“Das alturas
orvalhem os céus, e das nuvens que chova a justiça, que a terra se abra ao amor
e germine o Deus salvador.” . (Salmo 84)
Esse
hino prolonga a ideia e a mentalidade do Antigo Testamento que é a escatologia
da seguinte maneira: colocar a responsabilidade em Deus, que manda os
sofrimentos atuais, mas que no fim promete que irá vingá-los. Na verdade a
escatologia tem duas faces que incluem duas cóleras de Deus: a primeira
era a cólera de Deus que punia o povo mandando-lhes os inimigos para
castigá-lo. A segunda era já a vingança contra esses mesmos inimigos no
final da história como a vinganças dos sofrimentos que tinham causado ao mesmo
povo. Como? Se tinha sido ele que os tinha mandado?
Uma
resultante desta teologia era que o povo não podia fazer nada diante dessa
vontade de Deus. E daí fabricavam dois erros: o primeiro, Deus é que tinha
mandado esses castigos para o povo; o segundo, Deus quando quisesse iria ele
mesmo determinar a hora e o tempo disso acabar. Isto é, tudo dependendo de Deus
e nada do homem. É o conceito do fatalismo: é porque tem que ser e quando Deus quer.
Por
isso é que invocavam as nuvens do alto para que de lá viesse o orvalho. Isto
era a teoria dos Hebreus, sempre expressa na Bíblia do Antigo Testamento. E do
lado helenístico ou grego, esta teoria também tinha um nome, eram os
gnósticos, segundo os quais o demiurgo era aquele segundo deus que
estava entre os homens e o deus supremo, e tinha que descer das nuvens e vir
socorrer os homens. Sempre reforçando a ideia do fatalismo.
Assim
sendo, fabricou-se o pensamento alienado e alienante : “deixa o mal do jeito
que está. Não se pode adiantar nada ao tempo de Deus. Não leva a mexer uma
palha em favor da justiça. Dizem os alienados: “Deus assim o quer” São mortes?
“Deus assim o quer”. A nação perdeu uma guerra? “Deus assim o quer”. E esta
mentalidade passou e chegou, e ainda está presente em muitos viventes do século
21. Não podendo fazer nada, o máximo é que Deus possa apressar o final dos
tempos: se ele quiser, se não quiser é porque ainda está querendo o tal
sofrimento.
Nos
inicios do Novo Testamento houve uns vislumbres de que os últimos dias estariam
chegando. Eram os que reforçavam o messianismo de Jesus. Porque o imaginário do
Messianismo era que com ele iria chegar a vingança final de Deus e o fim dos
tempos. Haveria o castigo visível e claro para os maus, e todos os justos
veriam o castigo dos maus e a ressureição dos justos.
Assim
se fala na Carta de Pedro: “O dia do
Senhor virá como um ladrão e então os céus acabarão com barulho espantoso; os
elementos devorados pelas chamas se dissolverão, e a terra será consumida com
tudo o que nela se fez” (2 Pd. 3,10).
E
na Carta aos Tessalonicenses: “A vinda do
Senhor será como um ladrão, de noite. Quando for dado o sinal, à voz do arcanjo
e ao som da trombeta de Deus, o mesmo Senhor descerá do céu, e os que morreram
em Cristo ressurgirão primeiro, depois nós os vivos seremos arrebatados
juntamente com eles ao encontro do Senhor nos ares” (1 Tes.6,2). E nos
evangelhos em vários lugares. Um lugar característico é o seguinte: “A terra tremeu, fenderam-se as rochas, os
sepulcros se abriram, e os corpos de muitos justos ressuscitaram” (Mt.27,
51-52). Só o evangelho de Mateus escreveu isso aqui porque falava para
judeus.
Foi
daí que nasceu em 1920 o Fundamentalismo bíblico nos Estados Unidos. Os
fundamentalistas aguardavam no tempo deles essa vinda final do Messias, e com
ele o final dos tempos. E como estava nessa época florescendo a teologia da
libertação, eles combateram-na com toda a política dos USA, aliada a todo
protestantismo e ao presidente americano da época. Porquê? Era proibido lutar
em favor do pobre, porque Jesus estava para chegar. Eles tinham que morrer
assim mesmo.
O
segundo motivo era que eles, como os antigos, olhavam para as nuvens,
não para o chão e nem para o sofredor. Eles se castravam olhando só para as
nuvens e por não entender o evangelho quando diz: “quando o boi ou o jumento caiem
no poço, vocês não o tiram? No entanto deixam o ser humano caído no fundo do
poço” (Lc,14,5).
Essa
luta era contra também a teologia da libertação que olhava para o ser humano
caído no fundo do poço. Um teólogo disse: “Uns
defendem os Pobres, outros se defendem dos Pobres”. E na verdade a defesa
do pobre é o lema de toda a Teologia da Libertação. Porque uma teologia
que tem por princípio “se defender dos
Pobres” é muito de acordo com os
governos atuais.
Os
setores da Igreja que dizem que a Teologia da Libertação usa métodos marxistas
de análise da sociedade estão querendo “botar água no feijão da Santa Ceia”:
“eu digo uma coisa mas eles entendem outra” diz Maria Elisabeth; eu falo de
evangelho e eles entendem que falo de métodos. Na verdade os métodos não têm
religião. O contrário é querer tapar o sol com a peneira ou querer botar
água no feijão da Santa Ceia.
Esses
fazem como aquela madame que dizia assim no Rio de Janeiro: “eu sou muito amiga dos pobres, a última vez
que foi quando vi um pobrezinho perto de um bueiro e ajudei ele a cair no
buraco”.
P.Casimiro smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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