segunda-feira, 30 de maio de 2022

A canonização dos Santos e as pressas em algumas canonizações, herdeiras dos imperadores romanos.


 

Existem na Igreja tabus conciliares, surgidos após o Concílio Vaticano II e que ainda subsistem. Questões relativas à família e novas disposições para a nomeação dos bispos, reforma da Cúria dos cardeais e sobre o papado. Eram tabus no Concílio. Quanto ao controle da natalidade e métodos contraceptivos houve três intervenções sucessivas de eminentes cardeais, porém o debate foi logo abortado pelo Paulo VI, que sucedeu a João 23. Afinal o tema foi delegado a uma Comissão especial, que favorecia o debate, mas mesmo assim foi mais uma vez anulado pelo mesmo Paulo VI na encíclica “Humanae Vitae” de 1968, após o Concílio. No entanto, esta tentativa do Papa não teve êxito, desde o surgimento da pílula em 1960. E é sabido que milhões de mulheres católicas em todo mundo se utilizavam já desse método anticoncepcional. Aliás, a pílula foi inventada por dois cientistas católicos John Rock e Pasquale DeFelice. A bem da verdade, a referida Encíclica que proibia o controle da natalidade e como tal o uso da pílula mostrou o primeiro caso na história do século 20 em que a grande maioria do povo e do clero recusou-se a obedecê-la. (Cf H.Kung A Igreja tem salvação, pg.175 e 178).

É verificável que houve atividade e um propósito de frear o movimento conciliar assim como as reformas propostas pelo Concílio logo desde o Papa Paulo VI. Esta atitude de não aceitação do Concílio ainda aumentou com a chegada do Papa João Paulo II, atitude que alguns teólogos chamam de “traição ao Concílio” (o.c.p.180), que consiste num distanciamento da Igreja de tudo que tinha sido decidido nos documentos conciliares, o que por sua vez fazia distanciar da Igreja numerosos católicos de todo mundo.

E porque é tabu dizer a verdade na Igreja? Um dos tabus do reinado de João Paulo II foi um caso impactante como o seguinte: No México havia a Instituição dos “Legionários de Cristo” comandada pelo Padre Marçal Maciel. Esta congregação era super rica e milionária, tanto que fazia correr muito dinheiro para o Vaticano. Tanto como eles só outra semelhante, a “Opus Dei” também uma das preferidas do Papa. O padre Maciel era quem mais se opunha às orientações do Vaticano II. No entanto, convivia publicamente com duas mulheres de quem teve três filhos. E apesar disso era acobertado pelo Papa João Paulo II, pois eram muito amigos, de tal maneira que o P.Maciel foi o companheiro fiel e o organizador das Quatro viagens que João Paulo II fez ao México.

Quando João Paulo II faleceu, em 2005, foi visto um Cartaz de grupos dos “LEGIONÁRIOS DE CRISTO”, infiltrados na multidão, que muita gente chamava de “Milionários de Cristo”, os mesmo que o Papa poucos dias antes tinha abençoado e elogiado das janelas do Vaticano. Os cartazes pediam “SANTO SÚBITO”, isto é, a canonização rápida de João Paulo II.  E quando o Cardeal Ratzinger o sucedeu como Papa, teve logo o interesse em por em prática o slogan do Cartaz. Na verdade, esta pressa tinha como objetivo não dar chance a maiores dificuldades e objeções contra a canonização de João Paulo II. Como disse depois o  escritor alemão Michael Walsh: “Os Papas herdaram a tradição dos antigos imperadores romanos, que tratavam de endeusar os seus predecessores”.  E era essa a preocupação de Ratzinger. Por isso nem foram respeitados os prazos legais tanto para a beatificação como para a canonização. Inclusive, os médicos duvidam se  até a freira francesa que supostamente foi curada do mal de Parkinson se até mesmo ela esteve doente. (o.c.p.186-187).

