domingo, 26 de dezembro de 2021

“Emanuel”, antes de ser Emanuel era emanú, um grito de guerra, veja mais.

Antigamente, as guerras faziam parte da vida cotidiana dos povos, digamos, como hoje o futebol. E eram o esporte preferido e único dos reis, e seu passatempo. “No retorno do ano, na época em que os reis costumam fazer a guerra, Davi enviou Joab, e com ele a sua guarda e todo Israel e eles massacraram os amonitas” (II Sam.11,1)

 Para iniciar o ataque da guerra cada povo tinha o seu grito de avançar contra o inimigo. O grito de Israel era “emanú”. O comandante gritava “emanú”(que significava “quem conosco”? e os saldados respondiam .......................                                                 ‘El”, que significava: “Deus”. E isto por quê? É porque antes de Javé ser o Deus de Israel, o primeiro deus de Israel tinha sido “El”, ou “Elohin” no plural. Daí veio a palavra Emanuel. De um  grito de guerra passou a significar a presença de Deus no meio do povo.(Cf. www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 4/3/18).

 Na época do primeiro Isaías, o rei Acaz estava acuado e ameaçado por dois reinos  e dois reis que iriam avançar contra ele: o reino do norte e o reino da Síria. O profeta então correu para dar-lhe conselhos e coragem. “Assim falou Javé: peça para você um sinal, quer seja na profundeza dos mares ou nas alturas do céu. Acaz respondeu, não vou pedir, e não tentarei a Javé. Respondeu Isaias: Pois saiba que Javé lhes dará um sinal: a jovem conceberá e dará à luz um filho e o chamará pelo nome de Emanuel” (Is. 7, 11-14).

 Na verdade, com essa história, o profeta mudou o nome de um filho do rei para Emanuel, que seria o mesmo nome das vitórias das guerras. Esse filho ainda estava no ventre da jovem grávida, esposa de Acaz. Foi o passo para fazer o paralelo para épocas futuras, quando apareceu o mensageiro do céu à mãe de Jesus, e que o filho Jesus seria o Emanuel que significa Deus conosco.

 O evangelho de Mateus foi buscar esta passagem para a origem de Jesus; “A origem de Jesus foi assim: Maria, sua mãe, estava desposada com José. Antes de viverem juntos aconteceu que ela concebeu pela virtude do Espirito Santo. José, seu esposo que era um homem justo, não querendo denunciá-la, resolveu deixar Maria em segredo. O anjo do Senhor apareceu-lhe em sonhos e lhe disse: José filho de Davi não temas receber Maria por tua esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo. Tudo isto aconteceu para se cumprir  o que o Senhor falou pelo profeta: eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, que se chamará Emanuel, que significa Deus conosco” (Mt.1,18-24).

 Na verdade, esse grito é a continuação do povo do Antigo Testamento que tudo atribuía a Deus na teocracia em que eles viviam. As vitórias vinham de Deus, e não dos homens, como falavam em suas orações dos Salmos: Não são carros e cavalos que dão a vitória ao rei”...(Sl.20,7). “Em vão vigiam as sentinelas se o Senhor não guardar a cidade”(Salmo 127,1).

Partindo desta narrativa, a Igreja tem visto nessa jovem grávida a virgem Maria, mãe de Jesus. E isso resultou nos nomes mais floreados com que se tem prestigiado e adornado o nome de Nossa Senhora: Nossa Senhora da Vitória, NªSªda Ajuda, do Amparo, do Socorro, Auxiliadora, da Boa Hora, da Boa Viagem, do Bom Conselho, do Bom Despacho, do Bom Sucesso, da Esperança, da Luz, da Consolação, dos Desamparados, Desatadora dos Nós, das Dores, da Piedade, da Estrela, Rainha, da Glória, N.S. da Glória, da Lampadosa, do Livramento, das Mercês, da Misericórdia, dos Navegantes, dos Remédios, da Saúde, sabendo que todas as nossas senhoras são a mesma Mãe de Deus, como canta o rei Roberto Carlos.

 E digamos, não foi só em vida que Jesus foi considerado o Emanuel, o Deus conosco, mas também na cruz e na morte. O grito abafado na cruz e escondido na morte fez-se ecoar quando Deus o ressuscitou. E, como frisa e evangelho, “segundo as escrituras”. Porque segundo as Escrituras, o grito da vitória de “Emanuel” já estava-lhe garantido.

 Lembremos que o Evangelho de Mateus é um evangelho de judeus cristãos. E foi nessa linha e nessa tradição teocrática que eles transmitiram essa teologia. Por isso ao nome de Jesus que quer dizer “Deus salva” foi também aplicado o nome de “Emanuel” pelos primeiros cristãos.

O Filho da Virgem Mãe será chamado Emanuel. Se no diálogo de Isaías com Acaz esse nome poderia lembrar apenas um grito de guerra, aqui devido à teologia do evangelho de Mateus ganhou um significado para o Messias. (Cf.www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 16/03/2016)

(Cf. também P.Emanuel Cordeiro Costa – Cert.de Reg. de averb.na Fundação Biblioteca Nac.(EDA) N.527.761, Lv. 1002 fl.320).

P.Casimiro João   smbn

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sábado, 25 de dezembro de 2021

NATAL DOS MAIS NECESSITADOS


 Votos de um FELIZ NATAL para você e sua família.

Neste momento é importante ouvir a recomendação do Papa Francisco: "Olhe além das luzes e das decorações e lembre-se dos mais necessitados. Servir aos outros vale mais do que BUSCAR STATUS, VISIBILIDADE SOCIAL OU PASSAR A VIDA INTEIRA EM BUSCA DO SUCESSO. Não percamos de vista o céu, cuidando de Jesus agora acariciando-o nos necessitados , porque é neles que ele se fará presente. Cuidemos dos trabalhadores que eram os pastores na época do presépio" (Papa Francisco na Missa da Vigilia do Natal 2021)

domingo, 19 de dezembro de 2021

No céu todo dia nascem bilhões de estrelas, e na Terra milhões de crianças.


 

Hoje os alunos do Fundamental vão na Internet e aprendem que nosso Universo começou a existir cerca de quinze bilhões de anos atrás, e que nosso sistema solar se formou há cinco bilhões de anos. E ainda, que o nosso Sol é uma estrela de 2ª geração formada de fragmentos de outras estrelas de há cinco bilhões de anos.

E o mais notável de tudo isso é ser possível remontar o processo: os íons do cérebro dependem do alimento, o alimento depende dos fótons produzidos no centro do Sol, e o Sol resulta dessas explosões, quando estrelas explodiram. A bola de fogo primeva existiu durante bilhões de anos sem consciência introspectiva. Por isso só, essa estrela não podia se dar conta da própria beleza e do próprio brilho. Mas a estrela pode, por nosso intermédio, refletir sobre si mesma. Em certo sentido, você é essa estrela.

Não é pura poesia e nem imaginação. Se na realidade os íons dependem do alimento, e o alimento depende dos fótons produzidos no centro do Sol, e se o Sol resulta de explosões quando estrelas explodiram, então essa saraivada fotônica do início dos tempos provê de energia seu cérebro, vale dizer, o que você pensa e sente neste exato momento só é possível através do fogo cósmico. É por isso que você participa das estrelas, e do fogo das estrelas. É um pedacinho de estrelas.

É  por isso que as estrelas fazem parte da história e da inteligência dos seres humanos e das previsões futuras. A “estrela de Jacó” (Num.24,17), e a estrela de Belém (Mt.2,7) revelam como as estrelas fazem parte dos sonhos bons da humanidade.

