quarta-feira, 26 de outubro de 2022

“DIREITA” OU “ESQUERDA”, ORIGEM DOS TERMOS. A ORIGEM DA POLÍCIA E, DE QUEBRA, DOS GRUPOS MILICIANOS

Nas sociedades dominadas pelo imperialismo antigo, como nas do capitalismo liberal moderno acontece que as elites centrais capitalizam e centralizam os recursos em suas mãos. Como eram sociedades agrárias oprimiam o povo com tamanhos impostos sobre os produtos da terra, que os camponeses não podiam pagar. Dizem os historiadores que os camponeses judeus pagavam 30 a 40% por cento das suas colheitas. O método do império era arrancar das suas mãos as terras quando eles tinham dívidas, e os cidadãos viravam escravos para se juntar à multidão de escravos do império. E as elites dos judeus imitavam e faziam a mesma coisa.

Nas províncias seguiam os métodos das elites centrais. Consta historicamente que as classes dos Sacerdotes tinham seus grupos de capangas ou milicianos armados para arrancar os impostos dos lavradores, espancando-os até à morte em caso de recusa. Assim se dava o acúmulo de riquezas por parte das elites. Quando nos evangelhos vem a ordem “Dá dos teus bens aos pobres”(Mt.19,21) não se trata de caridade, mas de justiça, como compensação de tudo que as elites tinham surripiado das populações. Dar seus bens aos pobres não significava autoempobrecimento mas sim a restituição da riqueza mal adquirida e fraudulenta; e as razões para dar aos pobres não estavam enraizadas na caridade autosatisfatória mas na restituição requerida pela justiça. O Jubileu de 50 em 50 anos permitia a cada israelita retornar para sua família e propriedades, mas ninguém, praticava.

Daqui poderíamos sacar outra observação acerca dos governos e democracias atuais no respeitante aos “programas sociais”. Eles Ficam muito atrás do que é sonegado às classes baixas, enquanto bilhões e bilhões são destinados às classes altas e mormente à classe política. Desde a sonegação aos pobres dos direitos a moradia, saneamento básico, asfaltamento de ruas, acesso a programas sociais e universidades, e não só, mas aos estudos básicos. Como consequência, diante de configurações sociais tão precárias, inevitavelmente surgiam movimentos que apelavam à rebelião. O inconformismo e indignação diante de um império opressor que escraviza por meio da violência e de extorsão por meio de ações policiais. Isso só podia gerar movimentos de revolta. Mas estes movimentos, por sua vez, e na justa causa por pedidos de justiça e de atendimento eram rotulados de criminosos. Porque se tornavam uma ameaça aos “status quo” da posição privilegiada das elites. Em nome da segurança os governos passam a intensificar suas ações de repressão com a criação de forças policiais de “controle” e de repressão. Para isso, mais sangue é derramado aumentando as práticas de violência sem controle. Assim nasceu a força policial de repressão no império romano, e assim isso é copiado nos governos modernos até chamados de democracias. Democracia é onde o povo manda, mas virou o significado contrário onde o “dinheiro manda”. Na verdade, nas “elites” romanas e judaicas, além da força imperial, criaram grupos armados para extorquir os impostos e para coibir qualquer movimento de resistência. Hoje no Brasil tem os grupos milicianos da classe rica para os mesmos fins e praticar os mesmos crimes ocultos.

Vem aqui a propósito a seguinte questão: De onde veio o histórico de “direita” e de “esquerda”? Foi na Primeira Constituição mundial que foi feita na França em 1789, por ocasião da Revolução francesa. As classes médias procuravam diminuir os poderes dos mais ricos, e da Igreja que estava ligada com eles, e os reis. Então na Sala da formação da Assembleia Constituinte os ricos recusavam se sentar ao lado com os mais pobres, e logo foram se juntando na mão direita da Sala. Isso deu origem daí em diante ao que se chama de “direita” ou de “esquerda”. Os da esquerda defendiam os mais pobres, e os da direita continuavam querendo ficar unidos aos reis e aos ricos com os seus direitos. Veja como isso está até hoje.

Conclusão. Está na cara que as classes baixas da pobreza são humilhadas 3 vezes: uma pelo abandono que lhes bate à porta; a segunda quando suas reclamações não têm resposta; a terceira é quando são caluniadas como “desordeiros” e “comunistas” pelas suas justas reclamações, e que são objeto de repressão policial que as ataca sempre defendendo as classes privilegiadas e os políticos e os governos.

