domingo, 4 de abril de 2021

A Fé Imposta Pelas Armas dos Países Colonizadores; a Sociologia e Fenomenologia Do Monoteísmo de Israel; Monoteísmo em Israel e outras nações


 

Quando os israelitas do Sinai juraram fidelidade a Iahweh, as suas práticas a outros deuses não cessaram automaticamente quando entraram na Palestina. Assim como também os santuários locais pré-mosaicos continuavam em uso. E acomodavam a adoração a Javé com a adoração a Baal e outros deuses.

Esta mistura com outros deuses e deusas da fertilidade era aceita, até porque muitos israelitas viam a religião agrária como parte necessária da sua nova vida agrária, e adotaram os sacrifícios aos mesmos deuses e deusas da fertilidade.

A situação geográfica das montanhas centrais onde a comunicação era muito prejudicada por muitos vales e falésias facilitavam isso, e cada qual vivia com seus costumes locais e tradições e seu dialeto, e não contribuíam para uma unificação. Estas situações perduraram por 200 anos, que foi a época dos Juízes, e prosperaram ainda na monarquia.

Isto leva-nos a uma reflexão da sociologia e fenomenologia religiosa de como se processou e se consolidou o monoteísmo na história. Vejamos por duas vias: A primeira via pelas armas; A segunda via pelo aniquilamento de sonhos roubados.

Primeira via: Houve já na antiguidade uma tentativa de monoteísmo que usou a força das armas. Foi com o rei Achenaton (1.700 a.C.) que foi um dos reis Hicsos, o qual deu origem a décima dinastia dos faraós no Egito. Não durou muito tempo porque gerou revoltas dos nobres e dos sacerdotes antigos. A segunda tentativa bem sucedida foi a de Maomé, na Arábia, que deu origem à religião do Islão, que é hoje a 2ª maior religião monoteísta do mundo, que veio pela força das armas.

A segunda via: foi o monoteísmo judaico-cristão, que veio pelo aniquilamento de sonhos roubados. Quais? Os sonhos da nação de Israel de conquistar as Nações. Não foi nunca possível, pelo contrário, caiu em dois cativeiros, da Síria, em 722, e da Babilônia em 586 a.C.

Só depois deste 2º exílio se consolidou o monoteísmo judaico. Motivo? Quando os Judeus voltaram da Babilônia vieram sem rei, porque os reis deram todos fim. Era só o povo e os sacerdotes que sobraram e retornaram para a Palestina. Aí o sacerdote começou exercendo o mando espiritual e o mando politico da nação. O rei era o único Deus Javé sob o controle do sacerdócio.  Porque quando havia reis, cada um tinha os seus deuses, como  os anteriores, da Samaria e de Judá. Assim ficou consolidado o Monoteismo.

Avançando para os tempos modernos, vejamos como se deu a repetição dos fatos. Já reparou que a religião cristã avançou para as Américas do Norte e do Sul, e África pela força das armas e das conquistas? Aí as Nações, antigas colônias, ficaram cristãs.

Pelo contrário, no Oriente onde não chegou a força das armas e dos conquistadores, a religião cristã nunca foi estabelecida. E são praticamente os seis bilhões de seres humanos lá, que não são cristãos, sobrando os dois bilhões entre católicos e protestantes na Europa, África e Américas. Na China são 1.500 bilhões; na Índia também 1.500 bilhões; Na Indonésia perto de meio bilhão; no Japão, Paquistão, Ilhas do Pacífico  mais de 200 milhões...

Sobrando dois bilhões entre protestantes e católicos no meio desses outros bilhões todos com suas religiões tradicionais de mais de 2.000 anos antes de Cristo. Aliás na Europa começou já com o imperador Constantino. E da primitiva Cristandade europeia partiu para os outros povos colonizados.

Na verdade, a religião foi uma das formas poderosas da sustentação do sistema colonial. Vejamos o que aconteceu no México, por exemplo. Os espanhóis no México derrubaram as imagens dos deuses astecas e lá colocaram as imagens cristãs. Os astecas pediam aos seus deuses que lhes concedessem favores e a vitória sobre os espanhóis, mas não obtiveram nenhuma resposta aos seus oráculos e então consideravam seus deuses mudos ou mortos.

E essa revolta contra seus próprios deuses fez com que “aceitassem” o cristianismo, já que os deuses dos espanhóis mostravam-se mais fortes dando-lhes a vitória nas guerras da conquista. A evangelização colonial deu-se em toda a parte pelas armas.

Até a famosa Virgem de Guadalupe não foi exceção desse processo. Tem segredos que os historiadores revelam de substituição de imagens num templo asteca da imagem da Deusa-Mãe pela outra imagem de Guadalupe, pintada pelo índio Marcos (Frei Francisco Bustamante). Também aqui a religião foi  usada pelos conquistadores e os religiosos como meio de dominação.

Estudos recentes colocam em cheque a própria história de Guadalupe como sendo uma substituição de imagens e formando toda uma grande catequização para induzir a conversão dos índios mexicanos, incluindo “milagres” de que ninguém ia cobrar da sua autenticidade nem comprovação “cientifica”.

E foi criada toda uma mística comparando-a à imagem do Apocalipse, onde os Anjos eram os conquistadores. Os mexicanos conseguiram concentrar numa só imagem tudo o que no Brasil representam os Orixás, o Candomblé, a Aparecida e todos os cultos Afro. (Sanches).

Voltando à época  dos Juízes da história da Palestina: No séc 12 (1.200 a.C.) o Egito entrou em colapso, perdendo o controle de todas as possessões na Ásia, com Ramsés III que sofreu derrotas com os “povos do Mar”; e só conseguiu colocar alguns filisteus junto da Palestina como defesa. A Síria, com seu último rei Teglat Falasar também perdeu sua influência mundial nos 200 anos seguintes. Deste modo Israel ficou neste período bastante livre das influências estrangeiras.

A única preocupação era com os vizinhos filisteus, que cada vez mais se aperfeiçoavam no manejo do ferro, segredo que eles aprenderam  dos hititas, que tiveram o monopólio antes deles. E no meio disso tudo Israel combatia a pé, sem condições de enfrentar os vizinhos com carros de batalha, e por isso tiveram que se aliar aos canaanitas por algum tempo.

Além disso, os hebreus tinham vindo das camadas mais baixas e eram desesperadamente pobres. Por isso essa época dos Juízes foi um grande teste de adaptação nos novos locais. Tiveram que se acostumar ao modo sedentário de vida, aprendendo as técnicas familiares de agricultura, que eles nunca tinham praticado.

E assim, no aprendizado do trabalho agrícola, e contornando o conflito das tribos umas com as outras, separados por montanhas, cada tribo prestava cultos aos seus deuses porque não tinham um templo central. Assim chegaram à Monarquia, que eles começaram como imitação dos outros reinos “Queremos um rei como as outras nações” (1 Sam.8,5).

Encerramos reafirmando o processo da religião e do monoteísmo histórico como fenomenologia semelhante à que aconteceu antes de Israel e em Israel.

P.Casimiro    smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

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