A Idade de ouro que viveu Israel com Davi e Salomão foi tão
brilhante que os Judeus a consideraram uma obra prima da providência e a
justificação de tudo aquilo que a religião os havia ensinado a acreditar:
Israel estava finalmente em plena posse da terra prometida porque se havia
tornado uma nação forte e grande como as maiores da época. E também a Aliança
com Abraão estaria se realizando em Salomão e Davi.
Os poemas e Salmos compostos nessa época dão ênfase ao fato
de que Davi tinha subido ao trono por designação divina. Logo se firmou o dogma
de que Iahweh tinha escolhido Sião como eterna morada, fazendo uma aliança com
Davi para que sua descendência reinasse para sempre. Esta teologia aparece nos
Salmos reais da Corte de Salomão.
Os itens dessa teologia composta no palácio são estes: 1) A
escolha de Sião por Iahweh e a Casa de Davi são eternas; 2) O rei governa como
o “filho de Iahweh”, seu “primogênito” e seu “ungido”; 3) Estabelecido em Sião
por Iahweh, nenhum inimigo poderia prevalecer contra ele, e submeteria todas as
nações ao seu império. Estas são as três colunas dessa teologia do palácio.
Por outro lado, a realeza em Israel seguia o padrão dos
povos ao seu redor onde todos julgavam a realeza como uma instituição
sagrada. Esta doutrina oficial era reafirmada regularmente durante o culto,
e tinha dias combinados para a participação do rei com toda a pompa.
Os estudiosos afirmam que, adotando a instituição da
realeza, Israel também adotou a teologia pagã da realeza e o padrão ritual para
expressá-la do modo comum a todos os seus vizinhos. Assim como nesses povos,
também em Israel o rei era considerado como um ser divino ou semidivino,
o qual, por ocasião do Festival do Ano Novo, no papel do deus da fertilidade
morria e ressuscitava. Desse modo pensava-se que se efetuava o renascimento
anual da natureza e o bem estar da Terra.
Assim Davi, desde a sua aclamação nomeou os sumos sacerdotes
Sadoc e Abiatar, que faziam parte do gabinete do rei. Estava
formada a teologia da prosperidade. O que é afinal de contas a teologia da
prosperidade? É estar aliado ao governo para compartilhar a riqueza e o poder,
e dizer que foi uma bênção que Deus deu.
Foi assim que a promessa a Davi e o ideal da realeza foram
reafirmadas no culto através dos anos. Firmou a esperança de um ideal davídico
que deveria vir, sob cujo reinado, as promessas deviam tornar-se realidade. O culto foi a fonte da qual brotou
a expectativa de Israel em torno de um Messias. O que esta expectativa fez para
modelar a fé de Israel através dos séculos que viriam não tem medida. Outra
consequência lógica decorrente era o dogma de que o Estado existia em nome de
Deus e que o Estado era divino.
Debaixo dessa ideologia escondia-se a ideia de que esse
culto baseava-se na função inteiramente pagã de garantir a segurança do Estado
mantendo-o em íntima união com a religião, de tal maneira que quem negasse a
religião renegaria o Estado, e vice versa. Fato este que trouxe consequências
trágicas na Idade Média na atividade da “caça às bruxas”, perseguindo
quem não fosse religioso com a união dos Papas e do Rei para essa caçada
histórica.
Naquela ordem de ideias que falamos, pensar que o
Estado pudesse cair, seria o mesmo que
acusar Deus da violação da aliança como
falaram alguns profetas. Outra conclusão ou dogma era que seria herege
quem não aceitasse o Estado davidico como uma instituição divinamente ordenada,
e nisto estavam mesmo caindo noutro erro completamente pagão
Vejamos agora o histórico da ascensão tão vertiginosa de
Israel a essa riqueza e glória, e como a queda por sua vez foi tão vertiginosa
como tinha sido a sua subida. Israel, depois das aventuras de Saul, teve a
ascensão de Davi. Digamos que foi uma coincidência. Na verdade ele tinha
passado para o lado dos filisteus e tinham-lhe dado uma cidade como
presente, pois os ajudou secretamente a derrotar Israel. E quando o filho de
Saul, Isbaal, se propôs à sucessão
do trono, Davi podia ter sido morto pelos filisteus, mas liberaram para
voltar à pátria. Até que depois da várias traições ele foi rei de Israel,
contra o filho de Saul Isbaal, que se exilou.
