segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

TEOLOGIA BÍBLICA E REVELAÇÃO CÓSMICA


 

Falamos noutra página da encarnação ou união hipostática cósmica. Falemos agora da revelação cósmica.

A nossa tese, e a tese de Karl Rahner é a seguinte: A história universal do mundo significa a historia da salvação. A história da salvação e revelação acontece onde quer que esteja acontecendo a história humana individual e coletiva (K.Rahner, Curso fundamental da Fé, p.176 e 179). Isto nos conduz a que a história é tripartite: história humana, história da salvação e história da revelação. A primeira afirmação é que a auto-oferta de Deus é aquela em que ele se comunica absolutamente à totalidade do homem, significando que a história universal do mundo significa história da salvação. Toda a história é também por isso mesmo história da revelação. Onde quer que a história humana seja vivida e sofrida lá está acontecendo a história da salvação e da revelação, e veja bem, não somente onde essa história seja vista de forma explicitamente religiosa, mas em toda a sua abrangência. Na verdade, a mediação dessa experiência transcendental não precisa necessariamente ser vista e vivida como explicitamente religiosa, basta ser humana.

A segunda afirmação: Quando falamos história e história universal de salvação, ela é coexistente com a história universal do mundo. Trata-se aqui da universalidade da salvação, e de quebra, da revelação. Aliás, podemos deduzir esta verdade de várias referências do ensino dogmático cristão. Em virtude da vontade salvífica universal de Deus não temos o direito de limitar o evento real da salvação à explícita história da salvação narrada no Antigo e no Novo Testamento, pois a Igreja evoluiu do axioma “fora da Igreja não há salvação” proferida por S.Justino no séc. II para o axioma “fora da Igreja muita salvação” um dos corolários do concilio vaticano II (L.G. 16). Aí nos avisa o teólogo: “Esta afirmação poderá parecer surpreendente a um primeiro momento para o cristão acostumado a ouvir que a história da  revelação inicia-se com Abraão e Moisés, ou seja, com a história da aliança no Antigo Testamento. Uma compreensão vulgar do cristianismo, de modo geral e sem cuidados, identifica a história explícita da revelação no Antigo e no Novo Testamento e sua escrita no Antigo e no Novo Testamento com a história da salvação simplesmente. Pois aqui nos interessa afirmar que a história da salvação como história da revelação em sentido próprio ocorre em todo lugar onde está ocorrendo a história coletiva e individual do gênero humano” (o.c.p.179).

Uma pergunta é necessária: Uma vez que a revelação não é exclusiva da historia de Israel, perguntamos: haverá alguma diferença entre a “revelação bíblica” e a “revelação universal ou cósmica” de que estamos falando? A resposta empírica é a seguinte: “Tem a historia da revelação transcendental e histórica casos bem e mais bem logrados da necessária autoexplicação dessa revelação transcendental”. Um desses casos bem sucedidos foi a revelação bíblica, o que não tira o mérito da revelação das outras civilizações e culturas. Uma característica da recepção da revelação é que possa chegar à consciência de maneira reflexa dessa história que é coextensiva com a história universal. O povo bíblico expressamente teve consciência muito aguda, mas uma consciência muito iluminada também foi apanágio de outras civilizações. Neste particular, a “vontade salvífica de Deus que na dogmática católica contrasta com o pessimismo de Agostinho, é caracterizada como universal, i.é, prometida e ofertada a todo homem, indiferentemente do tempo e do espaço e implica o que chamamos de visão beatífica. (Cf. o.c.p.181).

No Novo Testamento pode ter havido o seguinte engano quando se falava de “ex opere operato”, i.é, uma vez posta uma ação resultava a salvação, o que é uma falácia que beira a magia. “Uma pessoa que não se realizasse na liberdade e uma salvação que fosse realidade operada só por Deus são conceitos contraditórios. A salvação não realizada na liberdade não pode ser salvação” (o.c.p.182). Estamos falando duma atividade chamada autocomunicação de Deus por parte de Deus, e numa autotranscendência do homem. Não aconteceu apenas nos tempos de Israel e naquelas pessoas determinadas, mas em todos os tempos e raças. Afirma ainda o teólogo: “A experiência transcendental tem uma história, e não ocorre esporadicamente de tempos a tempos inserida na história, porque a experiência transcendental tem uma história idêntica com a história humana e não ocorre apenas em determinados pontos.Tudo isto que estamos apontando adéqua com os últimos documentos da Igreja”(o.c.p.187). Vem nos seguintes documentos do concílio vaticano II: Lumen Gentium, 16; Gaudium et Spes, 22 e Nostra Aetate, 1 ss.

