Não pensemos que temos muita fé porque sabemos umas coisas sobre religião. A fé cristã não se resume a idéias decoradas nem a conceitos elaborados, não é uma atividade meramente intelectual. Não depende só da nossa função noética, isto é de conhecimentos memorizados ou de sabedoria acumulada. Não é intimista. Não se move no fluido abstrato de nossa consciência etérea. A fé cristã não pode residir só na nossa cabeça. Tem que invadir toda a pessoa, comprometer todas as nossas faculdades, influenciar todo o nosso ser e dar sentido a todo o nosso viver. A fé cristã é vida, é relação pessoal com Deus; é paixão que mexe conosco, é amor que entusiasma o coração e faz a pessoa mergulhar no mistério de Deus; é força que movimenta as pernas para a pessoa ir em socorro do irmão necessitado; é alegria que contagia ambientes, transforma estruturas e dá a mão a quem precisa. A fé cristã não deve habitar só na cabeça. A memória, a sensibilidade, a atividade, a afetividade, a dimensão social, a vida familiar, o compromisso laboral... tudo tem que receber influência da fé. A política (sim, a política, pense bem!) também tem que ter ética, moral, honestidade, compromisso com o bem comum. Tem que estar acionada pela fé.
Quem pensa que ter fé é só acreditar na existência de Deus está enganado. Isso é pouco. Muito pouco mesmo. Quase nada. A fé cria relação com Deus. Torna-nos parceiros de Deus. Coloca-nos em situação de total dependência, de comunhão de amor com Deus. A fé vem a nós pelo ouvido. É escutando a Palavra que a luz penetra. É prestando atenção aos testemunhos dos outros que se acende o fogo do amor de Deus em nós. E a Palavra tem forma histórica. A Palavra encarnou, assumiu nossa natureza, visitou a aldeia humana, fez-se História. É Evangelho, notícia de felicidade que deve ser espalhada não só em palavras, mas também em ajuda, em transformação de tudo segundo os critérios do Reino de Deus. Ter fé é conhecer a Palavra, pensar no que diz a Palavra, meditar a Palavra, viver a Palavra e realizar a Palavra. Aceitar a Palavra de Deus é fazer da vida uma entrega. A Palavra de Deus é convite que exige resposta, é oferta que pede opção preferencial, é dom que tem que ser aceite, é amor que deve ser correspondido, é vida que deve transbordar, é alegria que deve contagiar...
Jesus do Presépio, pobre e humilde, chama-nos a atenção para as coisas simples, insignificantes, quotidianas... para os pequenos detalhes da vida. Parecem insignificantes, sem importância... mas é por aí que Ele continua a ser encontrado: “sempre que o fizerdes ao mais pequenino dos meus irmãos foi a Mim mesmo que o fizestes”(Mt.25,40).
A vida cristã nunca diz: “já chega! Basta!”. Ela deve ser plena, crescente e transbordante. O ministério da catequese, que devia atingir todas as pessoas e em todas as idades, não se reduz a transmitir conhecimentos religiosos ou ensinamento doutrinal. Vida cristã tem dimensão mistagógica, palavra que era muito usada na catequese dos catecúmenos, na antiga caminhada de adultos para o Batismo. “Mistagogia” está ligada a “mística” e “mistério” de uso muito corrente na espiritualidade cristã. “Mistério” é o Plano de Salvação que o Pai realiza por Cristo. É a graça divina agindo em cada pessoa. Deus não deixa de atuar, mas pede parceria. A pessoa tem que se abrir ao Espírito Santo. Colaborar com a graça. Em cada dia deve-se avançar um pouco, aumentar, progredir na caminhada para a identificação com Cristo. Sempre. Até à morte. A graça exige esforço continuado. É como andar de bicicleta. Quem pára não se equilibra. Cai. Ser cristão é identificar-se com Cristo, mergulhar em Deus, entregar-se, confiar totalmente na ação divina. Esta “mística” é que dá ânimo à caminhada do cristão. Sem ela, tudo se torna difícil. Mística é o combustível. É o tempero que dá sabor, atração e entusiasmo a tudo que sentimos, pensamos e fazemos na escalada para a santidade. Mística é a motivação densa e profunda de nossa caminhada de fé. É o ponto de apoio de nossa vida, a gangorra que nos puxa para fora da mediocridade e da indiferença. A quem não tem esta mística falta-lhe o sentido da existência, vive sem entusiasmo, à deriva. Com a mística cristã, temos experiência de Deus, energia fontal ( que brota da fonte!), vontade de servir o Senhor. Ter mística é ser iniciado no mistério, deixar-se integrar em Deus, mergulhar sempre mais na profundidade divina, saber que é amado por Ele, que foi Ele que primeiro amou e veio ao nosso encontro, comunicando-nos Sua vida em plenitude. Ter mística é deixar-se penetrar por Deus, sentir Sua presença amorosa em nós (Jo.3,16). Toda a vida de Jesus foi um exemplo e um ensinamento para essa mística ou mistagogia, para essa vida de plena comunhão com o Pai. Devemo-nos deixar conduzir por Jesus e para Jesus, porque quem O vê, vê o Pai (Jo.12,45). Vida cristã sem mística é como comida sem tempero, sem sabor agradável. Não atrai nem agrada!
