segunda-feira, 20 de julho de 2020

O que quer dizer “Segundo as Escrituras”.


Logo de início irei dizer que na teologia dos evangelhos significa que tudo que aconteceu na vida Cristo estava escrito no plano de Deus “

E em muitos lugares esta expressão aparece em palavras como “é necessário” “o que deve acontecer” e “plano de Deus”. “É necessário que o Filho do Homem seja entregue nas mãos dos pecadores, seja morto e ao 3º dia ressuscite” (Lc.24,7) Como também Mt.16,21 e Jo.12,24). “Ele nos manifestou o misterioso plano de sua vontade” (Ef.1,9). 

Daí foi um passo para a epígrafe “segundo as Escrituras”. “Cristo morreu por nossos pecados segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras“(1Cor.15,3-4).

Um segundo motivo é a lembrança do passado de Israel, em Oseias quando disse: ”Passados dois dias ele nos revivificará e ao 3º dia nos erguerá e restaurará a fim de que possamos viver em sua presença” (Os.6,2), notando que estava se referindo à situação política da época querendo levantar a esperança. 

E ainda a expressão três dias querendo dizer em breve. Como dizem os estudiosos, quando se falava em ressurreição no Antigo Testamento estavam falando de um ressurgimento agora, neste mundo, aqui e agora.

Um terceiro elemento a considerar é que na Cristologia adâmica de Paulo, tudo o que aconteceu com Adão tinha que acontecer com Cristo considerado o segundo Adão, mas ao contrário: em Adão a morte, em Cristo a ressurreição. 

No livro “a vida de Adão e Eva,”escrito por Fíló  cuja leitura era corrente entre os judeus do 1º século trazia a promessa de um Adão fiel de ressurreição e acesso renovado à arvore da vida “e serás imortal para sempre”.
Vamos recuar então para pesquisar mais esse fio da historia. Os primeiros cristãos viam-se como vivendo nos últimos dias de realização, entre a ressurreição de Jesus, as primícias da ressurreição, e o triunfo de Deus, que ocorreria em breve em suas próprias vidas. 

Portanto aqueles que tinham vivido o tempo do Messias experimentariam também a volta de Jesus que aconteceria nas suas próprias vidas. E seriam testemunhas da glória de Deus.
Para os primeiros cristãos, a ressurreição não era um fenômeno particular ocorrido na única pessoa de Cristo mas um fenômeno universal da coletividade que eles iam experimentar ainda em vida. 

Por isso todos viviam na expectativa de ver o triunfo de Cristo descendo dos céus juntamente com os que já tinham morrido, que iriam ressuscitar primeiro, e eles, os vivos seriam as testemunhas e iriam presenciar juntamente com eles a volta de Jesus. 

Imagine a expectativa. “ Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou cremos também que Jesus levará com ele os que morreram. Depois nós os vivos seremos arrebatados com eles sobre as nuvens ao encontro do Senhor, nos ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor”(1.Tes.4,14-18).
No entanto Jesus não voltou. A história seguiu em frente. Já falei noutro tema que entre as várias atitudes surgidas na época, uma ganhou relevância, a atitude milenarista daqueles que empurraram a volta de Jesus para o fim da história, baseados no jargão do Antigo Testamento que “mil anos para Deus são como um dia, e um dia como mil anos” (Sal.90,4).
Porém, Lucas teceu a sua própria teologia. Segundo Lucas, o Cristo vem no meio da História em curso, e não no seu final. Seus argumentos: Deus tem um “plano” para a história universal. O senhorio de Deus se manifesta conduzindo a história de tal maneira que todos encontrem a salvação e experimentem já os efeitos da ressurreição nesta vida. 

E apresenta várias cenas onde algumas  pessoas já experimentam uma centelha da ressurreição em vida, como Lázaro, Talita, o filho da viúva de Naim. Depois da ressurreição da Talita (Lc.7,11) e do filho da viúva de Naim, Jesus anunciou aos dois discípulos de João Batista: Ide dizer a todos que aquilo que esperavam pro fim dos tempos já chegou: ”os mortos ressuscitam” (Lc.7,22).
E sempre com o mantra: “é necessário”, “o que deve acontecer”, era “o plano de Deus que se cumpriu”. Em outras palavras, isso estava escrito na mente de Deus, que derivou para aconteceu “segundo as Escrituras”.
P.Casimiro SMBN


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