Conclusão. Os historiadores das religiões constataram a existência do profetismo e de profetas nas civilizações anteriores ao judaísmo. Até porque “nas pessoas que nós chamamos de ‘profetas’ vem a ser verbalizado algo que em linha de princípio existe em todos, também em nós que não nos chamamos de ‘profetas’. O profeta, considerado de maneira teologicamente correta, não é nada mais do que o crente que logra expressar corretamente sua experiência transcendental de Deus” (o.c.p.194). Para termino da nossa reflexão, não há dúvida de que seres inteligentes habitam o imenso espaço cósmico. E o mesmo Deus que se autocomunica ao ser humano que há 5 bilhões de anos passeia neste pequeno espaço chamado planeta terra é o mesmo que se revela e se autocomunica a esses admiráveis seres cósmicos. Aí a revelação que já é cósmica vai ser mais cósmica ainda.

P.Casimiro João              smbn

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segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

União hipostática cósmica, Sementes do Verbo, Cristãos anônimos.


 

De acordo com os ensinamentos  judaicos no Talmude, o Universo era composto de sete céus. E autores judaicos discutiam detalhes destes céus, assim como as distâncias entre um e outro, sendo que havia acordo em que a distância entre eles seria de 500 anos de viagem. Sendo assim, como Deus habitava o sétimo céu(cf.2Cor.12,2) Deus estava a 3.500 anos de viagem dos seres mortais. Estes céus tinham anjos como chefes e guardiões, cada categoria de anjos comandava dez fileiras, nesta ordem: Serafins, Ofanins, Querubins, Shishinins, (com Gabriel como chefe), Tarshinins, Ishins, Hasmalins, e Hishinins,(com Miguel como chefe), Malaquins, e beneHeloins. Estes seriam os dez Arcanjos que foram criados primeiro. Inclusive, quando Moisés subiu aos céus enfrentou muitos problemas com algumas fileiras de anjos até conseguir o seu lugar. Nalgumas categorias havia anjos que se revoltaram contra Deus e estes eram os anjos caídos que na citação de Gênesis tiveram problemas com as filhas dos homens, pois “os filhos de Deus (os anjos) casaram-se com as filhas dos homens (Gn.6,1-4). Deus, estando tanto acima da Terra pouco ia se importar com os seres humanos. (Cf Scholem, Gershom, “Talmud Tradition”,1965 e David Zumerkor, “Numerologia judaica”, 1994, pari passu) E as injustiças reinantes na terra continuavam e aumentavam. O homem não tinha defensor no céu. Somente os poderosos e ricos é que copiavam essa hierarquia e essa separação, se dizendo que eram o deus, ou os filhos dos deuses, e que os homens pobres não tinham deus, eram os sem-deus. Assim como eram os sem-deus, eram os sem-terra porque Deus não tinha deixado terra para eles. E assim nascia a escravatura. Não adiantava o grito do pobre e do sofredor, porque não tinha deus que o escutasse.

