segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

O BULLING E A OVELHA E A SOCIOLOGIA


 

Os povos da antiguidade chamavam os governantes de “pastores”. E chamavam o povo de “rebanho”. Isto faz uma bela metáfora sobre o que a ovelha tem para ser roubada pelos governantes, sem ela nem se dar conta: o leite e a lã. O leite era considerado uma preciosidade para a alimentação; a lã tecia as roupas das épocas antigas. E era extorquido o leite e a lã do cidadão, isto é, tudo o que ele tinha, que se definia como extorsão e opressão de que o povo era alvo. Continuando com a metáfora, o leite e a lã eram então os direitos do povo, como salário para trabalhar, e terra para cultivar. O povo não tendo a paga suficiente do seu trabalho facilmente ficava sem nada e à mercê dos governantes como pedintes de favores, assim como quando era despojado de suas pequenas áreas de terra para entregar aos grandes proprietários para pagar suas dívidas. Seria assim como tirar seu leite e sua lã, falando de gado. Colocado nestas condições, muitos viravam salteadores ou se espalhavam pelas nações se vendendo como escravos. É assim que o A.T. dedura os falsos governantes como falsos pastores: “Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Comem a gordura, vestem-se de lã e degolam as ovelhas gordas, mas não apascentam as ovelhas. Visto que vós, com o lado e com o ombro dais empurrões e, com os chifres, impelis as fracas até as espalhardes fora. Vocês bebem o leite das ovelhas, usam a sua lã para fazer roupas. Não tratam as fracas, não curam as doentes, não fazem curativos nas machucadas, não vão buscar as desviadas, nem procurar as que se perderam. Mas tratam as ovelhas com violência e crueldade. E por não terem pastores, elas se espalham. Animais ferozes as devoram, porque as ovelhas perdidas vagueiam pelas montanhas”. (Ez.34,3-6). Vamos agora aumentar a reflexão social que esta parábola implica. Falámos na nação que descarta cidadãos-ovelhas que, arruinados, ficam fragilizados, doentes, e sem chão. Falemos agora da família, da escola ou de uma comunidade religiosa. Acontece que aí se descarta um filho, um aluno, ou um cristão, quando se rejeita e não é acolhido. Se essa pessoa cair na desorientação e na depressão de não se sentir mais amada, essa pode ser uma das ovelhas rejeitadas e sem horizonte na vida. Mas o pecado não é dela, é de quem a rejeitou. Por outro lado, se essa pessoa se recuperar haverá mais alegria do que pelos outros  noventa e nove, isto é, por todos os outros que a rejeitaram. O problema não é que essa pessoa ou essa “ovelha” pecou, foram os outros, os noventa e nove que pecaram porque a rejeitaram. “Ai de vós escribas e fariseus hipócritas, que fechais o reino dos céus diante dos homens, pois vós não entrais nem deixais os outros entrar” (Mt.23,13).  Acontece com essa pessoa o que acontece com as “ovelhas” que se “desgarraram pelas montanhas”, porque abandonadas pelos falsos  governantes. Ajuntando a isto, existem os alunos nas escolas que sofrem os bullings e não aceitam mais voltar para o convívio da turma que os marginalizava. E não só, também aquele filho ou filha que não encontrava mais lugar na família mas só críticas e marginalização. Quantos não largam família e se refugiam nas drogas ou na vida do crime, ou simplesmente viram moradores de rua. O que é intrigante é que essa fala do antigo testamento nunca foi contra o cidadão-ovelha mas contra os governantes-pastores. Como ela se tornou uma inversão de 190 graus posteriormente na Igreja e na sociedade civil é que é problema e isso tem explicação farisaica de sempre defender a autoridade seja civil ou religiosa ou política, desculpabilizando-a para culpabilizar sempre o inocente. Aí o inocente vira infrator, e os mandantes viram os heróis. Alguma coisa não tem andado certo. E “Jesus viu que eram como ovelhas sem pastores”(Mc.6,34). Há motivos ideológicos, sim, e ideias preconcebidas também das Igrejas e dos “pregadores” em inverter as coisas e colocar o “pecado” na “ovelha”,  isto é, no pobre e no fraco e no explorado e não naqueles que causam essa situação de exclusão. Assim como acontece também na sociedade civil e política.  Conclusão. A lição é grande. E a responsabilidade é grande no descaso que leva à fixação de sempre culpar o “fragilizado” e aplaudir o lado dos “fariseus” e dos falsos justos e dos falsos religiosos e muitas vezes dos grandes políticos, como se diz hoje no Brasil da Faria Lima e das mansões de Miami, e por aí vai.

P.Casimiro João      smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

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