O cristão verdadeiro é um mistagogo, isto é, alguém que avança na fé, que se deixa penetrar pelo mistério divino, que participa e se inebria na experiência de Deus, que deseja experimentar sempre mais a alegria da Sua presença. O verdadeiro cristão vive esta mística. Vai até Jesus. Faz a mesma experiência que fizeram os discípulos, que fez a samaritana (cap. 4 de S. João), que têm feito tantos e tantos outros santos ao longo dos séculos ( Francisco de Assis,.Francisco Xavier, P. Damião...) Homens e mulheres, novos e velhos, intelectuais e analfabetos. Ir até Jesus é acompanhá-lO, permanecer com Ele, deixar-se educar pela Sua Palavra, convencer-se de Sua Verdade, imitar Suas atitudes, amar Seus valores, deixar-se encantar, seduzir, apaixonar pela Sua proposta do Reino, viver a alegria de poder participar de Sua intimidade, sentir a felicidade única de que Ele é o Caminho da Salvação... e depois não sossegar sem contagiar o ambiente de vida em que se insere com esse testemunho.
Veja, amigo/a como o ideal cristão é belo e sedutor! Nada tem a ver com desinteresse. É compromisso realizado. Não admite banalidade de vida. Injeta entusiasmo efetivo no viver. Não aceita vida frívola, leviana, banal... Temos a possibilidade de antecipar a experiência do segredo que o Pai reserva para aqueles que O amam (ICor.2,9). Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem o coração imaginou a grandeza e a beleza de tudo isso! Mas, com a mística cristã, vamos pressentindo a felicidade do que nos aguarda na eternidade.
Quando fomos batizados, colocaram-nos água na cabeça. Mas nós não fomos batizados na água. A água é que nos batizou no Espírito. Fomos batizados no Espírito Santo com água. A água foi o sinal sensível e visível da ação do Espírito. O Batismo de João era um gesto de penitência. Quem vinha expressava seu arrependimento e o desejo de se converter. Ao mergulhar na água, desaparecia e depois, saindo da água, surgia para uma vida nova. Nós não recebemos o batismo de João. João levou-nos ao Batismo de Jesus. O Batismo de Jesus não atua como magia cristã que logo nos salva. Não basta batizar-se para estar salvo. Batismo é sinal da salvação operada pela adesão a Cristo. A pessoa entrega-se à graça de Cristo e Ele transforma-a. Pelo Batismo somos irmãos de Jesus, filhos de Deus, templos do Espírito, membros da Igreja, herdeiros do céu. A criança que não tem o uso da razão, ao ser batizada, não compreende isto. Também quando nasce não pediu para nascer nem sabe o que é viver. É à família que Deus dá a responsabilidade de a continuar a gerar até ela ser consciente e responsável. Assim no Batismo também. O Batismo abre uma possibilidade, dá o gérmen, é uma semente. A família cristã deseja que a criança também nasça para Deus desde pequenina, por isso, responsabiliza-se por testemunhar à criança batizada a fé, o amor de Deus. A família que não tem ambiente de fé, que está desinteressada pela vida cristã deve adiar o Batismo de seu filho. Não deve ser mentirosa diante de Deus e da comunidade. Batismo não é mero ato social, hábito familiar, mero costume tradicional. É compromisso consciente e responsável a um chamamento de Deus. Jesus também entrou no Povo de Deus, quando menininho. Foi circuncidado com oito dias de vida. Naquele tempo não havia batismo. A circuncisão era o sinal de pertença ao Povo de Deus. Isso está na Bíblia (Luc. 2,21). Jesus nasceu sob a lei, mas não é a lei que salva. Quem salva é Ele. Daí o Seu nome: “Jesus” que quer dizer: “o Senhor que salva”, que já Isaías tinha explicado (Is.12, 2-3).
