segunda-feira, 19 de junho de 2023

O evangelho não é geográfico, não é histórico, é teológico.


 

É uma tese aceita e propugnada hoje pelos estudiosos bíblicos que o evangelho não é geográfico, e não é histórico, mas teológico. Vejamos um exemplo no seguinte episódio do evangelho de Lucas: “Aconteceu que caminhando para Jerusalém, Jesus passava entre a Samaria e a Galileia. Quando estava para entrar num povoado, 10 leprosos vieram ao seu encontro” (Lc.17,11-12). Na sequência, foram curados mas só um deles voltou para agradecer, “e este era samaritano” (Lc.17,16).

Aqui não devemos ter em conta: primeiro, se  ele era um samaritano ou não; segundo, se os leprosos eram dez ou vinte. O que interessa é a lição moral a tirar: que era preciso ir levar o evangelho aos samaritanos. Porquê? Porque na época em que estava sendo escrito o evangelho as comunidades discutiam se podiam ir aos samaritanos ou não. Isto fundamentava-se na ordem que Jesus teria dado aos discípulos quando os mandou ir de dois em dois “anunciar o reino de Deus”. E lhes deu esta ordem: “Não entrem nas cidades dos samaritanos”(Mt.10,5 e Lc.10,1-13). Com o andar dos tempos, pelo ano 70 já depois de Jesus, punha-se o problema se deviam ou não admitir os samaritanos nas comunidades incipientes. Os historiadores contam que Jesus em vida não pisou em terras dos samaritanos.

Em segundo lugar, vem destacado o exemplo do único leproso que agradeceu, “que era samaritano”. Elogio proposital para incentivar que eles, os samaritanos eram gente boa, sim, de tal maneira que aquele samaritano “venceu na fé e na gratidão “os próprios judeus” que não eram samaritanos. Dá para entender tranquilamente a finalidade teológica do caso.

Aliás, há nos evangelhos casos semelhantes somente para adular também os romanos, e chamá-los ao evangelho e às comunidades, da seguinte maneira: Que a fé do centurião romano ultrapassou também a fé de Israel, quando foi curado um servo do centurião romano. “Em verdade eu vos digo que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé”(Lc.7,9). É então outro caso paralelo a este, digamos, outra parábola igual essa. E porque era preciso adular os romanos dessa maneira? Os estudiosos dizem que o objetivo era agradá-los para que eles não perseguissem as comunidades, e para que eles também viessem a fazer parte das comunidades incipientes, uma vez que todos são chamados à salvação, samaritanos e romanos.

Que o evangelho não é geográfico e nem histórico podemos ver por mais exemplos: Até hoje em dia não se sabe o ano do nascimento de Jesus, o dia de Natal. E porquê? Porque foi escolhido o dia 25 de dezembro? Por um motivo teológico, seguinte: Para os romanos e pagãos o dia 25 de dezembro era o dia do sol, o deus Mitra dos romanos e dos povos conquistados por Roma. O dia 25 de dezembro era uma das maiores festas do império romano: o dia do deus Mitra, o Sol invicto que unia romanos e povos conquistados na mesma crença. O nome Mitra remonta à divindade indo-iraniana do zoroastrismo que significa luz, sol, misericórdia, amizade, amor. Essa divindade com “mil ouvidos”, com “dez mil olhos” foi adotada pelos romanos. O Sol invicto tornou-se a primeira divindade dos romanos em 270 d.C. quando o imperador Aureliano fez do deus Sol a primeira divindade do império. Foi por isso que no ano de 354 o Papa Júlio I aproveitou essa ocasião para celebrar no dia 25 de dezembro o dia do nascimento de Cristo ou dia de NATAL, pois até ali não havia nenhuma celebração do Natal. Foi assim transferido o deus-Sol para o outro novo Sol, luz do Mundo, Jesus Cristo, com o objetivo de cristianizar as celebrações realizadas nessa época do ano. O primeiro documento escrito que estabelece o Natal em 25 de dezembro foi do Papa Júlio I no ano de 354 d.C. E, de quebra, hoje os estudos histórico-científicos revelam que o nascimento de Jesus aconteceu seis anos antes do que até aqui se supunha, portanto no ano 6 a.C. (antes de Cristo).

A propósito: se tinha anjos, se não tinha; se tinha reis, se não tinha, não são dados históricos, mas teológicos.

Conclusão A este respeito, sobre a nossa colocação, o autor M.Eugene Boring afirma: O evangelho de Lucas divide-se em três seções: primeiro, a seção do Antigo Testamento, iniciando com os esquemas do Antigo Testamento, (Lc.1-4); segunda seção, o tempo de Jesus, (Lc.4-24); terceira seção, o tempo da Igreja, (Lc.cap.24, continuando com os Atos dos Apóstolos). (Cf. M.Eugene Boring – Introdução ao Novo Testamento vol.II, 1054).

P.Casimiro João      smbn

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