1. Introdução- Jesus não escreveu nada
no Novo Testamento e nem há qualquer indício que ele tenha instruído seus discípulos
a registrar suas palavras ou ações. A Igreja viveu os 4 primeiros séculos
sem o Novo Testamento. Os primeiros
Escritos do Novo Testamento foram a Cartas de São Paulo escritas antes
dos evangelhos, nos anos 50 d.C. em diante.
Nós não recebemos os textos do Novo
Testamento das mãos de seus autores originais, mas de uma forma editada.
Não sabemos o nome de nenhum de seus autores além das primeiras sete Cartas
de São Paulo. Sabemos que teve uma “escola paulina”, uma “escola
mateana” e “uma escola joanina” que contribuíram para esse processo.
O Novo Testamento é o livro da Igreja
no sentido que ela o escreveu e editou. Segundo o costume dos historiadores da
época, o escritor punha longos discursos
na boca de seus heróis mesmo não deles. Por isso discursos atribuídos a
Jesus, Pedro e Paulo podem não ser deles. (Boring I, 19).
Nenhum dos títulos que aparecem no Novo
Testamento foi atribuído por seus autores, mas pela Igreja posteriormente, por
exemplo evangelho de Marcos, de Mateus, de João, de
Lucas etc. Por isso os evangelhos
são anônimos, sem nome de autor.
1. O evangelho de Lucas e Atos estão
muito relacionados com a “escola paulina”. O evangelho de Lucas e Atos
são os escritos que trazem longos discursos. Os escritores dos primeiros tempos,
como dito atrás, adotavam os métodos convencionais da sua época para fazer
história: fabricavam discursos e colocavam na boca dos seus heróis. Assim
fizeram Tucídides, considerado o pai da história, Horácio, Tácito
e também Josefo, famoso historiador judeu. Por isso os estudiosos
afirmam que os historiadores cristãos os imitaram na mesma arte.
E ainda mais: cada historiador tem uma tese
e uma teologia própria e por isso faz os
discursos adequados ao seu ponto de vista. Os escritores cristãos, cada um
também tinha a sua própria teologia e assim adaptava os discursos à sua
teologia.
2. Os primeiros cristãos achavam que estavam
vivendo os últimos dias, que incluíam a ressurreição. Estavam
convencidos que esses acontecimentos iriam acontecer na vida deles: (“Quando for dado o sinal, à voz do arcanjo e
ao sinal da trombeta, o mesmo Senhor descerá do céu, e os que morreram em
Cristo ressurgirão primeiro, depois nós, os vivos, que ainda estamos na
terra, seremos arrebatados juntamente com eles sobre as nuvens ao encontro do
Senhor nos ares e assim estaremos para sempre com o Senhor”. (1.Tes.4,
13-18). Os 4 evangelistas e suas escolas partilhavam essas certezas.
3 Porém, as gerações iam passando, e as
decepções vieram junto porque essas coisas não aconteciam. Quando os esperados
fins dos tempos e o reino de Deus vindouro falharam em aparecer, a 2ª e 3ª
geração de cristãos desenvolveram várias
formas de responder a esse atraso.
As comunidades de São Pedro resolveram
a questão recorrendo ao Salmo 90 que diz: “Mil anos diante de Vós são como o
dia de ontem que já passou“ (Sl.90,4). E São Pedro repetiu esse salmo da sua
forma: “1.000 anos diante de Deus são como um dia, e um dia como 1.000 anos” (2
Pd.3,8).
4. O evangelho de Lucas resolveu
a questão com a sua teologia própria. Ela consta da expressão que leva a marca dele e de Paulo “Segundo
as Escrituras”. Esta teologia de Lucas afirma que o fim dos tempos se
concretizou e aconteceu já na vida Jesus e foi manifestado nas ações de
Jesus.
Como assim? São Lucas desenvolve que na
vida de Jesus tudo obedece a um ”plano de Deus”. Deus tem um “plano para
a história”, que obedece ao senhorio de Deus. Em vários lugares Lucas assim
descreve esta teologia do plano de Deus, em expressões como “é
necessário”, “o que deve acontecer” e “o plano de Deus”. “É necessário que o Filho do homem
seja entregue nas mãos dos pecadores, seja morto e ao 3º dia ressuscite”
(Lc.24,7). “Ele manifestou o misterioso plano de sua vontade” (Ef. 1,9).
E finalmente na mente dele implodiu e
cunhou aquela expressão que ficou célebre “segundo as escrituras”: “Cristo morreu por nossos pecados, segundo
as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou ao 3º dia segundo as
Escrituras” (1 Cor.15,3-4).
5. Na teologia de Lucas este plano de
salvação se desenvolve em 3 tempos. Primeiro tempo contando a infância
de Jesus e de João; segundo: o tempo de Jesus, e terceiro, o
tempo da Igreja. Para o tempo de Jesus, Lucas vai buscar a maneira de
narrar no imaginário lendário do Antigo Testamento (Conzelmann). O tempo de
Jesus começa com o seu ministério onde afirma que as coisas finais, a
escatologia, já está acontecendo na vida de Jesus “Hoje se cumpriu esta Escritura” (Lc.4,21). O tempo da Igreja vai
desde o Pentecostes (Lucas é único que traz o pentecostes), até o final da
História, a “parusía”.
6. Finalmente, no “tempo da Igreja”
Lucas inclui aqui o tempo das nações e do império que, assim como no
Antigo Testamento era inseparável da religião. O império e a Igreja eram duas
realidades juntas e unidas, e sagradas; no conceito antigo vinham diretamente
de Deus. Os povos antigos, entre os quais Israel, não faziam diferença entre
Igreja e Estado. Na época de Lucas ainda não havia a moderna separação Igreja-Estado,
que só começou no séc.18.
Por
isso encontramos na Bíblia “Todo o poder vem de Deus”, (Rom.13,1) conceito
que já não adéqua com os tempos de hoje, e devemos colocar isso na sua época.
Com o tema “intenções da teologia de
Lucas encerramos as “intenções da teologia dos evangelhos sinóticos”. Tivemos
ocasião de ver que as intenções teológicas dos quatro evangelistas tiveram suas
características próprias e teologia diferenciada.
P.Casimiro smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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