Os povos da antiguidade chamavam os
governantes de “pastores”. E chamavam o povo de “rebanho”. Isto faz uma bela
metáfora sobre o que a ovelha tem para ser roubada pelos governantes, sem ela
nem se dar conta: o leite e a lã. O leite era considerado uma preciosidade para
a alimentação; a lã tecia as roupas das épocas antigas. E era extorquido o
leite e a lã do cidadão, isto é, tudo o que ele tinha, que se definia como
extorsão e opressão de que o povo era alvo. Continuando com a metáfora, o leite
e a lã eram então os direitos do povo, como salário para trabalhar, e terra
para cultivar. O povo não tendo a paga suficiente do seu trabalho facilmente
ficava sem nada e à mercê dos governantes como pedintes de favores, assim como
quando era despojado de suas pequenas áreas de terra para entregar aos grandes
proprietários para pagar suas dívidas. Seria assim como tirar seu leite e sua
lã, falando de gado. Colocado nestas condições, muitos viravam salteadores ou
se espalhavam pelas nações se vendendo como escravos. É assim que o A.T. dedura
os falsos governantes como falsos pastores: “Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Comem a
gordura, vestem-se de lã e degolam as ovelhas gordas, mas não apascentam as
ovelhas. Visto que vós, com o lado e com o ombro dais empurrões e, com os
chifres, impelis as fracas até as espalhardes fora. Vocês bebem o leite das
ovelhas, usam a sua lã para fazer roupas. Não tratam as fracas, não curam as
doentes, não fazem curativos nas machucadas, não vão buscar as desviadas, nem
procurar as que se perderam. Mas tratam as ovelhas com violência e crueldade. E
por não terem pastores, elas se espalham. Animais ferozes as devoram, porque as
ovelhas perdidas vagueiam pelas montanhas”. (Ez.34,3-6). Vamos agora
aumentar a reflexão social que esta parábola implica. Falámos na nação que
descarta cidadãos-ovelhas que, arruinados, ficam fragilizados, doentes, e sem
chão. Falemos agora da família, da escola ou de uma comunidade religiosa. Acontece
que aí se descarta um filho, um aluno, ou um cristão, quando se rejeita e não é
acolhido. Se essa pessoa cair na desorientação e na depressão de não se sentir
mais amada, essa pode ser uma das ovelhas rejeitadas e sem horizonte na vida. Mas
o pecado não é dela, é de quem a rejeitou. Por outro lado, se essa pessoa se
recuperar haverá mais alegria do que pelos outros noventa e nove, isto é, por todos os outros
que a rejeitaram. O problema não é que essa pessoa ou essa “ovelha” pecou,
foram os outros, os noventa e nove que pecaram porque a rejeitaram. “Ai de vós escribas e fariseus hipócritas,
que fechais o reino dos céus diante dos homens, pois vós não entrais nem
deixais os outros entrar” (Mt.23,13).
Acontece com essa pessoa o que acontece com as “ovelhas” que se
“desgarraram pelas montanhas”, porque abandonadas pelos falsos governantes. Ajuntando a isto, existem os
alunos nas escolas que sofrem os bullings e não aceitam mais voltar para o
convívio da turma que os marginalizava. E não só, também aquele filho ou filha
que não encontrava mais lugar na família mas só críticas e marginalização.
Quantos não largam família e se refugiam nas drogas ou na vida do crime, ou
simplesmente viram moradores de rua. O que é intrigante é que essa fala do
antigo testamento nunca foi contra o cidadão-ovelha mas contra os
governantes-pastores. Como ela se tornou uma inversão de 190 graus
posteriormente na Igreja e na sociedade civil é que é problema e isso tem
explicação farisaica de sempre defender a autoridade seja civil ou religiosa ou
política, desculpabilizando-a para culpabilizar sempre o inocente. Aí o
inocente vira infrator, e os mandantes viram os heróis. Alguma coisa não tem
andado certo. E “Jesus viu que eram como ovelhas sem pastores”(Mc.6,34). Há
motivos ideológicos, sim, e ideias preconcebidas também das Igrejas e dos
“pregadores” em inverter as coisas e colocar o “pecado” na “ovelha”, isto é, no pobre e no fraco e no explorado e não
naqueles que causam essa situação de exclusão. Assim como acontece também na
sociedade civil e política. Conclusão.
A lição é grande. E a responsabilidade é grande no descaso que leva à fixação
de sempre culpar o “fragilizado” e aplaudir o lado dos “fariseus” e dos falsos
justos e dos falsos religiosos e muitas vezes dos grandes políticos, como se
diz hoje no Brasil da Faria Lima e das mansões de Miami, e por aí vai.
P.Casimiro João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

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