Portanto, a força policial é quase cem por cento criada para defender as injustiças dos governos, e, de quebra, das classes privilegiadas da sociedade. Por outro lado, para melhor controle destas classes, os governantes as mantêm no analfabetismo para não terem condições de ser informadas sobre seus direitos. E não só,, para não terem condições de trabalho ganhando mais dinheiro e não subir para cargos de comando na sociedade sendo mantidas na condição de escravidão.

P.Casimiro João      smbn

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segunda-feira, 24 de outubro de 2022

O INSTINTO DE MATAR E DESTRUIR.


 

São Tomás de Aquino (1225-1274) explicava o desenvolvimento do embrião humano pela teoria do hilemorfismo, que se dá em três fases: Na 1ª fase o embrião só tem a vida vegetativa ao modo de planta; Na 2ª fase ganha uma vida vegetativa-sensitiva ao modo de animal; na 3ª fase ganha a forma humana de consciência. Por seu lado, os cientistas afirmam não haver vida humana antes do 4º ou 5º mês de gestação, quando se forma o sistema nervoso central (Jaques Menod e Y.Jacob). Estas proposições são muito paralelas com a teoria do Hilemorfismo de Tomás de Aquino, como dito atrás. E também adequam com Darwin e T.de Chardin sobre a célula embrionária do córtex cerebral e do sistema neuropsíquico. O maior teólogo do século vinte, o jesuíta Teilhar de Chardin disse: “a formação do embrião não depende da ideia antropomórfica de colocar Deus feito um oleiro soprando uma alma, mas no desenvolvimento da consciência, isto é que origina o ser humano, e ocorre na formação do córtex cerebral” (Cross F.L.Livingstone – The Oxford Dictionary of the Christian Church,1997).

Vamos nos deter nesta reflexão: Na teoria do hilemorfismo, o ser humano concentra a vida do mundo vegetal e do mundo animal, até chegar ao mundo humano na terceira fase. Começa como planta, e foi assim como começou a vida na terra há bilhões de anos. Em seguida prossegue com a vida animal. Assim prosseguiu também a vida há milhões de anos depois das plantas; depois das plantas começou a vida animal com as primeiras amebas unicelulares. Das amebas a vida se desenvolveu no reino animal até chegar aos primatas tanto como aos dinossauros. E dali para atingir a perfeição da consciência nos primeiros hominídeos. Nalgumas espécies a consciência parou bem próxima do ser humano, como nalguns répteis, e nos gatos e nos cachorros com seus sentimentos quase humanos, assim como no inicio de inteligência dos cavalos, sem falar nas aves da inteligência dos papagaios, e insetos como formigas e as abelhas.

Vimos que a 2ª fase de desenvolvimento do embrião é a fase sensitiva-animal. Nos humanos primitivos esta fase do animal estava muito viva, enquanto que a 3ª fase, da forma humana da consciência, estava em lento desenvolvimento. Por isso mesmo o homem primitivo vivia praticamente só para a guerra e a sobrevivência. Não havia outro esporte além da guerra. A vingança gerava ódio e a morte; não havia televisão, cinema, celular, turismo, e outros lazeres. A única diversão era a guerra, e matar-se uns aos outros, e até se devorar. Não é em vão que o primeiro mandamento do código de Hamurabi e também dos Judeus, era: “Olho por olho, dente por dente, morte por morte”. O homem vivia quase só do desenvolvimento da 2ª fase do embrião: a fase sensitivo-animal. Até que chegasse o desenvolvimento da 3ª fase levou milhões de anos, isto é o nível da consciência e do desenvolvimento da razão.

Vemos que no Antigo Testamento o povo tinha Deus como deus-vingador; deus-guerreiro; deus-dos-exércitos.(Sabaot). Deus tinha que andar na frente dos exércitos para destruir o inimigo (Salmo 143,6). É o que acontece conosco quando nascemos: todos queremos destruir o inimigo; todos nascemos com o instinto de matar.

