“Filhinhos, esta é a última hora; vós ouvistes que o
“anticristo veio; eis que já há muitos anticristos, por isso conhecemos que é a
última hora” (1Jo.2,18). “As
trevas passaram e já brilha a luz verdadeira” (1Jo2,8). Estas são
expressões que mostram que os cristãos joaninos estavam convencidos de que os
últimos tempos já tinham chegado.
Isto leva-nos a repetir a tese de como
a escatologia depende da cristologia: para os sinóticos Jesus era visto como
alguém que caminhou por esta terra e depois foi levado para Deus; no final dos
tempos ele desceria para julgar, assumindo a função de juiz. Mas para João, durante o seu ministério,
Jesus já tinha descido de Deus para servir de juiz.
Para João a vida eterna já se faz
presente no agora, “quem escuta a
minha palavra passou da morte para a vida,”(Jo.5,24) e jamais morrerá”Jo.11,26.
O cristão joanino não precisava esperar a segunda vinda para ver Deus,
porque quem viu Jesus já viu Deus: “Desde agora o conheceis e o vistes”(Jo.14,7). E não ficarão órfãos
quando não eram aceitos pelo mundo: “não
vos deixarei órfãos”(Jo.14,18).
Eles já são julgados e não precisam
enfrentar mais julgamento, “Quem nele crê
não é condenado, mas não quem crê já está condenado”(Jo.3,18). Eles já têm
a vida eterna, “quem come a minha carne e
bebe meu sangue tem a vida eterna”(Jo.6,54). Já se aproximaram da luz,”aquele que me segue não anda nas trevas mas
tem a luz da vida” (Jo.6,12).
São filhos que nasceram de Deus: “não nasceram do sangue nem da vontade do
homem, mas sim de Deus”, (Jo.1,13). E não precisarão morrer para passar
para outra vida,”quem vive e crê em mim
jamais morrerá” Jo.6,58 isto é, eles simplesmente irão passar deste mundo
ao qual realmente nunca pertenceram: “eles
não são deste mundo, como eu também não sou deste mundo” (Jo.17,14), para
juntar-se a Jesus nos lugares que ele preparou para eles: “Na casa do meu Pai há muitas moradas, e eu vou preparar um lugar
para vocês” (Jo.14,2).
Em abono de que as últimas coisas já
estão presentes na vida da comunidade estão ainda muitas outras indicações como
estas: “Vencestes o maligno”, 1 Jo.1,14;
“A vida manifestou-se” 1Jo.1,12; “Caminhamos na luz,”1Jo,1,7; Estavam na
comunhão com Deus: “A nossa comunhão é com
o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo” 1 Jo.1,13; São verdadeiramente filhos
de Deus: “Considerai com que amor nos
amou o Pai para que sejamos chamados
filhos de Deus; e nós o somos de fato,”(1Jo.3,1). Deus permanece no crente:“todo aquele que proclama que Jesus é o
Filho de Deus, Deus permanece com ele, e ele com Deus” (1Jo.4,15).
Quando Oscar Cullmann carimbou a
expressão do já, e ainda não, na teologia da Escatologia dele como uma parte
já realizada no presente, e outra parte aguardada para a vida futura, (O.Cullmann,
Cristologia do Novo Testamento), isso não se aplica aqui em João, porque o
autor das Cartas está empenhado para que os seus cristãos usem a visão do
futuro como um corretivo de purificação no presente. Portanto os seus avisos
éticos são uma fonte de confiança no futuro, partindo da atual vivência, onde o
futuro já está presente.
Apesar de tudo o que os “anticristos”
possam maquinar, para o Autor das Cartas já “é chegada a última hora”: “Filhinhos, esta é a última hora; vós
ouvistes que o “anticristo veio; eis que já há muitos anticristos, por isso
conhecemos que é a última hora” (1Jo.2,18). Para aqueles que se
ligam na Boa Nova que foi proclamada desde o princípio, há uma certeza: “As trevas passaram e já brilha a luz
verdadeira” (1Jo2,8).
Por estas tantas passagens, e por todo
o ambiente do evangelho e das Cartas joaninas, e por várias situações criadas
para confirmá-lo, como a cena de Lázaro, os estudiosos concordam
num ponto: que a escatologia de João e das Cartas já estava se realizando na
sua comunidade e em cada um dos seus membros.
Conclusão. Tratar de escatologia não é
acidental no estudo da teologia. “O Cristianismo é total e visceralmente escatologia”
no dizer de O.Cullmann (o.c.p.71); e “o culto cristão é uma dimensão
escatológica em tensão(id). Para Schweitzer: “Os conceitos escatológicos não só
dominam a pregação de Jesus, mas toda a sua vida”. E: “A história da
cristandade é a história da demora da parusia”. ( A questão do Jesus
histórico”, p.238). Nos Sinóticos “ela é capaz de dar tempo a Deus, ciente que
não lhe compete saber “a respeito daquele dia ou daquela hora”(Maxwel), o que
porém não acontece para João. Aliás, entre os modernos, Bultmann tem uma teoria
bastante semelhante à de João quando afirma: O momento da decisão está à mão, e aqueles que crêem já possuem a
vida eterna.” (Em “O Guia trinitário para a escatologia, 61). E
acrescenta: “É o mais adequado para
dialogar com os padrões de pensamento da humanidade moderna”. Aliás ele
assim aproxima o conceito de escatologia com o conceito de reino de Deus.
Já Tillich tem uma escatologia muito confusa, no entanto corroborando a ideia que
a escatologia não poderá ser reduzida a um apêndice da pregação e da
teologia. Já Karl Barth tem mais semelhanças com Bultmann, e, como falei,
com os escritos joaninos.
Embora que os Sinóticos e Paulo, todos
eles esperavam assistir a essa parusía nas suas vidas, num futuro breve,
para João ela já tinha chegado. Afinal, esta escatologia de João emergiu também
na escatologia dos teólogos modernos Bultmann, Albert Schweitzer, e um pouco em
Tillich. Finalizo com Luis Carlos Susin, quando afirmou: “A teologia cristã é uma encruzilhada de muitos caminhos, e a
escatologia é a chegada desses muitos caminho. (Luis Carlos Susin, “Assim na
terra como nos céus”, pg. 11).
P.Casimiro João smbn
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