As narrativas da prisão e a soltura de Pedro mostram ser
paralelas com a saída de Jesus do túmulo É impossível que não haja uma intenção
explicita de comparar uma coisa com a outra, dando ênfase à prisão como sendo o
túmulo, e a saída como ressurreição. Em todas aparecem anjos, tremores de
terra, correntes que caiem e portas que se abrem e grandes luzes. Aliás, outros
paralelos aparecem na cura do paralítico no templo por Pedro, At. Cap.3 e o
paralítico curado por Jesus “levanta-te e anda”, no capítulo cinco de João
(Jo.5,8). Há ainda os paralelos das prisões de Paulo na narrativa de um grande
tremor de terra que abriu as portas da prisão, e as correntes caíram de suas
mãos (At.16,26). Aliás, os editores poderiam ainda apoiar-se naquele dito de
Jesus “fareis coisas maiores do que estas” sobre os que viessem a acreditar em
Jesus. (Jo.14,12). Para uma avaliação geral, é bom termos em conta o caráter
épico dos Atos dos Apóstolos, como falei na página anterior onde citei um dos
maiores estudiosos do Novo Testamento. Na verdade, Helmut Koester (Introdução
ao Novo Testamento, vol.II, pag102 nos diz que os Atos dos Apóstolos têm um
enredo do jeito dos épicos latinos, como a Ilíada de Homero, que lhe teria
servido de modelo. Nos Atos, Lucas teria criado um ambiente mágico e fabuloso
próprio do gênero épico de todo o livro, com os episódios da soltura de Paulo e
de Pedro do meio das correntes e das grades da prisão, equiparando assim os
dois heróis de Atos com os heróis da Iliada Ulisses e Aquiles, ou Eneias e
Agamenon da Eneida. Aqui os heróis são Paulo e Pedro. Aliás, heróis que
quebravam correntes, somem e se tornam invisíveis e quebram colunas, que andam
sobre o mar, são comuns no imaginário antigo, como Apolônio de Tiana, Bem Adab,
e Sansão, no poema dos Juizes. (Jz.16,23-30). Por outro lado, estas narrativas
mostram a comparação com a prisão de Jesus no túmulo e a sua saída. Os
estudiosos afirmam também que a vida e atividade de Jesus passava para os seus
seguidores, manifestando-se neles. Por isso, fatos extraordinários como
prisões, tremores de terra, correntes que caíam, e portas que se abriam eram
comuns a Jesus e aos discípulos. Eram fatos reais? Não interessa, o que
interessa é o objetivo catequético. (Cf. E.Schillebeekx. Jesus, a história de
um Vivente, p. 382ss). Vejamos os seguintes paralelos, onde colocaremos os versículos
referentes aos apóstolos nos Atos em itálico: Evangelho: “Era a preparação do
sábado, e esse sábado era particularmente solene”(Jo.19,31) Atos dos
Apóstolos sobre a prisão de Pedro: “Era dia dos pães ázimos” (At. 12,3). Evangelho:
“Tendes um guarda, ide e guardai o túmulo como entendeis” (Mt.28,65). Atos:
“Na prisão colocaram quatro grupos de soldados” (At.12,4). Evangelho: “Um
anjo do Senhor desceu do céu, rolou a pedra e sentou-se sobre ela” (Mt.28,2).
Atos: “Eis que apareceu o anjo do Senhor e uma luz iluminou a cela”
(At.12,7). Evangelho: “Houve um grande tremor de terra e um anjo do Senhor
rolou a pedra do sepulcro”(Mc.16,4). Atos: “As correntes caíram-lhe das
mãos”(At.12,7). Evangelho: “Os guardas pensaram que morreriam de
pavor”Mt.28,4). Atos: “Passaram a 1ª e a 2ª guarda, e o portão de ferro abriu-se
sozinho”(At.12,10). Evangelho: “As mulheres correram a dar a boa nova aos
doze”(Mt.28,8). Atos: “A Igreja orava incessantemente a Deus por
Pedro”(At.12,5).
Conclusão. Após este estudo comparado, será mais fácil olhar para o
trabalho pessoal dos autores do Novo Testamento, que, no dizer do capitulo 16
da LG do Vaticano II são chamados de verdadeiros “autores, exercendo as suas
capacidades humanas”.
P.Casimiro João
smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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