Por isso que o evangelho segundo João começou assim: “No princípio era a palavra, e a palavra estava com Deus, e a palavra era Deus”(Jo.1,4). Essa maneira de dizer era uma filosofia grega. Mas, quem ouvia a palavra, essa que era Deus? Então essa palavra-deus veio ao mundo, que não a reconheceu (Jo.1,10). Porém, aos que a reconheceram, ela deu-lhes a capacidade de se tornarem filhos de Deus. (Jo.1-13).  Para vir ao mundo, a palavra-deus fez-se carne. Essa palavra ficou tão próxima como assim: Esta palavra não é muito difícil nem está longe do teu alcance. Eis que não está no céu para que você fique perguntando: quem subirá por nós até o céu para trazê-la a fim de que possamos ouvi-la e colocá-la em prática? Também não está além do mar, para que fiques perguntando: quem irá atravessar por nós o mar para trazê-la a fim de que possamos ouvi-la e colocá-la em prática? Sim, essa palavra está ao teu alcance: está na tua boca e no teu coração para que a coloques em prática” (Dt.30,11-15). Tão próxima se tornou essa palavra-deus, que, segundo o evangelho de João, se fez carne. Afinal, para os Rabinos essa Palavra morava na distância de 3.500 anos de viagem. João e o Deuteronômio, por seu lado disseram que mora na carne de quem a recebe e acolhe.

A cristologia tradicional cristã aplica esta palavra-deus ao Cristo encarnado. A teologia atual de Karl Rahner e outros aplicam-na a todo ente que recebe e vive a palavra de Deus. Para K.Rahner a encarnação, portanto, não é um problema isolado, mas um acontecimento cósmico. Vejamos algum paralelismo com a distância dos 3.500 anos de viagem, e a tese da proximidade de K.Rahner: “Podia-se dizer do Criador, com a Escritura do Antigo Testamento que Deus está no céu e nós na terra; mas do Deus que proclamamos pela fé em Jesus Cristo é preciso dizer que ele está precisamente onde nos achamos e somente ai pode ser encontrado. Quando Deus quis ser não-deus, surge o homem”(K.Rahner, Curso fundamental da Fé, p.269). “A união hipostática ou a autocomunicação de Deus consistiu só num único caso ou deve-se pensar que essa autocomunicação se deve pensar como a divinização da criatura espiritual pela autocomunicação de Deus? Não será ela momento próprio e específico da concessão dessa graça aberta a todos de um modo geral?”(o.c.p.239). “Esse acontecimento global não pode  ser bruscamente acósmico e puramente meta-histórico; pelo contrário, esta comunicação deve ser acontecimento que se expanda desde ponto espacial e temporalmente determinado.” (o.c.p.241). Estamos falando da transcendência e imanência de Deus, tema que trouxemos da “distância” dos Rabinos, e da encarnação na carne, do IV evangelho. Deduzimos daqui que esta “encarnação cósmica”, como no dizer de K.Rahner, se aplica a todos que praticam de coração sincero as suas religiões, como afirma a Gaudium et Spes do Vat. II, N.16. Eis como fala isso o mesmo autor citado: “Ao dizer a Escritura que quem ama o próximo cumpriu a lei, trata-se da verdade última, uma vez que o próprio Deus tornou-se este próximo, e desta sorte em todo o próximo sempre é acolhido e amado Aquele que é simplesmente o mais próximo e o mais longínquo”(o.c.p.272). Quase na mesma página é chamado o homem como a “cifra” de Deus (268). Há uma revelação universal que entra na mesma dança da revelação bíblica, antes e depois de Jesus Cristo: “Não é só a ‘história da revelação bíblica antes de Cristo’ que constitui a ‘história da revelação’ pois categorialmente não existe nada que aconteça também na história de outros povos, mas ela é a interpretação dessa história como evento de comunhão dialogal, e é a interpretação que constitui a história como história de revelação"(K.Raher, o.c.p.204)

