Embora a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) tenha optado
por não se posicionar sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff, seu
presidente, dom Sergio da Rocha, arcebispo de Brasília, diz que o país precisa
"de um novo jeito de fazer política".
Em entrevista à Folha,
durante a 54ª Assembleia Geral da CNBB em Aparecida (SP), ele defendeu uma
"profunda" reforma política, com a renovação dos quadros, acabando
com o "carreirismo".
"É muito triste que um grupo viva só em função de seus interesses.
Um partido que vive em função dele não é está a serviço do país, não está
cuidando da coisa pública."
Leia abaixo a entrevista.
Folha - A
crise política e a polarização instaurou no país um clima de ódio e
intolerância. Como a Igreja Católica pode e tem atuado?
Dom Sergio
da Rocha - Compreendemos que haja diversidade de posturas, mas quando se
polariza e se acirra, chegando a conflitos, não ajuda ninguém. Nem o nosso
povo, nem aqueles que se manifestam, nem a democracia. Quem pensa diferente não
deve ser tratado como inimigo, deve ser tratado com respeito. Não se pode
conceber as diferentes manifestações como se fossem torcidas uniformizadas no
estádio. Porque quem está ali, com certeza, está torcendo pelo Brasil. Seja com
um posição ou outra.
Precisamos superar essa tendência no campo político a buscar sempre o
interesse particular, o interesse partidário, o interesse de uma corporação. Se
não cuidar, na rua isso pode ocorrer. Estamos precisando de um novo jeito de
fazer política. Não dá para continuar desse jeito.
Na mensagem
sobre as eleições 2016, a CNBB defende a reforma política, pregando a renovação
dos quadros políticos e até incentivando integrantes da Igreja Católica a
disputarem o pleito deste ano.
É preciso que o país siga avante em uma reforma política mais ampla. A
temática da reforma política tem que ser pensada para além de um projeto
específico, da posição de alguém ou de uma entidade. Não pode ser pensada só
pelo Congresso Nacional, tem que também ser pensada pela população.
E o
incentivo a candidatura de integrantes da igreja?
Quem não tem posição político-partidária é a Igreja Católica como
instituição e o clero, mas os chamados cristãos leigos e leigas têm não só
direito, mas dever de uma participação mais efetiva. Se tivéssemos cristãos
mais coerentes com a sua fé na política, claro que teríamos uma situação muito
melhor.
O documento
fala também no fim do carreirismo político.
É muito triste que um grupo viva só em função de seus interesses. Um
partido que vive em função dele não é um partido que está a serviço do país,
não está cuidando da coisa pública. Está cuidando da coisa particular ou
misturando o particular e o público.
Não podemos continuar com esse esquema.
Creio que o Congresso Nacional tem uma responsabilidade imensa nesse
momento, de reafirmar a ética na política muito concreta, pelas suas posturas e
atitudes.
A CNBB optou
por não se posicionar sobre o impeachment. O sr. é cobrado?
As pessoas têm uma tendência a esperar um pouco mais. Entendemos que ir
além do que a CNBB tem feito como posição seria de alguma forma adotar uma
postura partidária. Não estamos ficando de fora, nos envolvemos além da conta.
Temos sido criticados e também reconhecidos pelo diálogo.
Há o temor
de que seja retomada a lembrança de 1964, quando a igreja foi acusada de apoiar
o golpe?
Creio que esse modo de conceber se deve primeiro a uma opção que tem
sido reafirmada nas últimas décadas, que é a presença da igreja na sociedade,
mas sem se misturar com aquilo que é político-partidário.
Quando estamos falando de respeito ao Estado de Direito Democrático e à
ordem constitucional, não estamos aqui defendendo e favorecendo partido nenhum,
estamos dizendo aqui que é preciso levar a sério a Constituição brasileira, que
fora dela a gente não vai conseguir encaminhar as coisas como devem ser.
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