Aceitar a Lei, ou aceitar Jesus?
Eis a questão. Aceitar Moisés ou o cristianismo? O ícone
da Lei era Moisés, e o ícone de Moisés era a Lei. Moisés e a
Lei era a salvação. Agora Jesus é a salvação. Na consciência de todo
Antigo Testamento estava internalizado que fora de Moisés não há salvação; fora
da Lei não há salvação; e fora dos mandamentos e decretos. Ora, pelos anos 50
depois de Cristo levanta-se um homem declarando: “Ele, Jesus, aboliu a Lei com seus mandamentos e decretos” (Ef.2,15).
Este era o Paulo, que então fez uma
tempestade na segurança que era o Antigo Testamento, como que fazendo-o ruir
pelas bases. Ele colocou nessa Carta o aporte bem visível de uma FAIXA que
estava no “MURO DE SEPARAÇÃO”do Templo de Jerusalém. De um lado os
pagãos, do outro lado os Judeus. Ali o judeu separava-se do pagão e o pagão não
tinha acesso ao Templo sob pena de morte. Aquilo era o ícone da
separação dos seguidores de Moisés, da Torá, da Lei, e da Aliança.
A separação dos salvos, e dos condenados. Dos eleitos e dos proscritos. Dos
puros e dos impuros. Levantar a voz contra isso soaria igual à blasfêmia com que
Jesus foi condenado à morte: “Destruam
este templo, e eu o reerguerei um três dias” (Jo.2,19).
E Paulo fez isso. Sem olhar as
consequências, escreveu: “Do que era
dividido, Jesus fez uma unidade; em sua carne ele destruiu o muro de
separação. Aboliu a Lei com seus mandamentos e decretos”(Ef.2,14-16).
Isto é, com a sua teologia, Paulo encostava os Judeus contra a parede e não
só os judeus mas os cristãos-judeus que tinham-se convertido e continuavam a
frequentar a Sinagoga e continuavam no cumprimento da lei da circuncisão,
e dos decretos do sábado, e do puro e do impuro, e das refeições
separadas, e das carnes imoladas. O dilema era o seguinte Aceitar
a Lei e o Moisés da Lei, ou aceitar Jesus?
Continuando em sua pregação ele dizia:
“Deus quis reconciliar judeus e pagãos
num só corpo por meio da cruz, destruindo em si mesmo a
separação”(Ef.2,16). O que tinha em
mente era que quem continuasse a aceitar Moisés não daria valor nenhum à cruz
de Jesus. Tornava inútil a cruz de Cristo. “na verdade, se a justiça se obtém pela Lei, Cristo morreu em
vão”(Gál.2,1).
A isto inclui-se a teologia fundante de
Paulo, que inclui a pergunta: de onde vem a salvação? Para o Antigo Testamento
vinha da aceitação e da prática da Lei ou Torá, e dos Mandamentos,
mas agora com o novo evento, a salvação vem de Jesus Cristo. Continuando
a questão: de onde vem a salvação para o crente? O crente já está salvo pelo sangue de Jesus; o judeu ainda
espera a salvação pelo cumprimento da Lei e pelas obras. A salvação que
vinha para o judeu, da Lei, agora vem para todos pela fé, justificados pela
graciosa benevolência de Deus, isto é, pela Graça. A justificação não vem pela
Lei, mas pela fé. Não mais por Moisés, mas por Jesus.
Este tema de Paulo, foi muito bem
captado pela Reforma do séc.XVI. O dilema necessário, aceitar Moisés ou Jesus,
aceitar a salvação pela Lei ou pela graça? Eis a questão. Muito
claro que a Lei tinha sido dada aos Judeus, porém a graça, e o
agraciamento é dado para todos que aceitarem Jesus. E por isso mesmo já não é a
carne e o sangue que fazem a descendência de Abraão, mas a graça e a fé
que fazem a nova descendência de Abraão. E isto pelo fato de Abraão não
ser justificado pelas obras mas pela fé, pelo
que Abraão é chamado o Pai dos crentes ”Ora, se sois de Cristo, então sois verdadeiramente a descendência de
Abraão, herdeiros segundo a promessa”(Gál.3,29). Daí que o judeu que continuava na aceitação de
Moisés e da Lei estaria tornando inútil a cruz de Cristo.
Note-se que o cumprimento da Lei exigia
o pagamento de salário como justiça. Logo o judeu cumpridor se considerava
justo pelas obras, e credor diante de Deus. E com direito a “desprezar” os “não
cumpridores”,”maldita toda a pessoa que
não puser em prática as palavras da Lei”(Dt.27,26). Em contrapartida, quem
aceita Jesus e a salvação da cruz aceita um dom gratuito, uma graça, sem
reclamar salário: “Porque é gratuitamente
que fostes salvos mediante a fé”(Ef.2,8). Como dito atrás, na teologia de
Paulo, o crente já está salvo pelo sangue de Cristo; o judeu ainda espera a
salvação pelas obras.
Conclusão.
É evidente que Paulo manejava dois argumentos: o de Abraão e o da
cruz. Para aqueles que se
consideravam descendência de Abraão segundo a carne, Paulo opunha a descendência
de Abraão segundo a fé: “os filhos da promessa é que serão
considerados como descendentes”(Rom.9,8). Para aqueles que se consideravam
ser povo eleito pela Aliança e a Torá, Lei do Sinai, Paulo
contrapõe a cruz de Cristo que derribou o muro da separação pelo sangue de
Cristo. E de dois povos fez um só “homem novo”, onde “não há judeu nem grego”,(Gál.3,28).
Na época moderna tomou corpo a
expressão “eu aceitei Jesus” que retoma a mesma teologia pelas igrejas
da Reforma, e foi buscar as suas raízes na mesma teologia paulina. A Igreja
católica foi pega de calça curta, e de ambos os lados houve excomunhões. Os
tempos agora são outros. Chegou neste espaço de tempo a Declaração Universal
dos Direitos Humanos, e com eles a Liberdade de consciência, a Crítica
científica e Histórica e a Crítica bíblica e o novo espaço do Ecumenismo.
Em 31 de Outubro de 1999 foi assinada a “DECLARAÇÃO CONJUNTA ENTRE AS IGREJAS
LUTERANAS E A IGREJA CATÓLICA” sobre a doutrina da Justificação, em Augsburgo.
Hoje em dia é fácil ouvir das crianças da catequese, “eu aceito Jesus” e “eu
estou salvo” igual as crianças das igrejas evangélicas. Eu tenho a certeza de
que, se fosse agora, não haveria excomunhão mas diálogo inteligente e fraterno.
P.Casimiro João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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