domingo, 7 de novembro de 2021

Davi e Salomão: entenda como a Bíblia distorceu histórias para fabricar uma ideologia nacional.


 

Em continuação da matéria anterior vamos dar mais uns elementos sobre a história do reino de Israel Norte e do reino de Judá, reino do Sul na época do exílio da Samaria (722 a.C) e de Judá (586 a.C.). E de como houve uma “construção ideológica” de um “reinado” que teria sido o maior assombro da humanidade para aqueles tempos, e que ficaria registrado na Bíblia posterior como tal. E assim continuaria, se não fossem as últimas escavações arqueológicas a demonstrar que o mesmo não passou de uma lenda e um mito que foi fabricado pelo reino do Sul, Judá, quando se viu livre da tutela do reino do Norte para legitimar agora o seu momento de glória. Portanto, “esse fabuloso reino davídico-salomônico não passou de um sonho ardiloso de Josias (640-609 a.C), para construir a grandeza do seu reino do Sul”. (Cf.Ademar Kaefer, “A Bíblia, a Arqueologia”p.28). (Cf.www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

31/10/21).

Como isso aconteceu? Desde o séc.X a.C. Samaria e Siquém tinham sido o centro político da Palestina. Foi lá, em Siquém, que o povo que vinha com Moisés, do Sinai, se juntou ao povo de antigos judeus que já moravam em Siquém, e praticamente foram eles que a formaram antes de Moisés. Eles tinham vindo como trabalhadores nas minas de ferro do Sinai. Ainda não se falava nem em Judá nem em Jerusalém (Cf Blog www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 28/3/21        

Nessa época, a Samaria e Siquém tinham já mais de 50.000 habitantes, enquanto que Judá permanecia quase desabitada e não completava 4.000 habitantes, e Jerusalém não chegava a 1.000 almas. Quando a Samaria foi conquistada pela Assíria,(em 722 a.C.)muitos judeus foram deportados para a Babilônia, mas um grande número teve autorização para migrarem para a região de Judá e Jerusalém, onde reinava Acaz, como dependente do Israel Norte. Feliz com isso, Acaz se viu livre do Reino do Norte e facilmente prometeu obediência aos reis da Assíria para não ser esmagado.

Em seguida vieram Ezequias e Josias. Josias teve quase 40 anos de aliança com a Assíria e conseguiu levar Judá e Jerusalém a um grande desenvolvimento, enquanto que a Samaria estava bem submissa à Assíria depois da deportação para a Babilôlnia. Até que Josias foi morto por Necau, do Egito por traição quando este soube da sua amizade com a Assíria. Daí para o fim de Judá só foi um fio, uns 23 anos, na época de Sedecias, em que a Babilônia surgiu de rompante para esmagar a Assíria e todos os seus domínios, como Judá e Jerusalém em 586 a.C.

O que fez Josias durante aqueles quarenta anos que viveu em paz e fiel vassalo da Assíria? A maior preocupação dele e dos seus escribas do Deuteronômio, que foi escrito nessa época, foi apagar a memória da Samaria e do Reino do Norte, e fabricar a ideologia da sacralidade do império de Jerusalém, tecendo figuras e impérios imaginários como Davi e Salomão. Repetimos aqui o afirmação inicial: “A grandiosidade do Império Davídico e Salomônico, com suas riquezas e esplendores, não passou de um sonho ardiloso do rei chamado Josias (640-609)”para legitimar a sua arrogância” (Cf.José Ademar Kaefer, “A Bíblia, a Arqueologia”p.28). E o mesmo autor observa: “Há cada dia menos estudiosos que sustentam a teoria da existência da chamada monarquia unida sob os reinados de Davi e Salmão” (id).

Salomão não é mencionado em nenhum texto extrabíblico, nem há documentos da tal sabedoria. Pelo contrário, trata-se da disputa entre a sabedoria de Israel e a sabedoria do Oriente e do Egito (o.c.p.56).

Davi e Golias: uma lenda popular que foi aplicada a Davi, aliás existe outra versão de outra lenda dizendo que o tal Golias tinha sido morto por Elcanã e não por Davi (1Sam.12,19), trata-se da mistura de duas lendas. Quanto a Saul e Davi, se realmente existiram, os estudiosos afirmam que não teriam passado de nomes de chefes de clan da época. (o.c.p.45).

Portanto, em tudo está presente a ideologia posterior da “casa davídica”, como uma construção de Josias. Um detalhe: Sempre que se menciona Davi, nos autores deuteronômicos, fica sempre inocentado da morte de seus inimigos.

Para confirmar as fábulas, as escavações arqueológicas recentes confirmam que nenhuma  construção não foi encontrada em Jerusalém, como o falado templo de Salomão. Pelo contrário, o “templo de Jerusalém” foi construído depois do ano 722, depois da queda da Samaria, pelos reis da Assíria para manter a unidade do império e a aliança com Acaz. E por outro lado, há construções datadas da época dos reis do Norte em Meguido, Hazor e Gezer mas nunca e nada do rei Salomão.

Conclusão. Para avaliarmos as passagens da Bíblia sobre o reinado do Israel Norte devemos ter sempre presente o seguinte: é preciso ter em mente sempre que as informações que a Bíblia nos apresenta sobre a história dos reis do Norte passaram pelo crivo dos reis e dos escribas do Sul.

Finalmente, a reforma de Josias: foi mais política do que religiosa. Não é à toa que a Bíblia dá grande preponderância a Josias. Primeiramente, ele e seus escribas fizeram a última edição da Bíblia, chamada deuteronômica. Nessa edição fizeram as mudanças e transposições que serviam agora ao novo Reino de Judá, apagando quase toda a história anterior, ou adaptando à nova ideologia. Um dado importante é que nessa época foi o surgimento do maior apogeu da escrita entre os Judeus.

Outro aspecto importante foi a centralização do poder e do culto, e a destruição de todos os santuários dos povoados do interior para centralizar todo o culto no templo recém-construído que antes era bem insignificante. Inclusive a celebração da Páscoa que também se fazia nos povoados, se tornou uma celebração do Estado, e adquiriu caráter fundante de Judá como Reino que antes não existia.   

 

P.Casimiro João   smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

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