Falando de tabus, falemos também sobre as canonizações de Santos. As canonizações começaram em 1.200 com Inocêncio III que chamou para si todos os procedimentos, e dos quais ele viu que poderiam retornar em fabulosos lucros para o Papado. Até lá eram os bispos que levavam seus amigos à honra do título de Santos. Honra que era mais ligada ao poder e à influência do que “dedo de Deus”, por isso que só concedida a nobres romanos e europeus influentes. Hoje em dia esses processos também dão muito dinheiro ao Vaticano. Dizia a freira que levou Santo Antônio de Santana Galvão aos altares: “Gastarei o que for preciso, mas levarei o Frei Galvão aos altares”. A este propósito, só para falar nos últimos Santos, detenhamo-nos no último Papa que fez mais “Santos” do que os outros Papas em 400 anos, João Paulo II: 1.380 beatificações e 538 canonizações. Algumas destas canonizações foram duvidosas, como os mortos na guerra civil da Espanha. Outra, a do Padre Pio, no qual as “chagas” ou “estigmas” foram consideradas “manipuladas”. Também a canonização do Pio IX tão reacionário aos tempos modernos, e com documentos que ficaram padrão de uma Igreja inimiga da ciência e da inteligência. Por seu lado, já como dito atrás, Bento XVI, na canonização de João Paulo II extrapolou todas as regras e espaços de tempo. Além de que protegeu o famoso Padre Marcial Maciel, “casado” com duas mulheres, e com a agravante de ser o organizador das suas Quatro viagens ao México. Eles guiavam-se por aquela pauta falada pelo historiador alemão Michael Walsh, como dito atrás: “Os Papas herdaram dos antigos imperadores romanos a tradição de eudeusar os seus predecessores”.

Falando de canonizações não será tabu falar sobre os gastos. As beatificações rendem na média de 35 mil Euros; As canonizações cerca de 55 mil Euros, cada processo. Imagine se entre os Países do 3º Mundo será possível nem pensar nessa aventura? Além disso há os lucros adicionais: Medalhas, imagens, Livros, Turismo, e Doações. Mas tudo isto será tabu com a mistura da proclamação da santidade dos Servos de Deus, que ficariam de queixo caído se eles soubessem disso.

Falando de Pio IX: “Declarou guerra à modernidade, e com a incentivação dos Livros do “Index” proibidos mundialmente manteve as inteligências mundiais no obscurantismo de rebanho imbecilizado e analfabeto” (Cf.H.Kung o.c.p.454). Eis alguns nomes de fama mundial que colocou no Index dos livros proibidos: Copérnico e Galileu, os pais da ciência moderna; Descartes, Pascal, Bayle e Malebranche, e Espinoza, s pais da filosofia moderna; Os filósofos Kant, Locke e Hume; Literatos como Diderot, D’Alembert com as suas Enciclopédias e o Dicionário Larousse; Hugo Grotius, teórico do Direito Internacional; Vitor Hugo, Lamartine e Balzac e Simone de Beauvoir, para falar nos principais. Imagine-se o cegueirismo ditatorial da Igreja católica dessa época causando um apagão cientifico da fé e das ciências (Cf. o.c.p. 139).

Sem falar épocas anteriores, em que Inocêncio III fez o seu casamento dentro do Vaticano. Vivendo em monumental luxo na busca desenfreada do prazer e em monumental devassidão colocaram nessa época as bases para o celibato do clero. Sisto IV colocou todos os seus sobrinhos com cargos no Vaticano, ele que tinha a ideia fixa do dogma da Imaculada Conceição de Maria. Alexandre VI com as amantes, e Inocêncio VII levou seus filhos também para o Vaticano (o.c.p. 125).

Conclusão. Um dado importante é que entre os candidatos à canonização, os leigos não têm vez. Nas pesquisas dos historiadores encontraram um Leigo por ano em média, no meio de centenas por ano de muitos outros.

P.Casimiro João        smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

 

domingo, 22 de maio de 2022

Quem não respeita o ser humano por causa da religião não é religioso. (Cf.Tg. 2,4).


 

Uma senhora de 60 anos, entrevistada num supermercado, atribuía as culpas de não ser alfabetizada ao seu velho pai que dizia “sempre foi assim, mulher não vai à escola, sempre foi assim.”

Quem sabe, por conta desse “sempre foi assim” há um grande país no mundo com 210 milhões de habitantes e tem 9 por cento de analfabetos, ou seja 13 milhões. É um país chamado Brasil. Ocupa o oitavo lugar no mundo do analfabetismo. Também não admira que tenha um ministro da educação que declarava há pouco publicamente que “pobre não pode ser doutor, isso é coisa de rico, e “sempre foi assim”. E, para adequar com esse objetivo foram inventadas manobras para diminuir o número de alunos nas universidades e alienar os jovens nas provas do ENEM, e das escolas. “Porque sempre foi assim”.