A estrela, pelo seu caráter celeste é um símbolo do espírito, da luz e da sobrevivência futura. Nas culturas asiáticas, a estrela é um fragmento desprendido do Ovo cósmico. Entre os Astecas representa a alma dos mortos. No Islão é graças à estrela que a Káaba está situada exatamente no centro do céu. Na mística dos nórdicos da Europa aponta sempre a região luminosa onde mora a divindade, como uma janela do céu. (Dicionário Enciclopédico das religiões). Estrela de NATAL é assim uma mistura das profecias de Israel e das culturas universais. Mas não esqueça nunca a estrela que é você. Você é uma estrela.

Vamos falar mais de estrelas. O Universo que se originou há tantos bilhões de anos nesse sopro inicial que deu origem às estrelas e às galáxias ainda está em expansão. No céu todos os dias nascem bilhões de estrelas, e na Terra milhões de crianças. No interior das galáxias há os “berçários” de estrelas e haverá até o fim do mundo, se o mundo tiver fim. Para termos uma ideia, a nossa galáxia que chamamos VIA LÁCTEA tem 100 bilhões de estrelas. No Universo há 200 bilhões de galáxias, cada uma com mais de 100 bilhões de estrelas.

As estrelas são formadas no centro das galáxias, onde se forma uma densa camada de Hélio e Hidrogênio. Nos movimentos rotativos as grandes massas de hélio e hidrogênio se comprimem e se concentram. Os núcleos de hidrogênio se fundem e liberam uma energia de bilhões de graus. Quando um gás se contrai, ele esquenta, igual  quando se enche um pneu de bicicleta, a bomba esquenta. Com essa compressão se “acende” o combustível nuclear e inicia a queima do hidrogênio. Isso libera muita energia e nasce uma estrela. A partir daí o astro começa a “queimar o combustível” que o alimenta por toda sua vida. Isso é um reator solar formado de hidrogênio e hélio, que sustenta esse reator nuclear. Assim o Sol e o sistema solar se formaram desse jeito.

As distâncias entre as estrelas e galáxias são medidas em anos-luz. Um ano-luz é a distância percorrida pela luz num ano. E é de 9.46 trilhões de quilômetros. Imaginamos que para chegar da Terra ao Sol levaria 500 anos. Para a galáxia conhecida mais distante são 32 bilhões de anos-luz. A nosso Via Láctea produz uma nova estrela a cada 36 dias: quer dizer que o nosso Sol ganha uma estrela irmã a cada mês. Em outras galáxias maiores nascem estrelas a cada duas horas.

A nossa consciência e inteligência são fruto dessa energia. Um dia os íons e fótons do cérebro produziram uma sinapse ou fusão de energia no córtex cerebral que produziu a consciência, resultando num novo DNA humano, separado dos primatas. Nós temos 98% (noventa e oito por cento) do DNA dos primatas. Os primeiros hominídeos de há 25 milhões de anos já não tinham cauda. Hoje em dia as imagens do embrião humano mostram uma cauda de 4 cm que é absorvida antes das 4 a 8 semanas. No dia 06 de Novembro de 2021 nasceu uma criança em Fortaleza, Brasil, com 12 cm de cauda porque não foi absorvida nas primeiras oito semanas. Há 200 mil anos que o ser humano aprendeu a fala. E hoje ainda as crianças levam ano e meio para aprender a fala.

Há 4.400 milhões de anos que os primeiros hominídeos andavam de pé, pela análise dos ossos e da coluna. Eram os Austrolopitecos Afarenses, encontrados na Etiópia. Os primeiros animais apareceram há 500 milhões de anos. De lá até agora se chegou ao homem da era do 5G, da IA (inteligência artificial), e do homem robô e das viagens no espaço.

Conclusão. No céu todo dia nascem bilhões de estrelas, e na Terra milhões de crianças. E um dia nasceu uma Criança Estrela chamada Jesus..

P.Casimiro João      smbn

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domingo, 12 de dezembro de 2021

A cultura e o mito de que o sexo era só para reprodução, no Antigo Testamento, e está ainda numa grande porcentagem das mentes de hoje.


Partimos do princípio de que felicidade era viver muitos anos e ter muitos filhos. Assim diz o Deuteronômio: “Observa durante toda a vida as leis e mandamentos a fim de se prolongarem os teus dias; e te multipliques sempre mais na terra onde corre leite e mel”(Dt.6,2-3). Assim como quando dizem que Adão viveu 930 anos; Noé 950; Lameque 777; Enoque 365: Matusalém 969, significando que tinham atingido a felicidade das bênçãos divinas representada por uma multidão de anos e por uma multidão de filhos e filhas: “E geraram muitos filhos e filhas”(Gn.5,27). O Novo Testamento também copiou a mesma mentalidade nos seus escritos. Na verdade, nós temos três quartos do Antigo Testamento e um quarto do Novo Testamento na nossa leitura, na nossa cabeça, nos nossos membros e na nossa cultura e nas nossas missas. Os povos que lemos a Bíblia somos 2 bilhões, enquanto que os que não têm a Bíblia são 6 bilhões. Esses não têm os 3 quartos do A.T. e nem o “um quarto” do Novo
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A cultura de ter muitos filhos e de se “multiplicarem” respingou também para o matrimônio, tanto na escrita dos evangelistas quando escreveram “Jesus disse”, como na doutrina da Igreja posterior. Os nossos avós também pensavam assim, quantos mais filhos melhor. E isso tinha um motivo, é que eram uma sociedade rural, e nas sociedades rurais era necessário ter mitos filhos para trabalhar na terra, porque era a única fonte de renda. As consequências eram que o matrimônio era só para a procriação e ter muitos filhos. E ajunte-se a isso a doutrina de Agostinho que a relação sexual era o princípio causador do pecado original, e por isso apenas permitida para a reprodução. (Cf. blog www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 07/11/21). Outra consequência era a aversão e o preconceito contra a pílula e os anticoncepcionais. E também os preconceitos homofóbicos contra toda a espécie de LGBTs. Significa dizer: essas uniões que não têm reprodução seriam condenadas. Isto é continuar a pensar com a cabeça do Antigo Testamento e das sociedades rurais: “Cumpra os mandamentos para te multiplicares”. A bitola que eles seguiam era de duas linhas: cumprir os mandamentos e ter muitos filhos. Por outro lado, os estudiosos dizem que na cultura bíblica judaica não lhes interessava a felicidade futura. Era a felicidade presente: a casa cheia de filhos, era a riqueza da casa. De resto eles não diziam “é pecado”. Não. Eles diziam”os filhos são uma bênção”. Por isso o salmo 127 afirma: “A tua esposa será uma videira bem fecunda no coração da tua casa; os teus filhos serão rebentos de oliveira ao redor de tua mesa; assim será abençoado todo homem que teme o Senhor”(Sl.127). A cultura dos judeus era essa. A cultura da Idade Média era também essa. E porque queriam muitos filhos? Para trabalhar a terra. A cultura moderna é poucos filhos. Porquê? Porque estamos numa sociedade técnica e industrial, onde a prioridade não é mais a terra mas o estudo e a técnica. E a técnica irá trabalhar a terra. Isso é cultura, não fé. A cultura muda conforme as condições sócio-econômicas da vida humana. Por isso Deus tanto estava com os Judeus de muitos filhos, como com os nossos avós de muitos filhos, como com os chineses de um só filho, como com os casais de hoje com seus dois filhos, ou um, ou nenhum filho. E consequentemente, os governos têm a missão de organizar o estatuto das famílias e dos filhos, dependendo das estatísticas, estudo, educação, e meios de trabalho e de transporte ou doenças. Assim como têm a missão de organizar o estatuto social dos casamentos hetero ou homo, estatuto social e condições e direitos para os filhos. São questões da alçada dos governos e não da Igreja. Quando vemos eclesiásticos de vários credos querendo condenar certos fatos, eles não estão pisando o terreno que vivemos hoje, mas o terreno de há 3.000 anos atrás. Têm os pés no hoje, mas a cabeça no que já não existe mais. Conclusão. Quando lemos as exortações no Novo Testamento como aquela “os efeminados não entrarão no reino de Deus”(1 Cor.6,9) devemos lembrar que o autor estava pisando chão do Antigo Testamento. E com isso as conclusões ficam com você que tem uma cabeça para saber por onde deve caminhar. Nesta época em que em que robôs americanos, chineses e russos estão explorando o planeta Marte, e Sondas como a Voyager-1 e Voyager-2 andam explorando os espaços siderais, a 16 e a 22 bilhões de quilômetros da Terra, e em que o módulo Philae pousou no planeta Plutão e no cometa 67P. É a cabeça que conhece o caminho e não os pés. P.Casimiro João www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