Conclusão. Karl Rahner passou pela fórmula “as sementes do Verbo”, foi o pioneiro da expressão teológica “cristãos anônimos”, do concílio Vat.II, e avançou para a “encarnação cósmica” no livro “Curso Fundamental da Fé, após o concílio. A fórmula “sementes do Verbo” já vem de São Justino que no séc.II d.C. afirmava que todo ser humano participa do Logos ou seja, da palavra-deus e portanto traz em si uma semente do Verbo. Pela formula “cristãos anônimos” K.Rahner explicava a Lumen Gentium, n.16; e com a teologia da “encarnação ou união hipostática cósmica” torna o acontecimento “encarnação” como acontecimento de que participa ontologicamente todo ser humano consciente ou mesmo inconscientemente. Não vamos nos admirar se por exemplo afirmarmos como inconscientemente participam as crianças. Encerrando: “A teologia não consiste na “simples repetição” de um ensinamento supostamente eterno; ao contrário, trata-se da tradução da mensagem histórica daquele mundo de experiência ao nosso mundo de hoje” (H.Kung, Teologia a caminho, p.198). E mais: “A história não é a permanência da mesmesidade mas o devir do novo. A encarnação surge como o inicio necessário e duradouro da divinização do mundo como um todo”. Isto nos leva a afirmar a possibilidade de genuína história da revelação fora do Antigo e do Novo Testamento, junto com K.Rahner, quando afirma: “Não está dito que encontremos semelhante pureza essencial da revelação somente no âmbito do Antigo e do Novo Testamento”. “A relação com Jesus Cristo constitui ou se afirma como patrimônio geral dos cristãos; porém já no Novo Testamento e depois existem ou têm existido várias cristologias legítimas” (K.Rahner,o.c.p.225, 219, 191 e 247).

P.Casimiro  João    smbn

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terça-feira, 9 de janeiro de 2024

JESUS E SUA MÃE, E O CORDÃO UMBILICAL.


 

O amor da família limita, o amor da solidariedade é nossa vocação.

Um dia Jesus falou assim: “Aqui estão minha mãe e meus irmãos: quem fizer a  vontade de Deus esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mc.3,35). O escritor João Mohana inventou esta expressão de um “amor amazônico” no seu livro “Vida sexual de solteiros e casados”, referindo-se que o amor do casal é extensivo a toda humanidade.

Esse ensino de Jesus nos dá duas lições: A primeira era para dizer à sua mãe que já não lhe pertencia mais. A segunda para dizer que ele agora era de todos, já não mais da família de Nazaré, mas da família da humanidade.

Aliás, é o repeteco da lição de outra ocasião quando, segundo o evangelho de Lucas foi encontrado no Templo entre os doutores da lei aos 12 anos, depois de três dias de buscas, e respondeu assim também para sua mãe Maria: “Porque me procuravam, não sabiam que eu devo ocupar-me nas coisas do meu Pai? (Lc. 2,49).

Quanto à 1ª lição, o recado para as mães biológicas é o seguinte: Não adianta prender os filhos a você. Os filhos de vocês já não lhes pertencem mais, desde que assumiram os seus caminhos. Largaram o cordão umbilical quando foram colocados no mundo; e largaram o segundo “cordão umbilical” quando atingiram o uso da razão, e por terceira vez quando atingiram a maioridade. Não adianta querer segurar esses cordões, porque já não existem mais: o primeiro é o cordão umbilical físico e biológico, os outros são cordões umbilicais psicológicos e afetivos. Foi esse recado de Jesus no trecho em questão. Na verdade, Deus não é judeu, nem cristão, Deus é universal. E Jesus também não é judeu, nem cristão, nem de Jerusalém, ou de Atenas ou de Roma. (www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 17/7/22).

O ser humano é feito para a humanidade, para o “amor amazônico”, e cósmico. Quanto mais se libertar dos cordões que o geraram mais se desenvolverá; quanto mais ficar aprisionado mais se atrofiará.

Vem ao nosso propósito a pergunta: quem sabe o nome da mãe dos grandes homens da humanidade: a mãe de um Einstein, de um Luther King, de Mahatma Gandhi, Copérnico e Galileu, Kepler, Platão e Aristóteles, e de um São Francisco? Isto remete-nos para outra página onde dizíamos que o ser humano é um átomo pensante do universo. Como seria a astronomia se não existisse um Einstein? Como seria a aviação se não existisse o Santos Dumont e os irmãos Wright? E como seria a sabedoria sem os filósofos da Grécia?

Cada cientista, cada filósofo, cada santo, não tem nacionalidade, ele é cósmico, pertence à família cósmica e universal, e cada um de nós também. Eles e nós somos átomos pensantes do universo. (www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 25/9/22.

