1ª etapa: Os gnósticos gregos faziam a distinção entre
“o Cognoscível” e o “Incognoscível.” O Incognoscível era o Intelecto
Supremo, a quem chamavam de Pai. Ele tinha o seu Monógenes ou
Unigênito, pelo qual o incognoscível se daria a conhecer aos mortais.
Algumas seitas tinham a Mistagogia, que era a arte da iniciação do incognoscível.
Tertuliano
participava desta filosofia e dizia que “o filho (o unigênito) revela o Pai ao
qual ninguém conhece”. E Valentim: “o Pai desconhecido se dá a conhecer
às mentes por meio do Monógenes. (unigênito). Porém, para os Coptas,
“Ninguém pode conhecê-lo contra a sua vontade”.
Não é difícil ver aqui o lastro que
iria levar ao desenvolvimento cristão da Trindade, e as semelhanças em causa.
Exemplo, “Unigênito” (Monógenis), palavra das antigas religiões que ainda não
eram cristãs, e que a religião cristã tomou delas. De resto veja outro paralelo no
evangelho: “Ninguém conhece o filho (o unigênito) senão o Pai, e ninguém
conhece o Pai senão o filho e aquele a quem o filho quiser revelar” (Mt.11,27).
2.ª etapa:
Na religião da Babilônia havia a tríade: Sol – Lua – Tempestade; "Anu
– Bel – Ea". No Egito outra tríade: "Ka – Kamut – Ef".
Essas tríades passaram para o mundo grego. A filosofia alexandrina de Pitágoras
se apoiava em Números, os números simbólicos de Pitágoras: o Uno,
elemento central que une as qualidades opostas, o que resulta infalivelmente em
Três. Os Judeus, em contato com os Alexandrinos, adotaram o Logos e a Sofia
ao lado de Iahweh, considerados como personificação da divindade
judaica. Mais tarde, a teologia cristã vai ver nessa versão uma pré-configuração
da Trindade.
3ª etapa:
Os estudiosos chamam a estas realidades ideias pré-cristãs da Trindade e
que são adequadas para uma plataforma de um diálogo do cristianismo com as outras
religiões não cristãs. “Muitas vezes nós pensamos que somos totalmente
originais, que o cristianismo é uma religião independente das demais. No
entanto, os antropólogos, junto com Gustav Jung revelaram uma interdependência
enorme. E nos leva a acolher o mistério divino que se revela em cada
religiosidade.” (Oliveira, Morais, “O Amante, o Amado e o Amor, Paulus, 36).
Como podemos ver, estes foram caminhos
para chegar à formulação da doutrina da Trindade. Vários esforços
começaram a se esboçar. Um deles foi o Modalismo, de Noeto, em
Roma, no séc.III, segundo o qual Deus é Uno, mas na sua comunicação se
mostrou de três modos diferentes. Agostinho esclareceu que não são três
modos mas uma essência em três pessoas. Outra formulação foi do Subordinacionismo,
de Paulo de Samosata, de Alexandria no séc. IV, que admitia a inferioridade ou subordinação
do filho ao Pai. E outra era o triteiísmo, de Fiore, já no séc. XII, na
Itália, segundo o qual seriam três deuses na Trindade. Estas especulações foram
formuladas com as categorias filosóficas, sobretudo a filosofia grega.
A doutrina católica que se expandiu
teve a primeira configuração no concílio de Niceia (325) e também recebendo
influências dos conceitos filosóficos helenísticos e platônicos. E assente
também em moldes antropomofórmicos, com os conceitos de natureza e
pessoa.
Em 1054 deu-se o cisma do Oriente
entre a Igreja de Roma e Constantinopla, e entraram motivos políticos para essa
separação, não menos que religiosos, aliás tudo só por causa de uma única
palavra no respeitante à procedência do Espirito Santo do Pai e do Filho.
Em 381 aconteceu o concílio de
Constatinopla convocado pelo imperador Teodósio para esclarecer dúvidas sobre a formulação trinitária. E tanto
num concílio quanto no outro os historiadores vislumbram motivos políticos, sob
a alçada dos imperadores forçando os participantes para costurar a união do
império às custas da união doutrinal.
Assim a fé na Trindade tem sido o motor
da ortodoxia católica. No entanto, “a fé humana nunca é definitiva, nunca é
ponto de chegada, mas antes uma interminável peregrinação” (Abrahan Joshua
Heshel em “Jesus segundo o Judaísmo, 35).
E como dizem os teólogos da Teologia
africana: “Os Credos e as Doutrinas da Igreja, formulados pelos primeiros Pais,
estão envolvidos na mitologia e na visão da época em que foram formulados”
(Setiloane, em “África, o evangelho nos pertence", Loyola, 53).
E conclui o teólogo Vicente, José
Armando: “Assim sendo, algumas afirmações dos Credos e da doutrina cristã
ocidental não tem sentido na África banto. A luta, portanto, não é contra a Fé
ou o Kerygma, mas contra os acréscimos ocidentais transformados em dogma.” (A Salvação
nas Religiões Tradicionais Africanas, RTA, Loyola, 2021, pg. 69).
Não somos originais, somos peregrinos
da verdade, iguais aos que de um modo ou de outro procuram e procuramos “Deus
às apalpadelas” (1 Cor.17,27). Somos ao mesmo judeus, gregos, latinos e gnósticos.
P.Casimiro João smbn
www..br paroquiadechapadinha.blogspot.com
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