Um dia, entre as andanças pela Judeia, um homem diferente não tinha problema de se misturar com gente de má fama, e gente da rua, até para uma refeição. Os devotos e piedosos viam essa pessoa com maus olhos e o reprovavam porque estava infringindo as leis sociais antigas que proibiam essa promiscuidade. “Sempre foi assim, com a nossa separação, e o fulano extrapola”. Esse homem diferente atendia pelo nome de Jesus. E corria o boato que contava histórias como esta: o filho caçula de um rico fazendeiro saiu com a sua herança na bagagem, e viajou para a cidade grande, até gastar o último centavo. Quando se viu em apuros voltou para casa, e foi bem recebido, como um príncipe. O irmão mais velho do moço deu uma bronca no pai, porque não cumpriu a lei do castigo para esses casos. É porque sempre foi assim, pai, você tem que castigar o caçula e não está cumprindo a nossa lei.

Na época do 1960, do século passado, a Igreja católica fez uma reflexão com o episcopado mundial, e entre os debates e nas conclusões, ficaram resoluções que promoviam algumas mudanças para o futuro, e o que podíamos chamar de “inovações”. Seria longo enumerá-las aqui. Essa reflexão foi longa, a mais longa de todos os concílios, de tal forma que entre as atividades e intervalos, levou quatro anos. Foi o concílio Vaticano II. Pensado e promovido pelo Papa João 23, hoje São João 23, e encerrado com o Papa São Paulo VI. Uma das inovações que são mais materializadas e imediatas foi largar o latim nas Liturgias, e começar com as línguas vernáculas. Outra, foi a postura do padre-celebrante que celebrava de costas para o povo, veja só...Está na cara que estas coisas são como nos jogos de futebol, em que o técnico fala sobre a postura durante o hino nacional e a camisa que vestem. A filosofia do jogo é mais inacessível. Assim a teologia resultante do Vaticano II ficou escondida e só quase na letra para grande porcentagem no mundo. Mesmo assim, passados que foram poucos anos, tomaram corpo reações tais como: assim não pode acontecer, como era é que está bem, sempre foi assim, porque agora vai ser de outra maneira?

Bispos, padres, etc. se apavoraram e tentaram de todos os jeitos voltar atrás. São como aquele irmão do caçula, os que olham só para o passado, para trás. Se você olha só para trás não vai caminhar nunca. Os críticos contam mesmo que um cardeal, após o concílio, teve saudades do passado, e algumas vezes celebrou a missa em latim como antes do concílio e de costas para a assembleia. E quem conta é o Hans Kung, que foi um dos consultores do concilio. Paulo VI, no encerramento do concilio se despojou da Tiara de três coroas (poder espiritual, poder de estado e poder sobre os imperadores), e a tal tiara reverteu em favor dos pobres de Roma. Quando esse eminente cardeal  ocupou a cadeira do Papado, procurou nos armários e baús do Vaticano outra semelhante para usá-la. Foi o cardeal Ratzinger (H.Kung, A Igreja tem salvação, p.253).

Na verdade, o Card. Ratzinger, depois Papa Bento 16, fez de tudo para ressuscitar a antiga liturgia de antes do concílio. Driblando o Concílio de todos os modos ele fez um Motu Proprio onde escreveu que se pode celebrar nas duas liturgias, a de Pio V (do ano de 1500) e do Vaticano II. Pôs todo o empenho em recomendar a antiga Liturgia em latim e de costas para o povo, assim como na administração dos sacramentos. Chegou até ao ponto de conceder que algum bispo pudesse formar uma paróquia pessoal onde se fizesse essa liturgia antiga. (Cf. Motu próprio, Bento 16, 7/7/2007). Os danos causados por semelhante atitude revertiam não só em prejuízo para a Liturgia mas recaíam também como em cascata contra a aceitação dos outros documentos do Vaticano II.

Isso é o símbolo de atitudes do “sempre foi assim”. Porém, é preciso renovação das mentalidades ao ritmo do Vaticano II. “Acolher à mesa”, “acolher na eucaristia, acolher nos casamentos, segundas núpcias, acolher os diferentes, acolher os homo, acolher os e as LGBTs. Atenção, o filho mais velho pensava que “sempre foi assim”. Igualmente tem acontecido. “Ah, mas a minha religião não permite. Cuidado, que antes da religião existe o ser humano. Quem não respeita o ser humano por causa da religião não é religioso. (Tg. 2,4). A religião pode atrapalhar o ser humano. Antes de religioso é um ser humano. Se alguém deixa de ser humano para ser religioso, não é ser humano e nem religioso.