A oração se baseava a maior parte das vezes na destruição do inimigo. A oração, no conceito do Antigo Testamento era para que Deus mudasse de parecer e se vingasse dos nossos inimigos. Hoje em dia, porém, julgamos já bastante desenvolvida a 3ª fase do embrião, com a consciência e a razão, com milhares de milhões de anos que se passaram. Então a oração hoje em dia, e após o ensino de Jesus Cristo, não é para mudar a ideia de Deus mas para mudar a nossa ideia. Qual então a diferença? Assim: Em vez de dizer, Deus destrua os meus inimigos, deverá ser: Deus que eu tenha juízo, que eu possa mudar minha raiva e minha vingança para eu não matar. Se eu não puder ser amigo, mas que eu possa conversar e dialogar com o meu inimigo. Não a morte, mas a conversa e o diálogo. Assim chegamos ao ponto da democracia moderna, que tende à convivência com o adversário. Pode haver adversários mas não inimigos. Porque Deus não é inimigo dos meus inimigos. Para Deus não há inimigos, todos filhos e irmãos. Porque se eu digo: Deus, mate o meu inimigo, o meu inimigo também diria: Deus mate o meu inimigo. E assim teríamos que morrer  os dois, e todo mundo iria morrer. E Deus não quer que ninguém morra, mas que todos vivam. (Jo.10,10).

Conclusão. Do dito atrás resta dizer: Nos tempos atuais uma parte considerável de cidadãos nas nações ainda não desenvolveram corretamente a 3ª fase do embrião que é a razão, a consciência e a convivência. Talvez vivam ainda governados pela segunda fase do sensitivo-animal que incentiva o instinto de matar. E com o tanto de aparelhamento policial se torna ainda muito difícil neutralizar esse instinto de morte. Uns porque o seguem ainda, outros porque o incentivam, muitas vezes em postos de mando e de influência. Quando se chegará a um grau global em que se viva menos com polícia e mais com o 3º grau do embrião do desenvolvimento humano da autoconsciência desenvolvida?

P.Casimiro João     smbn

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sábado, 22 de outubro de 2022

O USO DE ARMAS E O USO DE DROGAS.


 

Freud dizia que o ser humano nasce com o instinto de matar. Porque antes de chegar à condição de ser humano, o homem passou pela fase animal. Esse instinto está incluso na teoria de Tomás de Aquino quando teologicamente se referia à formação do embrião, que passa por três fases: a1.ª fase de filamento vegetal; a 2.ª fase seria de filamento sensitivo animal; e a 3.ª fase da consciência e da razão. É a teoria do Hilemorfismo, ou dos filamentos, em português.

Quando o homem fica estacionado naquela 2.ªfase, sem recursos de educação suficientes para turbinar a 3.ªfase da consciência, corre até o risco de atrofiar a 3.ªfase da razão, para se orientar quase exclusivamente pelos instintos. A criança quando nasce, é notório nela o instinto de matar, de destruir, e de vingança.

Se numa sociedade a legislação facilita por exemplo a compra indiscriminada de armas, este instinto de matar fica incentivado. Fala-se na repressão ao uso de drogas. Mas não se fala na repressão à compra de armas. E tanto mal faz a droga como a arma em mãos irresponsáveis. Nesses dois campos, a fase do estágio animal prevalece e domina o ser humano de qualquer condição, sem escolher riqueza ou pobreza, grau de estudo, ou não estudo, cor, religião ou nação.

P.Casimiro João      smbn

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quinta-feira, 20 de outubro de 2022

OS QUIPROQUÓS DOS DOIS CANDIDATOS Á ELEIÇÃO PRESIDENCIAL:

- Ambos estão se declarando contra o ABORTO.

-Um disse antes que “é uma questão de saúde pública” (ano 2022);

-O outro tinha dito em 2000, quando deputado federal, que “o aborto tem que ser uma decisão do casal” (https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63285936), e tentou negar isso em 2018 em vistas à eleição.

- VALE DIZER: AMBOS CONTRA E AMBOS A FAVOR.

