e outros na sabedoria. Um dia Jesus perguntou aos discípulos o que pensavam de sua pessoa, quem ele era? Pedro de imediato deu uma resposta: o Messias, o filho de Deus. E pela sequência fica bem claro qual era o conceito de Messias que ele tinha na cabeça, e que estava na cabeça de todo mundo: um rei guerreiro enviado por Deus para restaurar o Israel e sujeitar todas as nações ao seu domínio. Portanto, Pedro tinha na cabeça a experiência de Israel, o deus guerreiro da época gloriosa da monarquia de Davi. E de quebra, o Messias enviado por Deus devia ser o mesmo terrível monarca e invencível guerreiro e imperador.

Que isto estava na cabeça dos discípulos fica claro no episódio dos filhos de Zebedeu, que junto com a mãe se dirigiram a Jesus para que, no seu reino colocasse eles dois, “um à direita e outro à esquerda". (Mc.10,35-45). A resposta de Jesus foi decepcionante para eles. Exatamente como a resposta ao Pedro a quem disse que estava fazendo o papel dos “demônios”, i.é, desviando-o de seu propósito, quando Pedro lhe falou que ele não era Messias para sofrer: “Afasta te de mim, você está sendo para mim como um satanás”(Mt.16,20). Não foi suficiente a lição, porque nos Atos dos Apóstolos, no relato da Ascensão, todos eles gritaram em coro: “É agora que vais restaurar o Reino de Israel”? (At.1,6).

Já houve tempo em que havia da parte de algumas figuras humanas a convicção de que tinham a resposta certa sobre Deus. “À maneira do Coran”, o livro do Islão que os islamitas pensam que é a resposta certa de Deus que teria mandado um Anjo, o anjo Gabriel para escrevê-lo, e portanto nada se pode mudar dele; por isso eles são o ponto do fundamentalismo mais terrível do mundo ainda hoje. Simultaneamente e paralelamente antes do Concílio Vaticano II nas Igrejas cristãs e católica reinava essa mesma ideia, o que hoje já não é mais sustentável. A não ser em algumas minorias que ainda têm a cabeça de há 1500 anos atrás, ou então a cabeça dos fundamentalistas islâmicos. Enquanto que a teologia chegou ao consenso de que a resposta de Deus é o fruto elaborado de homens e mulheres que desenvolveram experiências mais vivas de Deus. (Schillebeebkx e H.Kung, oo.cc.p. 20-22 e pag.153 respectivamente). E nisto se baseia o novo conceito de "revelação" universal, com o corolário de salvação universal, que não se limita ao povo de Israel mas se estende também aos outros povos e suas “bíblias”,  como delineado pelo Vaticano II, (L.G. n.16) e Pontifícia comissão Biblica, 1993, pp.40-41).

Conclusão. Deus é eterna pergunta; as respostas nunca chegam a responder. Deus é maior do que todas as palavras. Deus não pode ser domesticado por nenhuma religião e não é propriedade de nenhuma religião.

P.Casimiro João    smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

 

 

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