domingo, 28 de novembro de 2021

As “indiretas” dos evangelhos, que viraram milagres de Jesus.


 

Todos sabemos o que é uma “indireta” que nos faz dizer “pra bom entendedor meia palavra basta”, ou como dizem também os evangelhos “quem tem ouvidos para ouvir ouça” e ainda “quem puder compreender, compreenda      (Mt. 19,12).

Um dia no evangelho de Marcos aconteceu uma dessas “indiretas”. Na viagem para Jerusalém os dois  irmãos Tiago e João pediram a Jesus que “preparasse  os primeiros lugares” no palco do Reino que Jesus iria inaugurar ’Mestre, concede-nos que nos sentemos na tua glória um à tua direita e outro à tua esquerda’ (Mc.10,37). Nessa “caminhada catequética elaborada pelo evangelho de Marcos é descrita a cegueira dos discípulos. Mas, em vez de dizer que os  discípulos estavam cegos é apresentada uma cena em que um cego surgiu à beira do caminho, o Bartimeu, filho de Timeu, e gritou “Mestre, que eu veja” (Mc.10,51). Até que, recuperando a vista, começou “seguindo Jesus pelo caminho”(v.52). Você pode fazer legitimamente a pergunta cristã: foi um milagre ou foi uma indireta essa “cura? Só você pode responder.

Esta foi a primeira cena deste episódio. Agora a 2ª Cena:

O filho de Timeu, Bartimeu, cego e mendigo, estava sentado na beirada do caminho. (Mc.10,46). Ele recuperou a vista e seguia Jesus pelo caminho (v.52). A moral da história é que quem está na beirada do caminho deveria seguir o caminho normal da sociedade. Uma vez que os sentados nas beiradas e nas bermas das estradas estão isolados, cegos, e mendigos e discriminados, e sem poder falar e nem levantar a voz. “Muitos o repreendiam para que se calasse” (10,47).

No mês passado vimos as notícias de um Supermercado do Sul do Brasil que entregava “bandejas vazias” direcionadas a pessoas pobres e negras que iam comprar carne nas prateleiras.. Só poderiam receber a carne com pagamento antecipado pagando o preço na bandeja. E noutros Supermercados tocava o alarme quando as mesmas pessoas entravam, como aviso de que eram pessoas suspeitas...Agora eu pergunto: Porquê não colocam “Alarmes” nos “colarinhos brancos” de Brasília? Suponho que não se poderia suportar o ruído de tantos alarmes no Brasil. Ou não será também que muitos lobistas que organizam esses Supermercados não abusam também dos preços?  E muito mais praticam a discriminação racial e  social?

Criou-se um ambiente de mundo racista e de suspeição intolerável. A verdade é que “cega” é a sociedade de hoje quando não vemos o valor das pessoas, mas a sua posição social e só visamos o lucro, igual os dois discípulos autocandidatos a ministros. A “indireta” continua valendo nestas situações.

P.Casimiro João      smbn

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domingo, 21 de novembro de 2021

O que quer dizer “Para Deus tudo é possível” ?


 

Em primeiro lugar, São Tomás de Aquino comentava assim: “Deus é onipotente para as causas possíveis” (S.Tomás). Por exemplo, eu não posso pedir a Deus que 2 + 2 sejam cinco mas posso pedir que eu multiplique muitas vezes 2 x 2 pães em favor dos outros em vez de ser só para mim.

A expressão “para Deus tudo é possível” é usada na Bíblia (Mc.10,27), e tem sua raiz na história do povo de Israel, na teoria da escatologia, ou fim dos tempos. Isto é, já que os Judeus lutaram tanto para ser o povo dono do mundo e não conseguiram, então jogaram essa “ilusão” para o fim dos tempos ou do mundo.

Nesse longínquo “fim do mundo” viria Deus descido dos céus e nas nuvens, para se vingar dos inimigos do seu povo, e dos ricos e poderosos que maltratavam os pobres o tempo todo. Para eles não seria possível essa vingança, mas para Deus sim. “Ó Senhor, Deus vingador; Intervém! Levanta-te, juiz da Terra; retribui aos orgulhosos o que merecem” (Sl.94,1-2).  Copiando para o Novo Testamento, “Minha é a vingança; eu retribuirei”, diz o Senhor” (Rom.12,19).

E a transposição dessa ideia para o Novo Testamento: “Como é difícil para os ricos entrar no reino de Deus; é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus; Para os homens isso é impossível mas para Deus não, para Deus tudo é possível” (Mc 10,23.27).

Aliás, no conceito dessas afirmações vem o que nós devemos ter em conta: o reino de Deus, que nos torna mais compreensível isso de “o camelo entrar no buraco de uma agulha”. Dias atrás os jornais falaram nos milhões de dólares que o ministro da economia e o presidente do Banco Central colocaram nos “Offshores” dos paraísos fiscais no estrangeiro. Eles ganharam e continuam ganhando  milhões em cada dia só com a subida do dólar.

Que aplicação tem aqui “passar pelo buraco de uma agulha”? Seria se esses homens ricos resolvessem de uma vez se tornar amigos e solidários dos cidadãos pobres do Brasil que não têm o que comer em cada dia, e até procurando ossos nos açougues das cidades do Sul. Se eles aceitassem distribuir os seus dólares ou ao menos devolvê-los ao Brasil e fazer uma economia solidária para a pobreza brasileira isso sim que seria “o camelo passar pelo buraco de uma agulha”. E seria o começo do Reino de Deus para eles a para uma parte do Brasil. Porque onde há partilha, e solidariedade e fraternidade aí está Deus.

Então esses dólares não iriam ser multiplicados só para eles mas solidariamente entrariam na economia do Brasil para que acontecesse mais partilha, mais solidariedade e mais fraternidade. Ainda funciona muito o imaginário do Antigo Testamento que nesse longínquo “fim do mundo” poderá vir Deus descido dos céus e nas nuvens, para se vingar dos que maltratam os países  e são causadores da pobreza mundial.

Mas quando eu digo que “para Deus tudo é possível” posso estar tirando da mim a responsabilidade de transformar as estruturas que mantêm as injustiças sociais. Dizer que “para Deus tudo é possível” pode significar a falsa ideia que a sociedade não pode mudar. Pode significar atribuir a Deus os males que existem como fomes, doenças, más governanças, porque eu não estou disposto a colaborar.

