“Isaque
orou ao Senhor por sua esposa porque ela era estéril; e o Senhor atendeu sua
oração, e Rebeca, sua mulher, concebeu. As crianças lutavam dentro dela e ela
disse: Se é para ser assim, por que eu vivo? Então ela foi consultar o Senhor.
E o Senhor lhe disse: Duas nações estão no teu ventre e dois povos nascidos de
ti serão divididos; um será mais forte do que o outro, e o mais velho servirá
ao mais novo”(Gn.25,21-23).
Comparemos com texto paralelo da
literatura grega: “Linceu reinou sobre
Argos após Danao, e gerou um filho, Abas; e Abas teve dois filhos gêmeos,
Acrísio e Petrus. Estes dois brigavam um com o outro enquanto ainda estavam no
útero e, quando estavam adultos travaram uma guerra pelo reino. E Acrísio
ganhou o domínio e expulsou Petrus de Argos”.(Apolodoro, Biblioteca, 2,2,1).
Temos aí dois itens, dois gêmeos que lutam no ventre da mãe, história igual na
literatura grega e na bíblica, e também ambos significavam dois reinos e duas
nações.
Desdobramentos e casamentos:
Um dia Jacó fugiu da raiva do irmão Isaque, porque lhe tinha
roubado a bênção da progenitura, e foi ao encontro do seu tio Labão,
para casar-se com Raquel, a filha mais nova do tio. Porém Labão
enganou-o, e em vez da filha mais nova lhe apresentou a mais velha que era Lia.
E assim foi obrigado a casar com as duas. (Gn.cap.29). O mesmo episódio
vem na literatura grega, vejamos:
“Eis que Téspio era rei de Téspia, e o herói Hércules foi
até ele para ir à caça e capturar o leão. O rei, que não tinha filhos homens o
entreteve por cinquenta dias e, em cada noite lhe levava uma das suas filhas
para dormir com ele, para lhe darem netos, filhos de Hércules. Então Hércules,
não obstante pensasse que sua companheira na cama fosse sempre a mesma, teve
relações com todas elas. E tendo apanhado o leão, vestiu-se de sua pele e usou
o escalpo como um capacete, para testemunhar que tinha apanhado o leão”
(Apolodoro. Bib.2,4,10; o.c.p.160).
Notamos aqui a mesma manobra que fez Jacó,
vestindo a pele da caça para simular que era o peludo irmão Isaque. E
por outro lado, Jacó também enganou o seu tio Labão, pois tinha
prometido trabalhar sete anos no pastoreio dos rebanhos para conquistar a filha
dele. Então arranjou uma maneira de saber quais os gados que
produziam mais crias, e assim separava-os para ele, e deixava os mais
fracos para o tio (Cf.Gn.30,37-43). Isso também vem nos textos gregos
desta maneira:
“Mercúrio deu a Autólico o dom de ser um ladrão tão
habilidoso que não podia ser pego, tornando-se capaz de transformar seja o que
tivesse roubado em alguma outra forma, do branco para o preto ou do preto
para o branco; de um animal sem chifres
para um animal chifrudo e vice versa. Como ele continuava a roubar
frequentemente rebanhos de Sísifo e não podia ser pego, Sísifo ficou convencido
que ele estava roubando, pois o número de Autólico estava aumentando, enquanto
o seu estava diminuindo. Para pegá-lo, Sísifo colocou uma marca nos cascos do
seu gado. Quando Autólico roubou em sua maneira habitual, Sísifo foi até ele
e identificou o gado que havia roubado por meio dos seus cascos e os levou embora” (Higino, Fábula 201;
o.c.p.161). Nestas narrativas paralelas, no roubo
com seu tio Labão Jacó também usava umas listas para identificar os
animais mais fortes quando se cruzavam para ficar com eles (Gn.30,10).