- E PARA AMBOS OS DOIS, TEM UMA PEDRA NO CAMINHO – A ELEIÇÃO.


valzynia

 

@valzynia

 

Apesar de levantar a bandeira contra o aborto- à favor da vida, Bolsonaro em entrevista à IstoÉ Gente em 2000 afirmou que a decisão de interromper uma gravidez era uma decisão do casal http://istoe.com.br/jair-bolsonaro#LulaPresidente13 #BolsonaroNoPrimeiroTurno




 

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Esclarecimento moral. Sobre a encíclica do Papa Paulo VI Sobre a Vida “Humanae Vitae” de 1968: Sobre a reprodução humana


 

Em 1º lugar, quero refletir com você, leitor, como é a sua opinião sobre a laqueadura, ou ligação da mulher para não ter mais filhos. Conhece quem fez laqueadura? Muitas mulheres? Poucas? Eu pergunto, se fosse para seguir a palavra do Papa na citada encíclica ninguém poderia fazer. “É proibida a esterilização direta, quer perpétua quer temporária para a regulação artificial dos nascimentos, tanto do homem como da mulher”(n.15). E: ”A Igreja condena sempre como ilícito o uso dos meios diretamente contrários à fecundação” (n.16).

2º- Conhece alguém que usa a pílula anticoncepcional? Injeção? Ou do dia seguinte? Ou outros métodos? Também é proibido no mesmo número indicado.

3º-Proibe a ligação da mulher e a vasectomia masculina (n.15)

4º-Proibe todos os meios artificiais da limitação dos nascimentos.

5º- Ordena que que o matrimônio e o amor conjugal sejam só para a finalidade da reprodução, sendo proibidos sem essa finalidade (n.12).

6º-“O homem não tem o domínio das suas capacidades generativas” (n.13)

Ponho à sua reflexão as proibições e os ordenamentos desta encíclica e o que se pratica mundialmente, e na Chapadinha e em todo o Brasil.

Em segundo lugar pergunto se numa homilia do Papa são João Paulo II quando afirma isto ou aquilo, se é uma palavra definitiva?

Obs: Se nem a Encíclica não tem sido praticada e nem obedecida como palavra definitiva, será a palavra de uma homilia?

Em terceiro lugar: A ciência teve alguma palavra nos pronunciamentos da Encíclica, assim como nas homilias do João Paulo II? Quem fez a ciência e quem fez a religião não foi o mesmo Deus?

Em quarto lugar: Se tanta coisa foi proibida, porque todas não estão sendo praticadas e não “obedecidas” e ninguém se julga culpado, e nem a Igreja? A resposta fica com você. Porque ninguém da RCC e dos Videos não apresenta isso.

P.Casimiro João    smbn

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domingo, 9 de outubro de 2022

A violência do sagrado nas teocracias antigas e nos regimes ditatoriais e enfrentar o desafio da secularização e da terceirização


 

Desde alguns anos a esta parte uma parcela da humanidade deu-se conta que a Bíblia era considerada como tendo o monopólio do “sagrado”. Enquanto que hoje pensamos que toda a história é “história sagrada”. A consideração desse “monopólio” daria direito a usá-lo como uma arma, não só da parte do cristianismo mas das outras religiões as quais tinham isso também. O que legitimava esta “violência do sagrado” era: o que pertencia a Deus era bom, o que pertencia ao mundo não era bom. Até João no evangelho se reporta algumas vezes a isso: “o chefe deste mundo, já será vencido”(Jo.14,27), porque este mundo teria sido criado mau, na cultura milenar judaica e gnóstica.

O sagrado arcaico se baseava na cultura do “mistério”, do mito, e do medo. Diante desses fantasmas o ser humano seria assim como um avatar fabricado para obedecer ao mito e ao mistério. E assim se dava o rebaixamento de seu ser, a sua mente ficando diminuída, só em não pensar e não decidir livremente sem as amarras do medo e do castigo. Todas as ações do homem traziam o severo “senão”. Então se praticavam as coisas ou não, só pelo ameaço do castigo. Exemplo: “morrerás, e não viverás longos anos”; “os teus filhos não viverão por mil gerações” (cf.Dt.7,9). Vejamos mais exemplos: “Mandarei contra vocês o terror e a febre que embaçam os olhos e consomem a vida. Vocês espalharão as sementes em vão, pois o inimigo de vocês as comerá. Eu me voltarei contra vocês e vocês serão derrotados pelo inimigo. Se vocês se opuserem a mim e não obedecerem eu os castigarei sete vezes mais. Vocês comerão a carne de seus filhos e a carne de suas filhas, e devastarei suas cidades” (Lv. 26,16-27). Mais: “O homem que cometer adultério se tornará réu de morte, tanto ele como a sua cumplice. O homem que se deitar com a concubina de seu pai, ambos serão réus de morte. O homem que se deitar com a sua nora será morto juntamente com ela” (Lv.20.10 ss). “Se  alguma pessoa pecar, ainda que não o soubesse, contudo será ela culpada e levará a sua iniquidade”(Lv.5,17). “Como o homem castiga o seu filho, assim te castiga o Senhor teu Deus”(Dt.8,5). “O Senhor reservará os injustos para o dia do Juizo para serem castigados”(2R.2,9). “Pela ira de Javé dos exércitos a terra queima-se, e o povo se torna pasto do fogo”(IS.9,18). “Aquele que não crê no Filho, sobre ele pesará a ira de Deus”(Jo.3,36). “A ira de Deus se manifesta do alto do céu sobre toda a impiedade”(Rom.1,18). Por aqui vemos que o “sagrado arcaico” colocava Deus como o grande polícia do mundo. Era o regime das teocracias. Porém, no atual sagrado, Deus terceiriza as nações para o policiamento do mundo.  a democracia.

Na verdade, o sagrado arcaico das teocracias era composto de mitos, em vez de ciência; de cosmologia da imaginação em vez da cosmologia científica; da antropologia ancestral do homem das cavernas baseada em dualismos maniqueístas e zoroastristas das primitivas religiões, em vez da antropologia atual; da pedagogia do medo e do ameaço em vez da pedagogia libertária, a qual gerava espíritos aprisionados e doenças psicofisiológicas. Em resposta à narrativa de que havia no povo de Israel uma “história sagrada” em contraposição à “história profana”, hoje a teologia afirma de bom grado que toda a história é uma “história sagrada”. O ideal é que os Estados sejam regidos e fundados sobre a independência da justiça onde muitos cidadãos se encontrem dispostos a respeitar a famosa regra de ouro “não faças aos outros o que não queres que te façam”, como vem já desde o 1.º código do mundo, Código de Hamurabi, e que é chamado nos evangelhos a “regra de ouro” (Lc.6,31).

Paralelamente existe outro fator que faz parte inexoravelmente da democracia dos Estados de direito, que é a liberdade de consciência e de expressão, e a livre escolha da governação. Ninguém nega as dificuldades do pensar moderno sobre a democracia, no entanto é a melhor maneira de governo já encontrada. A democracia lida com as várias liberdades, e com a vénia e o respeito a todas. Lógico que aqui surge a necessidade do diálogo, que só anda acompanhado da paciência política. Seria mais confortável resolver tudo só com uma canetada, e com isso voltar a fazer do cidadão gente de menoridade, em obediência cega, e onde o castigo e a prisão ou morte estariam de novo em frente.  Deste modo, o que nas religiões antigas fazia a teocracia, com o medo, a ditadura faz na governança civil também com o medo e com a canetada. O medo resolvia tudo na teocracia, e a canetada, resolveria tudo na ditadura.

Paulo Freire descreve muito bem a democracia” Nas minhas relações com os outros, que não fizeram as mesmas opções que fiz, no nível da política, da ética, da estética, da pedagogia, nem posso partir de que devo “conquistá-los”, não importa a que custo, nem tampouco que pretendam “conquistar-me”. É no respeito às diferenças entre mim e eles ou elas, na coerência entre o que faço e o que digo, que me encontro com eles ou com elas. Minha segurança se funda na convicção de que posso saber melhor o que já sei e conhecer o que ainda não sei” (Paulo Freire, A Pedagogia da autonomia, 51ªed.p.137).

Na democracia, apesar de toda a abertura e diálogo, mesmo assim o cidadão tem que sempre atender à imposições que os meios poderosos da economia ou da midia querem impor, e às suas armadilhas e arapucas. Por isso, o mesmo sociólogo e pedagogo Paulo Freire nos dá o alerta nas seguintes atitudes: “Atentos como desocultar verdades escondidas, como desmitificar a farsa ideológica, espécie de arapuca atraente em que facilmente caímos. Como enfrentar o extraordinário poder da mídia, da linguagem da televisão, de sua “sintaxe”    que reduz a um mesmo plano o passado e o presente e sugere que o que ainda não há, já está feito. É que pensar em televisão ou na mídia em geral nos põe o problema da comunicação, processo impossivel de ser neutro. Na verdade, toda comunicação é comunicação de algo, feita de certa maneira em favor ou na defesa, sutil ou explícita, de algum ideal contra algo e contra alguém, nem sempre claramente referido. Seria uma ingenuidade esperar de alguma emissora de televisão de grupo do poder que, noticiando uma greve de trabalhadores declarasse a intenção de defendê-los. Talvez melhor contar de UM até DEZ antes de fazer a afirmação categórica: ‘é verdade, ouvi no noticiário das dez horas’ como já dizia Whright Nills” (Paulo Freire,o.c.p.136).

