sábado, 13 de fevereiro de 2021

O “ANCIÃO” E O “DISCÍPULO AMADO” QUEM ERAM E O QUE SIGNIFICAM? NO EVANGELHO DE JOÃO E NAS CARTAS.


 

O Ancião à senhora eleita, e a seus filhos, que amo na verdade” (2 Jo.1,1); O “Ancião” ao caríssimo Gaio a quem amo na verdade”(3 Jo.1,1).

No testemunho do historiador Papias, “Anciãos” era os líderes seniores das Comunidades asiáticas. O “Ancião que era também João era um deles, e esse apelativo era para distingui-lo do João filho de Zebedeu e irmão de Tiago. E tinha o derivativo “presbítero” quando falado em grego. No decorrer dos anos ele ficou o único “Ancião” por antonomásia devido à sua longevidade.

A expectativa dos primeiros cristãos de que a parusía aconteceria durante a vida da primeira geração de cristãos ficou, por assim dizer, focalizada nesse discípulo particular depois que a maioria dos outros tinha morrido. E a sua excepcional longevidade eles atribuíram ao desejo do Senhor de que esse discípulo deveria sobreviver até a sua vinda na glória: “Que te  importas se eu quero que ele fique até que eu venha? Corria o boato entre os irmãos de que aquele discípulo não morreria”(Jo,21,22).

Santo Irineu também entendia esse termo de Ancião como referência à geração dos líderes cristãos asiáticos que não tinham sido discípulos de Jesus, mas haviam conhecido aqueles que o foram. E dá conta de um outro discípulo com o  nome de Aristão.

O próprio autor do Códice Muratoriano, que é a primeira lista do Novo Testamento diz que o “Ancião” era discípulo mas não membro dos Doze, assim como Aristão. Há documentos que reúnem alguns nomes de cristãos que incentivaram o “Ancião” a testemunhar sobre o que ele sabia sobre Jesus. É nesse sentido que vai aquele dito: “Este é o discípulo que dá testemunho de todas estas coisas, e as escreveu. E sabemos que é digno de fé o seu testemunho” (Jo.21,24).

Portanto, como escreve Richard Bauckham, alguns escritores do segundo século estavam conscientes de que este homem “o Ancião” não era João, o filho de Zebedeu. No decurso do tempo, porém, os dois chegaram a ser identificados. As evidências mais antigas foram mal compreendidas por terem sido lidas à luz das mais recentes” (Testemunhas oculares,530).

O evangelho de João relata um rumor de que o discípulo Amado sobreviveria até a parusia, e ressalta que é um boato baseado em um mal-entendido em torno de algo que Jesus teria dito. Qual era o mal-entendido que originou o boato?

Foi baseado no último capítulo de João, que decididamente é um acrescento dessa época já mais tardia: “E voltando-se Pedro, viu que o seguia aquele discípulo que Jesus amava. Vendo-o, Pedro perguntou a Jesus: Senhor, e este? Que será dele? Respondeu-lhe Jesus: que te  importa se eu quero que ele fique até que eu venha? Correu por isso o boato entre os irmãos de que aquele discípulo não morreria. Mas Jesus não lhes disse: “não morrerá, mas: “que te  importa se eu quero que ele fique até que eu venha?”(Jo.21,20-23).

O “boato” então era que aquele discípulo não morreria. E como a expectativa dos  primeiros cristãos era de que a parusia aconteceria ainda na vida deles, focalizaram a atenção nesse discípulo, que também iria sobreviver até ao retorno do Senhor. Nessa hora o filho de Zebedeu já estava morto, mas João, o “Ancião” ainda vivia.

E porquê “Discípulo Amado”? Autores confiáveis afirmam que é uma metáfora que ficou no evangelho de João, e só aí, referindo-se à cara da comunidade joanina para destacá-la das comunidades de Pedro e as outras de Paulo. Por isso não duvidaram trazer á cena com esse artifício a lentidão de Pedro na ressurreição, transferindo a mais valia de João que correu primeiro ao túmulo porque amava mais. “Corriam juntos, mas “Aquele outro discípulo” correu mais depressa do que Pedro e chegou primeiro ao túmulo”. (Jo.20,4). 

Esta narrativa é repetida em lugar paralelo na pescaria: “Aquele discípulo a “quem Jesus amava” disse a Pedro: “é o Senhor” (Jo 21,7). Além do mesmo episódio no acrescento final do evangelho da Ceia: “Pedro viu aquele discípulo que “Jesus amava, aquele que estivera reclinado sobre seu o peito durante a Ceia”.(Jo.20,20).

Terminando estas considerações, devemos concluir que o “evangelho de João”, sendo o evangelho composto pelas comunidades joaninas, como é do comum acordo hoje entre os exegetas, fizeram deste tema um tema que lhes dizia muito respeito e muito gratificante para elas. E ainda mais quando se sabe que essa segunda parte e última desse capítulo vinte e um, onde vem todo este cenário já foi um outro acrescento ao próprio primeiro evangelho.

Encerrando, vimos neste tema o significado de “Ancião” e quem era, e porquê. E que além desta antonomásia de Ancião levava outra de Ðiscípulo Amado”. E que nem um, nem o outro eram o João filho de Zebedeu, mas esse discípulo que pode ter acompanhado Jesus mas não era dos Doze.

E a última conclusão “Discípulo Amado”, o artifício literário aplicado para a própria comunidade como sendo a “comunidade que Jesus amava”, como escondendo a pretensão de descrever, debaixo do título de “Discípulo que Jesus amava” a comunidade deles como a “comunidade que Jesus amava”.

P.Casimiro    smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

Nenhum comentário: