Quando
os israelitas do Sinai juraram fidelidade a Iahweh, as suas práticas a
outros deuses não cessaram automaticamente quando entraram na Palestina.
Assim como também os santuários locais pré-mosaicos continuavam em uso. E
acomodavam a adoração a Javé com a adoração a Baal e outros deuses.
Esta
mistura com outros deuses e deusas da fertilidade era aceita, até porque muitos
israelitas viam a religião agrária como parte necessária da sua nova vida
agrária, e adotaram os sacrifícios aos mesmos deuses e deusas da fertilidade.
A
situação geográfica das montanhas centrais onde a comunicação era muito
prejudicada por muitos vales e falésias facilitavam isso, e cada qual vivia com
seus costumes locais e tradições e seu dialeto, e não contribuíam para uma
unificação. Estas situações perduraram por 200 anos, que foi a época dos Juízes,
e prosperaram ainda na monarquia.
Isto
leva-nos a uma reflexão da sociologia e fenomenologia religiosa de como se
processou e se consolidou o monoteísmo na história. Vejamos por duas
vias: A primeira via pelas armas; A segunda via pelo aniquilamento
de sonhos roubados.
Primeira
via: Houve já
na antiguidade uma tentativa de monoteísmo que usou a força das armas. Foi com
o rei Achenaton (1.700 a.C.) que foi um dos reis Hicsos, o qual
deu origem a décima dinastia dos faraós no Egito. Não durou muito
tempo porque gerou revoltas dos nobres e dos sacerdotes antigos. A segunda tentativa
bem sucedida foi a de Maomé, na Arábia, que deu origem à
religião do Islão, que é hoje a 2ª maior religião monoteísta do mundo,
que veio pela força das armas.
A
segunda via: foi o monoteísmo
judaico-cristão, que veio pelo aniquilamento de sonhos roubados.
Quais? Os sonhos da nação de Israel de conquistar as Nações. Não foi nunca
possível, pelo contrário, caiu em dois cativeiros, da Síria, em 722, e da
Babilônia em 586 a.C.
Só
depois deste 2º exílio se consolidou o monoteísmo judaico. Motivo?
Quando os Judeus voltaram da Babilônia vieram sem rei, porque os reis
deram todos fim. Era só o povo e os sacerdotes que sobraram e retornaram para a
Palestina. Aí o sacerdote começou exercendo o mando espiritual e o mando
politico da nação. O rei era o único Deus Javé sob o controle do
sacerdócio. Porque quando havia reis, cada
um tinha os seus deuses, como os
anteriores, da Samaria e de Judá. Assim ficou consolidado o
Monoteismo.
Avançando
para os tempos modernos, vejamos como se deu a repetição dos fatos. Já reparou
que a religião cristã avançou para as Américas do Norte e do Sul, e África pela
força das armas e das conquistas? Aí as Nações, antigas colônias, ficaram
cristãs.
Pelo
contrário, no Oriente onde não chegou a força das armas e dos conquistadores, a
religião cristã nunca foi estabelecida. E são praticamente os seis bilhões
de seres humanos lá, que não são cristãos, sobrando os dois bilhões
entre católicos e protestantes na Europa, África e Américas. Na China são 1.500
bilhões; na Índia também 1.500 bilhões; Na Indonésia perto de meio bilhão; no
Japão, Paquistão, Ilhas do Pacífico mais
de 200 milhões...
Sobrando
dois bilhões entre protestantes e católicos no meio desses outros
bilhões todos com suas religiões tradicionais de mais de 2.000 anos antes de
Cristo. Aliás na Europa começou já com o imperador Constantino. E da primitiva
Cristandade europeia partiu para os outros povos colonizados.
Na
verdade, a religião foi uma das formas poderosas da sustentação do sistema
colonial. Vejamos o que aconteceu no México, por exemplo. Os espanhóis no México
derrubaram as imagens dos deuses astecas e lá colocaram as imagens
cristãs. Os astecas pediam aos seus deuses que lhes concedessem favores e a
vitória sobre os espanhóis, mas não obtiveram nenhuma resposta aos seus
oráculos e então consideravam seus deuses mudos ou mortos.
E
essa revolta contra seus próprios deuses fez com que “aceitassem” o
cristianismo, já que os deuses dos espanhóis mostravam-se mais fortes
dando-lhes a vitória nas guerras da conquista. A evangelização colonial deu-se
em toda a parte pelas armas.
Até
a famosa Virgem de Guadalupe não foi exceção desse processo. Tem segredos
que os historiadores revelam de substituição de imagens num templo
asteca da imagem da Deusa-Mãe pela outra imagem de Guadalupe, pintada
pelo índio Marcos (Frei Francisco Bustamante). Também aqui a religião
foi usada pelos conquistadores e os
religiosos como meio de dominação.
Estudos
recentes colocam em cheque a própria história de Guadalupe como sendo uma
substituição de imagens e formando toda uma grande catequização para induzir a
conversão dos índios mexicanos, incluindo “milagres” de que ninguém ia cobrar
da sua autenticidade nem comprovação “cientifica”.
E
foi criada toda uma mística comparando-a à imagem do Apocalipse,
onde os Anjos eram os conquistadores. Os mexicanos conseguiram
concentrar numa só imagem tudo o que no Brasil representam os Orixás, o Candomblé,
a Aparecida e todos os cultos Afro. (Sanches).
Voltando
à época dos Juízes da história da
Palestina: No séc 12 (1.200 a.C.) o Egito entrou em colapso, perdendo o
controle de todas as possessões na Ásia, com Ramsés III que sofreu derrotas com
os “povos do Mar”; e só conseguiu colocar alguns filisteus junto da
Palestina como defesa. A Síria, com seu último rei Teglat Falasar também perdeu
sua influência mundial nos 200 anos seguintes. Deste modo Israel ficou neste
período bastante livre das influências estrangeiras.
A
única preocupação era com os vizinhos filisteus, que cada vez mais se
aperfeiçoavam no manejo do ferro, segredo que eles aprenderam dos hititas, que tiveram o monopólio
antes deles. E no meio disso tudo Israel combatia a pé, sem condições de
enfrentar os vizinhos com carros de batalha, e por isso tiveram que se aliar
aos canaanitas por algum tempo.
Além
disso, os hebreus tinham vindo das camadas mais baixas e eram desesperadamente
pobres. Por isso essa época dos Juízes foi um grande teste de adaptação nos
novos locais. Tiveram que se acostumar ao modo sedentário de vida, aprendendo
as técnicas familiares de agricultura, que eles nunca tinham praticado.
E
assim, no aprendizado do trabalho agrícola, e contornando o conflito das tribos
umas com as outras, separados por montanhas, cada tribo prestava cultos aos
seus deuses porque não tinham um templo central. Assim chegaram à Monarquia,
que eles começaram como imitação dos outros reinos “Queremos um rei como as
outras nações” (1 Sam.8,5).
Encerramos
reafirmando o processo da religião e do monoteísmo histórico como fenomenologia
semelhante à que aconteceu antes de Israel e em Israel.
P.Casimiro smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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