CONCLUSÃO. Por causa da religião do “sempre foi assim’, escreveu o Dom Angélico Sândalo Bernadino, bispo de Blumenau: “Tivemos enorme dificuldade na preparação, na realização do Concílio, e no pós-concílio dentro da Igreja. Algumas chagas ainda sangram em consequência das mudanças, que muitas pessoas bem intencionadas não compreenderam, agarradas que estavam a certas tradições com “t” minúsculo, e certos costumes. Não conseguiram abraçar a voz do Espírito que gritava naquele momento tão importante da história”.

P.Casimiro João   smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

 

quinta-feira, 19 de maio de 2022

MISSA DE SÉTIMO DIA POR MARIA ÁSSIMA ROPE, MÃE DO PÁROCO, P.AMBRÓSIO


 

Convidamos a participar na Santa Missa de Sétimo dia pela mãe do Pároco de nossa Paróquia de Nossa Senhora das Dores, P.Raimundo Ambrósio, logo mais nesta quinta feira às 18.00 h, com início do Terço às 17.30h. Presença confirmada do bispo diocesano, dom José Valdeci Santos Mendes para presidir à Celebração. Paz e glóra eterna a dona Maria Ássima Rope, e receba a Gratidão de nossa Paróquia.

domingo, 15 de maio de 2022

A “testemunha verdadeira”, sobre a presença de João na cruz e o testemunho final do seu evangelho.


 

Ficamos confusos quando lemos nos evangelhos Sinóticos que nenhum dos apóstolos estava presente na crucificação de Jesus, “todos o abandonaram e fugiram”(Mc.14,50); e “então todos os discípulos o abandonaram e fugiram”(Mt.26,56), porém o evangelho de João diz que estava lá o “discípulo amado” (Jo.19,26). Seria o apóstolo João? Desde já, os estudiosos dizem que nenhum dos apóstolos esteve presente na crucificação.

Porém, o quarto evangelho dá a entender que João estava presente na crucificação: “Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que Jesus amava, disse à sua mãe ‘mulher, eis aí o teu filho’; depois disse ao discípulo ‘eis aí a tua mãe” (Jo19,26). Quem seria então esse “discípulo amado”? Hoje os críticos, na linha do historiador Orígenes afirmam que é um símbolo  do cristão”, assim como a maioria dos modernos estudiosos bíblicos. Isto na linha de outras afirmações anteriores de João:“Os que guardam os mandamentos são amados pelo Pai e pelo Filho”(Jo.14,21). E, nessa questão, para João era importante essa colocação para encontrar o lugar adequado para ser acolhido também pela mãe de Jesus, na hora derradeira de Jesus (R.Brown, o Evangelho de João, vol.II p.1378). E os comentaristas ainda interpretam: Os irmãos e discípulos incrédulos de Jesus cedem agora o lugar a um novo "irmão", o discípulo amado”. Isto quando antes foi afirmado: “com efeito, nem mesmo os seus irmãos acreditavam nele”(Jo.7,5).

Questionemos agora esta outra afirmação: “O que foi testemunha deste fato o atesta (e o seu testemunho é verdadeiro e digno de fé e ele sabe que diz a verdade) a fim de que vós acrediteis”(Jo.19,35). E no final do evangelho: “Este é o discípulo que dá testemunho de todas estas coisas, e as escreveu. E sabemos que de fato é digno de fé o seu testemunho”(Jo.21,24). Em primeiro lugar, reparemos na interpretação da última afirmação que é falada em terceira pessoa, ‘este é o discípulo’, e depois também na terceira pessoa do plural “sabemos” ; quer isso dizer que não é o João que está falando, mas são outros que escreveram.

Em segundo lugar, os redatores deste evangelho sabiam da existência já das tradições anteriores dos outros três primeiros evangelhos, mas eles tinham a sua versão própria, e queriam mostrar, embora que ficticiamente, uma “testemunha ocular” imaginando como tendo sido o João filho de Zebedeu. Isto porque nas outras tradições já conhecidas também havia testemunhas “oculares”,”depois apareceu a mais de 500 irmãos de uma vez dos quais muitos ainda vivem”(1Cor.15,6), e além disso a comunidade joanina pelejava para ser visível e relevante perante as outras.(Cf. o.c.p.1373).