Pode significar ainda que quero continuar alimentando a minha pasmaceira em olhar as coisas correr sem eu mexer uma palha. Como se a casa estivesse pegando fogo, e eu na minha cadeira dizendo que “para Deus tudo é possível”, até mesmo que ele venha apagar aquele fogo.

É igual como na expressão fácil “Deus dá o jeito”, na realidade será porque eu não quero dar. Somos muito fáceis em terceirizar. E terceirizamos tudo em Deus, “Deus levou fulano”, “Deus por que levou o meu marido tão cedo”, e por aí adiante. Não será invocar o nome de Deus em vão?...

Não será também uma forma de terceirizar usando a expressão “para Deus tudo é possível”? O evangelho de Marcos coloca também na boca de Jesus, na hora da agoniaPai tudo, tudo te é possível, afasta de mim este cálice” (Mc.14,36); Mateus por seu lado, só as palavras,“Pai, se é possível, afasta se mim este cálice”(Mt.26,39). Lucas e João nada dizem. Nada de admirar, pois Marcos repetiu o imaginário do Antigo Testamento sobre o impossível.  Mateus já mudou para “se é possível”.

Concluindo: Se formos ao Antigo Testamento procurar mais influências teríamos que nos reportar ao imaginário das teorias do Criacionismo, desde os 9.000 anos a.C que fol inventada a escrita pelos povos sumérios e babilônicos em cujos escritos já aparece que Deus formou o homem do barro, e daí passou para o Gênesis. E não só, mas as estrelas, águas e animais tudo pela sua palavra. Esse imaginário perpassa transversalmente todas as épocas da história humana e chegou até à Idade moderna e nossa. Sabemos agora que Deus é parceiro e caminha junto com as nossas possibilidades e nossas impossibilidades.

P.Casimiro João     smbn

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domingo, 14 de novembro de 2021

Será que o batismo de João Batista era para “apagar” o pecado original?


 No batismo de João ainda não havia o conceito de pecado original. Nem a teoria ou teologia de pecado original.  O batismo de João era a credencial de entrar para a ideia do fim que estava próximo; “Eis que  o machado já está posto à raiz das árvores”(Mt.3,10). O que era esperado era tão urgente que as “árvores velhas” que persistissem em não aceitar a novidade já estavam prontas para o fogo(v.11). E de tal maneira que quando Jesus mandou os 72 discípulos com a mesma missão, teriam que andar ligeiro, porque nem teriam tempo de percorrer as cidades de Judá antes que chegasse o fim do mundo que era chamado o “reino de Deus”.(Mt.10,6).

Falemos agora no aporema, ou paradigma, ou teologia de Paulo na Carta aos Romanos. “Irmãos, o pecado entrou no mundo por um só homem. Através do pecado entou a morte. E a morte passou para todos os homens”(Rom.5,12). Esta afirmação baseia-se numa antropologia e numa cosmologia e num desconhecimento que já não existem mais. Ora, quando uma teoria se apoia num tripé que não existe e já foi retirado, a teoria também não se segura mais. Qual era a antropologia da época?

Era que só havia um casal no início do mundo. Hoje está provado que não existia só um casal. Na época de Paulo havia a teoria criacionista. Hoje existe a teoria evolucionista, segundo a qual os seres humanos evoluíram de formas hominídeas até chegar ao homo sapiens e ao neandertal, por períodos de centenas de milhares de milhões de anos. Inclusive para a aprendizagem da fala levou centenas de milhares de anos.

Qual era a cosmologia? Era que o mundo tinha sido começado com Adão e em seis dias. Hoje a cosmologia é a da explosão do Big-Bang de 15 bilhões de anos atrás. E bilhões e milhões de anos decorreram para o aparecimento das estrelas e galáxias até chegar ao esfriamento da Terra. E mais milhões e bilhões de anos até chegar ao aparecimento dos primeiros seres vivos na terra, começando pelas amebas e em evoluções sucessivas aos vertebrados, répteis, dinossauros, primatas, hominídeos e os primeiros humanos, (homo sapiens e neandertalenses).

O segundo pé do tripé da época de Paulo também não existe mais, como estamos vendo. O terceiro pé do tripé que era o desconhecimento destes princípios da ciência é que compôs o aporema que sustentava o imaginário primitivo das mentes daquela época. Justamente como vem na Bíblia, já vinha nos escritos ou nas “Bíblias” de povos mais antigos do que os Judeus. Na verdade, não foram os Judeus que “inventaram a pólvora”. Os Sumérios, os persas e os Ugaritas, de onde se originaram os Judeus é que começaram com essas narrativas. Exemplo, o Gilgameshe, dos sumérios, que traz a narração paralela do primeiro homem e do dilúvio. Partindo depois para o Código do Sinai, que veio depois do Código de Hamurabi, o sexto rei dos Sumérios (1.792).

E não imaginemos que primeiro “Deus falou” aos Judeus, porque nos livros mais antigos também vem assim: “E Deus disse”, “E Deus mandou estas palavras em minha boca”(Gilgamesh). “Todas as culturas nascem de  uma palavra criadora dita em tempos imemoriais por um poder divino” (Biderman, “Dimensões da palavra” 1998, 45). Para esta autora e para os historiadores das religiões Deus se faz presente nas suas palavras. É daí que se originou a teoria criacionista. Segundo a teoria criacionista Deus cria com a sua palavra. E não só, como também se “encarnava e habitava” na sua palavra. Daí que os gregos tinham o Logos, e os Judeus a Sabedoria onde Deus habitava.

Vimos então que o batismo de João não tinha nada a ver com o pecado original. E vimos que Paulo quando escreveu: “o pecado entrou no mundo por um só homem; através do pecado entrou a morte; e a morte passou para todos os homens” se baseava no imaginário bíblico vetero-testamentário e o transportou para o Novo Testamento, que era devedor da teoria criacionista. A teologia posteriormente formulada por Santo Agostinho só fez espichar o gancho deixado pelo aporema ou paradigma de Paulo. E digamos de passagem que Paulo não falava de pecado original. O autor do nome ou o pai da criança foi Santo Agostinho, que, partindo da filosofia gnóstica e maniqueia atribuiu o pecado original à relação sexual do primeiro casal, de onde todas as outras relações e nascimentos ficavam “contaminados”. (Cf.BLOG www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 09/05/21).

P.Casimiro João    smnb

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domingo, 7 de novembro de 2021

Davi e Salomão: entenda como a Bíblia distorceu histórias para fabricar uma ideologia nacional.


 

Em continuação da matéria anterior vamos dar mais uns elementos sobre a história do reino de Israel Norte e do reino de Judá, reino do Sul na época do exílio da Samaria (722 a.C) e de Judá (586 a.C.). E de como houve uma “construção ideológica” de um “reinado” que teria sido o maior assombro da humanidade para aqueles tempos, e que ficaria registrado na Bíblia posterior como tal. E assim continuaria, se não fossem as últimas escavações arqueológicas a demonstrar que o mesmo não passou de uma lenda e um mito que foi fabricado pelo reino do Sul, Judá, quando se viu livre da tutela do reino do Norte para legitimar agora o seu momento de glória. Portanto, “esse fabuloso reino davídico-salomônico não passou de um sonho ardiloso de Josias (640-609 a.C), para construir a grandeza do seu reino do Sul”. (Cf.Ademar Kaefer, “A Bíblia, a Arqueologia”p.28). (Cf.www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

31/10/21).