A ele sucedeu, também depois de muitas intrigas, o fiho
Salomão. Salomão montou um império comparável aos maiores da época. Aumentou a
riqueza de Israel com o comércio das caravanas
com a Arábia, com a indústria do cobre, com o comércio de cavalos e
carros de guerra, com a construção do templo e palácios e deu incremento à cultura.
Os inícios dos escritos da Bíblia se articularam nos escritores do palácio, onde havia muita
influência e presença de escritos antigos como “As Máximas de Amenope”(1.300
a.C.) com os seus trinta capítulos onde se inspiraram os escritores dos
Provérbios como se deduz do próprio Livro dos Provérbios (Prov.22,20), e não
só, mas muitos Salmos já vinham da tradição da cultura cananeia, que também
influenciou o Deuteronômio (J.Bright).
Salomão sustentava o templo e seus funcionários, sustentava
uma burocracia enorme, milhares de funcionários e mais milhares de oficiais das
guerras. Além das concubinas que Davi deixou e as muitas mais que ele arrumou.
Transformou as antigas 12 tribos em 12 distritos. Cada
distrito era obrigado a fornecer a Corte com provisões para um mês no ano. E com
isto, se grande e ligeira foi a subida de Israel aos cumes da riqueza,
igualmente ligeiro estava próxima a queda. Por fim, Salomão já teve que vender
algumas cidades para pagar calotes.
Na verdade, no governo de Salomão o Estado crescia em poder,
e Israel gemia numa opressão sem precedentes para pagar impostos. O fim não
estava longe, porque depois da morte de Salomão o reino se dividiu entre
Jeroboão ao norte, e Roboão ao sul. E o fim de ambos foi uma questão de tempo.
É agora a hora de perguntar de onde
veio o nome de Israel? O nome “Israel” designava somente uma parte da confederação tribal cujos membros ocupavam
uma pequena parte da área da Palestina, e acabou dando o nome a toda a
nova Palestina depois do Sinai. A primeira vez que que vem esse nome na
história mundial é nas Cartas do rei Meneptá, se referindo a essa tribo
na Palestina, que lhe pertencia.
E a outra pergunta: Porquê Jerusalém
foi capital? Pelo seguinte: porque além de estar localizada entre as duas
áreas, Norte e Sul, não estava no território de nenhuma delas. Era no centro,
que tinha sido território dos cananeus. Na verdade, as rivalidades do Norte e
do Sul vêm já da época de Davi. Porque Davi tornou-se rei de Judá com o
apoio dos filisteus de quem ele tinha sido vassalo até à morte de Saul.
Contra o filho de Saul, Isbaal, que tinha fugido para o Norte. Tudo isto
porquê então? O real motivo: Davi aclamou-se rei de Judá por autoridade
de um poder estrangeiro, e sem o consentimento das tribos.
Tivemos ocasião de ver como numa época
muito curta do auge da monarquia, Israel fabricou a sua teologia da
prosperidade. E não só, com a sua união entre o Estado e a religião
seguindo conceitos pagãos, também a sua teologia de que o poder teria vindo de
Deus. Porquê? Porque a teologia da prosperidade divide as riquezas entre o
governo e a religião para dizer que a riqueza é uma bênção de Deus.
Vimos também a origem do nome de Israel,
e a coincidência da subida de Davi para rei, e a coincidência de Jerusalém
para capital.
Veremos como tão rápida foi a
experiência da glória, como rápida há-de vir a experiência da derrocada, com a
divisão definitiva que se aproximava com
os dois Cativeiros, e fim da nação. Afinal Israel foi como um meteoro: 1º
Cativeiro em 722 a.C; 2º Cativeiro em 586 a.C. Em 70 d.C. o fim da Nação.
P. Casimiro SMBN
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