Em terceiro lugar:  A “testemunha fiel” na intenção do evangelista se referia ao Paráclito, como prometido por Jesus como garante dos seus escritos. Por isso o evangelista, e mais à frente os redatores, estavam conscientes e convencidos da “verdade” do que afirmavam fundamentados no testemunho do Paráclito. “O Paráclito que o Pai vai enviar em meu nome, vos ensinará todas as coisas”(Jo.14,26).

Conclusão. Para o que dissemos sobre a “testemunha verdadeira” descrita no evangelho de João resumimos em três esforços teológicos. Primeiro, o discípulo como representando o cristão fiel a Jesus até a cruz, “amado pelo Pai e por Jesus”, como vinha sendo a interpretação desde os primeiros Padres da Igreja, no estereótipo de Origenes. Segundo, a pretensão de certa relevância pretendida pela comunidade joanina,  que achava que estava sendo esquecida. Terceiro, a fundamentação de que o que até  ficticiamente pudessem aumentar, se basearia no fundamento garantido da assistência do Espírito Santo Paráclito por Jesus prometido.

P.Casimiro João    smbn 

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

 

sábado, 7 de maio de 2022

O capitulo seis de João como um resumo condensado do Êxodo, Salmos e profetas para as Catequeses pós-pascais da comunidade joanina.

As multidões viam os sinais que Jesus fazia” (Jo.6,2); Evoca os sinais que Moisés fazia, a vara, a serpente, as águas vermelhas (Êx.7...) Assim seriam os sinais que o povo esperava de Jesus como sendo o Messias. Certamente seria Jesus: “eles queriam fazê-lo rei” (Jo.6,15).

Em segundo lugar, em Jesus se repetiam os sinais de Moisés no monte Sinai. “Jesus subiu ao monte e sentou-se”, dado que naquele lugar não havia monte nenhum (R.Brown, p.462). Diante da multidão que pedia alimento, veio a resposta de Moisés de muito alimento e muitos peixes: “Com seiscentas mil pessoas adultas tu perguntas ‘ainda que matássemos todas as vacas e ovelhas isto não seria suficiente, e ainda que reuníssemos todos os peixes do mar nem assim bastariam”(Num.21,23). Assim como Moisés, Jesus repetia a mesma abundância: “E vendo as multidões ao seu redor Jesus disse a Felipe ‘onde compraremos pão para que eles possam comer? Felipe respondeu ‘nem duzentas moedas de prata bastariam para dar um pedaço a cada um”(Jo.6,7). Para ajudar o evangelista veio a evocação do profeta Eliseu, que mandou um moço repartir 20 pães de cevada por 100 pessoas “um moço levou para o profeta 20 pães de cevada e trigo novo; Eliseu ordenou ‘distribua a essas pessoas para que comam; o servo disse como distribuirei isso para 100 pessoas. Eles comeram e ainda sobrou” (2Rs.4,42-44).

Na cena de Moisés falava que ‘nem todas as vacas e ovelhas seriam suficientes, e nem todos os peixes do mar”. E na cena de Jesus “nem 200 moedas de prata”, o que seriam 200 dias de salário porque o salário de um dia era uma moeda de prata. Na cena de Eliseu “como seriam suficientes 20 pães para 100 pessoas? Jesus falou “Fazei sentar as pessoas; Jesus tomou os pães, e fez o mesmo com os peixes; quando todos ficaram satisfeitos Jesus disse aos discípulos ‘recolhei os pedaços que sobraram para que nada se perca”. É necessário comparar com Eliseu: “eles comeram e ainda sobrou” (2Rs.4,44).  Estes eram os sinais de que Jesus era o Messias, sem dúvida, porque realizava os acontecimentos de Moisés e dos profetas. Por isso veio a aclamação”vendo o sinal que Jesus tinha realizado exclamaram ‘este é verdadeiramente o Profeta, aquele que deve vir ao mundo. E queriam fazê-lo rei, mas quando notou que estavam querendo leva-lo e proclamá-lo rei, Jesus retirou-se e foi de novo, sozinho para o monte”(Jo.6,15). Conclusão, Jesus recusou-se a assumir-se como rei.

