Em primeiro lugar, o homem em questão foi provocado a fazer um ato de justiça. Porquê? Pelo argumento bíblico do ano jubilar. “O ano do jubileu, sete períodos de sete anos somando 49 anos. Esse ano será santo. É um tempo de se proclamar a liberdade através da terra para todos os que se tornaram escravos por causa de dívidas, e em que serão canceladas todas as dívidas públicas ou privadas. É um ano em que todas as propriedades familiares tornarão aos seus proprietários originais ou aos seus herdeiros; Devem respeitar o vosso Des e nunca praticar a opressão”(Lev.25,9-10.17).
Vale dizer, o ano do jubileu era uma
instituição para equilibrar a justiça que tinha sido descumprida nos sete vezes
sete anos em que os ricos donos de terras foram extorquindo as pequenas
propriedades e até a casa dos pobres que tiveram de entrega-las à força por não
ter com que pagar as suas dívidas. Desde aí, o pobre ficava sem a possibilidade
de produzir a sua comida diária. E o rico aumentando a sua riqueza diária com o
acúmulo de terras que extorquia dos pobres.
Passados os sete anos, quantos bens de
produção o rico proprietário ajuntava, e de quantos bens de produção o pobre se
privava? Isto é, a riqueza de um aumentando, e a pobreza do outro aumentando
também. Daí podemos dizer que a riqueza do rico fabricava a pobreza do pobre.
Vinha o ano jubilar para dar um certo equilíbrio. O que era do pobre retornava
para ele. Mas quantas porcentagens a mais que tinha colocado na mão do rico,
além das contas que lhe devia, durante os 49 anos? E com quantos mais bens o
rico proprietário tinha-se locupletado durantes os 49 anos? Acontece um porém: é que a lei do
ano jubilar ninguém a cumpria, segundo os estudiosos (Jhon Bright,
(História de Israel,316).
Não custa então tirar uma ilação de que
esse senhor “muito rico” estava sendo provocado a fazer um ato de justiça:
devolvendo alguma coisa das contas que tinha aumentado em tantos anos com as terras
de pobres. E em outros casos surgia a escravidão. Em quantos casos, em
vez de ficar com as terras que não tinha, o dono rico ficava dom o pobre
como escravo. (Lv.25,40). Escravidão que foi aceita na Bíblia, e no povo
judeu, como nos tempos infinitos do cristianismo até os séculos da Idade Moderna.
A qual foi ainda sacralizada pelo malfadado fundamentalismo religioso
dos cristãos da América do Norte, com o falso argumento de que Cristo
estaria chegando e com ele o fim das coisas, e não se podia mexer com os
pobres e escravos porque estávamos no fim. Achavam que tinham por seu lado as
Cartas de Paulo onde ele declarava :”Quando
for dado o sinal, à voz do arcanjo e ao som da trombeta de Deus, o mesmo Senhor
descerá do céu...e seremos arrebatados juntamente com eles sobre as nuvens ao
encontro do Senhor.”(1 Tes.1).
O evangelho de Mateus encerrou a cena
do seguinte modo:”O homem foi embora
cheio de tristeza porque era “muito rico” (Mt.19,22). Vale dizer, o homem
não aceitou o desafio do equilíbrio.
Os estudiosos traduzem o ”jovem rico”
por “homem ambicioso” ou ganancioso, igual `aqueles que se
compraziam em aumentar suas posses defraudando os pobres arranjando maneiras de
ficar com as posses deles. (Cf. B.Malina e R. Rohrbangh, p.115).
Veja bem, esse movimento do
fundamentalismo de que falei é que foi o fermento para a rejeição em massa da
teologia da Libertação, que a partir daí influenciou o Vaticano e respingou na
América Latina. E foi uma bandeira do Presidente Ronald Reigan dos Estados
Unidos da época para implantar o Regime da ditadura militar no Brasil em 1964 distribuindo
dólares aos generais, senadores e deputados para implementarem a ditadura e
treinado os torturadores na América do Norte. (Cf.A teologia da Libertação e o
regime da ditadura miliar no Brasil, BLOG www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
/20200).
Depois deste argumento bíblico, podemos
ver o argumento econômico do crescimento do rico e do declínio do pobre. É só
ver como vive o assalariado, o operário, e o homem da agricultura familiar.
Estes vivem e gastam diariamente o que ganham diariamente. E o agricultor gasta
suas colheitas diárias em cada dia. O homem de salário não multiplica; o que
recebe gasta. O agricultor não multiplica, o que colhe gasta. E vivem só
comprando porque nada têm para vender, mas só comprar. O proprietário rico vive
só de vender e aumentando em cada dia, semana e mês. Quantos mais
compram, mais ele vende e mais lucra. Resultado, este aumenta, os outros ou
ficam no que estão ou diminuem. E se vem a inflação, só cai em cima dos pobres,
porque os proprietários e comerciantes e Firmas aumentam os preços. Porém o
salário não aumenta. Então a inflação favorece sempre quem vende e prejudica
sempre quem compra. No caso do homem
rico, ele se beneficiava por dois motivos: pela produção das suas propriedades,
e pela venda nos seus comércios.
Não nos admira então o encerramento da
cena com a advertência de como a ganância é frequentemente grande obstáculo
para pertencer ao reino dos céus. Como entrar “pelo buraco de uma agulha”(Mt.19,24). Ao que responde o evangelho
com o ditado popular da época que “para
os homens é impossível, mas para Deus tudo é possível”(Jer.32,17). Claro
que nem para Deus seria possível alguém entrar num buraco de agulha, mas o
imaginário popular até isso inventa.
Conclusão.
O reino de Deus que Jesus anunciou é um reino onde “Deus manda”. E onde Deus
manda não tem ganhadores nem perdedores, mas onde todos são ganhadores. É como
numa família, todo mundo aumenta o lucro da casa, e todos crescem no gasto e no
consumo. Por isso aqui adéqua o conselho “se queres ser perfeito, partilha tudo
que é teu porque tudo é de todos, e terás o tesouro que é a tua família, o teu
reino, que é o reino de teu pai, onde tu és um filho.”
P.Casimiro João smbn
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