domingo, 14 de novembro de 2021

Será que o batismo de João Batista era para “apagar” o pecado original?


 No batismo de João ainda não havia o conceito de pecado original. Nem a teoria ou teologia de pecado original.  O batismo de João era a credencial de entrar para a ideia do fim que estava próximo; “Eis que  o machado já está posto à raiz das árvores”(Mt.3,10). O que era esperado era tão urgente que as “árvores velhas” que persistissem em não aceitar a novidade já estavam prontas para o fogo(v.11). E de tal maneira que quando Jesus mandou os 72 discípulos com a mesma missão, teriam que andar ligeiro, porque nem teriam tempo de percorrer as cidades de Judá antes que chegasse o fim do mundo que era chamado o “reino de Deus”.(Mt.10,6).

Falemos agora no aporema, ou paradigma, ou teologia de Paulo na Carta aos Romanos. “Irmãos, o pecado entrou no mundo por um só homem. Através do pecado entou a morte. E a morte passou para todos os homens”(Rom.5,12). Esta afirmação baseia-se numa antropologia e numa cosmologia e num desconhecimento que já não existem mais. Ora, quando uma teoria se apoia num tripé que não existe e já foi retirado, a teoria também não se segura mais. Qual era a antropologia da época?

Era que só havia um casal no início do mundo. Hoje está provado que não existia só um casal. Na época de Paulo havia a teoria criacionista. Hoje existe a teoria evolucionista, segundo a qual os seres humanos evoluíram de formas hominídeas até chegar ao homo sapiens e ao neandertal, por períodos de centenas de milhares de milhões de anos. Inclusive para a aprendizagem da fala levou centenas de milhares de anos.

Qual era a cosmologia? Era que o mundo tinha sido começado com Adão e em seis dias. Hoje a cosmologia é a da explosão do Big-Bang de 15 bilhões de anos atrás. E bilhões e milhões de anos decorreram para o aparecimento das estrelas e galáxias até chegar ao esfriamento da Terra. E mais milhões e bilhões de anos até chegar ao aparecimento dos primeiros seres vivos na terra, começando pelas amebas e em evoluções sucessivas aos vertebrados, répteis, dinossauros, primatas, hominídeos e os primeiros humanos, (homo sapiens e neandertalenses).

O segundo pé do tripé da época de Paulo também não existe mais, como estamos vendo. O terceiro pé do tripé que era o desconhecimento destes princípios da ciência é que compôs o aporema que sustentava o imaginário primitivo das mentes daquela época. Justamente como vem na Bíblia, já vinha nos escritos ou nas “Bíblias” de povos mais antigos do que os Judeus. Na verdade, não foram os Judeus que “inventaram a pólvora”. Os Sumérios, os persas e os Ugaritas, de onde se originaram os Judeus é que começaram com essas narrativas. Exemplo, o Gilgameshe, dos sumérios, que traz a narração paralela do primeiro homem e do dilúvio. Partindo depois para o Código do Sinai, que veio depois do Código de Hamurabi, o sexto rei dos Sumérios (1.792).

E não imaginemos que primeiro “Deus falou” aos Judeus, porque nos livros mais antigos também vem assim: “E Deus disse”, “E Deus mandou estas palavras em minha boca”(Gilgamesh). “Todas as culturas nascem de  uma palavra criadora dita em tempos imemoriais por um poder divino” (Biderman, “Dimensões da palavra” 1998, 45). Para esta autora e para os historiadores das religiões Deus se faz presente nas suas palavras. É daí que se originou a teoria criacionista. Segundo a teoria criacionista Deus cria com a sua palavra. E não só, como também se “encarnava e habitava” na sua palavra. Daí que os gregos tinham o Logos, e os Judeus a Sabedoria onde Deus habitava.

Vimos então que o batismo de João não tinha nada a ver com o pecado original. E vimos que Paulo quando escreveu: “o pecado entrou no mundo por um só homem; através do pecado entrou a morte; e a morte passou para todos os homens” se baseava no imaginário bíblico vetero-testamentário e o transportou para o Novo Testamento, que era devedor da teoria criacionista. A teologia posteriormente formulada por Santo Agostinho só fez espichar o gancho deixado pelo aporema ou paradigma de Paulo. E digamos de passagem que Paulo não falava de pecado original. O autor do nome ou o pai da criança foi Santo Agostinho, que, partindo da filosofia gnóstica e maniqueia atribuiu o pecado original à relação sexual do primeiro casal, de onde todas as outras relações e nascimentos ficavam “contaminados”. (Cf.BLOG www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 09/05/21).

P.Casimiro João    smnb

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

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