Como isso aconteceu? Desde o séc.X a.C. Samaria e Siquém tinham sido o centro político da Palestina. Foi lá, em Siquém, que o povo que vinha com Moisés, do Sinai, se juntou ao povo de antigos judeus que já moravam em Siquém, e praticamente foram eles que a formaram antes de Moisés. Eles tinham vindo como trabalhadores nas minas de ferro do Sinai. Ainda não se falava nem em Judá nem em Jerusalém (Cf Blog www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 28/3/21        

Nessa época, a Samaria e Siquém tinham já mais de 50.000 habitantes, enquanto que Judá permanecia quase desabitada e não completava 4.000 habitantes, e Jerusalém não chegava a 1.000 almas. Quando a Samaria foi conquistada pela Assíria,(em 722 a.C.)muitos judeus foram deportados para a Babilônia, mas um grande número teve autorização para migrarem para a região de Judá e Jerusalém, onde reinava Acaz, como dependente do Israel Norte. Feliz com isso, Acaz se viu livre do Reino do Norte e facilmente prometeu obediência aos reis da Assíria para não ser esmagado.

Em seguida vieram Ezequias e Josias. Josias teve quase 40 anos de aliança com a Assíria e conseguiu levar Judá e Jerusalém a um grande desenvolvimento, enquanto que a Samaria estava bem submissa à Assíria depois da deportação para a Babilôlnia. Até que Josias foi morto por Necau, do Egito por traição quando este soube da sua amizade com a Assíria. Daí para o fim de Judá só foi um fio, uns 23 anos, na época de Sedecias, em que a Babilônia surgiu de rompante para esmagar a Assíria e todos os seus domínios, como Judá e Jerusalém em 586 a.C.

O que fez Josias durante aqueles quarenta anos que viveu em paz e fiel vassalo da Assíria? A maior preocupação dele e dos seus escribas do Deuteronômio, que foi escrito nessa época, foi apagar a memória da Samaria e do Reino do Norte, e fabricar a ideologia da sacralidade do império de Jerusalém, tecendo figuras e impérios imaginários como Davi e Salomão. Repetimos aqui o afirmação inicial: “A grandiosidade do Império Davídico e Salomônico, com suas riquezas e esplendores, não passou de um sonho ardiloso do rei chamado Josias (640-609)”para legitimar a sua arrogância” (Cf.José Ademar Kaefer, “A Bíblia, a Arqueologia”p.28). E o mesmo autor observa: “Há cada dia menos estudiosos que sustentam a teoria da existência da chamada monarquia unida sob os reinados de Davi e Salmão” (id).

Salomão não é mencionado em nenhum texto extrabíblico, nem há documentos da tal sabedoria. Pelo contrário, trata-se da disputa entre a sabedoria de Israel e a sabedoria do Oriente e do Egito (o.c.p.56).

Davi e Golias: uma lenda popular que foi aplicada a Davi, aliás existe outra versão de outra lenda dizendo que o tal Golias tinha sido morto por Elcanã e não por Davi (1Sam.12,19), trata-se da mistura de duas lendas. Quanto a Saul e Davi, se realmente existiram, os estudiosos afirmam que não teriam passado de nomes de chefes de clan da época. (o.c.p.45).

Portanto, em tudo está presente a ideologia posterior da “casa davídica”, como uma construção de Josias. Um detalhe: Sempre que se menciona Davi, nos autores deuteronômicos, fica sempre inocentado da morte de seus inimigos.

Para confirmar as fábulas, as escavações arqueológicas recentes confirmam que nenhuma  construção não foi encontrada em Jerusalém, como o falado templo de Salomão. Pelo contrário, o “templo de Jerusalém” foi construído depois do ano 722, depois da queda da Samaria, pelos reis da Assíria para manter a unidade do império e a aliança com Acaz. E por outro lado, há construções datadas da época dos reis do Norte em Meguido, Hazor e Gezer mas nunca e nada do rei Salomão.

Conclusão. Para avaliarmos as passagens da Bíblia sobre o reinado do Israel Norte devemos ter sempre presente o seguinte: é preciso ter em mente sempre que as informações que a Bíblia nos apresenta sobre a história dos reis do Norte passaram pelo crivo dos reis e dos escribas do Sul.

Finalmente, a reforma de Josias: foi mais política do que religiosa. Não é à toa que a Bíblia dá grande preponderância a Josias. Primeiramente, ele e seus escribas fizeram a última edição da Bíblia, chamada deuteronômica. Nessa edição fizeram as mudanças e transposições que serviam agora ao novo Reino de Judá, apagando quase toda a história anterior, ou adaptando à nova ideologia. Um dado importante é que nessa época foi o surgimento do maior apogeu da escrita entre os Judeus.

Outro aspecto importante foi a centralização do poder e do culto, e a destruição de todos os santuários dos povoados do interior para centralizar todo o culto no templo recém-construído que antes era bem insignificante. Inclusive a celebração da Páscoa que também se fazia nos povoados, se tornou uma celebração do Estado, e adquiriu caráter fundante de Judá como Reino que antes não existia.   

 

P.Casimiro João   smbn

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domingo, 31 de outubro de 2021

O esplendor de Salomão como uma construção ideológica da redação final da Bíblia, nas descobertas arqueológicas da atualidade – A verdadeira história de Israel, eis a Questão.


 População de Israel Norte: originária de assentamentos de povos nómades, a maioria pastoris, no séc. XIII a.C. Os primeiros povos sedentários da região se chamaram Israel. Porquê? Porque o deus dos locais donde vinham (Urit, Mesopotâmia), era “El”. E também o primeiro deus deles era o mesmo El, que depois deu Elohim. Tanto é assim que muitos nomes pessoais terminavam em “el”: Abediel, Adriel, Ariel, Azrael, Ezequiel, Gamaliel, Hazael, Kalel, Miguel, Otoniel, Rafael, Salatiel, Samuel....

Habitantes: No séc.XIII a região do Israel Norte tinha cerca de 45.000 habitantes, e Judá, no sul 15.000. Já no séc. VIII o Norte tinha 350.000 e o sul (Judá) 115.000 almas. Porquê assim? No Norte, tinha densa população e os reis eram poderosos. O Sul, Judá, tinha pouca população e poucos lugarejos. O reino de Israel Norte era considerado e reconhecido como potência internacional, enquanto que Judá era desconhecido, não era ainda um reino. Israel dominava em Judá nessa época.

E como se deu a inversão, que Judá e Jerusalém se impuseram sobre o Israel Norte E como surgiram os mitos dos reinados de Davi e Salomão? É aí o nó da questão que as últimas descobertas e escavações arqueológicas demonstram até à evidência, por conta de escavações metodicamente levadas a efeito nos últimos 50 anos por empresas e arqueólogos. Entre eles, um dos mais famosos o arqueólogo israelense Israel Finkelstein, professor da Universidade de Tel Aviv, que citaremos neste Blogue, no livro ”O Reino Esquecido, Arqueologia e História de Israel Norte”, Paulus, 2015).

Foi assim: Judá atingiu o seu apogeu no séc.VIII a.C., com o rei Josias (640-609), e Israel no séc. IX, com Amri, Acab, e Joroboão II. Teve um colapso com a derrota contra o rei Hazael de Damasco, mas reergueu-se logo anos depois, com Joás. A Bíblia retrata negativamente o Reino do Norte como sendo de Baal mas as descobertas e escavações modernas conferiram que essa afirmação é falsa, e faz parte da construção ideológica de Judá, 200 anos depois. Primeiramente, nenhuma construção de Salomão foi encontrada em Jerusalém, como o famoso Templo. Pelo contrário,  achados arqueológicos de grandes construções foram achados na Samaria, e em Meguido no Reino de Israel Norte. Porém a Bíblia desvia os locais e autores das construções, atribuindo-as a Salomão, em Judá, no Sul, por motivos que veremos em seguida.