Conclusão.  Estes gênios da humanidade participam, no primeiro grau, da magnitude divina de Deus. E como dizia o cientista Carl Sagan “nós somos uma faísca de estrelas”, e glosando “somos faíscas de Deus”. Então eles são faíscas de primeira grandeza. Igual como Jesus, eles pertencem ao número dos principais representantes da humanidade, irmãos universais e cósmicos.

P.Casimiro João       smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 11/10/20).

domingo, 7 de janeiro de 2024

Os reis Magos e os Links do Antigo Testamento


 

Não está falado que eram três, mas “alguns” (Mt.2,1). Também não está falado que eram reis, mas "alguns magos”(id). Sobre ver uma estrela, temos o primeiro link sobre personalidades famosas que, naquela época, também eram contempladas com aparição de estrelas no seu nascimento, por ex: Apolônio de Tiana, o taumaturgo, e imperadores como Augusto, Tibério, e Nero. Sobre Herodes, diz um teólogo e historiador: “Devemos observar que a cena é historicamente improvável”. Porque Herodes não iria consultar os sacerdotes e escribas, com quem andava sempre em guerra. E não se encontram referências a esse episódio da morte de crianças por Herodes em nenhum escrito dessa epoca.(Warren Carter, o Evangelho de Mateus, Comentário sociopolítico e religioso, pag.113). Em vez disso “progressivamente aparecem ecos da história de Moisés nesta cena quando Jesus revive eventos no passado de Moisés e Israel, um novo Êxodo” (o.c.p.117). Vale dizer, Mateus fez um novo link com o êxodo indo buscar o episódio da matança dos filhos dos hebreus no Egito e transportando para este capítulo (Cf.Êx.1,15).

Sobre os “presentes” oferecidos pelos magos temos um outro link, indo buscar ao terceiro Isaías quando descreveu a alegria da volta do povo hebreu no regresso do cativeiro da Babilônia; e o profeta, que também é poeta falou do coração batendo forte, pois com esses retornados “chegarão as riquezas de além-mar e mostrarão o poderio de suas nações; será uma inundação de camelos e dromedários de Madiã e Efa a te cobrir; virão todos os de Sabá trazendo ouro e incenso e proclamarão a glória do Senhor” (Is.60,6). Mateus faz então esta alusão introdutória fazendo os link que lhe convinham antes do inicio da vida de Jesus, no cap.3, que começa com a narração do batismo. Tanto ele como Lucas e João fazem estes links com a sociedade antiga e com o Antigo Testamento. Para introduzir o início da vida de Jesus e para unir Jesus com a história universal e do povo bíblico. Os autores clássicos e o imaginário cristão têm no pensamento que o Antigo Testamento era uma preparação para Cristo. Porém o atual pensamento é outro, como afirma Karl Rahner: “Sobre Antigo Testamento como ‘preparação para Cristo’ é mais uma experiência da suposta necessidade da redenção; mas não se torna propriamente claro se e de que maneira essa preparação possa constituir mais do que uma experiência da suposta necessidade de redenção; não se torna claro como então se deva entender esta preparação se nos lembrarmos de que as gerações do gênero humano se sucedem, como também se desligam umas das outras de sorte que em certo sentido cada uma delas há de começar tudo de novo” (K.Rahner, Curso Fundamental da Fé, pag.201-202).

O escopo de Mateus nessa narração introdutória não é primeiramente histórico, i.é, se as coisas aconteceram assim ou não, mas é teológico, ou seja, é a mensagem a transmitir, que é o chamado de todos os povos para a família de Cristo e a salvação em Cristo, como dito por Paulo: “Este mistério Deus não o fez conhecer às gerações passadas mas acabou de o revelar agora pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas: os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo e associados à mesma promessa em Jesus Cristo por meio de Evangelho”(Ef.3,5-6). Deste modo esta mensagem imbrica naquela outra que, assim como Moisés foi o pastor e guia do Antigo Testamento, assim Jesus Cristo é o novo Moisés, pastor e guia do Novo Testamento.

Conclusão: Esta mensagem delineada no Prefácio de Mateus na introdução da vida de Cristo é o mote que perpassa transversalmente em todas as páginas do evangelho de Mateus.

P.Casimiro João     smbn

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