Em
primeiro lugar, São Tomás de Aquino comentava assim: “Deus é onipotente para as
causas possíveis” (S.Tomás). Por exemplo, eu não posso pedir a Deus que 2 + 2
sejam cinco mas posso pedir que eu multiplique muitas vezes 2 x 2 pães em favor
dos outros em vez de ser só para mim.
A
expressão “para Deus tudo é possível” é usada na Bíblia (Mc.10,27), e tem sua raiz
na história do povo de Israel, na teoria da escatologia, ou fim
dos tempos. Isto é, já que os Judeus lutaram tanto para ser o povo dono
do mundo e não conseguiram, então jogaram essa “ilusão” para o fim
dos tempos ou do mundo.
Nesse
longínquo “fim do mundo” viria Deus descido dos céus e nas nuvens, para se
vingar dos inimigos do seu povo, e dos ricos e poderosos que maltratavam os pobres
o tempo todo. Para eles não seria possível essa vingança, mas para Deus sim. “Ó Senhor, Deus vingador; Intervém!
Levanta-te, juiz da Terra; retribui aos orgulhosos o que merecem” (Sl.94,1-2). Copiando para o Novo Testamento, “Minha é a vingança; eu retribuirei”, diz o
Senhor” (Rom.12,19).
E
a transposição dessa ideia para o Novo Testamento: “Como é difícil para os ricos entrar no reino de Deus; é mais fácil um
camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus;
Para os homens isso é impossível mas para Deus não, para Deus tudo é possível”
(Mc 10,23.27).
Aliás,
no conceito dessas afirmações vem o que nós devemos ter em conta: o
reino de Deus, que nos torna mais compreensível isso de “o camelo entrar no buraco de uma agulha”.
Dias atrás os jornais falaram nos milhões de dólares que o ministro da
economia e o presidente do Banco Central colocaram nos “Offshores” dos paraísos
fiscais no estrangeiro. Eles ganharam e continuam ganhando milhões em cada dia só com a subida do
dólar.
Que
aplicação tem aqui “passar pelo buraco de
uma agulha”? Seria se esses homens ricos resolvessem de uma vez se tornar
amigos e solidários dos cidadãos pobres do Brasil que não têm o que comer em
cada dia, e até procurando ossos nos açougues das cidades do Sul. Se eles
aceitassem distribuir os seus dólares ou ao menos devolvê-los ao Brasil
e fazer uma economia solidária para a pobreza brasileira isso sim que
seria “o camelo passar pelo buraco de uma
agulha”. E seria o começo do Reino de Deus para eles a para uma parte do
Brasil. Porque onde há partilha, e solidariedade e fraternidade
aí está Deus.
Então
esses dólares não iriam ser multiplicados só para eles mas solidariamente
entrariam na economia do Brasil para que acontecesse mais partilha, mais
solidariedade e mais fraternidade. Ainda funciona muito o imaginário do
Antigo Testamento que nesse longínquo “fim do mundo” poderá vir Deus descido
dos céus e nas nuvens, para se vingar dos que maltratam os países e são causadores da pobreza mundial.
Mas
quando eu digo que “para Deus tudo é possível” posso estar tirando da mim a
responsabilidade de transformar as estruturas que mantêm as injustiças
sociais. Dizer que “para Deus tudo é possível” pode significar a falsa
ideia que a sociedade não pode mudar. Pode significar atribuir a Deus os
males que existem como fomes, doenças, más governanças, porque eu não
estou disposto a colaborar.
Pode
significar ainda que quero continuar alimentando a minha pasmaceira em olhar
as coisas correr sem eu mexer uma palha. Como se a casa estivesse
pegando fogo, e eu na minha cadeira dizendo que “para Deus tudo é possível”,
até mesmo que ele venha apagar aquele fogo.
É
igual como na expressão fácil “Deus dá o jeito”, na realidade será
porque eu não quero dar. Somos muito fáceis em terceirizar. E terceirizamos
tudo em Deus, “Deus levou fulano”, “Deus por que levou o
meu marido tão cedo”, e por aí adiante. Não será invocar o nome de Deus em
vão?...
Não
será também uma forma de terceirizar usando a expressão “para Deus
tudo é possível”? O evangelho de Marcos coloca também na boca de
Jesus, na hora da agonia “Pai
tudo, tudo te é possível, afasta de mim este cálice” (Mc.14,36); Mateus
por seu lado, só as palavras,“Pai, se
é possível, afasta se mim este cálice”(Mt.26,39). Lucas e João
nada dizem. Nada de admirar, pois Marcos
repetiu o imaginário do Antigo Testamento sobre o impossível. Mateus
já mudou para “se é possível”.
Concluindo: Se formos ao Antigo Testamento procurar mais
influências teríamos que nos reportar ao imaginário das teorias do Criacionismo,
desde os 9.000 anos a.C que fol inventada a escrita pelos povos
sumérios e babilônicos em cujos escritos já aparece que Deus formou o
homem do barro, e daí passou para o Gênesis. E não só, mas as estrelas,
águas e animais tudo pela sua palavra. Esse imaginário perpassa transversalmente
todas as épocas da história humana e chegou até à Idade moderna e nossa.
Sabemos agora que Deus é parceiro e caminha junto com as nossas possibilidades
e nossas impossibilidades.
P.Casimiro
João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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