Em Jerusalém não há vestígios de construções que a Bíblia atribui a Salomão. Nem uma pedra dessa estrutura foi encontrada, apesar de mais de um século de busca por conexões entre o texto bíblico e as evidências do local de escavações. Essas construções contadas pela Bíblia, afinal de contas são da época da dinastia omrida, dos reis do Norte: Amri, Acab e Jeroboão II, no Norte e não em Jerusalém, Sul. O motivo foi a ideologia dos escritores do Sul que quiseram passar uma borracha na historia do Israel Norte.

O templo de Jerusalém só na época de Josias é que começou a funcionar depois da construção subsidiada com o dinheiro da Assíria quando tomou a Samaria, para com isso manter o domínio sobre Judá que prometeu boa convivência e vassalagem de tributos  a Nabucopalasser e Nabucodonosor II da Assíria.

Essa, tradicionalmente, seria a época do Primeiro Templo (1020a.C.). No entanto, como foi dito, nem uma pedra dessa estrutura foi encontrada nas escavações de Jerusalém. A Bíblia descreve Salomão como o sábio, o rico, o dono de mais mil concubinas. Mas não há nenhuma evidência arqueológica sobre Salomão. Isto deixa claro aos arqueólogos se o segundo rei de Israel, Salomão, era real ou se parecia mais com outros governadores lendários da história como Arthur da Grã-Bretanha ou Rómulo fundador de Roma.

Foi nesta época que teve início a maior atividade literária, que antes constava só de ensaios. Foi assim que a literatura deuteronomista feita no Sul reescreveu a história bíblica segundo a sua ótica ideológica. Foi dessa maneira que aproveitando-se do declínio do Israel Norte tomada por Sargão II e Nabucopalassar. Foi assim que trocou os dados da história, forjando a ideologia do império de Salomão que  hoje em dia é vista como uma construção ideológica, uma lenda. Isto é, tudo o que tinha sido o esplendor de Israel Norte com o esplendor dos reis omridas dois séculos antes, o Deuteronômio colocou aí os nomes de Salomão e Davi. Pura ideologia. E o objetivo era porque Judá gozava de paz, uma vez que não fazia competição com nenhum rei no entorno, enquanto Israel e Damasco, no Norte, eram considerados os dois reinos mais fortes na região, e por isso tinham sido calados pela Assíria. Digamos, Jerusalém era cachorro invisível em comparação com Israel.

E assim continuou até que os assírios resolveram também abocanhar Judá e Jerusalém, quando Judá quis trair a confiança da Assíria, aliando-se secretamente com o rei Necau do Egito.  Como tinha sido o fim de Israel Norte em 722 assim foi o fim de Judá Sul em 586 quase 200 anos mais tarde.

Falámos no inicio do período da escrita. Ele começou na Samaria, Norte. Inscrições hebraicas aparecem pela primeira vez em Hazor e Betsã em 883 em Israel Norte, enquanto que no Sul só no século seguinte. O primeiro Livro do Antigo Testamento foi escrito aí, Israel Norte, e não foi Abraão, mas o livro de Jacó, o primeiro livro, e o Êxdo-deserto (o.c.p.170-171).

Alguns fugitivos do Israel Norte, quando foi tomada por Nabucodonosor, conseguiram escapar para Judá, no Sul e levaram consigo esses escritos, que depois foram transformados pela ideologia do Sul. Não há evidências claras da estadia de Israel no Egito nem em fontes e documentos egípcios, nem na arqueologia. (o.c.p.176-177). O máximo que se pode conceder é a base de uma tradição que se originou a partir de uma expulsão de uns trabalhadores do Delta do Nilo. Não há indicação de opressão egípcia como um todo. O único rei egípcio da época da fundação do Israel Norte é Shanshoq I  que reinou mais de 40 anos, na época dos assentamentos das tribos do Norte, que tinha um governador em Gaza, cidade da qual dependia Siquém e a região de Canaã, regiões que vieram a formar o Israel Norte. As tradições de um êxodo devem ter tido, além da experiência da expulsão do Delta do Nilo ainda mais outro objetivo que foi para celebrar a saída do exílio da Babilônia. (o.c.p.178).

Para a caminhada do Êxodo, como está escrita, os redatores do Sul não poderiam ter tido conhecimento da geografia do deserto do Norte. Seu trabalho era estritamente literário com o objetivo de atender às circunstâncias e teologias de seu tempo. (Cf.Hoffmann, 1989). A tradição da caminhada do Êxodo é, portanto, uma narrativa multicamada. Ela primeiro foi transmitida oralmente e posteriormente colocada por escrito no Norte. Daí foi levada para o reino do Sul, acumulou níveis, cresceu em volume e detalhes, e foi transformada e redigida uma e outra vez em Judá e Yehud ao longo de um período de muitos séculos em função de mudanças políticas e realidades históricas. (o.c.p.181-183).

É aqui que entra a questão dos nomes, de novo, do deus El (Elohim), deus do Norte, e Javé, o deus do Sul (Judá). Como se deu isso? Na época das migrações para Judá, junto com os israelitas do Norte, um clan de moabitas que controlavam as minas de ferro e cobre do Sinai, chamados “ferreiros” dos quais fazia parte como sacerdote o sogro de Moisés, eles migraram também para Judá, e tinham o deus Javé como seu patrimônio. Quando os escribas do Sul refizeram as tradições, incorporam e adotaram o nome de JAVÉ a fim de adotarem a nova divindade, servindo assim como mais um marco determinante de suplantar a influência do Norte, para legitimarem os esquecimentos das tradições do Norte, até porque associavam as tradições do deus El com Baal, como sendo filho do mesmo deus El. Deste jeito nasceram as narrativas da sarça ardente como o início da nova “tradição” do Êxodo.

Que El era um deus de Israel Norte, vem de que o nome de Israel vem do deus El. Primeiramente era Isra-Yahu, mas foi adotando o nome de El para ficar: Isra-El. (Cf. blog www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 04/03/2018). O deus El seria o pai de Baal dos povos ugaríticos que eram os antepassados de Isra-Yahu, em Ugarit, cidade-estado de Canaã. E tinham El-Shadday, o deus das montanhas; e El-Olam, o deus eterno. O livro de Gênesis corrobora isto quando fala em Jacó, no Norte oferecendo sacrifício ao seu deus El: “Aí (em Siquém) fez um altar, que denominou El, o deus de Israel”(Gn.33,20). Por outro lado, sobre o deus Javé das minas do Sinai foram encontradas três inscrições nesse local “Yhwh dos Yahu”, que os arqueólogos interpretam Javé deus dos Yahu.

Recapitulando:

Temos na cabeça que Davi conquistou Jerusalém em 1.000 a.C. e depois sucedido por Salomão e daí por diante. Porém, as últimas descobertas e escavações arqueológicas têm mudado a visão que é a seguinte: 1- A formação de Estado do Israel Norte não tem nada a ver com Salomão nos anos 1.200-1.000, mas com a dinastia Omrida (Amri, Acab e Jeoboão II (884-831). 2- Como se formou o Israel bíblico: No séc.VIII deu-se a queda definitiva do reino de Israel Norte, e houve uma migração em massa de grupos israelitas do Norte para Judá e Jerusalém: gente vinda da Samaria, de Betel etc. Judá tinha um terço de habitantes, e ficou crescida. Jerusalém que tinha 1.000 habitantes ficou com cerca de 15.000 almas. Judá transformou-se em Reino neste momento, tendo passado do domínio de Israel Norte para o domínio assírio. A Assíria tinha aniquilado Israel Norte porque era perigoso, mas Judá não oferecia perigo nenhum. Foi com esta vinda de Israel Norte para Judá que se formou o Novo Estado de Israel bíblico conjunto ficando daí em diante o nome oficial de Estado de Israel abrangendo o Sul e o Norte.