Temos agora ocasião de poder avaliar melhor a “violência do sagrado” da parte da religião, e a “violência do Estado.”  Ambas se arrogam o direito do monopólio da salvação; o direito de estar no lugar de Deus; o direito de condenar  as outras religiões e as outras opiniões, e o desprezo para a ciência; o desprezo para com os pobres, para quem é de cor diferente; de outras culturas; de outras raças; de outro gênero e de outras ideologias. Porque se apoderaram de Deus, querem impor a sua ideologia. O que é diferente não tem valia e é considerado inimigo para abater. Não tem mais nada de sagrado e divino, é só a sua violência.

Daí nasce a xenofobia, o racismo, e o despotismo e os genocídios, e a revolta contra a ciência e não aceitá-la. Impõe-se o imperialismo religioso e civil. A consequência é um “estado de autodemissão da mente, de conformismo do individuo diante de intenções consideradas fatalistamente imutáveis, e a posição de quem encara os fatos como algo consumado, como algo que se deu, e a posição de quem entende e vive a história como determinismo, e não como desafio”(Paulo Freire o.c.p.112).

E Paulo Freire continua: “Sempre recusei os fatalismos. Prefiro a rebeldia que me confirma como gente e que jamais deixou de provar que o ser humano é maior do que mecanismos que o minimizam”(o.c.p.113).

Conclusão. Não será fora de contexto dizer, no final desta reflexão, que a “violência do sagrado” pode funcionar nas religiões assemelhando-se à ditadura, que é a violência do Estado: a canetada manda, e a canetada castiga. Em ambas falta a liberdade, e o individuo não existe como parte dialogante a respeitar. Apraz-me lembrar a parte do evangelho que afirma ”numa casa de 5 pessoas, três estarão divididas contra duas...” (Lc.12,52). Daqui se depreende que o conflito existe. Mas nós somos convidados a administrá-lo. Na igreja chamamos a isto ecumenismo: Na política chama-se democracia. Contra a ditadura onde tem a canetada contra a liberdade; a arma contra o diálogo e a ignorância do cidadão em vez do estudo e da ciência.

P.Casimiro João

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segunda-feira, 3 de outubro de 2022

O histórico dos dogmas é que foram muitas vezes motivados por circunstâncias políticas, históricas e circunstanciais, e abstraindo da ciência, e, quem sabe, até também por motivações pessoais.


 

As mudanças da posição da Igreja católica desde o séc.XIX ao séc. XX sobre as outras doutrinas e a liberdade religiosa foram significativas. No final do séc.19 a Igreja romana passou do anátema para a tolerância, das condenações para as conversações, ao reconhecer a legitimidade duma sociedade civil pluralista e laica fundada no contrato social da democracia e não na “autoridade” papal e dogmática. Mas ela deu um passo muito mais considerável ao reconhecer a liberdade religiosa como um direito fundamental de todo ser humano, e ao fazer um juízo positivo sobre as outras religiões mesmo as não cristãs. Assim, passou também de uma tolerância condescendente para um verdadeiro diálogo feito de respeito e de estima pelos que se referem a verdades religiosas diferentes.

Qual a diferença entre fundamentalismo e razão? O drama de todos os fundamentalistas é de identificar a letra de textos considerados sagrados como sendo mesmo palavra de Deus. Quem garante que tal palavra é de Deus? Mesmo entre a Igreja católica se tem dado um passo para esta reflexão, quando foram descobertos textos escondidos em pedras e tijolos nas grutas de Qunram em 1940, que eram da mesma data dos textos dos evangelhos, mas tinham sido escondidos para que os autores da época não fossem perseguidos ou mortos pelo imperador. Quantas palavras se atribuíam a Jesus diretamente, e com a comparação hermenêutica com textos e autores daquela época ficou claro que eram discursos e narrativas de parábolas e metáforas dos redatores, além de outros acrescentos colocados posteriormente por outros comentaristas cujos comentários foram incluídos nos próprios textos? Além de, como por exemplo nos dois primeiros capítulos de Lucas, ele ter usado o modelo do Antigo Testamento baseado em visões de Anjos e lendas de nascimentos que transportou para o Novo Testamento.