A vida cristã é um dom. É Deus que chama à fé. A fé não é um ato. É um processo, uma caminhada. Não é um sofá para ficarmos sossegados por termos sido salvos. É nascimento, começo de vida em Deus. Tem a lei do amor que é a lei do crescimento: “hoje mais que ontem, amanhã mais que hoje”. O Batismo é o gesto eclesial da entrada na Igreja e da fé que deve ser desenvolvida. Também, quando nascemos, o parto não é toda a vida. É preciso que a vida, depois, seja zelada, alimentada, cuidada para se desenvolver. Não podemos colocar a vida corporal nem a espiritual num caixote de lixo. Batismo requer esforço, parceria com a graça de Deus para crescer. O autêntico cristão tem ânsias de plenitude. O Batismo é o lugar litúrgico e oficial da nossa identidade cristã. É a carteira de identidade do cristão. Por ele, nos incorporamos no mistério de Cristo. É o primeiro momento público de adesão à comunidade cristã. Esta adesão é o primeiro degrau duma escadaria que é preciso subir para chegar à fraterna comunhão de bens espirituais e materiais. O Batismo é uma porta que se abre para podermos participar da festa da intimidade de Deus. Mas não podemos ficar sempre à porta. Quem fica sempre na porta mostra que é curioso, mas desinteressado. Perde o tempo. Não participa, coloca-se à margem e fica em situação de se deixar influenciar pelo ambiente mundano.
NOTICIAS DA PARÓQUIA:
1- Tivemos a honrosa visita, na residência sacerdotal, do Eminentíssimo Cardeal Humes. Vinha acompanhado do Sr. Bispo da Diocese e ia a caminho de Brejo.
2- A viagem da Ir. Márcia que vai ser missionária numa comunidade de Missionárias da Boa Nova em Maputo, capital de Moçambique, foi adiada por ainda não ter chegado ao Brasil a documentação. Há atraso da documentação em Moçambique
3- Já há CDs da próxima Campanha da Fraternidade. Estão à disposição no secretariado para quem os desejar comprar. Bom seria que se começasse a ensaiar os cânticos. Este ano a CF vai tratar o assunto da Juventude e a Fé.
4- Pedimos a quem, generosamente, puder que ajude com alguma oferta de alimentos a realizar o próximo retiro de Carnaval. Desde já agradecemos qualquer doação. Podem entregar no Secretariado Paroquial.
5- Participaram em mais uma fase do Curso de Teologia para Leigos que se está a realizar em Brejo, nove membros de nossa comunidade. Um elemento da equipe que começou o ano passado não participou por não ter sido liberado pela empresa onde trabalha.
6- P. Pedro telefonou e deseja a todos os amigos Feliz Ano Novo. Votos que também lhe foram retribuídos em nome de toda a Paróquia. P. Luis também tem dado notícias e este ano o Grupo Missionário João Paulo II teve a adesão de mais 17 jovens.
8- A construção da igreja de S. José continua. Esta semana trabalhou-se no aterro e no segundo radie e fez-se as placas de concreto por cima das sacristias além de se começar a fazer o coro. Já se comprou 34.000 tijolos e quatrocentos sacos de cimento. Só entulho para aterro já se colocou 20 caçambas grandes de 12 metros cúbicos cada.
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