domingo, 12 de dezembro de 2021

A cultura e o mito de que o sexo era só para reprodução, no Antigo Testamento, e está ainda numa grande porcentagem das mentes de hoje.


Partimos do princípio de que felicidade era viver muitos anos e ter muitos filhos. Assim diz o Deuteronômio: “Observa durante toda a vida as leis e mandamentos a fim de se prolongarem os teus dias; e te multipliques sempre mais na terra onde corre leite e mel”(Dt.6,2-3). Assim como quando dizem que Adão viveu 930 anos; Noé 950; Lameque 777; Enoque 365: Matusalém 969, significando que tinham atingido a felicidade das bênçãos divinas representada por uma multidão de anos e por uma multidão de filhos e filhas: “E geraram muitos filhos e filhas”(Gn.5,27). O Novo Testamento também copiou a mesma mentalidade nos seus escritos. Na verdade, nós temos três quartos do Antigo Testamento e um quarto do Novo Testamento na nossa leitura, na nossa cabeça, nos nossos membros e na nossa cultura e nas nossas missas. Os povos que lemos a Bíblia somos 2 bilhões, enquanto que os que não têm a Bíblia são 6 bilhões. Esses não têm os 3 quartos do A.T. e nem o “um quarto” do Novo
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A cultura de ter muitos filhos e de se “multiplicarem” respingou também para o matrimônio, tanto na escrita dos evangelistas quando escreveram “Jesus disse”, como na doutrina da Igreja posterior. Os nossos avós também pensavam assim, quantos mais filhos melhor. E isso tinha um motivo, é que eram uma sociedade rural, e nas sociedades rurais era necessário ter mitos filhos para trabalhar na terra, porque era a única fonte de renda. As consequências eram que o matrimônio era só para a procriação e ter muitos filhos. E ajunte-se a isso a doutrina de Agostinho que a relação sexual era o princípio causador do pecado original, e por isso apenas permitida para a reprodução. (Cf. blog www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 07/11/21). Outra consequência era a aversão e o preconceito contra a pílula e os anticoncepcionais. E também os preconceitos homofóbicos contra toda a espécie de LGBTs. Significa dizer: essas uniões que não têm reprodução seriam condenadas. Isto é continuar a pensar com a cabeça do Antigo Testamento e das sociedades rurais: “Cumpra os mandamentos para te multiplicares”. A bitola que eles seguiam era de duas linhas: cumprir os mandamentos e ter muitos filhos. Por outro lado, os estudiosos dizem que na cultura bíblica judaica não lhes interessava a felicidade futura. Era a felicidade presente: a casa cheia de filhos, era a riqueza da casa. De resto eles não diziam “é pecado”. Não. Eles diziam”os filhos são uma bênção”. Por isso o salmo 127 afirma: “A tua esposa será uma videira bem fecunda no coração da tua casa; os teus filhos serão rebentos de oliveira ao redor de tua mesa; assim será abençoado todo homem que teme o Senhor”(Sl.127). A cultura dos judeus era essa. A cultura da Idade Média era também essa. E porque queriam muitos filhos? Para trabalhar a terra. A cultura moderna é poucos filhos. Porquê? Porque estamos numa sociedade técnica e industrial, onde a prioridade não é mais a terra mas o estudo e a técnica. E a técnica irá trabalhar a terra. Isso é cultura, não fé. A cultura muda conforme as condições sócio-econômicas da vida humana. Por isso Deus tanto estava com os Judeus de muitos filhos, como com os nossos avós de muitos filhos, como com os chineses de um só filho, como com os casais de hoje com seus dois filhos, ou um, ou nenhum filho. E consequentemente, os governos têm a missão de organizar o estatuto das famílias e dos filhos, dependendo das estatísticas, estudo, educação, e meios de trabalho e de transporte ou doenças. Assim como têm a missão de organizar o estatuto social dos casamentos hetero ou homo, estatuto social e condições e direitos para os filhos. São questões da alçada dos governos e não da Igreja. Quando vemos eclesiásticos de vários credos querendo condenar certos fatos, eles não estão pisando o terreno que vivemos hoje, mas o terreno de há 3.000 anos atrás. Têm os pés no hoje, mas a cabeça no que já não existe mais. Conclusão. Quando lemos as exortações no Novo Testamento como aquela “os efeminados não entrarão no reino de Deus”(1 Cor.6,9) devemos lembrar que o autor estava pisando chão do Antigo Testamento. E com isso as conclusões ficam com você que tem uma cabeça para saber por onde deve caminhar. Nesta época em que em que robôs americanos, chineses e russos estão explorando o planeta Marte, e Sondas como a Voyager-1 e Voyager-2 andam explorando os espaços siderais, a 16 e a 22 bilhões de quilômetros da Terra, e em que o módulo Philae pousou no planeta Plutão e no cometa 67P. É a cabeça que conhece o caminho e não os pés. P.Casimiro João www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

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