Outo paralelo:
a escada de Jacó, também vem na literatura grega. Jacó teve uma visão de
uma escada que da terra subia até o céu, na qual mensageiros subiam e desciam
(Gn.28, 10-17). Cena semelhante na literatura grega, em Platão, vejamos: “Her, filho de Armênio disse que quando a sua
alma deixou o corpo fez uma viagem e viu, de um lado, as almas que partiam para
a abertura do céu e outras para a abertura da terra quando a sentença era dada
sobre elas; e nas outras duas aberturas outras almas, algumas subindo do pó da
terra, algumas descendo” (Platão, Rep.614b-d; Ph.Wajdenbaum, os argonautas do
deserto,p.169).
É significativo que nesta narrativa da
“escada de Jacó” e da “escada de Platão” aparece o mesmo nome de “Her”: Nesse tempo Judá se separou de seus irmãos e
foi viver na casa de um homem de Odalam chamado Hira. Judá viu aí a
filha de um cananeu, ele a tomou e viveu com ela. A mulher concebeu e deu à luz
um filho a quem chamou “Her” (Gn.38,3). Em Platão: “Her”, filho de Armênio disse que quando a
sua alma deixou o corpo, fez uma viagem...”(Platão, Rep. 614 b-d).
Outro paralelo sobre o sonho de José
(do Egito): Em Gênesis, José
interpretou o sonho do faraó, das 7 vacas gordas, e das 7 vacas
magras (Gn. 44,1-7). Vejamos o sonho paralelo na Odisseia, da
literatura grega: “Ouça então um sonho
que eu tive e interpreta-o para mim, se puderes. Tenho vinte gansos nos arredores
de casa que comem mistura no cocho e dos quais sou extremamente apreciador. Eu
sonhei que uma grande águia veio descendo de uma montanha e cravou o seu bico
curvo no pescoço de cada um deles até que matou a todos. Nesse instante ela
voou para o céu. Por isso chorei no meu quarto até que todas as donzelas se
reuniram em volta de mim. Então a águia voltou e empoleirando-se em uma viga
falou-me com voz humana e me disse para deixar de chorar: Tende ânimo, me disse
ela, ‘filha de Icário, isso não é um
sonho mas uma visão de um presságio que certamente acontecerá. Os gansos são os
pretendentes e eu já não sou mais uma águia mas o teu próprio marido que estou
de volta par ti e que levarei esses pretendentes a um fim vergonhoso”. Nisso acordei e quando
olhei para fora vi meus gansos no cocho comendo sua mistura como de costume.
Esse sonho, senhora, respondeu Ulisses, não pode admitir mais de uma
interpretação, pois o próprio Ulisses não lhe disse como ele deverá ser
realizado? A morte dos pretendentes está anunciada e nem um único deles
escapará“(Odis.XIX,535-65;o.c.pç172-173). A semelhança é acentuada haja
vista que ambos os sonhadores veem animais saindo de um rio ou comendo em um
cocho e que são mortos por outro animal. O sonho do faraó é interpretado como
representando os catorze anos seguintes, sete dos quais seriam bons; e outros
sete seriam ruins. No sonho de Penépole os 20 gansos correspondem aos seus 20
pretendentes.
Nesta narrativa e nas páginas seguintes
há todo um paralelismo entre a figura de Ulisses o grego e José, o
judeu-egipcio que Ph.Wajdenbaum explora com sutileza (o.c.p.173-180). Inclusive
um detalhe bem pitoresco do copo escondido na bagagem. Conferindo: José
enganava seus irmãos ao esconder um copo precioso na bagagem de Benjamim,
quando estavam se despedindo, mas então foram presos, e Benjamim foi acusado de
ter roubado o como sagrado. (Gn.44.1-13).
Vejamos na Odisseia o mesmo roubo do
mesmo copo: “Esopo tinha chegado de
Delfos e zombou das pessoas, que não trabalhavam...Os delfinenses ficaram
bravos e esconderam um copo sagrado na sua bagagem. Esopo partiu para a
viagem, mas os delfinenses o pegaram, descobrindo o copo sagrado e o acusaram
de sacrilégio e de roubo” (Plutarco, Moralia,556, o.c.p.179-180).
Em blogues seguintes veremos mais paralelos,
inclusive sobre o Faraó, Êxodo e Moisés. Aguarde.
P.Casimiro João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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