A escrita tomou agora seu grande momento. E foi reformulada e reformada toda a história de Israel, sob a ótica dos escribas do Sul, que ficaram para sempre na literatura deuteronômica. O grande objetivo foi promover os “reis davídicos” como os únicos governantes legítimos, e o Templo de Jerusalém, que de um quase nada foi construído por Dário e os sucessores de Nabucodonosor para a ideologia de unificação do seu reinado. O que levou pouco tempo, só até 586 por conta da traição do rei Sedecias que tinha ocultamente se aliado com o Egito.

O autor de Êxodo incorporou as tradições do Norte mas as sujeitou aos seus principais objetivos ideológicos. Por isso foi necessário a imaginação épica da construção do império salomônico para dar todo o respaldo aos seus objetivos. Por isso é uma história não bem contada na Bíblia, pois é ideologicamente distorcida, a fim de servir aos interesses de Judá num momento em que o reino de Israel Norte não existia mais. Isto até que chegasse o momento em que Judá deixou também de não existir mais. (586 a.C.).

Judá foi sempre governada por Israel Norte. Exceto na derrota de Ocosias e Jorão, vencidos provisoriamente por Hazael de Damasco, mas logo recuperando-se com Joás. Não há vestígios históricos conclusivos de culto nessa época. Somente em Meguido  apareceram poucos sinais de culto. O que há a respeito, na Bíblia sobre os altares de Betel é uma ficção polêmica do deuteronômio sendo portanto uma construção não histórica representando preocupações religiosas deuteronômicas sobre o culto idolátrico de Betel na época de Jeroboão (o.c.p.98).

A primeira capital do Norte foi Tersa. Os supostos 40 anos do reinado de Salomão e Davi são simbólicos assim como a colocação da ordem dos três primeiros monarcas feita por um redator posterior(o.c.p.72).

Sobre Saul: “por falta de evidências históricas a própria história de Saul fica duvidosa e pouco confiável dado que o redator do Deuteronômio colocou as terras de Benjamim, que são no Norte, colocou-as no Sul, entre outras anomalias. (o.c.p.68).

Sobre o Livro dos Juizes: “As narrativas dos Juízes deverão ser vistas, antes de tudo, como construções deuteronômicas que utilizam mitos, contos, e tradições etiológicas a fim de transmitir a teologia e ideologia territorial dos autores da monarquia.(o.c.p. 41).

Conclusão. Neste resumo resumido podemos ver a distorção que o reino do Sul fez sobre o reino do Norte e os seus reis. O Norte foi tomado pela Assíria porque esse é que lhe interessava; Judá (Sul) não constava no mapa, e eram lugarejos só pequenos, inclusive Jerusalém, como dissemos.

A ideologia política da História deuteronomista na Bíblia representa uma realidade posterior à queda do Reino do Norte. Nessa ideologia a história do Reino do Norte quase não existe, e é só no negativo e pejorativo. O objetivo agora é exaltar o templo e a dinastia de Jerusalém. O Reino do Norte é visto como ilegítimo. Do lado da erudição bíblica, é evidente hoje que a ideia bíblica de uma grande monarquia unida (Davi e Salomão)é uma construção literária que representa  uma ideologia territorial, conceitos monárquicos e ideia teológica da monarquia tardia dos autores judaítas.

Do lado da arqueologia fica evidente, entre outras razões, graças ao estudo de radiocarbono que os monumentos tradicionalmente atribuídos a Salomão fazem parte da lenda. Eles foram construídos pelos reis de Israel Norte, os Omridas, Amri e sucessores.(o.c.p.24-26). Amri foi o fundador da mais célebre dinastia do Norte, o rei pelo qual Israel é conhecida nos registros assírios. Salomão não aparece em nenhum registro. Entre outros reis do Norte, depois dos Omridas, destacou-se Jeroboão II, que não tem nada a ver com Salomão. Foi ele quem governou o reino do Norte por 40 anos.

Como vimos, em população e em relevância, Judá era desconhecida dos reis do entorno, desde que Sheshonq, do Egito deu certa autonomia a essas cidades-estado do Norte, e que posteriormente formaram o Estado de Israel Norte, que depois foi se aliando em alianças sucessivas com Assírios e egípcios.

Nesse primeiro momento Judá não era ainda reconhecido como Estado, mas dependia do Estado de Israel Norte. Foi devido a isso que a ideologia posterior de Judá colocou os dois primeiros reis, Jeroboão I (do Norte) e Roboão I (de Judá) como filhos de Salomão, para daí construir um Salomão fabuloso, começando por dois chefes supostamente remanescentes das antigas tribos, Saul e Davi.

A história bíblica é muito intrincada. Este pequeno resumo possa servir para nos alertar sobre as nossas seguranças e nos levar a desconfiar de nossas certezas.

P. Casimiro João        smbn

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domingo, 24 de outubro de 2021

Quem crer e for batizado será salvo; quem não crer será condenado” (Mc. 16,16). Uma reflexão.


 

Antes de Santo Agostinho não havia a teoria do pecado original, e as crianças que morriam sem o batismo iam pro Céu; Santo Agostinho botou elas pra fora do Céu. E agora?

Agora a Igreja  bota de novo as crianças sem batismo pro Céu. É por isso que a Igreja agora não obriga mais a ser batizado pouco depois de nascer como antes. Uai, podia dizer o mineiro, então os protestantes têm razão em não batizar crianças. Têm e não têm. Porquê? Porque se um adulto morrer sem ser batizado também vai pro céu.

Então para quê Jesus mandou batizar? Primeiro, era para aceitar a ele publicamente e aceitar fazer parte da Igreja que estava começando, com os compromissos consequentes, como ser irmãos na partilha e fazer uma sociedade igual. “Os cristãos tinham tudo em comum, dividiam seus bens com alegria: Deus espera que os dons de cada um se repartam com amor no dia a dia” (Cf. Atos, 2,42).

Segundo, o batismo não é para a outra vida mas para esta vida, é um compromisso escrito de fazer o bem aceitando Jesus e a sua Igreja. E fazer o bem não se faz na outra vida é nesta, e a Igreja é só para esta vida.

Por isso o  chinês o japonês e o asiático e outros que seguem sua consciência de fazer o bem e não prejudicam ninguém também o céu é deles. “Virão muitos do oriente e do ocidente  se assentar à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus” (Mt.8,4). “Ide às encruzilhadas dos caminhos e chamai para a festa  todos quantos encontrardes” (Mt. 22, 1-14).

Dá para voltarmos ao início do nosso tema para vermos o histórico da nossa questão. Santo Agostinho viveu no séc.V da nossa era, e converteu-se e foi batizado aos 40 anos de idade. Antes ele seguia uma filosofia chamada maniqueísmo. Esse filosofia dizia que tudo era matéria, não tinha espírito. O impulso sexual produzia a miséria das pessoas porque era coisa da matéria. Então a criança nascia do impulso sexual, estava condenada se não fosse batizada.

A Igreja foi aceitando essa teoria, e mesmo já na época, Agostinho encontrou-se com o filósofo cristão sério, Pelágio, e viu que não concordava com ele. Os teólogos da Idade Média respondiam com aquela história de “Trancoso”, do Limbo, para onde botavam as crianças que morriam sem o batismo, uma vez que não iam nem pro céu, nem para o inferno e nem para o purgatório.  Nos anos de agora isso passou, virou lenda.