Devido a isso, devemos reparar que de há tempos a esta parte a Igreja falava quase sempre em forma dogmática, porém agora mudou de tom, digamos como de igual para igual, em forma de reflexão. Até porque no histórico dos dogmas temos que convir que muitas vezes foram motivados por motivações politicas, circunstanciais e históricas, e abstraindo da ciência, até, quem sabe, por motivações pessoais, como relata o Livro de August Bernhard Hasler, do Secretariado da Unidade dos Cristãos, de 1979. De tal maneira que isso leva os teólogos agora a esclarecer a tal circunstancialidade. Quantas vezes, quando os dogmas não adéquam com a ciência nem com a mentalidade de hoje ficam perplexos, e acho que a interpretação que propõem seja muito diferente da época em que esses dogmas foram redigidos. A este respeito diz um teólogo atual: “O Mistério d’Aquele que chamamos de Deus transborda as fronteiras e os limites da qualquer tradição religiosa. Creio profundamente que o diálogo inter-religioso nos convida a superar uma mentalidade de “proprietário”. C.Geffré. De Babel a Pentecostes, p.391). E na mesma direção afirmou o bispo Pierre Calverie, de Oran, na Algéria: “Sou crente, creio que há um Deus, mas não tenho a pretensão de possuir esse Deus, nem por Jesus, nem pelos dogmas de minha fé não se possui Deus” (o.c.p.391).

Até há bem pouco tempo acreditava-se que o destino da Terra e dos humanos dependia diretamente de Deus. Porém agora sabemos que Deus terceirizou o governo do mundo e dos humanos. A perspectiva agora é outra. Pela primeira vez, o destino do planeta Terra e da espécie humana depende do domínio responsável do homem. Por isso esta é a 4.ª era da humanidade, no dizer dos estudiosos: a era planetária em que Deus terceirizou aos humanos o governo do mundo. As religiões não deveriam, diante disso, buscar a rivalidade entre si mas trabalhar juntas nesse mesmo objetivo planetário de agora. E as diversas tradições religiosas descobrem que não devem estar a serviço delas mesmas, elas têm uma responsabilidade histórica: de trabalhar juntas pelas condições de uma vida verdadeiramente humana e fraterna na Terra. Por isso, elas não devem buscar a rivalidade entre elas, mas se converter a uma união de esforços inter-religiosos e planetários.

Há um desafio da modernidade que todas as religiões estão chamadas a responder: a escuta da mensagem cada vez mais clara da ética global que seu torna o bem comum da humanidade, formulado na Carta dos Direitos Humanos. Deste jeito, a modernidade pode se tornar uma chance para a transformação delas e para o seu futuro. Basta olhar para os itens e os valores proclamados nessa Carta: a igualdade de homem e mulher;  o caráter inviolável da consciência; o valor da vida; o direito ao trabalho, à saúde, e à felicidade da vida humana.  O Varticano II resumiu estes valores quando falou no ”verdadeiramente humano” dos povos e das religiões. O oposto a isso é o que se convencionou chamar “crimes contra a humanidade”. Por fim, as religiões que nas suas doutrinas ou suas práticas ferem gravemente o ser humano são convidadas a se transformar e rever as suas posições. Porquê? O homem criado à imagem de Deus tem um valor sagrado, e violar os direitos fundamentais do ser humano é ofender os próprios direitos de Deus. A “regra de ouro” universal que vem já do Código de Hamurabi, já dizia: “Não faças aos outros o que não queres que te façam”. E na lenda grega de Antígona: “Além da justiça distribuitiva há uma lei da superabundância” que faz pender o prato da balança em favor dos mais carentes. Esta portanto deverá ser a vocação ética das grande religiões do mundo.

Conclusão. Como corolário do dito nestas páginas enfocamos três conclusões. A primeira, nenhuma religião deve se considerar com o monopólio da verdade sobre o Absoluto, e sobre qual deve ser a vida boa na complexidade das existências humanas; Segundo, o cuidado para que nenhuma religião possa legitimar e sacralizar práticas propriamente desumanas; terceiro, fomentar o zelo de trabalhar pela salvação e a cura do ser humano e da humanidade na sua integralidade.

P.Casimiro João          www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br