Avançando mais um passo na mesma catequese. Após a discussão do alimente, avancemos na teologia joanina: “Depois  que Jesus saciara os 5.000 homens, seus discípulos o viram andando sobre o mar; ficaram com medo, mas Jesus lhes disse “sou eu” não tenhais medo”(Jo.6,20). Agora é necessário mencionarmos um parágrafo do especialista joanino citado: “Aqui há um simbolismo pascal no caminhar sobre o mar, à maneira de uma referência à travessia do mar vermelho e à dádiva do maná. Também João quer evocar o Salmo 78,24. Este Salmo menciona como os israelitas passaram pelo mar. No salmo 77,20, numa descrição poética da travessia do Êxodo lemos sobre Deus: Teu caminho foi sobre o mar, e tuas veredas pelas grandes águas, e não se conheceram os teus caminhos. Também o Salmo 29,3 descreve Deus como o “Senhor sobre muitas águas”; e em Isaías se diz: “Como o redimido passando pelo caminho profundo do mar”(Is.51,6). Em Êxodo 12,12 encontramos uma das mais importantes passagens do “Eu Sou” no Antigo Testamento, talvez uma construção mais completa dos paralelos veterotestamentários com os temas do capitulo seis de João.

Pensando na cena joanina como uma “epifania” divina notamos que a “Midrash Melkita” sobre o Êxodo mencionava que Deus abriu caminho para Si através do mar, quando o homem não poderia fazê-lo. Assim, conectando essa fórmula com a fórmula Eu Sou de Êx. 12, 12 encontramos a conexão com o Midrash pascal, ou seja, com a pregação pascal dos judeus” (o.c.p.489). E junto com esses dados do domínio do mar e das ondas esses salmos fornecem mais dados que João aplicou para a sua catequese do pão da vida. No Salmo 107 ouvimos o grito do povo peregrino e faminto pelos descampados desérticos; e que o Senhor sacia estes famintos com bons alimentos; e que alguns  descem ao mar em navios; e que eleva as ondas do mar; e são atormentados e clamam ao Senhor; e Ele os liberta acalmando o mar e conduzindo-os ao seu porto     (Sl.107). Assim portanto, há passagens no Antigo Testamento, particularmente as que tratam do Êxodo, que ajudam a explicar por que o episódio de Jesus caminhando sobre o mar teria sido oportuno num tema pascal geral no capítulo seis de João e, assim, ter permanecido em estreita associação com a “multiplicação dos pães” (o.c.p490)

Indo agora para a terceira parte da cena dos pães, continuamos o  rumo da catequese: “Esforçai-vos pelo alimento que permanece para a vida até a  vida eterna e que o filho do homem vos dará” Jo.6,27. Então perguntaram a Jesus: que devemos fazer para realizar as obras de Deus? Jesus respondeu: a obra de Deus é que acrediteis naquele que ele enviou Jo.6,28-29. Aí há um hiato, ou uma quebra de perguntas, quer dizer, o  alimento é a obra de Deus, e a obra de Deus é que acreditem.  Conclusão, tendo em conta que no A.T. a obra de Deus era fazer as obras da Lei (Torá), agora é a aceitação de Jesus, aceitar Jesus e a sua doutrina e palavra. Portanto o alimento e a obra de Deus é o mesmo que aceitar Jesus. Vale dizer, “comer e beber o corpo e o sangue de Jesus é o aceitamento da pessoa de Jesus como obra de Deus.

Conclusão. Raymund Brown, que se dedicou por mais de 30 anos ao estudo dos escritos de João não descarta a ideia de que o cap. 6 de João seja uma composição literária do evangelista, assim como um grande midrash sapiencial na tradição sapiencial do Antigo Testamento( Êxodo, Isaias, e Siraque e Salmos. Na verdade, entre os primeiros Padres,  uns inclinavam-se mais para a dimensão eucarística do capítulo; outros para a dimensão sapiencial do Midrash. A mesma coisa continuou durante toda a Idade Média. Inclusive o próprio Concílio de Trento deixou a questão em aberto, tendo deixado toda a questão para a teologia, e não deu lugar para os Hussitas que pleiteavam a comunhão pelas duas espécies(Cf. o.c.p514).

P.Casimiro  João    smbn        www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br