Em primeiro lugar vamos falar dos
sacrifícios de animais. Sacrifícios eram oferecidos aos deuses, em primeiro lugar
para seu sustento e para manutenção do seu poder, que diminuiria sem
o sacrifício.
Segundo,
como troca com os deuses: promover favores, em retribuição
pelos sacrifícios; Terceiro, como bode expiatório: o animal é
punido no lugar do pecador. O alvo era aplacar a ira dos deuses,
que de outra maneira recairia sobre todos os homens; Quarto, a vítima
vira coisa sagrada porque fica sendo propriedade dos deuses.
Em segundo lugar falemos dos sacrifícios
humanos: Primeiro: Eram oferecidas vítimas humanas na criação
de um templo; Segundo, na morte de um rei, para que o sacrificado
servisse ao morto na próxima vida; Terceiro, em desastres naturais:
secas, terremotos, ciclones, tempestades, como sinais da fúria dos
deuses.
Na China, o primeiro imperador Liu
Hong acabou com esse costume de ser enterrado com outros seres humanos, no
ano 2.000 antes de Cristo. Em vez disso, foi sepultado com milhares de
estatuetas para protegê-lo na vida futura. Esses milhares de estatuetas
representavam soldados, cavaleiros, carros de combate, torres de defesa e
trombetas.
Escavações nos povos Incas e Astecas
da América do Sul, nos Andes, e dos Maias no México também trouxeram à luz
esses sacrifícios humanos.
Em Ur,
na Mesopotâmia, pelos anos 4.500 antes de Cristo, e no Egito nos
anos 5.000 a.C. os faraós antes das Pirâmides, tinham em sua companhia
sacrifícios humanos.
Entre os Judeus, Manassés sacrificou o
seu filho ao deus Moloc(2R,21,6). E a filha de Jefté também foi sacrificada por
seu pai (Juizes, 22,31).
Entre os Judeus também é famosa
a morte dos primogênitos de todo o Egito (Êx.cap.11) para impactar o faraó
e permitir a partida dos Israelitas. Assim como é famoso o sacrifício de
Isaac.(Gên.cap.22).
Aqui foi para destacar a fé ou obediência
de Abraão. Como um dia seria necessário a obediência à Aliança do Sinai,
então colocaram essa obediência de Abraão como exemplo e paradigma. Uma
estratégia literária muito inteligente. Na verdade, como observa John Brigth,
esta como outras cenas, podem muito bem ser “consideradas como uma projeção no
passado de crenças posteriores” (História de Israel, 97).
Na história teológica de Israel a ordem
cronológica foi invertida em cima deste acontecimento. Isto é, não veio
primeiro o sacrifício de Isaac. Veio primeiro o Código da Aliança. Mas
para destacar a obediência da Aliança, foi colocada a obediência de
Abarão, como dissemos. E assim cronologicamente foi como o carro guia de
toda a Aliança.
Tão importante foi assim esta
estratégia que serviu para São Paulo basear toda a sua teologia da salvação
pela fé e não pelas obras. “De
modo que todos os homens de fé são abençoados com a bênção de Abraão homem de
fé”(Gál.3,9).
Como corolário, aqui São Paulo ligou os
dois fios das extremidades e soldou com a solda da sua teologia a Aliança com a
Obediência de Abraão. Na verdade, na Escritura posterior só começa a se falar
no Código da Aliança depois da Lei do Sinai. E na sua obediência
e observância. E segundo São Paulo, esta obediência e observância era o polo
negativo. “A (Aliança) do Monte Sinai
gera para a escravidão”(Gál.4,24). Enquanto que o polo positivo
era a obediência de Abraão. “Aqueles
que têm fé serão abençoados junto com Abraão”(Gál.3,9),
Porquê polo negativo? Porque a
obediência da Lei do Sinai conduziria à morte, e só o polo
positivo da obediência de Abraão conduziria à vida. Os dois polos
ficaram um só circo e uma só salvação, desenvolvida em toda a teologia crística
de Paulo.
O que tem a ver com a oferta de
sacrifícios humanos? É que no meio disso Paulo colocou o sacrifício
de Cristo junto com o sacrifício de Isaac, como bode expiatório, com
o nome de cordeiro. Daí em diante a salvação vem pela fé em Cristo
igual a fé de Abraão.
Assim São Paulo pôs os Judeus
cristãos debaixo do dilema como uma espada de Dâmocles: aceitar e
seguir Cristo é a salvação; seguir a Lei é a condenação.
Porque anulava toda a obra de Cristo(Gál.5,11). Qual os judeus cristãos
escolheriam? Se escolhessem a fé em
Cristo teriam a salvação; se escolhessem a Lei teriam a condenação,(“Pela prática da Lei ninguém será
justificado; somente pela fé em Jesus Cristo”(Gál.2,16); “Todos os que se
apoiam na Lei estão sob o regime da maldição” (Gál.3,10).
Chegados ao fim da nossa reflexão,
podemos imaginar como a arqueologia e a fenomenologia religiosa
nos colocam numa perspectiva antropológica, e como esta antropologia alavancou
São Paulo para formular a teologia cristológica e soteriológica que permaneceu
e rege a Igreja até nossos dias.
P.Casimiro SMBN
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br