“O Ancião à senhora eleita, e a seus
filhos, que amo na verdade” (2 Jo.1,1); O
“Ancião” ao caríssimo Gaio a quem amo na verdade”(3 Jo.1,1).
No
testemunho do historiador Papias, “Anciãos” era os líderes seniores das
Comunidades asiáticas. O “Ancião que era também João era um deles, e esse
apelativo era para distingui-lo do João filho de Zebedeu e irmão de Tiago. E
tinha o derivativo “presbítero” quando falado em grego. No decorrer dos anos ele ficou o único “Ancião” por antonomásia devido
à sua longevidade.
A expectativa dos primeiros
cristãos de que a parusía aconteceria durante a vida da primeira geração de
cristãos ficou, por assim dizer, focalizada nesse discípulo particular depois que
a maioria dos outros tinha morrido. E a sua excepcional longevidade eles
atribuíram ao desejo do Senhor de que esse discípulo deveria sobreviver até a
sua vinda na glória: “Que te importas se eu quero que ele fique até que eu
venha? Corria o boato entre os irmãos de que aquele discípulo não
morreria”(Jo,21,22).
Santo Irineu também entendia esse
termo de Ancião como referência à geração dos líderes cristãos asiáticos
que não tinham sido discípulos de Jesus, mas haviam conhecido aqueles que o
foram. E dá conta de um outro discípulo com o
nome de Aristão.
O próprio autor do Códice
Muratoriano, que é a primeira lista do Novo Testamento diz que o “Ancião” era
discípulo mas não membro dos Doze, assim como Aristão. Há
documentos que reúnem alguns nomes de cristãos que incentivaram o “Ancião” a
testemunhar sobre o que ele sabia sobre Jesus. É nesse sentido que vai aquele
dito: “Este é o discípulo que dá
testemunho de todas estas coisas, e as escreveu. E sabemos que é digno de fé o
seu testemunho” (Jo.21,24).
Portanto, como escreve Richard
Bauckham, alguns escritores do segundo século estavam conscientes de que este
homem “o Ancião” não era João, o filho de Zebedeu. No decurso do
tempo, porém, os dois chegaram a ser identificados. As evidências mais
antigas foram mal compreendidas por terem sido lidas à luz das mais
recentes” (Testemunhas oculares,530).
O evangelho de João relata um
rumor de que o discípulo Amado sobreviveria até a parusia, e ressalta
que é um boato baseado em um mal-entendido em torno de algo que
Jesus teria dito. Qual era o mal-entendido que originou o boato?
Foi baseado no último capítulo de
João, que decididamente é um acrescento dessa época já mais tardia: “E voltando-se Pedro, viu que o seguia aquele
discípulo que Jesus amava. Vendo-o, Pedro perguntou a Jesus: Senhor, e este?
Que será dele? Respondeu-lhe Jesus: que te
importa se eu quero que ele fique até que eu venha? Correu por isso o
boato entre os irmãos de que aquele discípulo não morreria. Mas Jesus não lhes
disse: “não morrerá, mas: “que te
importa se eu quero que ele fique até que eu venha?”(Jo.21,20-23).
O “boato” então era que aquele
discípulo não morreria. E como a expectativa dos primeiros cristãos era de que a parusia
aconteceria ainda na vida deles, focalizaram a atenção nesse discípulo, que
também iria sobreviver até ao retorno do Senhor. Nessa hora o filho de Zebedeu
já estava morto, mas João, o “Ancião” ainda vivia.
E porquê “Discípulo Amado”?
Autores confiáveis afirmam que é uma metáfora que ficou no evangelho de
João, e só aí, referindo-se à cara da comunidade joanina para destacá-la
das comunidades de Pedro e as outras de Paulo. Por isso não duvidaram
trazer á cena com esse artifício a lentidão de Pedro na ressurreição,
transferindo a mais valia de João que correu primeiro ao túmulo porque amava
mais. “Corriam juntos, mas “Aquele
outro discípulo” correu mais depressa do que Pedro e chegou primeiro ao
túmulo”. (Jo.20,4).
Esta narrativa é repetida em lugar
paralelo na pescaria: “Aquele discípulo a
“quem Jesus amava” disse a Pedro: “é o Senhor” (Jo 21,7). Além do mesmo episódio
no acrescento final do evangelho da Ceia: “Pedro viu aquele discípulo que
“Jesus amava, aquele que estivera reclinado sobre seu o peito durante a
Ceia”.(Jo.20,20).
Terminando estas considerações,
devemos concluir que o “evangelho de João”, sendo o evangelho composto pelas
comunidades joaninas, como é do comum acordo hoje entre os exegetas, fizeram
deste tema um tema que lhes dizia muito respeito e muito gratificante para
elas. E ainda mais quando se sabe que essa segunda parte e última desse
capítulo vinte e um, onde vem todo este cenário já foi um outro acrescento ao
próprio primeiro evangelho.
Encerrando, vimos neste tema o
significado de “Ancião” e quem era, e porquê. E que além desta antonomásia
de Ancião levava outra de Ðiscípulo Amado”. E que nem um, nem o outro
eram o João filho de Zebedeu, mas esse discípulo que pode ter
acompanhado Jesus mas não era dos Doze.
E a última conclusão “Discípulo
Amado”, o artifício literário aplicado para a própria comunidade como sendo a “comunidade
que Jesus amava”, como escondendo a pretensão de descrever, debaixo
do título de “Discípulo que Jesus amava” a comunidade deles como a “comunidade
que Jesus amava”.
P.Casimiro smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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