Por isso de novo a pergunta: Antes de Agostinho não havia o pecado original; as crianças que morriam sem o batismo iam para o céu; Santo Agostinho botou elas para fora do céu. E agora? Agora a Igreja bota elas de novo para o céu.

Então agora a pergunta formulada: AS CRIANÇAS SEM BATISMO SE SALVAM?

Em continuação, vamos dar seguimento à segunda parte, os motivos que levam hoje a afirmar que as Crianças que morrem sem batismo não se podem condenar, estão salvas. Antes de tudo vamos dar uma olhada às razões que levavam à obrigação do batismo.

1. Razões antropológico-bíblicas primitivas:

1). As razões da Igreja da Idade Média para a não salvação das Crianças sem o batismo baseavam-se na primitiva antropologia da fabricação do homem com o barro (teoria Criacionista). Agora atende-se à teoria evolucionista, na qual o Adão e a Eva são os nossos Ancestrais desde 500 mil anos atrás, em evolução progressiva até chegar, por uma Sinapse do Córtex cervical à formação da consciência .

2). Devido a isto, acrescenta-se a teoria do polimorfismo genético pela qual em muitos casais primevos aconteceu esta evolução (teoria do poliformismo).

3). Não há como dizer que o homem na sua evolução até ao Homo sapiens e Neandertal não tivesse morrido, antes numa consciência em evolução, e depois já em plena consciência.

4). Não há portanto como dizer que antes o homem era imortal e que só teria morrido por causa do pecado.

5). Por fim, o ser humano foi evoluindo tanto na sua Consciência como na sua evolução física e biológica, e da formação do seu Genoma genético.

6). Atribuindo à história bíblica o gênero mitico e lendário primitivo, do jeito primitivo de forjar uma explicação para o inexplicável sem a Ciência de hoje, temos que a Criança nasce sem pecado, como é afirmado na teoria evolucionista, hoje aceita oficialmente pela Igreja.

2. Razões filosóficas e antropológicas

Vamos ao ponto fulcral de Agostinho. Ele dizia que o pecado original vinha da relação sexual, que é matéria. E porque a matéria era má, todo o sexo era mau. Agostinho seguiu a filosofia dos Maniqueus, fundada por Mani (250 d.C.) que tinham a matéria como má aproveitando-se das ideias de Platão (450 a.C.). Segundo eles, o demiurgo era o intermediário de Deus na criação, responsável pelo mal que não podia ser atribuído ao Criador Supremo, que não tinha nenhum envolvimento com o mundo e com a matéria. Seriam então dois deuses, o demiurgo e o deus supremo.

Como a criança nasce da matéria pela relação sexual, ela vinha condenada pelo “pecado de origem” dos pais. E foi nessa linguagem que o fruto da relação começou a ser chamado de pecado original por Santo Agostinho, devido à filosofia maniqueista dualista e gnóstica da condenação da matéria.

Como vimos atrás, a esta filosofia dualista maniqueísta juntava-se a primitiva antropologia da criação pelo barro, dum único casal humano na descrição do mito da Criação. Tiradas estas bases, pode se ver a nuvem em que Santo Agostinho trabalhava. Como dito antes, não sendo consistente essa teologia, os pensadores da Idade Média quiseram resolver o problema com a estória do Limbo, que também não deu certo. Este pessimismo maniqueu vai na contramão da apreciação positiva do Gênesis: "E Deus viu que tudo era bom" (Gn.1,19).

3. Razões históricas.

1ª etapa – A tese bíblica do Antigo Testamento era a certeza que o Israel bíblico estava destinado a ser o dono do mundo. E todo mundo seria circuncidado para ser do reino. Os apóstolos tinham isso na cabeça e o mostraram no episódio da Ascensão: “Senhor, é agora que vais restaurar o reino de Israel”? (At. 1,6).

2ªetapa: Isso não foi possível, e chegou novo dono do mundo, o império romano, que dominou a Palestina e todo mundo ocidental. Até o séc. VI-VII. Mas também o império romano foi embora com os seus sonhos imperiais de seis anos. No séc.VI o império romano se dividiu e ruíu.

Mas ainda a Igreja e  o império trabalharam unidos uns séculos. E como no Judaísmo todo mundo tinha que se circuncidar, na religião do império todo mundo tinha que se batizar. Foi por esse tempo que estavam sendo feitas as últimas edições dos evangelhos sinóticos. E apareceram vários acrescentos, entre os mais importantes o acrescento feito ao evangelho de Marcos na última metade do último capítulo: ”Quem crer e for batizado será salvo; quem não crer será condenado” (Mc. 16,16).

3ª etapa: - Com o fim do império romano dividido, chegou a Igreja católica. A Igreja herdou as vestimentas, os poderes e os brazões da nobreza. O império romano se foi embora mas esses costumes ficaram na Igreja. Os bispos eram os príncipes, o Papa era o Rei dos reis.

  etapa: Como no Judaísmo todo mundo teria que se circuncidar, na Igreja todo mundo tinha que se batizar, senão ia se condenar como falámos na 2ª etapa.

5ª etapa: Nos povos das Colônias, no séc. XVI em diante, todos  eram obrigados a se batizar, escravos e crianças para ter os direitos de cidadão do império colonizador, e quem sabe, para irem também pro céu.

Esta é uma breve resenha antropológico-filosófica, pré-cristã e histórica das andanças em que têm andado os caminhos teológicos do Batismo.

Com a abertura da Igreja à teologia do pluralismo teológico e ao pluralismo das religiões, e com as novas teorias antropomórficas, foi possível olhar e compreender as razões históricas, e afirmar corajosamente a salvação. Passando do antigo aporema: “Fora da Igreja não há salvação(Cipriano, 258), para o novo aporema: “Fora da Igreja há muita salvação” como vem desde o Concílio Vaticano II.

Na verdade, muitas hipóteses se têm levantado, como aquela do “batismo de desejo”, outras vezes se tem falado na “igreja visível e na igreja invisível”, daqueles que não pertencem visivivelmente à Igreja de Cristo. Tem se falado dos que “com culpa ou sem culpa” se salvam. Mas a Lumen Gentium (Vaticano II) afirmou “Quem se salva, salva-se por Cristo e em sua Igreja: pertença a ela visível ou invisívelmente”  (LG.16). Daqui a conclusão: As crianças se salvam porque são sem culpa e pertencem à Igreja invisivelmente.

E o Catecismo da Igreja Católica: “Aqueles que não receberam o evangelho estão relacionados com o Povo de Deus de várias maneiras” (CIC), 838-839.

RESUMO: 1)-A Igreja seguiu o Antigo Testamento, todo mundo tinha que ser circuncidado para a salvação; 2)- Herdou a ideologia do império romano: ser os donos do mundo; 3)- Acabou o império romano, ficou a Igreja dona do mundo; 4)- “Quem não crer” foi um acréscimo desta época para batizar todo mundo na marra; 5)- As Colônias foram grande exemplo (batizar para pertencer aos impérios) e “para salvar a alma” – batizar à força; 6)- O Para era o rei dos reis e o dono do mundo; 7)- As vestimentas, poderes e insígnias continuaram sendo como no império; 8)- Era uma teocracia e regime monárquico; 9)- “Ide por  todo mundo” foi interpolação desses séculos III e IV e seguiu a mesma ideologia; 10)- Direitos Humanos e liberdade de consciência: A Igreja foi a última em aceitar perante o mundo a liberdade de consciência, e em assinar o estatuto da Declaração Universal dos Direitos Humanos em 10 de dezembro de 1948.

P.Casimiro João     smbn

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